Por Gerson Nogueira
Quando tudo indica que o futebol paraense está falido – e está mesmo – e que nossos bons momentos estão todos presos ao passado, eis que uma noite feliz modifica todas as perspectivas. E, como é próprio da alma brasileira, basta um raio de esperança para irmos de oito a oitenta. Mais que isso: começamos a acreditar que tudo é divino e maravilhoso. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
A classificação do Paissandu à terceira fase da Copa do Brasil, com empolgante goleada sobre o Sport na Ilha do Retiro, é uma grande conquista do nosso futebol, cada vez mais carente de boas notícias.
Além de resgatar a auto-estima do torcedor, o avanço do Paissandu na competição reafirma a importância da valorização das divisões de base. É fundamental, porém, observar as coisas com o devido equilíbrio.
O triunfo heróico faz lembrar outras jornadas bicolores de grande bravura, mas não apaga os passos tortuosos da gestão do clube, que só decidiu aproveitar a garotada formada em casa porque não havia dinheiro para torrar com a costumeira legião de “reforços”.
A empolgante goleada deve ser comemorada e usada para corrigir as rotas e prioridades administrativas do clube. Já é tempo de investir na construção de um centro de treinamento, com a estrutura necessária para a formação de atletas. Sai muito mais barato do que contratar 20 jogadores a cada semestre.
Os recursos que a campanha na Copa do Brasil irá gerar podem representar o passo inicial para essa tomada de atitude. Acima de tudo, os dirigentes precisam se conscientizar de que revelações como Pikachu, Bartola, Tiago Costa e Paulo Rafael, que hoje brotam do acaso, irão se multiplicar caso o trabalho seja executado com seriedade.
Jovens atletas representam vigor, habilidade, entusiasmo e fôlego, virtudes tão caras ao futebol moderno. Significam, acima de tudo, a certeza de que o clube terá sempre receita própria para enfrentar qualquer turbulência. E só assim será possível fazer com que o triunfo de quarta-feira deixe de ser visto como zebra para virar acontecimento normal.
Uma pergunta martela nos corações bicolores: assediada pelo Sport para negociar Tiago Potiguar e Pikachu, terá a diretoria do Paissandu coragem de estragar uma campanha que tem tudo para ir longe na Copa do Brasil?
Teve carga extra de sofrimento para o torcedor rubro-negro a eliminação da Libertadores, ontem à noite. O Flamengo precisava vencer o Lanús e torcer pelo empate entre Olímpia e Emelec. No Rio, jogo tranqüilo e vitória assegurada desde cedo. No Defensores Del Chaco, momentos de terrível suspense. O Olímpia fez 1 a 0 e, a 20 minutos do fim, o Emelec empatou. A combinação classificava os rubro-negros. Mas eis que os deuses da bola resolveram aprontar. O Emelec desempatou, entristecendo a maior torcida do Brasil. Três minutos depois, novo empate. Aos 48 minutos, porém, veio o terceiro gol equatoriano, desfazendo os sonhos da massa rubro-negra.
No final, o jogador Luís Antonio comentou que o Flamengo havia feito sua parte e perdeu a vaga por falta de sorte. Não é verdade. O time não fez sua parte, pois perdeu jogos em casa. O que faltou mesmo foi competência.
Direto do blog
“Acredito que o renascimento dos titãs paraenses, pelo menos as vitórias de ontem, se deram por causa da valorização dos atletas locais. Infelizmente ou felizmente, isso só está acontecendo pela situação financeira caótica que ambos vivem. A solução para sair do atoleiro é mesmo uma base local com alguns reforços de peso. Chega de enganadores! Que Remo e Paysandu inspirem-se no Santos, que há anos vem contornando as crises financeiras com os meninos da vila”.
De Luís Antonio Mariano, apostando todas as fichas na solução caseira.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 13)