A vesperal de domingo permitiu formar um bom juízo sobre o futebol praticado hoje no Brasil. Postei-me em frente de dois televisores para acompanhar, feito doido, três jogos transmitidos simultaneamente. Remo x S. Raimundo, pela TV Cultura; S. Paulo x Corinthians, pela Band; e Flamengo x Botafogo, pela Globo.
Apesar da concentração máxima, por razões óbvias, no clássico do Rio, fiquei zapeando no canal local e na Band. No fim das contas, sem muita surpresa, admito, cheguei à constatação de que a coisa é mais preocupante do que realmente parece. Para nós, paraenses.
Corintianos e tricolores disputaram um jogo de verdade, dentro dos moldes do moderno futebol praticado nos campeonatos europeus de ponta. Passes certos e em velocidade, jogo corrido, dribles com objetividade. Lances emocionantes do começo ao fim. Salvo por alguns carrinhos criminosos e pontapés desleais, convenientemente ignorados pelo árbitro, o prélio foi representativo da vantagem do futebol paulista sobre os demais no país.
Até no aspecto do marketing, a Paulicéia está menos desvairada do que suas congêneres nacionais. A simples presença de um astro (cadente, mas ainda um astro) Ronaldo no Corinthians já demonstra o abismo que S. Paulo livra sobre os demais centros boleiros do país.
No Rio, um confronto que é exemplo do chamado segundo escalão da bola no Brasil. Times pobres tecnicamente, sem maiores destaques, nenhum craque. Algumas pisadas de bola e dezenas de passes errados. Poucas oportunidades reais de gol e um placar decidido pelo acaso, na raspada de taco do beque botafoguense.
Por fim, o nosso quase clássico Remo e S. Raimundo, no estádio Edgar Proença. O mais lento dos três jogos. Lentidão derivada de um pecado original: qualquer passe de cinco metros já é visto com admiração, tal a imperícia dos jogadores em tocar a bola com um mínimo de precisão. E, como se sabe, o passe é tudo. Sem ele, não há jogo, a bola não rola.
Alguns teimosos ainda não deram o braço a torcer, mas o fato é que o futebol do Pará – que já teve qualidade, diga-se – está a um passo da mediocridade plena, da ruína absoluta. Raros lances dignos de figurar, sem destoar, nos chamados “melhores momentos” que o Bola na Torre habitualmente exibe.
Por que descemos tanto? A pergunta, insistentemente repetida, talvez só tenha uma resposta: envelhecimento de idéias e ausência de visão de longo prazo. O futebol sempre foi tratado como a pesca é tocada nas cidadezinhas do interior: pesca-se para o almoço ou a janta do dia. Nenhuma preocupação com o futuro, nenhum cuidado em buscar exemplos. Os caminhos estão aí, descortinados, mas ninguém quer ver.
Danilo Santiago, um dos baluartes, deixa um recado aos dirigentes do Remo: “Chega de tentar conquistar as coisas na marra. Esqueçam de recorrer às vias judiciais para mudar o mando de jogo. Isso torna o glorioso Clube do Remo pequeno e envergonha a sua torcida. Se tivermos que vencer, tal feito se consumará em Santarém, jogando futebol. Por favor, não acabem de enterrar meu Leão!”.
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