A noite do orgulho paraense

Por Gerson Nogueira

Há muito tempo não se via algo assim, várias luas se passaram sem que os velhos gigantes se levantassem numa competição nacional. Duas vitórias paraenses incontestáveis em rodada de competição nacional. Tabus quebrados em Belém e Recife. Torcidas em êxtase. Pela importância do resultado e as circunstâncias do jogo, a goleada do Paissandu na Ilha do Retiro superou todas as expectativas, encheu todas as medidas. Foi o triunfo de organização e estratégia bem executadas. A classificação à terceira fase da Copa do Brasil foi conquistada com méritos incontestáveis.
Poucas vezes nas últimas temporadas a torcida viu um time paraense jogar com tamanho destemor e inteligência como visitante. Como já havia ocorrido em Belém, o Sport entrou desorganizado, sem criatividade e com atuações abaixo da crítica de suas principais peças. Parte desse comportamento foi motivado pela solidez do jogo do Paissandu, que se defendeu com tranquilidade no primeiro tempo e partiu para construir a vitória nos 45 minutos finais.
A performance coletiva foi abrilhantada pela inspiração individual de jogadores que já tinham atuado muito bem no Mangueirão. Tiago Potiguar, Pikachu, Paulo Rafael e Pablo em nível superior aos demais. Além desses, o reserva de luxo Héliton contribuiu com dois gols. Harison, que entrou na etapa final, acrescentou um toque de classe ao presentear Rafael Oliveira com o passe para o quarto gol. 
Depois da partida, sem a soberba que caracteriza alguns técnicos, Lecheva, contestadíssimo pela própria torcida e maior parte da imprensa, lavou a alma sem ferir ninguém. Analisou, em entrevista à Rádio Clube, que a sua ideia de escalar Pablo na lateral-esquerda foi um dos pilares da vitória alviceleste. E foi mesmo. Não tripudiou sobre os críticos e manteve o discurso humilde. Os grandes vencedores agem assim e a façanha de golear o Sport na Ilha do Retiro não é para qualquer um.  

 
O Remo se impôs sobre o Bahia em atuação marcada mais pela fibra do que pela técnica. Foi um time mais brioso e aguerrido do que organizado. Deixou-se envolver até infantilmente na metade final do primeiro tempo, atrapalhando-se com a rápida troca de passes de Lulinha, Moraes, Madson e Gabiel, que desfrutou de plena liberdade nesse período. Nem o gol de pênalti logo aos 10 minutos deu aos remistas a dose de confiança necessária para se estabilizar em campo. Na base da insistência, o Bahia descobriu o corredor pelo lado esquerdo da zaga paraense e por ali chegou ao empate. Quase desempatou em seguida, valendo-se do nervosismo que o Remo demonstrava no setor defensivo.
Flávio Lopes desceu para os vestiários observando, com razão, que Gabriel e Madson passearam em campo. Problema localizado, tratou de arranjar uma vacina. Tirou Aldivan e botou Juan Sosa para escoltar Gabriel, anulando a principal matriz criativa do Bahia. Na sequência, até a lentidão de Magnum se transformou em maior participação nas ações de criação no meio-campo. Reis continuou dispersivo, mas com a entrada de Joãozinho para acompanhar Fábio Oliveira o Remo se tornou presente no ataque, forçando erros dos zagueiros do Bahia. E foi numa jogada de desassombro de Tiago Cametá que nasceu a vitória. A bola chegou à linha de fundo e daí até Magnum, que bateu firme para as redes. Podia ter feito mais, logo em seguida, se aproveitasse cruzamento perfeito de Joãozinho. Mas a vitória estava assegurada, para alegria dos 24 mil torcedores que ajudaram a empurrar o time nos momentos mais difíceis da partida. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
 
 
Paulo Roberto Falcão, com a elegância de sempre, admitiu ter ficado impressionado com a empolgação do torcedor azulino. Observou que esperava dificuldades no Mangueirão porque o Remo explora bastante a velocidade e se apoia no incentivo dos torcedores. Esqueceu apenas de reconhecer que a vitória esteve mais perto do lado remista, principalmente no segundo tempo.
 
 
Na festa que se seguiu ao massacre bicolor na Ilha, perdoou-se até um flerte com o exagero. Adriano Magrão garantiu que o Paissandu será campeão. Segundo ele, há o mesmo clima da campanha vitoriosa do Fluminense há três anos. A conferir.
 
