As ruas

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POR JOÃO BOSCO MAIA, no Facebook

Ontem, na velha e amiga rua, reencontrei dezenas de companheiros. Entre as palavras de ordem e as passadas, relembramos de outros momentos semelhantes ao que estávamos. Relembramos desde as minipasseatas, que recebiam esse nome pelo número pequeno de pessoas e pela sua curta duração. Não demoravam mais do que um quarteirão, pois tínhamos que correr da Polícia Militar e do Exército. A ordem escrita em ato institucional era: nada de motim. Quantas corridas dessas durante a madrugada, deixando pincéis, lata de tinta e a frase inacabada no muro (a única imprensa que nos restava)? Ah, queridos companheiros, se juntássemos os passos dados das vezes que fomos para a rua enfrentar a ditadura, como nunca andamos em separado, teríamos dado a volta ao mundo.

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Depois, vieram as lutas ecológicas (quantas!), as estudantis (restaurante universitário, meia passagem, eleição direta pra reitor, fim do regime seriado), as sindicalistas (direito de greve, data-base, 1/3 de férias), as propriamente políticas (sepultamento da ditadura, diretas-já). Fomos às ruas contra os assassinatos dos homens ligados ao campo (Expedito, João Canuto, o genocídio da Curva do S). Cruzamos a cidade de Belém chorando sobre os caixões de Paulo Fonteles e João Batista. Voltamos ontem à rua, e nela estaremos sempre, porque, no dia que não o fizermos, estará acabada a finalidade do homem sobre a face do planeta. O triste somente é tornar à rua não por uma reivindicação nova, mas pela mesma síndrome que convergiu para o golpe de 64, cujo fator preponderante é a reunião de pessoas que nunca antes foram às ruas.

4 comentários em “As ruas

  1. Outro dia, conversando com o amigo Lopes, lembrei disso. E tudo isso pra que: para ver o país entregue de volta a maluf, a collor, saney, jeferson, renan, cunha, denre outros tão maléficos quanto?! Quem recebeu o país tão duramente retomado não tinha o direito de devolvê-lo aos algozes.

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  2. Penso do mesmo modo, caro Oliveira, mas está difícil definir que algozes são esses, simplesmente porque parece que todos, no afã de salvar a pátria, acabam fazendo perigosas assunções. Por exemplo, como assumir que a prisão de Cunha é menos importante que a de Lula, se está até o talo de acusações e já é réu no STF? Ora, a proporcionalidade seria um critério razoável para a democracia (penso) para definir as prioridade de justiça, quero dizer, cobraria proporcionalmente que se cumpra os ritos legais conforme os casos se desdobrem. Cunha já deveria ter ido à cadeia, mas parece haver uma negociação para livrá-lo desse fim. Ora, uma vez réu, e Lula não é réu, a prioridade de cadeia é daquele que, condenado, tendo culpa provada pois, é que deveria ir para lá. Entendo os atos pró-impeachment como a inversão do rito jurídico e condenação a priori de uns, a absolvição de outros. Ora, antes de Lula ir a julgamento, é preciso processar e prender Cunha, que já é réu no STF. Por causa desses desmandos do judiciário é cada dia mais notória a parcialidade com o que se conduz a justiça contra a esquerda.

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  3. Amigo Lopes, olhando o que foi feito até aqui, quer me parecer que a prisão ou a liberdade dos acusados não está relacionada obrigatoriamente a uma cronologia das etapas em que os casos se encontram.

    Normalmente as prisões têm ocorrido supostamente para preservar as investigações, pois os presos estariam atrapalhando ou querendo atrapalhar as investigações, o que pode ocorrer antes da condenação final.

    Quer dizer, avaliando pelo que já ocorreu até aqui, salvo se o cunha for apanhado atrapalhando as investigações, obstruindo a justiça, ele só será preso ao final do processo, se for condenado.

    Antes disso, o máximo que se pode conseguir é afastá-lo da presidência da câmara.

    Quanto ao ex presidente, de minha parte, não vejo como prioritário prendê-lo. Pra mim, o importante esclarecer, usando o tempo que for necessário para tal, é se há participação dele nas malfeitorias que inegavelmente ocorreram e estão ocorrendo no Brasil. E, se há, que se esclareça o quanto, o como e o onde.

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  4. Pois é, caro Oliveira, Cunha já é réu pelas denúncias de Janot ao Supremo. Cunha já é réu. Lula, não. Lula é investigado por causa de delações que não deram em nada. E Lula não atrapalhou nenhuma investigação até aqui (até onde se saiba), nem deixou de comparecer quando convidado a depor. Cunha tem atuado acintosamente para fugir ao julgamento, ameaçando pessoas, inclusive. A condução coercitiva do Lula foi um exagero. Mesmo pra você, caro Oliveira, um debatedor digno e elegante, a prisão de Lula não é prioritária. Então, por quê? Por que o tratamento tão distinto dado logo a um ex-presidente da república? É de se estranhar…

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