POR GERSON NOGUEIRA
Quando sentei para escrever, veio à mente uma velha canção de Bob Marley que fala de redenção e liberdade. Um dos versos é particularmente expressivo em Redemption Song: ‘emancipem-se da escravidão mental, ninguém além de nós mesmos pode libertar nossa mente’, diz o poeta-músico jamaicano.
A coincidência de ouvir Marley na sexta-feira à noite é particularmente feliz. Primeiro, porque a canção é linda e fácil de cantarolar. Segundo, porque fala de emancipação, algo tão caro e nem sempre fácil de lidar em pleno século XXI num país que ainda busca libertar-se em diversas áreas.
Podia estar tratando de mil outros temas a partir do eixo da música de Marley, mas a questão que interessa aqui é a realidade do futebol, manifestação de talento popular tão adorada como pouco cuidada no Brasil.
Refiro-me a questões básicas, como o aprendizado do jogo. Quase todo moleque já nasce sabendo os significados do futebol. Organizar-se coletivamente é o princípio número um. Procurar os caminhos e atalhos para chegar ao gol é consequência e fim.
A vantagem de conhecer animicamente tudo que se refere ao futebol, através da genética de nossos tataravós índios e negros, é dos bens mais preciosos do país pentacampeão mundial na modalidade. Um patrimônio que, como quase todos os demais, é vilipendiado a todo instante.
Por isso, o que seria a nossa redenção – lá vem Marley de novo – tornou-se um fardo do qual não conseguimos cuidar adequadamente. A rica herança de habilidades naturais para o drible, o domínio e o arremate está a se perder pelos desvios do tempo.
As novas gerações não revelam mais a mesma facilidade para as jogadas que antes nos tornavam únicos no planeta. Foi aqui que alguém inventou a folha seca nas cobranças de falta. Nasceu também em solo pátrio o drible da vaca. Como vem da picardia tropical a bicicleta e o elástico (ou carrapeta). Até o toque de trivela tem patente nacional.
Tudo isso compunha um fabuloso acervo, que saía das cabeças iluminadas para se espraiar pelos campos em lances práticos e geniais na simplicidade da execução. Representava ao mesmo tempo propriedade autoral e libertação, na medida em que tínhamos a primazia e os benefícios desses atalhos que a bola proporcionava.
Como não cuidamos direito dessa herança, alguns piratas (como na música de Marley) se apoderaram espertamente e espalharam o que era exclusividade nossa em patrimônio de todos. As cópias se disseminaram pelo mundo. No começo, repetiam muito mal as acrobacias de Pelé, Garrincha, Didi, Tostão e Riva. Depois, foram aperfeiçoando e observando até chegar à quase perfeição a partir dos anos 80.
Hoje, os garotos que se encantam com Messi e Cristiano Ronaldo ignoram que os originais eram brasileiros. Alguns, por desinformação, até duvidam que um dia o Brasil gerou boleiros muito melhores que os dois astros atuais.
A redenção só virá quando a essência for novamente valorizada e a maravilhosa técnica deixada por nossos antepassados foi revisitada. Talvez ainda haja tempo e condição de estabelecer essa conexão entre gerações.
Com um mínimo de interesse, seria possível estabelecer laboratórios de excelência, onde os meninos pudessem jogar à brasileira de novo, como Pep Guardiola tanto aprecia reproduzir em seus times.
A matéria-prima está aqui, mas os que mandam ainda preferem dormir o sono dos acomodados. Até quando?
————————————————–

Leão inicia as decisões do returno
O Remo vai a Paragominas com a missão de vencer para manter vivo o sonho do tricampeonato, que foi seriamente prejudicado pela perda do primeiro turno. Com quase o mesmo time que derrotou o Náutico de Roraima na quinta-feira, sem fazer muito esforço, Leston Junior terá o desafio de superar um adversário angustiado pela ameaça de rebaixamento, consciente de que o returno será uma sucessão de decisões para o time.
O Paragominas trocou de técnico (Mariozinho por Samuel Cândido), mas não reforçou o elenco, que continua a ser um dos mais limitados do atual Parazão. Só conquistou três pontos na competição e é o oitavo na classificação geral. Em casa, porém, é uma equipe tradicionalmente aguerrida. Aleílson é o principal nome do time e tem o hábito de jogar bem contra a dupla Re-Pa.
O Remo, que venceu uma (Cametá) e perdeu outra (São Francisco) como visitante no Parazão, é um time em busca de afirmação. Precisa acreditar em sua própria força. Em determinados jogos, o excesso de preocupação defensiva compromete a movimentação de um ataque que tem peças qualificadas, como Ciro e Léo Paraíba.
Leston gosta de jogar com três volantes – fez isso até contra o modesto Náutico – e deve manter essa configuração hoje. A novidade pode ser o retorno de Chicão, o mais qualificado na marcação. Outra cara nova é Potita, que jogou em Boa Vista, mas ainda não estreou no Parazão. E há o garoto Marcinho, meia apontado como uma das joias da base remista.
