Campeonato Brasileiro da Série B 2017 – 10ª rodada
CRB x Paissandu – estádio Rei Pelé, 19h15

Na Rádio Clube, Jorge Anderson narra; Gerson Nogueira comenta. Reportagens – Saulo Zaire, Paulo Fernando. Banco de Informações – Fábio Scerni
Campeonato Brasileiro da Série B 2017 – 10ª rodada
CRB x Paissandu – estádio Rei Pelé, 19h15

Na Rádio Clube, Jorge Anderson narra; Gerson Nogueira comenta. Reportagens – Saulo Zaire, Paulo Fernando. Banco de Informações – Fábio Scerni

O jogador Eduardo Ramos apresentou, na tarde desta sexta-feira, a camisa com o número 100 às costas. É uma homenagem pela centésima partida que ele fará pelo Remo amanhã diante do Moto Clube, pela Série C.
E o atacante Pimentinha teve seu nome registrado no BID e está relacionado para o jogo pelo técnico Oliveira Canindé.

POR EDYR AUGUSTO PROENÇA
Há uma onda de nostalgia no ar. Mesmo em um momento em que os programas populares apresentam somente os tristes e deploráveis artistas do momento, em que Elba Ramalho fala em nome da cultura nordestina, protestando contra os sertanojos, contratados a peso de ouro e tirando o lugar de artistas do forró nas festas juninas, o passado está aí. Na Rede Globo é uma festa. Começa na abertura da novela das sete, com uma versão de “A Hard Day’s Night”, dos Beatles. Prossegue na série “Os Dias Eram Assim”, com toda a trilha formada por sucessos dos anos 60. Duas ou três mereceram fraquíssimas versões de cantores atuais.
Nas emissoras em canal fechado, acabou de passar o documentário “Dunas do Barato”, Rio de Janeiro, anos 70, quando a produção cultural, mesmo enfrentando muita censura, foi profícua. Houve, na praia de Ipanema, a construção de um emissário de esgoto em mar distante. Com isso, um pontilhão apareceu, como que rompendo o mar e com isso, proporcionando ondas boas para o surf.
Na areia, um sem número de artistas e jovens em geral pegava sol, debatia os assuntos e marcava onde todos estariam à noite. Foram focalizados artistas das Artes Plásticas, os poetas marginais, o surgimento das boutiques modernas, a partir das novidades internacionais e dos trajes desses jovens da praia, o teatro principalmente de Rubens Correia e Ivan Albuquerque, no lendário Teatro Ipanema e os shows e discos de Novos Baianos, Gal Costa, Raul Seixas e outros.
Eu vivi tudo isso. “O Imperador Assírio”, “A China é Azul”, “Hoje é dia de rock”, “Hair”. Toda essa turma na praia, à noite, se reencontrava. Ou então para assistir “Fa-tal”, o melhor momento de toda a carreira de Gal Costa, linda, cantando um repertório sensacional. José Wilker era o ator da moda. Eu o vi uma vez, lanchando no Bob’s, bem jovem, cabeludo, famoso. E assisti “Artaud”, com Rubens Correa, no porão do Teatro Ipanema, peça que chegou a ser apresentada em Belém e que considero, com “Macunaíma” (Cacá Carvalho), os dois espetáculos mais importantes da minha vida. Pouco mais adiante apareceu o Circo Voador e os anos 80 e o rock nacional, o último grito de criatividade na música brasileira.
Agora, temos apenas ruído ruim. Também no canal fechado, um documentário em vários capítulos sobre a carreira de Gal Costa. E vêm Caetano, Gil, Duprat, Macalé, Waly Sailormoon e a cantora Maria da Graça. Tudo isso após ler a biografia de Caetano Veloso, que está nas livrarias. Uma onda de nostalgia que faz os mais velhos reencontrar a juventude, lagrimar em alguns momentos e perceber que tudo era muito rico, audacioso, feliz. Onde foi parar tudo isso? Na sociedade de consumo? Afundou com o fracasso da Educação e da Cultura? Esqueci de dizer que também, agora, pedimos eleições diretas. O passado retorna.
Embora tivéssemos muita atividade criativa nos anos 70, aqui em Belém, no teatro, por exemplo, creio que a década seguinte trouxe a maior parte das grandes figuras que até hoje ainda estão por aqui. Esses jovens liam, discutiam, montavam espetáculos na marra e depois iam debater tudo em pontos como Bar do Parque e ¾. A impressão que tenho é que a juventude atual não sente vontade de lutar por seus direitos, por seu espaço, para dizer a que veio. Reúne-se em guetos separados. Vão aos shows, batem palmas e somente se unem para xingar os coxinhas. É pouco.
(Publicado em O Diário do Pará, Caderno TDB, Coluna Cesta e opiniaonaosediscute.blogspot.com em 23.06.17)

