Retrato sem retoques do bravo jornalismo tapuia

justica31

POR FERNANDO RODRIGUES, no blog Tijolaço

Duas colunas e uma revelação: a nossa grande imprensa perdeu o pudor de que a Justiça em nosso país seja exercida com dirigismo. Ou seja, que aquela venda dos olhos de Têmis dê uma levantadinha e veja o que pode ser tratado por quem.

Miriam Leitão é mais discreta e apenas sugere a indicação de Sérgio Moro para o STF en passant, mas cobra de Carmen Lúcia uma “solução criativa” para a redistribuição dos processos da Lava-Jato que estavam com Teori Zavascki.

Diz que o novo relator deveria ser, segundo as palavras do próprio Teori sobre a magistratura, “alguém que não tenha perdido a capacidade de condenar nem de absolver”.

Seria bom que dissesse quem perdeu esta condição, mas é melhor ainda que atente que guindar Sérgio Moro à corte suprema do país, em meio a um julgamento em que ele é o maior exemplo de quem perdeu de absolver e apenas condena é, mesmo ele ficando impedido nos julgamentos, constranger o STF num caso onde o falecido Teori tinha anulado e repreendido o juiz paranaense por realizar e divulgar escutas ilegais.

Já Eliane Cantanhêde, mais desabrida, fala na necessidade de “encontrar brechas” no regimento do STF:

A escolha do novo relator da Lava-Jato, a maior investigação de corrupção de todos os tempos, tem de seguir o regimento, mas deve também recorrer às brechas para evitar uma pessoa errada, na hora errada, no lugar errado – o oposto de Teori.

Também ela faria um favor aos seus leitores se dissesse quem seria, e porquê, a pessoa errada, na hora e errada e no lugar errado de ministro do Supremo. Mas faz um desserviço à Justiça quando prega buscar brechas para uma solução dirigida, por se tratar de um caso “excepcional”.

A lei é – ao menos deveria ser – para todos e tratar algo como exceção na Justiça é transformar o tribunal num tribunal de exceção, o que é uma ofensa à Constituição e ao Estado de Direito. Mais ou menos como fizeram os que deram a Moro, apesar da decisão de Teori Zavascki, de não sofrer sanções por aquelas ações absurdas.

Os dois absurdos narrados, porém, já escandalizam a muito poucos, tamanho o dirigismo judicial em que mergulharam nosso país, onde – como lembrava Teori Zavascki – um juiz já não tem condições de absolver ninguém sem tomar a culpa de cúmplice.

A única excepcionalidade que se pode e até se deve permitir neste processo, se é que se busca a lisura, é sortear em “papeizinhos” o novo relator da lava Jato, para evitar qualquer suspeita de que, face à série de coincidências, alguém possa imaginar que o sorteio eletrônico do STF tenha, nos casos que possam atingir Lula, indicar Gilmar Mendes como relator, como em um punhado de vezes recentes.

Um comentário em “Retrato sem retoques do bravo jornalismo tapuia

  1. Ainda que seja o sorteado relator, no papelzinho, ou eletronicamente, o que não se pode esquecer é que o Gilmar Mendes proferirá um único voto. Daí, antes de registrar meu comentário definitivo, eu faço uma pergunta preliminar: ainda que ele não seja confiável aos olhos dos lulopetistas, e seja o preferido dos tucanos e afins, como ele, o GM, sozinho, poderá ser determinante num eventual prejuízo dos lulopetistas e/ou no favorecimento aos tucanos e quejandos, com um único voto na condição de relator?

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