 
No Twitter, depois da rodada, Paulo Henrique Ganso resumiu o estado de espírito da galera: “Muito feliz pelo futebol paraense”. Disse tudo.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 12)

18 comentários em “A noite do orgulho paraense

  1. Gerson, uma quarta histórica para o futebol paraense. O meu papão me encheu de orgulho, jogou como time grande que é, sem medo. Agora o que mais me deixou feliz foi uma coisa que ninguém ainda citou: a vitória bicolor fora de casa, coisa até o ano passado impensável. Ou seja, esse ano, parece que o Papão aprendeu como ganhar fora, jogando com garra e inteligência. Fora do estado, já são dois jogos e duas vitórias.

    P.S.: Só não entendo porque o Paysandu do campeonato paraense joga de um jeito (ou melhor, não joga) e o da Copa do Brasil joga de outro (ou seja, joga muito). Seria a motivação que anda mexendo com o brio do jogadores?

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  2. Realmente amigo Gerson, foi como o despertar dos Gigantes da Amazônia. Lembrou quando a dupla RExPA faziam jogos memoraveis na 1ª divisão.

    Se eu não me engano Remo e Paysandu são as unicas forças do Norte que presentes ainda na copa do Brasil deste ano, as outras me parece que já foram eliminadas.

    Isso mostra que o Pará é a elite do futebol do Norte, alias a torcida do Remo ontem foi a maior desta competição até o momento. Estes dois clubes nunca vão acabar pois tem uma imprensa e torcida fanaticas que o apoiam sempre. Não da para entender como ficamos de fora da copa.

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  3. Grande vitória do papão ontem.
    fez lembrar os velhos tempos.

    agora sábado será mais uma pedreira mas nos vamos vencer e reviver as grandes decisões de compeonato na base do RExPA.

    o mangueirão vai lotar.

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  4. Grande vitória do papão ontem.
    fez lembrar os velhos tempos.

    agora sábado será mais uma pedreira mas nos vamos vencer e reviver as grandes decisões de compeonato na base do RExPA.

    o mangueirão vai lotar.

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  5. Caro amigo Gerson bom dia a vc e a todos que participam desse blog, sou torcedor remista e como não pude ir ao mangueirão ontem fiquei vendo o jogo do remo x bahia pela internet, no inicio do jogo percebi os comentaristas puxando muita sardinha pro lados dos bahianos, depois que fui perceber que o canal que eu estava vendo era da tv bahia filial da globo naquele estado, é redículo a soberba desses caras de fora, só prq eles estão em uma condição melhor que nossos clubes se acham os donos da situação, passaram o jogo todinho dizendo que o bahia era infinitamente melhor que o remo, contestaram aquele penalti que o zagueiro lezão do bahia foi disputar a bola com os 2 braços levantados, bem até hoje bola na mão pra não ser penalti tem que tá com os 2 braços colados ao corpo o que não era o caso, e ao final do jogo disseram que o bahia vai ganhar fácil do remo lá na bahia e se classificar, e também falaram que a maior zebra até aqui da copa do Brasil foi a vitória do paysandú sobre o sport, quanta soberba, eu acho que essa soberba ajudou muito o paysandú a eliminar o sport, prq a qualidade do times é muito diferente, o sport é bem ias time e está na 1ª divisão, mas a melhor coisa pra uma equipe que está abaixo do seu rival é quando a melhor equipe entra em campo pensando que vai vencer a hora que quiser, foi assim que o sport se comportou aqui, principalmente um tal de marcelinho paraíba, então tomara que lá na bahia o bahia entre em campo com esse soberba e que o remo saiba aproveitar.

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  6. Contra a vontade dos dirigentes, o futebol paraense parece estar re-encontrando seus rumos (isso somente se sacramentalizará com a subida de Remo e PSC de séries) dentro de campo.

    Sempre fomos vencedores e impomos respeito (em termos de futebol) utilizando jogadores da terra, mesclados com uma minoria de fora do estado.

    Vale destacar que no melhor momento do PSC em termos de títulos o Paysandu tinha Jóbson, Vanderson, Welber, Zé Augusto (que praticamente é Paraense), Sérgio, Rogerinho (também praticamente da terra) entre outros… O Remo a mesma coisa, Monte Alegre, Belterra entre outros.

