Coluna de Elias Pinto, publicada no DIÁRIO em 24 de janeiro de 2008, esclarece sobre os critérios que usamos para escrever Paissandu, como sempre foi escrito.
Dias atrás, comentei que o Papão da Curuzu precisava deixar cair a máscara (desta vez não tem nada a ver com jogar de salto alto) e mostrar a verdadeira identidade ortográfica. Ou seja, abrir a porta dos fundos e despejar na lata de lixo da história este mascarado Paysandu, finório falsário, e abrir os braços para acolher de volta o bom e velho Paissandu de Ércio, Bené, João Tavares, Da Costa, Quarentinha…
Perguntava, no artigo referido – e antecipadamente pedia desculpas por minha ignorância futebolística –, se o nome do time bicolor teria sido concebido em homenagem ao cerco e tomada de Paissandu, cidade localizada às margens do rio Uruguai, em dezembro de 1864, por fuzileiros brasileiros (em ação conjunta com os colorados), numa das batalhas da Guerra do Paraguai.
Se fosse esta a origem (e é), notei que neste capítulo do conflito, o da batalha de Paissandu, “Paissandu” aparece escrito assim mesmo em todos os livros brasileiros que conheço e tratam da mais famosa guerra do nosso continente.
Em São Paulo, no centro da cidade, lembrei, temos o Largo Paissandu, cujo nome também alude às primeiras investidas do Brasil na Guerra do Paraguai, já que o nome Paissandu ficara célebre naquela fase preparatória da Campanha.
Disse que a batalha talvez esteja até mais entranhada na alma dos cariocas, ao menos entre aqueles que começaram a ver filmes de diretores como François Truffaut e Jean-Luc Godard no final dos anos 60, em um cinema de arte no Flamengo. Era o Cine Paissandu e seus freqüentadores mais assíduos foram os representantes da chamada “Geração Paissandu”.
Já aqui em Belém desencovaram esse alienígena Paysandu. Uma vez, justificaram-me que era uma volta às origens, de como se grafava o nome do clube quando foi criado. Neste caso, retornemos ao tempo em que se escrevia farmácia com ph.
Se era este o caso, recomendei que se adotasse logo o nome original da cidade uruguaia, Paysandú (é assim que se escreve em espanhol, com acento). O Paysandu da Curuzu nem é português (brasileiro) nem espanhol. E ainda confunde as nossas crianças, que não sabem que diabo de idioma é este. Por que não manter, concluí então, o correto e muito mais digno Paissandu, em respeito às crianças (futuros torcedores) que aprendem o ABC e ao nosso idioma?
Depois de ter escrito o artigo acima, fosforizou-me a memória: o amigo e jornalista paraense Sérgio Buarque de Gusmão, há muito vivendo em São Paulo, visitou este assunto há exatos três anos, em abril de 2001, na revista virtual belemdopara, de boa recordação, hoje apenas um link desativado no arquivo do computador, mas como dói.
Mandei um e-mail ao Sérgio perguntando sobre o texto. Prontamente, na madrugada de ontem ele repassou-o, com votos de boa sorte.
Justamente sob o título “Saudosos da pharmacia”, segue o trecho (Sérgio mantinha uma coluna no site): “Que história é essa de Paysandu? Quando foi fundado, em 1914, o clube homenageou a tomada de Paysandú, pelo almirante Tamandaré, na Guerra do Paraguai, em 1864. Com a reforma ortográfica de 1943, virou Paissandu, como Nictheroy mudou para Niterói, Guarany passou a ser Guarani e o Avahy Football Club tornou-se Avaí Futebol Clube.
Uma rua e um cinema famosos, e um clube de ingleses, no Rio, e um largo central, em São Paulo, também foram alterados. Quando zelavam pelo idioma, os jornais só escreviam o nome do time com i e dois esses. Mas uma parte da imprensa (Folha de S. Paulo, O Liberal etc.) ressuscitou a velha ortografia. A revista Veja dobra o erro: ‘Payssandu’. Esse pessoal parece saudoso do tempo em que se escrevia farmácia com ph. Logo mais vão escrever ‘Travessa Padre Eutychio’.” Na mosca.
Proponho o seguinte: que a diretoria do clube consulte o professor Pasquale Cipro Neto. E mais: se bem conduzido e divulgado, o retorno à grafia Paissandu, tenho certeza, ganharia cobertura nacional no noticiário esportivo, repercutindo a sensibilidade do clube com a língua. Por ora, também proponho ao companheiro Gerson Nogueira a adoção do Paissandu aqui no DIÁRIO.
PAYSANDU? QUANDO ZELAVAM PELO IDIOMA, OS JORNAIS SÓ ESCREVIAM O NOME DO TIME COM I E DOIS ESSES
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