POR GERSON NOGUEIRA
A lembrança que me vem à cabeça quando se fala em Marcelo Veiga é da passagem fugaz por aqui, em 2012, dirigindo o Remo em partida decisiva para tentar obter o acesso à Série C. Ficou apenas por três jogos, mas demonstrou profunda falta de observação dos jogadores que tinha no elenco. Elegeu o veterano Ávalos, que veio em fim de carreira para cá e que – para piorar ainda mais as coisas – estava lesionado.
Afirmou com todas as letras que Ávalos era seu jogador de referência, para comandar a zaga e liderar o time em campo contra o Mixto. Lento, sem poder de marcação, o ex-jogador em atividade levou um baile do também veterano Nonato, sendo responsável direto pela eliminação azulina naquela partida.
Em favor de Veiga, há o fato indesmentível de que aquele time do Remo foi um dos mais fracos dos últimos anos, montado por Edson Gaúcho. Para disputar três jogos, o técnico herdou um grupo que incluía Alceu, Laionel, Dida, Edu Chiquita, Mendes e Fábio Oliveira. Ávalos era apenas o pior entre os piores.
De qualquer maneira, naquela ocasião, Veiga veio debelar um incêndio iniciado por outro treinador. A ele não pode ser atribuída a responsabilidade pelo insucesso do time.
Sua última passagem por Belém foi como adversário do Remo. Desta vez, para desagrado dos azulinos, Veiga triunfou com o Botafogo de Ribeirão Preto, levando a melhor diante de um Mangueirão lotado. Classificou o time paulista com um empate sem gols, sustentado com indiscutível competência e estratégia.
É esta imagem vencedora e positiva que o Remo abraça ao contratá-lo outra vez. Pode-se dizer que o clube abre uma nova oportunidade para o próprio Veiga, que logo depois da conquista do título da Série D foi surpreendentemente liberado pelo Botafogo.
A diretoria informa que o treinador chega na quarta-feira, a tempo de dirigir os últimos treinos e montar o time para o clássico contra o Papão no domingo. Vale dizer que o novo técnico terá que operar um pequeno milagre: devolver ao Remo a confiança perdida ao longo dos últimos seis jogos, quando o time foi incapaz de vencer confrontos contra adversários até de nível inferior.
Há muito mais a corrigir no time do que apenas posicionamento e configurações táticas. Será necessário, acima de tudo, incutir um novo ânimo no elenco. É uma tradição do futebol a superação experimentada por times que trocam de treinadores. O motivo é simples: os jogadores se esforçam mais no sentido de deixar boa impressão no comandante que chega.
Veiga terá que se valer dessa condição e transmitir motivação ao grupo. Apesar do desafio representado pela estreia justamente contra o maior rival, há a oportunidade de utilizar essa situação como fator positivo. Afinal, vencer um clássico tem sempre caráter revitalizador tanto para o time quanto para a torcida.
A troca de comando se fazia necessária desde o final do primeiro turno, quando o Remo evidenciou falhas graves quanto à organização em campo. Sempre foi um time instável, que não conseguia manter o mesmo ritmo ao longo de 90 minutos. Quando começava bem, caía na etapa final – e vice-versa.
As vitórias eram obtidas muito mais pela habilidade individual dos principais jogadores, como Ciro e Eduardo Ramos. Quando ambos eram bem marcados, o Remo não funcionava como time.
Muita gente não se deu conta, mas a decisão do turno na série de tiros livres da marca do pênalti contra o Papão escancarou uma das maiores deficiências de comando técnico do lado azulino: a falta de treinamento adequado para o duelo de penais, ao contrário do adversário, que tinha anotações e estatísticas sobre as características dos atletas remistas que participaram das cobranças.

Marcelo Veiga vem para consertar a nave em pleno voo. Precisa organizar rapidamente um processo de recuperação, capaz de obter o milagre da salvação no Campeonato Paraense, e depois construir um novo elenco para o Brasileiro da Série C. Que seja mais certeiro nas contratações e que evite apostar na geração sub-40, como fez Leston – com inestimável ajuda do gerente Fred Gomes.
Acima de tudo, que Veiga tenha mais sorte desta vez. Vai precisar.
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Direto do blog
“Faz tempo que vinha falando que o Remo estava perdendo tempo com esse Leston. Três meses perdidos e jogados fora. Só agora que tomaram uma atitude que nem era preciso. Minha mãe na sua santa sabedoria sempre diz: ‘Meu filho, pobre quando quer fazer alguma coisa, que faça bem feito e de uma só vez, mesmo que custe caro, para não gastar novamente refazendo tudo de novo’.”
De Jaime, torcedor azulino radicado nos Estados Unidos.
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“Gostei da contratação. Tem que focar na preparação da equipe para a série C. Suponho que conheça bons valores do campeonato paulista, já que é de lá e estava treinando um time de lá. Espero que a diretoria contrate jogadores novos e que caibam no orçamento do clube. Última passagem dele pelo leão não serve de parâmetro. Veio apagar incêndio apenas.
Que a diretoria lhe dê condições para trabalhar. Dá-lhe Leão!!”.
De Luis Felipe Corrêa, apostando tudo no perfil paulista de Veiga.
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“Isto significa que, a partir de hoje, o Remo deverá pagar dois técnicos: a multa rescisória do que está de saída e os salários do que virá. Para um clube que nada em dívidas, significa mais problemas futuramente”.
De Jorge Amorim, prevendo novos problemas para o Leão.
(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 29)