
POR GERSON NOGUEIRA
Os campeonatos estaduais sobrevivem às duas penas, praguejados e ameaçados pelos calendários espremidos e pelas fórmulas deficitárias. De vez em quando, ideias tidas como brilhantes para tirá-los de cena, como a recente (e já extinta) Primeira Liga, tão pobre em inspiração para o nome quanto no próprio nível técnico da competição.
Surpreende que, apesar de tanta pressão contrária e oposição de gente graúda e importante, os estaduais conseguem manter-se de pé. É uma resistência heroica. Talvez a explicação mais lógica esteja no apego à tradição e num saudosismo que a competição faz aflorar. Vale ressaltar também que é no torneio doméstico que se travam os maiores embates entre torcidas, algo que se torna diluído em competições nacionais.
No caso paraense, por exemplo, o Parazão é hoje a única garantia de confrontos diretos entre a dupla Re-Pa, visto que os dois estão em divisões diferentes e na Copa Verde nem sempre os caminhos se cruzam. No ano passado e nesta temporada, o Remo saiu antes e o choque-rei previsto para a semifinal acabou não se realizando.
Apesar dos argumentos consistentes quanto à inexpressividade técnica de grande parte dos campeonatos estaduais, a vontade popular acaba prevalecendo e impedindo que sejam extintos, permanecendo até mesmo nos grandes centros nacionais – e atraindo um público expressivo e apaixonado.
Para reforçar a crítica aos estaduais, os especialistas costumam observar que o Brasil é, das potências mundiais do futebol, talvez o único país que ainda se permite realizar competições estadualizadas. Nem mesmo os vizinhos sul-americanos adotam esse sistema, optando por certames de amplitude nacional.
Continuo aferrado à tese de que os estaduais serão sempre relevantes pelo fato de permitirem que o futebol mantenha um pé no passado, voltado para suas origens e escapando aos tentáculos elitizantes que costumam pasteurizar (e encarecer) todo e qualquer evento esportivo moderno.
É a última chance que o torcedor interiorano e o ex-geraldino – até essa instituição nacional foi varrida do mapa – ainda têm de ver seus times de perto, a preços relativamente módicos. Sem os estaduais, a grande maioria só poderia ver os times de primeira linha através das transmissões de TV.
Não se sabe até quando eles continuarão a resistir à onda de gourmetização galopante, mas que sejam – como cravou o poeta há uns 70 anos – infinitos enquanto durem. Enquanto isso, tratemos de aproveitar.
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Amistosos fazem surgir um candidato a astro
A semana foi farta em jogos preparatórios para a Copa do Mundo. Todas as 32 seleções classificadas estiveram em campo e algumas saíram bastante fortalecidas pelos bons resultados obtidos. Outras mergulharam em crise e podem vir a sofrer os efeitos dos maus passos durante a própria competição maior.
Dos grandes favoritos ao título, França, Espanha, Brasil, Inglaterra e Peru se saíram bem, com vitórias expressivas e incontestáveis. A Fúria renasce pelos pés de jovens valores, como o meia Isco, autor de três gols contra a Argentina e de atuação impecável, sendo responsável direto pelo futebol desassombrado que a equipe mostrou no amistoso.
Outros selecionados, porém, patinaram feio e deixaram sérias dúvidas quanto ao futuro próximo. O caso da Argentina talvez seja o mais dramático. O técnico Jorge Sampaoli decidiu poupar Messi na hora erra, contra os espanhóis, e sofreu uma goleada histórica, que só não teve consequências drásticas na comissão técnica porque o Mundial da Rússia está muito próximo, não havendo tempo para mudanças.
A Rússia, cujas projeções indicam a pretensão de chegar à semifinal da Copa, sucumbiu ao Brasil e à França, sem exibir força de conjunto ou qualidade individual que dê esperanças de uma grande campanha. Já Portugal, sempre dependente excessivamente de CR7, sofreu diante dos egípcios. A Alemanha é um caso à parte. Dedica-se a fazer experiências e certamente chegará forte como sempre.
Sem aparecer entre os cotados para a disputa do título, o Peru se sobressaiu com vitórias categóricas diante da Croácia, do poderoso trio Ivan Rakitic, Luka Modric e Mario Mandzukic, e da Islândia. É certo que testes não podem ser vistos com lentes de aumento, mas certas exibições permitem projetar até possíveis surpresas.
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A humildade pode ser transformadora
Vi o Botafogo derrotar o Flamengo jogando como todo time operário deve jogar. Marcação firme, humildade para dar chutão e destemor para cercar o adversário sem tréguas. Sempre que faz isso, desde a Libertadores 2017, o time rende e se agiganta. Quando, ao contrário, tenta se impor e dominar o adversário, acaba frustrando expectativas. Concluo que a humildade é hoje a maior arma da Estrela Solitária.
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Direto do blog
“Mesmo com jogadores rodados, o time do Papão não deu liga até o momento. Muitos erros de passe. Posicionamento errado da defesa.
Bolas perdidas de maneira amadora. Finalizações, se é que posso chamar de finalizações, sem direção, além de certa ansiedade em resolver tudo sozinho. Excesso de cruzamentos sem o posicionamento dos atacantes para receber. Tudo isso mostra o quanto existe de trabalho a ser feito no Paysandu, para se quiser chegar ao tricampeonato e mais lá na frente realizar uma boa Série B, pois com este plantel atual subir é muito difícil. O mais provável é lutar para não descer”.
Miguel Ângelo Carvalho, ressabiado com as atuações recentes do Papão
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 30)