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  7. Parabéns a Remo e PSC pela noite gloriosa de ontem.Só um detalhe:se o PSC passar pelo Coritiba, provavelmente pega o Fogão do Gerson nas Quartas de Final.

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  8. Estava cético, pricipalmente com o meu Paysandu, o Remo achava que poderia ganhar com a força da torcida, mas foi demais, aliás o Papão foi de mais, lembrei de Fortaleza, Cruzeiro favorito, e o Papão foi lá e teve uma retumbante vitória. Agora tenho que observar, o Lecheva deu a mão a palmatória e escalou o time certo e mexeu melhor ainda, técnico bom é assim, tem que saber escalar e saber mexer. A torcida do PSC está devendo a esse time e devemos pagar esta dívida indo em massa ao Mangueirão sábado incentivar os jogadores para mais uma boa vitória. Só vejo camisa bicolor na cidade.

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  9. Bom dia amigos comentaristas, nobre escriba.
    Parabéns ao PAPÃO de leão em leão o papão vai enchendo o papo rsrsrs.
    Lecheva deve ter uma voz periférica ( Robson?)ou ler os nossos comentários e dos escriba baionense.Quarta passada à tarde postei que acreditava que Magrão iria fazer gol por ter a presença de Rafagol e meias que chegam de trás, Harrisson e Potiguar voltando á forma com a qual chegou aí em Belém.Dito e feito. VITÓRIA DE 2X1 com potiguar jogando muito.
    Na quinta pós vit´ria postei que se Lecheva soubesse explorar Helington seria jogo pro Papão vencer fora e com facilidade.
    Tá nos posts gravados.
    Não chutei bola, mas teoricamente todos temos um pouco de boleiro, poeta , e cientista.Ontem não foi possível acompanhar os comentários on line.Cheguei em casa tarde da noite.Assisti os programas pós jogo e não me surprendi com a vitória do PAPÃO, conforme postei semana passada eu tinha certeza disso.
    Surpreendeu-me um pouco o placar.Parabéns Papão.Como nos velhos tempos.

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  10. Gerson e amigos, parabens aos dois titans da capital pelas grandes atuações de ontem, jogando sempre com valentia e tentando jogar em igualdade de condições com times que em teoria seriam superiores.
    Dito isso, parabens mais uma vez ao técnico flávio lopes, ontem deu mais uma prova do quanto consegue ter a leitura correta do jogo. Com a substituição do aldivan pelo Sosa, tds no mangueirao estranharam, ele mudou a situação do jogo que tendia pro bahia e fez com que o leão saisse de campo com a vitoria. isto sim é técnico.

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  11. Quase todos os blogueiros, apesar das rivalidades, fizeram referencias aos dois resultados de ontem. Isso é bom quando se
    trata de mostrar-se paraense por inteiro.

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  12. Só para complementar a informação,o PSC vai enfrentar o Coritiba na próxima fase e o Remo se passar pelo Bahia enfrentará ou Juventude ou a Portuguesa.Está mais para o time gaúcho que venceu o primeiro confronto por 2 a 0 no Rio Grande do Sul,além do fato da Lusa de ter deixado de ser “Barcelusa” faz tempo.Ainda corre risco de cair para a segundona do Paulistão.

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  13. Assisti todo o primeiro jogo do paysandu pela tv e o do remo ontem no mangueirão. Me pareceu que o time do Bahia é bem melhor que o do Sport. Ainda mais porque a folha de pagamento é o dobro da do Sport, cerca de 2 milhões e meio. O Bahia toca a bola muito fácil e rápido e marca forte e em bloco. Não vi o jogo do paysandu ontem mas parece que foi um passeio. O Bahia é bem melhor que o Sport mesmo ou não?

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  14. Acredito que o renascimento dos titãs paraenses, pelo menos as vitórias de ontem, se deram por causa da valorização dos atletas locais. Infelizmente ou felizmente isso só está acontecendo pela situação financeira caótica que ambos vivem. A solução para sair do atoleiro é mesmo uma base local com alguns reforços de peso. Chega de enganadores! Que Remo e Paysandu inspirem-se no Santos que a anos vem contornando as crises financeiras com os meninos da vila.

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