————————————————–
Protestos para pressionar liberação de grana
Os clubes que disputam o campeonato se movimentam para pressionar a Federação Paraense de Futebol quanto aos repasses do dinheiro do convênio com o governo do Estado.
Muitos já estão chiando, aperreados e com contas a pagar, como Independente, São Raimundo e Paragominas. A dupla Re-Pa foi convidada a participar dos protestos antes dos jogos, mas se mantém em silêncio.
Apesar de contarem com elencos mais caros, Leão e Papão contam com a bilheteria dos jogos e a receita dos programas de sócio-torcedor, já os interioranos dependem dramaticamente desse patrocínio para sobreviver.
————————————————-
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro apresenta o programa, com Giuseppe Tommaso, Valmir Rodrigues e este escriba de Baião na bancada. Começa logo depois do Pânico, na RBATV, por volta de 00h20.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 13)
Amigo Gerson,
O futebol, em termos de preparação do atleta, não deve mais ser visto como apenas campo (treinamento técnico, tático e físico).
Penso que, está na hora das escolinhas tirarem tempo para formar o humano.
Para isto, é necessário ver o futebol (o esporte de modo geral) como ciência, mas, para ver como ciência deve-se estudar.
Uma sugestão simples para os formadores de atletas, que tal eles ensinarem nossos jovens atletas a assistirem taticamente as partidas de futebol? Que tal eles ensinarem um pouco da história do futebol no
mundo?
CurtirCurtir
Posso estar sendo repetitivo em elogios aos textos do amigo Gerson, mas deixem eu ser. Li o de hoje de forma prazerosa cada palavra escrita, ainda mais com um tema importante do nosso futebol onde faz uma analogia entre o passado e o presente dos jogadores mais importantes, com suas jogadas e genialidades. E nesse texto o escriba mostra todo seu conhecimento sobre futebol, é só observar o rico conteúdo no desenvolver do texto. Amigo, eu, e acredito que a maioria dos frenquentadores do blog e leitores do Diário do Pará, te colocamos no rol entre os maiores articulistas sobre futebol neste país. Parabens mais uma vez, Gerson.
CurtirCurtir
Concordo plenamente com o que afirmou o Lucilo acima:Gerson Nogueira é mestre absoluto na análise futebolística; a meu ver, regionalmente falando, só o grande Carlos Castilho lhe ombreia;não há terceiro. Parabéns, Gerson ? Vida longa ao jornalista e blogueiro !
CurtirCurtir
Tá muito difícil esta redenção. Pelo menos com os dirigentes brasileiros, com os técnicos brasileiros e com a dita midia especializada em futebol brasileiro, não necessariamente nesta ordem, os quais, mais se interessam pelos resultados financeiros do esporte do que pelo esporte pp dito. Ressalvando, logimente, as honrosas exceções em cada um dos setores. Mas, uma coisa é certa, tanto mais difícil vai ficar quanto mais tarde as exceções consigam mostrar com seu trabalho nas respectivas áreas. À luta, em busca da redenção, portanto.
Quanto ao Mais Querido, algo me chamou a atenção na Coluna de hoje: o Remo (…) “é um time em busca de afirmação. Precisa acreditar em sua própria força. Em determinados jogos, o excesso de preocupação defensiva, compromete a movimentação de um ataque, que tem peças qualificadas, como Ciro e Leo Paraíba.”
A passagem aspeada traduz examente meu pensamento. E eu ainda diria com todas as letras: é o a filosofia adotada pelo técnico que vem deprimindo a autoestima dos atletas e inibindo o aproveitamento eficaz e eficiente de todo o potencial técnico dos jogadores, potencial este que pode não ser diferenciado na maioria, mas que já deu mostras de estar subutilizado.
CurtirCurtir
Deus tá vendo você que foi pra doca comemorar os títulos do Tourinho, e hoje tá na manifestação contra corrupção!
CurtirCurtir
O Remo tem um time que a hora que der liga é sério candidato a subir pra série B e conquistar a Copa Verde. Claro, faltam ajustes em algumas posições porque a diretoria, incompetente como sempre, deixou ao relento, como pelas saídas de Ilaílson e de Mateus Muller e Alex Ruan. Digo, e digo bem, que o maior problema deste, e de qualquer técnico que passe pelo Baenão, é a diretoria. Tomara que André Cavalcante mude esta tradição.
Aí entramos no tema principal da coluna, a capacidade de administrar um clube que têm os cartolas. Desnecessário dizer que é praticamente zero. Mas, uma vez dito, claro está que a reforma começa pela renovação do pensamento “cartolista” nacional, é dizer, é preciso renovar e desde já confiar o futebol brasileiro a novos gestores, principalmente porque a cada dia fica mais claro que os atuais donos da bola no Brasil são obtusos personagens como o perna de pau que é dono da bola, e titular do time por consequência disso e não da habilidade!
Nasci no país do futebol. No Brasil, não na Inglaterra, bendita seja a verdade. Mas, para meu espanto, devo morrer no país do voleibol. No Brasil mesmo, não nos EUA. Que coisa hein?!
CurtirCurtir