Do Blog do Perrone
Entrevista com Marco Antônio Teixeira, tio de Ricardo Teixeira, ex-secretário-geral da Confederação Brasileira e um dos poucos capazes de decifrar a caixa-preta da CBF. A seguir, os principais trechos.
Renúncia – “No dia 31 de janeiro, o Ricardo me chamou e disse que iria renunciar, além de me demitir. Disse que estava saindo por problemas de saúde, por causa do cenário político internacional desfavorável a ele e também por acreditar que a seleção brasileira não vai ganhar a Copa de 2014. Ele disse que ainda não temos um time formado e que não temos uma liderança nesse time. Por isso não vamos ganhar. Mas acho que desde agosto ele preparava a renúncia. Colocou o José Maria Marin para chefiar a delegação no jogo contra a Argentina. Acho que foi um teste. (…) Deve ser muito ruim para uma pessoa poderosa como o Ricardo, que tinha tanto acesso com o Joseph Blatter [presidente da Fifa] e com o Lula perder tudo isso de repente”.
Convite a Muricy Ramalho – “O Ricardo estava muito forte politicamente naquela época e acabou perdendo o chão, isso acontece muito com ele. Estava brigado com o Roberto Horcades [presidente do Fluminense] e resolveu chamar o Muricy para treinar a seleção sem falar com o clube antes. Achava que tinha poder para isso, mas o Horcades vetou”.
Andrés Sanchez – “Falei para o presidente não se meter no Clube dos 13. Mas o Marcelo Campos Pinto, da Globo, e o Kléber Leite [ex-presidente do Flamengo] falaram para ele entrar. Era para o Kléber ganhar a eleição e presidir o C 13. O Ricardo não queria, mas os dois encheram, encheram muito para ele participar do projeto de tirar o Fábio Koff do Clube dos 13. Ele acabou aceitando. O Andrés foi o primeiro a participar do projeto. E o presidente ficou grato pela ajuda. Por isso ficaram tão unidos”.
Entrevista polêmica – “Quando saiu aquela entrevista na revista Piauí, disse ao Rodrigo Paiva: ‘você, como assessor de imprensa, não poderia ter deixado o presidente dar aquela entrevista, ficar tanto tempo com a jornalista”. Ele respondeu: ‘você conhece seu sobrinho. Tentei fazer ele parar de falar, mas quis continuar’”. Contei essa história para o Ricardo naquele 31 de janeiro. Ele ficou muito irritado. Disse que a ideia da entrevista foi do Rodrigo. Era algo para melhorar a imagem do presidente. E o Rodrigo achava que a Piauí era o melhor veículo para isso. Achei estranho porque o Ricardo diz que tudo que não é Globo é traço”.
Demissão – “Ricardo disse que precisava me demitir porque tenho o mesmo sobrenome que ele. Não queria que o sobrenome dele continuasse na mídia. Disse pra ele não esperar que eu fosse idiota. Eu disse: ‘estou saindo porque não concordo com o projeto de fazer o Marco Polo Del Nero [presidente da Federação Paulista] presidente da CBF. Vou ser um empecilho’. O Del Nero deve ter pedido minha demissão. Eu discordava de a eleição que estava marcada para 2015 já estar resolvida, queria que fosse uma disputa democrática. Outros interessados deveriam ter a chance de disputar o cargo. Mas fizeram tudo para passar o poder para o Del Nero. E ele não quer ser vice da CBF porque quer o cargo. É só para impedir que outra pessoa entre na linha sucessória do Marin”.
Poder paulista – “Quem manda hoje na CBF é o Marco Polo. Ele decide demissões, contratações, dá ordens aos funcionários. E tem também o Reinaldo Carneiro Bastos [diretor da confederação e vice da FPF] para fazer as coisas pra ele. Dizem que os dois não se dão bem, mas já fizeram um acordo. O Reinaldo vai assumir a Federação Paulista”.
Os homens do presidente – “Durante muito tempo, o Ricardo me ouviu, mas de repente ele passou a ter outros interlocutores. Praticamente, passou a ouvir só Sandro Rossel (hoje presidente do Barcelona) e o Rodrigo Paiva. Passou a ouvir pessoas que não contestavam suas ideias. Eu não era bajulador e fui sendo deixado de lado”.
Zagallo – “Sou testemunha de que havia um acordo pra que o próximo vice-presidente da região fosse indicado pelo Rio. Por isso a federação indicou o Zagallo. Mas o acordo era na palavra. Você honra ou não a sua palavra. Del Nero diz agora que não fez acordo. Sou testemunha de que fez. Na ocasião, Reinaldo Carneiro veio me pedir para ver com a Federação do Rio se não dava para indicar o Marin como vice. O Rubinho [presidente da Ferj] estava chegando e aceitou com a condição de que da próxima vez a escolha fosse dele. É o que ele cobra agora”.