Três moleques, uma bola e nenhuma tristeza

A força do futebol sempre esteve na simplicidade. Para praticar, basta uma bola, algum talento e boa vontade. Nos rincões pobres do Brasil, o jogo encontrou sua casa e sobrevive, impávido colosso, sempre que alguns moleques se dispõem a bater bola. Por puro prazer, pela alegria do companheirismo, pela inocência dos gestos. Bob Dylan escreveu certa vez que o rock se resume a três acordes, uma guitarra vermelha e a verdade. O futebol que tanto amamos é mais ou menos isso aí. E é encantador – quase poético – ver meninos e meninas carregando traves improvisadas, fazendo embaixadinhas a caminho do terreno baldio mais próximo. Sim, nas periferias ainda há lugar para bater bola com a pureza que o jogo exige. Simples assim. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)

29 comentários em “Três moleques, uma bola e nenhuma tristeza

  1. um dia o Euclides “chembra” Bandeira escreveu uma cronica, com essa mesma força poética, chamada O Menino da Trouxa de Roupa que refazia a trajetória de um moleque que ia buscar as roupas da patroa para a sua mãe lavar e se entretia numa pelada dos fins de tarde de Belém, Um retrato fala mais que mil palavras e o esriba baionês emoldurou estas fotos poeticamente.

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    1. Que ótima lembrança, camarada botafoguense. Essa crônica está entre as imortais produzidas pelo gênio Chembra, um dos maiores jornalistas brasileiros de todos os tempos. Comparar meus rabiscos de pretensão poética a essa obra-prima é uma honra e tanto.

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    1. Creia, amiga rubro-negra, o que menos conta nesse registro magistral dos subúrbios de Belém é a cor da camisa ou o escudo no peito. Todos somos apenas pequenos boleiros, cheios de sonhos e a caminho de alguns momentos de pura alegria.

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  2. Bola “canarinho”, pelo jeito meio murcha, talvez furada pelos espinhos de uma roseira ou pela vizinha e concertada com faca quente. Tempos que não voltam mais. Como diria Ataulfo Alves: “eu não sei porque que a gente cresce se não sai do peito essa lembrança…”

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  3. Com uma imagem tão brasileira como essa ainda tem gente que põe o fanatismo na frente.
    Mesmo sendo botafoguense e santista, reconheço que as maiores torcidas do Brasil são do Corinthians e Fla respectivamente, e que a molecada adora se vestir com estas camisas nos campinhos de pelada há muito tempo.
    Aqui no Pará a preferência é pela listrada do papão, o mais querido desse estado.

    Lembro lá em Soure na 4° rua do bairro São Pedro, onde um dia brincavamos numa das muitas tardes que viví lá.

    Era muito comum os turistas andarem por lá, e numa dessas tardes, enquanto paravamos pra que eles podessem passar, um deles com um falar que parecia ser francês, perguntou-me ( já que a bola tinha parado comigo ), “você é o Zico?”, aí eu de bate pronto lhe respondí, “Zico não, sou o Cabinho!” ( artilheiro do papão naquela época ), e ele rindo reproduziu, “Cabinhô”.

    Quanta saudade!

    E quando mais adiante brincavamos a beira-mar, e a bola as vezes quando chutada forte caía no Rio Paracaury?

    Agradeço muito à Deus por ter tido infância…

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    1. Amigo Edson, essas são lembranças maravilhosas, que certamente contribuem para a formação do caráter e consolidação da personalidade. Também tive uma infância privilegiada, no seio de uma grande família onde o amor e o respeito prevaleciam. Por isso, imagens como as capturadas pelo craque Mário Quadros me comoveram tanto.

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  4. Em São Miguel do Guamá, na humilde mas muito feliz infancia, o inicio da chuva servia como sinal e todos os amigos corriam para a rua para a tradicional “travinha”. Como é bom ser criança, que saudade.

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    1. Não há imagem mais brasileira que a da molecada jogando futebol na rua, nos quintais, campinhos ou terrenos desocupados. Todos nós, que temos origem modesta, sabemos bem o que é isso, amigo Maciel.

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  5. Rio Paracauary. Pra quem conhece sabe que esse rio não é brincadeira, é grande, separa Soure de Salvaterra, a correnteza é a forte, eu pescava de rede e de linha lá.
    Mas ir buscar a bola quando caia um pouco longe, não ia de jeito nenhum.

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  6. E Gerson, voltamos no tempo com essas belas fotos, tempo de jogar futebol na praca do carmo na chuva da tarde com aquela famosa bola “Dente de leite”, alem de comer aquela manga e depois correr para o Posto Vasconcelos e tomar aquele banho na mare. Tempo bom, Te dizer!

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  7. Bela crônica, mas precisa só de uma correção: os versos que mencionam a guitarra, três cordas e a verdade foram inseridos pelo Bono (U2) na música do Bob Dylan…

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  8. Cada um faz a sua leitura, mas também é verdadeira aquela de moleques que passam o dia vadiando, sem interesse nos estudos, cheirando cola e mais tarde trombando as pessoas nas ruas. A moeda tem dois lados, mas a hipocrisia tende para a das fantasias cantada em versos e prosas.

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  9. Esse post é uma verdadeira obra de arte: das fotos ao texto.

    algo extremamente simples que chegou a me emocionar.
    talvez pq eu fiz muito isso na minha infância.

    isso deveria ser postado no jornal, pra mais pessoas verem.

    parabéns aos autores.

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  10. Otavio é uma menina mesmo, hoje no Diário na imagem da semana lá eles estão. e ela diz querer seguir o caminho da Marta.
    Boa sorte pra e p/ os garotos.

    Só pra não passar batido gostaria de deixar registrado alguns apelidos de colegas meus nesses bons tempos.

    Pota, prego, jhon onça, kika, Ferré, Luca, olha pra lua, chico, zerinho, malhado e o Beto papa sandalia ( um garoto especial que jogava com a gente ) e outros que não lembro, tudo lá de Soure.
    Não é a toa que estas seleções do interior são cheia de atletas com apelidos estranhos.

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  11. sr gerson nogueira gostei muito dessa foto com tres crianças,indo jogar bola,mas gostaria de saber se foi tirada no pará ou no rio de janeiro.foi um trabalho muito bem feito,do mári quadros.

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  12. Boa tarde S.r. Gerson, eu gostaria de ver essa foto refeita com essas três crianças atualmente, depois de 6 anos para ver como ficaria.
    É uma ideia que eu dou para o S.r. Mário quadros para fazer com antigos trabalhos, ficará muito bom.

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