POR FERNANDO BRITO, no Tijolaço
A Folha publica hoje uma análise onde se indaga, no caso do julgamento do apartamento do Guarujá que a “Força Tarefa” da Lava Jato sustenta ter sido dado a Lula como “comissão” nos contratos da OAS na Petrobras, se indícios são suficientes para condenar o ex-presidente.
Vale a leitura, mas falta dizer que os indícios existem, neste caso, a partir de uma convicção que nasceu lá atrás, com aqueles três promotores paulistas que processaram a Folha por chamá-los de “patetas” – que puseram o ex-presidente no “lote” de uma denúncia de malversação de recursos no acordo que transferiu para a OAS um conjunto de prédios da cooperativa dos bancários de São Paulo.
Como se sabe, a Justiça arquivou a ação e absolveu os acusados. Menos um: Lula, sacado arbitrariamente do processo para ser submetido ao “tribunal especial” de Curitiba.
Então, as convicções foram se seguindo: se Lula visitou o apartamento, é porque ia ficar com ele. E se ia ficar com ele, claro que não ia comprar, ia ganhar da empreiteira. E se esta empreiteira tinha também contratos com a Petrobras, é lógico que isso era uma paga pelos contratos com a estatal.
E como os dirigentes que roubaram na Petrobras foram designados pelo Conselho de Administração da Empresa e o Conselho de Administração da empresa é nomeado por Lula, é lógico que ele nomeou os diretores para ganhar propina, em especial este apartamento no Guarujá.
Tudo se desenvolveu, durante mais de um ano, no terreno da hipótese e da suposição. Não apareceu um documento que pudesse indicar que o apartamento foi ou estava sendo transferido para Lula.
Não havia, é óbvio, qualquer proporcionalidade entre contratos de bilhões e um mero apartamento de 240 metros quadrados. Não havia qualquer ligação objetiva entre estes contratos e o benefício alegado.
O que havia, além da visita ao prédio? Recibos de pedágio mostrando que Lula foi duas ou três vezes à baixada santista em cinco anos – certamente menos do que grande parte dos moradores de São Paulo, um porteiro de comportamento esquisito que diz que “todo mundo sabia” que o apartamento era de Lula e muita, muita convicção de que “tinha da ser de Lula”.
Então, à undécima hora, achou-se uma “prova testemunhal”. O ex-executivo da empreiteira, apodrecendo na cadeia, resolve confirmar tudo, apresentando fotos onde tomava “umas cachaças” com Lula e e-mails cheios de anotações de advogados sobre o que devia destacar. Ato contínuo, pediu ao doutor juiz um “desconto” polpudo em sua pena.
Qualquer um que tenha sido repórter de polícia lembra dos tempos em que o “doutor delegado” arranjava alguém, já bem atolado em outros crimes, para “assinar” mais um. É este o resumo da ópera da “prova indiciária” neste caso, montado desde o início para “pegar o Lula”.
Como diz o promotor aposentado e professor de Processo Penal Afrânio Silva Jardim, escolheram o criminoso e passaram a procurar o crime.
Os promotores dizem que “faltaram explicações convincentes de Lula”, exatamente como definido pelo professor de Direito Penal Nilo Batista: “Para quem deseja previamente a condenação do réu, a prova do processo é um mero detalhe” e, aí, passamos à estranha situação de inversão de ônus da prova penal: eu tenho de comprovar que não matei Dana de Tefé ou Odete Roittman.
Este é um processo que tem o final pronto desde o início.
É político, não jurídico e, por isso, tem de ser enfrentado politicamente, mais que por meios jurídicos.
POR STEFANI HENRIQUE
Prezado senhor Oliveira Canindé,
Nós, torcedores, conhecemos os jogadores do Remo melhor que o senhor, então não faça como seu antecessor que não era mal técnico, mas era mais teimoso que jumento no barranco. Ouça nossas sugestões. O sr. não precisa seguir à risca, a última palavra é sua. Mas esta formação abaixo é a melhor pro Remo:
Vinícius; Léo Rosa, Leandro Silva, Bruno e Gerson; Ilaílson, Jefferson, Eduardo Ramos e Flamel; Pimentinha e Edgar.
Se lhe falarem em Mikael, Nino, Labarthe, João Paulo, Daniel Damião, Danilinho e Roni, faça de conta que ouviu, mas se o sr. preza pela sua estada em Belém não utilize esses dublês de jogadores.
Outra coisa, preste atenção nessas informações:
Tsunami : é um bom jogador mas como o sr. viu ele também quer ser do UFC, então deixe ele no banco até aprender.
Leo Rosa: é um bom jogador mas desaprendeu a cruzar. Ponha ele de meio-dia às 14h para treinar cruzamento até acertar, debaixo desta lua que tá fazendo em Belém. Ele jamais vai esquecer.
Rodrigo: acho que o JT tinha algum problema com o rapaz. Ele preferia improvisar, de forma errada como fez com Jakinha, do que colocar o rapaz que no único jogo em que entrou fez um gol na Mucura.
Nano Krieger, este argentino, além de modelo do Nação Azul, é bom centroavante. Das vezes que entrou não decepcionou, temos que dar uma chance ao cara.
Por fim, mas não menos importante, treine bola área, rebote da segunda bola, finalizações e avise ao Igor João que o Remo é o que tá de azul e o goleiro com roupa laranja.
Vamos lá, OC. Confiamos em vc. Vamos rumo à Série B.

