Por Gerson Nogueira
O futebol sempre permite extrair benefícios das situações mais adversas ou, em outras palavras, transformar limão em limonada. O inesperado desfalque de Leandrinho força mudanças na configuração do meio-de-campo do Paissandu, mas também permite ao técnico Lecheva algumas variações.
Pode, inclusive, abrir espaço para um quarteto mais agressivo, que não se limite a marcar e destruir. Billy, Neto, Harison e Tiago Potiguar podem dar ao time um poder de fogo considerável, principalmente pela rapidez na transição entre meio e ataque. Harison, que ainda não tem condição de jogar os dois tempos, poderá ser substituído por Cariri ou Robinho.
Além disso, os quatro acima citados aumentam a qualidade do passe, fundamento decisivo em confrontos com equipes de bom nível técnico. Lecheva deve levar em conta o fato de que o Coritiba usa jogadores ágeis e habilidosos no meio-de-campo, exigindo marcação igualmente qualificada.
Ao mesmo tempo, meia-cancha talentosa é a melhor opção para um ataque que se pretende veloz e combativo. Nos treinos preparatórios para o jogo contra os paranaenses, Rafael Oliveira e Héliton têm sido os titulares. A opção de Lecheva demonstra que ele soube decifrar corretamente os sinais daquela que é a melhor apresentação do Paissandu nos últimos dois anos: o segundo tempo contra o Sport na Ilha do Retiro.
Naquela noite inspirada, Héliton foi peça decisiva para o brilhante aproveitamento do ataque bicolor. Entrou na etapa final, marcou dois gols e confundiu por completo o setor defensivo dos pernambucanos. Penso que o atacante já teria feito um carnaval no primeiro jogo, em Belém, caso tivesse sido escalado ao lado de Potiguar e Rafael Oliveira.
O único inconveniente é que, depois de ter eliminado um time como o Sport, o Paissandu deixou de ser apenas franco-atirador. Ainda na condição de azarão, passa a ser visto como potencial candidato e certamente vai merecer atenção especial por parte do Coritiba. Ao mesmo tempo, não existe mais o fator surpresa. Pikachu, Potiguar e Héliton não são mais armas secretas. Enfim, são os ossos do ofício.
A ameaça de perda do mando pelo Remo na decisão do returno expõe algumas questões que merecem análise mais séria e conseqüente no futebol paraense. A definição sobre o local do jogo de domingo acontece hoje, depois que o clube apresentar um “plano especial de segurança”.
Um eventual veto ao estádio Evandro Almeida significa a cassação de um direito que o regulamento do Campeonato Paraense dá aos finalistas de turno. Todos, sem exceção, desde o ano passado, tiveram o mando de campo respeitado nas finais de turnos.
Foi assim com S. Raimundo, Independente, Águia, Tuna, Paissandu, Cametá, S. Francisco e o próprio Remo – que mandou normalmente no Baenão a semifinal do primeiro turno contra o Águia. Assim meio de supetão, sob medida para criar celeuma, surge uma recomendação da Polícia Militar (avalizada pela Federação Paraense de Futebol) desaconselhando a semifinal no estádio remista. Tal medida, se levada a cabo, termina por beneficiar o Águia, a quem foi permitido jogar no acanhado estádio Zinho Oliveira.
Há quem se apóie no Estatuto do Torcedor, alegando direitos do consumidor para o veto ao Baenão. Ora, a lei não deve escolher cara e nem esconder favorecimentos. Se o Estatuto não foi usado para avaliar o estádio marabaense por que serviria para condenar a praça de esportes dos azulinos?
Causa estranheza, ainda, que seja o clube – e não a PM – a entidade responsável por elaborar o tal plano de segurança, pois se trata de um assunto de polícia. O fato é que o mando deve ser respeito, nem para isso seja preciso reduzir a capacidade do estádio ou organizar um cinturão preventivo no entorno. Só mesmo razões de natureza estrutural, que ameaçassem a integridade dos torcedores, justificariam uma eventual proibição.
Direto do blog
“Tem muito pessimista que ao ver os times do interior crescendo diz que o nosso futebol está morrendo. No Rio, o Bangu foi às quartas de final do turno; em São Paulo, estão os três interioranos e da capital só ficou o São Paulo e assim tem sido no Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. É a falência do futebol das capitais? Não, mas a globalização nivelando os sistemas e elencos. Simples assim.”
De Dorivaldo Albuquerque, festejando a interiorização do futebol.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 24)