Por Gerson Nogueira
Tudo se encaminhava para uma formidável demonstração de força da apaixonada torcida remista, disposta a lotar o Mangueirão para a decisão do returno. Mas, depois da suada vitória em Marabá, o próprio Remo conspirou para apagar parte do charme da partida deste domingo.
Apesar de razoável vantagem no confronto – pode até perder por um gol de diferença –, o clube recorreu à Justiça Desportiva para anistiar os jogadores Adriano e Cassiano, que estavam excluídos da partida por força de punições disciplinares. Era fácil prever que a liberação dos atletas teria um forte impacto negativo junto ao público.
É fato que, desde que o futebol se modernizou, as manobras junto ao tapetão são malvistas e amplamente rejeitadas pelos torcedores. Mesmo estando prenhe de razão, clube que apela aos tribunais está quebrando as regras naturais, buscando levar vantagem fora das quatro linhas.
A rigor, ninguém questiona o legítimo direito que o Remo tem de espernear, afinal se escudou no regulamento do torneio, mas quase ninguém aplaude o resultado da iniciativa. A própria torcida azulina reagiu mal à possibilidade de escalação dos ex-punidos.
O ineditismo da decisão do tribunal também é fator de desgaste, pois parece ter sido de encomenda para favorecer um grande da capital contra um emergente do interior, aprofundando desigualdades e resvalando na sempre acesa questão da discriminação.
Um ponto fundamental parece não ter sido levado em conta: Adriano e Cassiano são tão imprescindíveis assim, a ponto de não terem substitutos à altura no elenco? Até o leãozinho de pedra do Baenão sabe que existem jogadores capazes de suprir as ausências.
A escalação dos anistiados provocará uma batalha jurídica de desfecho imprevisível. O Águia já sinalizou que vai às últimas conseqüências para anular a decisão do TJD. Há, portanto, o risco de que uma eventual vitória do Remo venha a ser anulada lá na frente.
Quando advogados tomam o lugar de boleiros, o futebol sempre sai perdendo. É justamente o que ocorre agora, com o debate jurídico ocupando mais espaço no noticiário do que as discussões sobre a parte técnica da decisão. Pena.
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O jogo, ao contrário das chatíssimas bravatas de tribunal, deve ser dos mais interessantes. Flávio Lopes, que não queria escalar os jogadores anistiados, tem no meio-campo seu maior problema. Não terá André, ponto de equilíbrio do setor, e pode ficar sem Betinho, substituto de Magnum.
João Galvão, ao contrário, terá o reforço de Rayro, o melhor lateral-esquerdo do campeonato. Precisando vencer por dois gols, promete um esquema com três atacantes: Valdanes, Wando e Branco. A conferir.
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Sugestão do mais indomável dos bicolores, o amigo criativo Glauco Lima, para badalar o jogo contra o Coritiba: “Arquibancada a R$ 3,00 para ganhar de 3”. Fica a dica gratuita.
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Pesquisa do leitor Célio José Pereira da Costa resgata a história da Pequena Taça do Mundo ou I Mundialito de Clubes, realizada na Venezuela. O torneio teve campeões ilustres (Real Madri, Benfica, Millonários, Corinthians, São Paulo, Botafogo, Cruzeiro e Barcelona) de 1952 a 1975, mas a edição inicial foi vencida pelo Remo, em 1950.
Para tanto, o Leão teve que superar cinco adversários venezuelanos – La Salle, Unión Sport, Deportivo Italia, Escola Militar e Loyola – e um combinado espanhol. A melhor campanha em um torneio oficial, o Paraense de 1949, garantiu ao Remo o direito de participar do Mundialito. Dos seis jogos disputados, venceu cinco, chegando a golear o então campeão nacional da Venezuela, Unión, por 4 a 0.
Curiosamente, nem o próprio Remo guarda informações precisas sobre a brilhante participação no torneio internacional. Com toda razão, Célio defende que a diretoria busque obter o devido reconhecimento junto à Conmebol e permita validação de pontos no ranking da CBF.
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Pep Guardiola surpreendeu o mundo, anunciando sua saída do Barcelona ao término da temporada européia, após quatro anos gloriosos. Para nós, brasileiros, acostumados a técnicos (Zagallo, Parreira, Dunga etc.) que se agarram ferozmente ao cargo, esse gesto de desapego é uma grande lição.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 29)