Águia 0 x 1 Remo (comentários on-line)

Parazão 2012 – Decisão do segundo turno.

Águia x Clube do Remo – estádio Zinho Oliveira, em Marabá, às 16h.

No reino da gangorra

Por Gerson Nogueira

Quando se compara o futebol paraense ao de centros mais evoluídos fica evidente a necessidade de aperfeiçoamento técnico, formação atlética adequada e fundamentos táticos. Itens indispensáveis para tornar os times competitivos, capazes de manter bom rendimento ao longo de uma temporada e não apenas por duas ou três semanas. Refiro-me às oscilações que tanto frustram as expectativas do torcedor.

O bom momento de Remo e Paissandu na Copa do Brasil até inspirou entusiasmados elogios, mas foi interrompido pela queda do Remo diante do Bahia. Quem observa com atenção o comportamento dos azulinos no Campeonato Paraense, principalmente na parte final das partidas, não se surpreendeu com a derrota de quinta-feira.

Salta aos olhos a curva de instabilidade provocada pelo desgaste físico. Não adianta, porém, sair crucificando o trabalho de preparadores e fisiologistas. Existem outros fatores que comprometem a produção dos atletas – não só do Remo, mas dos demais times regionais.

É comum a escalação de jogadores visivelmente longe de sua melhor condição física. Como o futebol vive da participação coletiva, quando uma peça não rende o suficiente acaba por sobrecarregar seus companheiros, obrigados a se desdobrar para ajudá-lo ou mobilizados para corrigir falhas decorrentes desse problema. Significa que, quando um jogador não está 100%, todos terão que correr um pouco mais por ele.

Acrescente-se a isso vícios de origem na formação dos times. Há tempos que o futebol paraense monta elencos como colchas de retalhos. Contrata-se um jogador razoável aqui, outro mediano ali, alguém que apareceu bem num clube do interior, uns quatro dinossauros e mais meia dúzia de garotos. Dessa mistura algumas vezes, num excepcional golpe de sorte, nasce um bom time.

Pode-se dizer que o Paissandu teve a ventura de obter bons resultados com esse grupo formado por puro acaso. Na Copa do Brasil, pela primeira vez em sua história, o clube chegou à terceira fase, com autoridade e bom futebol. Superou um adversário que disputa a Série A, valendo-se da velocidade de seu meio-campo e do talento de Pikachu na lateral-direita.

Ainda assim, confirmando a montanha-russa dos nossos times, o mesmo Paissandu celebrado por golear o Sport na Ilha do Retiro, patinou e foi alijado do certame estadual pelo Águia no Mangueirão, apenas três dias depois da façanha recifense.

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É importante reconhecer que os altos e baixos afetam quase todos os times brasileiros, mas são bem mais comuns na base da pirâmide, justamente onde se encontra o futebol paraense. Para escapar a esse círculo vicioso e ganhar vigor para encarar os torneios nacionais, os clubes devem investir na correta formação dos atletas. É preciso ensinar o bê-a-bá do jogo, do domínio de bola, passando pelo chute e o passe até chegar ao drible.

A partir daí, talvez os dirigentes e técnicos entendam que o futebol é cada vez mais um esporte para jovens. Nas laterais, não há mais lugar para quem tem mais de 30 anos. Volantes e meias, cuja marca maior é a mobilidade, não podem ser atletas extenuados e em fim de carreira.

O dado positivo é que aos poucos essas lições eternas, que representam o caminho da salvação, começam a ser defendidas por gente importante nos clubes. Só falta partir para a prática. 

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Para o jogo desta tarde em Marabá, Flávio Lopes parece preocupado em corrigir os problemas mostrados pela defesa em Salvador. Pode perder seu melhor zagueiro, Edinho, e pode apelar até para o garoto Alex Juan na lateral-esquerda. Tudo bem, é sempre importante se defender, mas Lopes devia dar mais atenção à solidão de seus atacantes. Artilheiro do time, Fábio Oliveira só faz gol de pênalti e está em vias de sofrer de depressão por isolamento no ataque.

São curiosas as mudanças de estratégia do técnico remista. Nas primeiras partidas, incluindo aquele 4 a 1 sobre o próprio Águia na abertura do returno, optou por esquema bem ofensivo, com dois meias e dois atacantes. Aos poucos, foi se entregando ao padrão Sinomar, armando retrancas que nem sempre se comportam conforme o planejado. Hoje, pela escalação desenhada, parece disposto a abandonar a cautela. 

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Bola na Torre vai ao ar às 23h30 na RBATV, logo depois do “Pânico”. Mesquita, ídolo remista dos anos 70/80, é o convidado. Guilherme Guerreiro apresenta.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 22)