À PF, Lula questiona MP e seletividade da Lava Jato

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“Eu estou participando do caso mais complicado da história jurídica do Brasil”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no depoimento prestado à Polícia Federal, quando foi conduzido coercitivamente no dia 4 de março. A íntegra das informações de Lula foram vazadas à imprensa.
Durante grande parte das explicações, Lula mostrou-se indignado e inconformado com a ação e respondeu a perguntas sobre o apartamento triplex no Guarujá, antes do pedido dos procuradores do MPSP de prisão preventiva do ex-presidente: “se você está atrás da verdade, mande prender um cidadão do Ministério Público que diz que o apartamento é meu, mande prendê-lo”, rebateu Lula ao delegado da PF.
E questionou a seletividade das investigações:
“‘Tenho um apartamento’ que não é meu, eu não paguei, estou querendo receber o dinheiro que eu paguei. Um procurador disse que é meu, a revista Veja diz que é meu, a Folha diz que é meu. A Polícia Federal inventa a história do tríplex que foi uma sacanagem homérica, de uma offshore do Panamá que veio para cá, que tinha vendido o prédio. Toda uma história para tentar me ligar à Lava Jato. (…) Passado alguns dias, descobrem que a empresa offshore não era dona do triplex, que dizem que é meu, mas era dona do triplex da Globo, era dono do helicóptero da Globo. Aí desaparece o noticiário da empresa de offshore”, afirmou.
“A empresária panamenha é solta rapidamente, nem chegou a esquentar o banco da cadeia ,já foi solta, porque não era dona do Solaris que dizem que é do Lula, ela é dona do Solaris que dizem que é do Roberto Marinho, lá em Paraty. E desapareceu do noticiário. E eu fico aqui que nem um babaca respondendo coisas de um procurador, sabe, que não deve estar de boa fé, quando pega a revista Veja a pedido de um Deputado do PSDB do Acre e faz uma denúncia. Então eu não posso me conformar. Como cidadão brasileiro, eu não posso me conformar com esse gesto de leviandade”, desabafou.
Os promotores do MPSP, Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araujo, sustentam que o triplex 164-A, no Condomínio Solaris, no Guarujá, é do ex-presidente, em denúncia o acusando de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Antes da denúncia ser entregue à Justiça, o delegado da Polícia Federal, a pedido do juiz Sergio Moro, questionou Lula sobre o caso.
“Eu espero que quando terminar isso aqui alguém peça desculpas, alguém fale: ‘Desculpa, pelo amor de Deus, foi um engano'”, disse Lula.
Instituto Lula
O delegado da Polícia Federal também questionou se o ex-presidente havia pedido dinheiro a empresas para os projetos do Instituto Lula. “Não, porque não faz parte da minha vida política. Desde que eu estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas”, respondeu o ex-presidente.
Lula afirmou que, por isso, não participava das reuniões da diretoria, porque trabalha “com a ideia de que os diretores têm que ter muita autonomia com relação” a ele, afirmando que “achava” que a responsabilidade de coletar recursos da entidade é do presidente Paulo Okamotto e dos quatro diretores, Clara Ant, Celso Marcondes, Paulo Vannuchi e Luiz Dulci. “Deve ter mais gente que pedia, aí teria que perguntar pra quem conhece”, completou.
O Instituto entrou para a mira da Lava Jato porque os investigadores consideraram que a movimentação financeira da entidade e da empresa de palestras de Lula, a LILS, poderiam estar envolvidas no esquema, uma vez que empreiteiras da Lava Jato fizeram doações e patrocinaram palestras.
De acordo com a equipe de delegados e procuradores, as empreiteiras foram responsáveis pela entrada de R$ 20,7 milhões de um total de R$ 35 contabilizados no Instituto Lula, além de R$ 10 milhões na LILS.
O ex-presidente respondeu que “não fazia ideia” sobre detalhes das movimentações financeiras do Instituto Lula. “Nem no Instituto e nem em casa eu cuido disso, em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida e no Instituto tem pessoas que cuidam”, afirmou.
Bumlai
Também na mira dos investigadores a relação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o pecuarista José Carlos Bumlai, os delegados questionaram sobre um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões que Bumlai teria feito em outubro de 2004, junto ao Banco Schahin, e que o destino seria o comitê do PT para campanhas eleitorais, segundo a tese da Operação Lava Jato.
Bumlai está preso desde o dia 24 de novembro do último ano, e a PF suspeita que, em troca do empréstimo, a Schahin foi beneficiada no governo do ex-presidente Lula com um contrato, sem licitação, de US$ 1,6 bilhão para um navio sonda da Petrobras, em 2009.
O delegado fez várias perguntas se o ex-presidente teria conhecimento dos processos desse empréstimo, e Lula respondeu com sinal negativo com a cabeça para todos os questionamentos. Apenas quando perguntado se a contratação da Schahin pela Petrobras teria relação com o empréstimo de Bumlai, Lula afirmou que acreditava “que não”.
Delator
Os investigadores então mencionaram o lobista Fernando Falcão Soares, conhecido como Baiano, que afirmou que o pecuarista preso teria intercedido diretamente junto a José Gabrielli, então presidente da estatal, e junto a Lula para conseguir a aprovação do contrato bilionário.
“O sr. conhece a pessoa de Fernando Baiano?”, questionou. “Nunca vi”, respondeu Lula, completando: “nunca vi e agora que eu não quero ver mesmo”. Ainda assim, cuidou para informar que, como participa de muitas atividades e acredita que é mais fotografado do que qualquer pessoa neste país, pode ser que tenha se encontrado com o delator, mas que não tem “a menor lembrança desse cidadão, a não ser pela imprensa”.
Nesse momento, o investigador detalhou de qual delação se tratava. O ex-presidente respondeu: “primeiro, eu não levo a sério a delação premiada tal como está sendo feita. Segundo, o cidadão pode ter contado uma mentira pensando em ganhar benefício. [Baiano] deve ter ganhado algum benefício para contar uma mentira”, concluiu Lula.(Do Jornal GGN)
Leia a íntegra do depoimento de Lula à PF no caso Lava Jato 

10 comentários em “À PF, Lula questiona MP e seletividade da Lava Jato

    1. Falando bobagem, Adilson. Estamos defendendo apuração rigorosa e séria contra tudo e contra todos, doa a quem doer. Só não pode é imaginar uma Justiça caolha, que ignora todas as bandalheiras tucanas (FHC, Aécio, Alckmin, Serra & cia.. e ainda tem o pulha do Eduardo Cunha) e centra fogo em Lula, que, por coincidência, é o candidato que eles mais receiam enfrentar em 2018. Ora, ora, amigo, só não vê quem não quer a blindagem que os tais setores da oposição (aliás, escorraçados da marcha coxinha em SP) usufruem. Deixemos de ingenuidades e falsos melindres.

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  1. O munda da muitas voltas mesmo, Dirceu, Genuino e Lula que o digam.
    @EdsonMatoso1951: O que mais me intriga não é a adesão dos ignorantes, mas de quem tem perfil que aponta pra um saber acadêmico. Uma estranha defesa do crime!

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    1. Mas continua a girar, meu caro. Aguardemos. Quanto às opiniões político-partidárias são previsíveis a essa altura, de parte a parte. Normal.

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  2. Você falou em coincidência, Gerson. As coincidências são presença constantes na vida pública de Lula, enquando isso o Brasil desce a ladeira da credibilidade internacional, ou isso pouco importa? Volto a dizer, não subestime nossa inteligência e o bom senso…

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