Batalha nos bastidores

As batalhas de bastidores estão em marcha e podem mudar, nas próximas horas, o local da segunda partida decisiva do returno. A determinação de que o jogo seja em Santarém parte da Federação Paraense de Futebol, embora o regulamento do campeonato seja omisso a respeito.

O Remo, que move céus e terra para não jogar no Barbalhão, aposta as fichas em sua força política no TJD. Vai ficar (muito) feio se ganhar a batalha no tapetão e, ainda assim, não conseguir passar pelo temido Mundico.  

Malandragens…

Mais do que a vitória do Santos, 2 a 1, sobre o Palmeiras pela semifinal do Paulista, repercute mesmo é a briga entre Diego Souza e Domingos. A coisa ganha força pela aparente combinação entre o técnico do Santos, Vagner Mancini, e o zagueiro para que Souza fosse provocado. Se rolou esse plano, o resultado foi bem sucedido, pois o Palmeiras saiu perdendo com a expulsão de seu principal meia. O certo é que Mancini, apesar do discurso às vezes modesto, não é de brincadeira. Lembro de um Remo x Paulista de Jundiaí célebre, no Baenão, pela Série B de 2006. Aquele jogo em que um apitador baiano inventou um pênalti, Adriano agarrou a primeira cobrança e ele mandou repetir. O jogo ficou 2 a 2, mas Mancini foi protagonista de uma comédia, fingindo ter sido atingido pela torcida e ameaçando sair da área reservada aos treinadores. Com a manobra, conseguiu dar uma esfriada de uns 10 minutos no jogo. Por isso, não duvido nada que tenha armado essa arapuca para o palmeirense.

Comparação constrangedora

A vesperal de domingo permitiu formar um bom juízo sobre o futebol praticado hoje no Brasil. Postei-me em frente de dois televisores para acompanhar, feito doido, três jogos transmitidos simultaneamente. Remo x S. Raimundo, pela TV Cultura; S. Paulo x Corinthians, pela Band; e Flamengo x Botafogo, pela Globo.

Apesar da concentração máxima, por razões óbvias, no clássico do Rio, fiquei zapeando no canal local e na Band. No fim das contas, sem muita surpresa, admito, cheguei à constatação de que a coisa é mais preocupante do que realmente parece. Para nós, paraenses.

Corintianos e tricolores disputaram um jogo de verdade, dentro dos moldes do moderno futebol praticado nos campeonatos europeus de ponta. Passes certos e em velocidade, jogo corrido, dribles com objetividade. Lances emocionantes do começo ao fim. Salvo por alguns carrinhos criminosos e pontapés desleais, convenientemente ignorados pelo árbitro, o prélio foi representativo da vantagem do futebol paulista sobre os demais no país. 

Até no aspecto do marketing, a Paulicéia está menos desvairada do que suas congêneres nacionais. A simples presença de um astro (cadente, mas ainda um astro) Ronaldo no Corinthians já demonstra o abismo que S. Paulo livra sobre os demais centros boleiros do país. 

No Rio, um confronto que é exemplo do chamado segundo escalão da bola no Brasil. Times pobres tecnicamente, sem maiores destaques, nenhum craque. Algumas pisadas de bola e dezenas de passes errados. Poucas oportunidades reais de gol e um placar decidido pelo acaso, na raspada de taco do beque botafoguense.

Por fim, o nosso quase clássico Remo e S. Raimundo, no estádio Edgar Proença. O mais lento dos três jogos. Lentidão derivada de um pecado original: qualquer passe de cinco metros já é visto com admiração, tal a imperícia dos jogadores em tocar a bola com um mínimo de precisão. E, como se sabe, o passe é tudo. Sem ele, não há jogo, a bola não rola.

Alguns teimosos ainda não deram o braço a torcer, mas o fato é que o futebol do Pará – que já teve qualidade, diga-se – está a um passo da mediocridade plena, da ruína absoluta. Raros lances dignos de figurar, sem destoar, nos chamados “melhores momentos” que o Bola na Torre habitualmente exibe.

Por que descemos tanto? A pergunta, insistentemente repetida, talvez só tenha uma resposta: envelhecimento de idéias e ausência de visão de longo prazo. O futebol sempre foi tratado como a pesca é tocada nas cidadezinhas do interior: pesca-se para o almoço ou a janta do dia. Nenhuma preocupação com o futuro, nenhum cuidado em buscar exemplos. Os caminhos estão aí, descortinados, mas ninguém quer ver. 

 

 

Danilo Santiago, um dos baluartes, deixa um recado aos dirigentes do Remo: “Chega de tentar conquistar as coisas na marra. Esqueçam de recorrer às vias judiciais para mudar o mando de jogo. Isso torna o glorioso Clube do Remo pequeno e envergonha a sua torcida. Se tivermos que vencer, tal feito se consumará em Santarém, jogando futebol. Por favor, não acabem de enterrar meu Leão!”.