POR KIKO NOGUEIRA, no DCM
A melhor cobertura da viagem de Michel Temer à Rússia foi feita pelo jornalista Sandro Fernandes no Twitter. Aliás, não sei se “melhor” é a palavra. Fiquemos com a cobertura mais honesta.
Oficialmente, Temer teve encontros para assinar acordos bilaterais, foi ao balé com Vladimir Putin, deu declarações sobre a nossa “recuperação financeira”, propôs estreitamento de laços.
Tudo para vender carne do Joesley.
Houve até uma conversa sobre “cooperação anticorrupção”, algo que “deve ter como objetivo a obtenção de resultados concretos”, seja lá o que isso signifique.
Ao longo dos últimos dias, em sua timeline, Sandro retratou a realidade longe dos salões: um governante isolado, um pateta errante, carregando para o exterior o desprezo e a ilegitimidade de casa.
A turnê de Michel Temer é um passeio ao acaso. Ponto alto foi um pedido do primeiro ministro Medvedev para o Brasil apoiar a candidatura de São Petersburgo a sede da Expo 25.
Temer apenas levou para passear em Moscou seu nanismo moral.
Eis suas aventuras na Rússia, numa seleção de postagens de Sandro Fernandes:
. Temer foi recebido no aeroporto por um vice-ministro, cargo de segundo escalão aqui na Rússia.
. Durante cerimônia protocolar em q Temer colocou flores no Túmulo d Soldado Desconhecido, alguém gritou Fora Temer, do lado de fora do jardim.
. O Fora Temer durante a cerimônia em Moscou deve ter vindo de algum turista brasileiro que passava pelo local.
. Ontem, a Embaixada do Brasil em Moscou organizou um coquetel para Temer. Apenas metade das pessoas convidadas compareceu.
. ”Nunca vi um presidente tão desprestigiado”, ouvi de um pessoa que estava no coquetel de Temer.
. Durante o coquetel na Embaixada do Brasil em Moscou, Temer vagava sozinho pela embaixada, tentando se aproximar das rodinhas.
. Nesse tipo de evento, falar com o presidente requer mta paciência. Ontem, Temer era quem tentava puxar assunto c as pessoas.
. Conversei c pessoas q estiveram em eventos parecidos c FHC, Lula e Dilma. Ninguém nunca viu o constrangimento e desprestígio q viram c Temer.
. Essas histórias do desprestígio do Temer estão me dando pena, gente. Pena de mim. E de nós.

O maior jornal da França, Le Monde, disse em reportagem publicada nesta quinta-feira 22 que o Brasil sob o comando de Michel Temer se tornou uma “estrela pálida na cena internacional”. O texto da correspondente no país, Claire Gatinois, diz que o presidente brasileiro ignorou a ameaça da Justiça e foi para Rússia em viagem oficial, posando até mesmo ao lado do chefe de Estado russo Vladimir Putin em um espetáculo do balé Bolshoi, em Moscou.
O peemedebista está “determinado a mostrar que seu país não está paralisado”, diz a matéria, e tenta convencer os outros países que o Brasil não se transformou em uma República das Bananas. Segundo o Le Monde, porém, a tentativa é em vão.
A crise moral no país se aprofunda e o mergulha em um ostracismo diplomático, acrescenta o diário francês. Confira os principais trechos na versão traduzida da Rádio França Internacional (RFI):
Brasil perde crédito na cena internacional, diz Le Monde
O jornal francês desta quinta-feira (22) publica uma análise da crise econômica que o país atravessa e do escândalo de corrupção sem precedentes que influenciaram a imagem do Brasil no exterior.
“A estrela pálida do Brasil na cena internacional” é o título da análise que o Le Monde traz nesta quinta-feira, assinada pela sua correspondente no país, Claire Gatinois. Segundo ela, o presidente brasileiro ignorou a ameaça da Justiça e foi para Rússia em viagem oficial, posando até mesmo ao lado do chefe de Estado russo Vladimir Putin em um espetáculo do balé Bolshoi, em Moscou.
Para o Le Monde, a viagem, que termina na Noruega nesta sexta-feira, é uma “demonstração do ativismo internacional de um presidente que está “determinado a mostrar que seu país não está paralisado.”
Apesar da Operação Lava-Jato, que revelou um esquema de corrupção com tentáculos mais longos do que o esperado, Temer busca convencer os outros países que o Brasil não se transformou em uma República das Bananas. Segundo o Le Monde, a tentativa é em vão.
Crise moral e ostracismo
A crise moral no país se aprofunda e o mergulha em um ostracismo diplomático. Impossível, lembra o diário, não notar que nenhum chefe de Estado vem visitar o país, contrariamente à época de Lula, admirado por pesos pesados da política internacional como o ex-presidente dos EUA Barack Obama, por exemplo. Período em que o Brasil também foi escolhido para sediar a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos (2016).
A destituição de Dilma e os escândalos de corrupção também fragilizaram a imagem do Brasil dentro da América Latina, lembram especialistas citados pelo Le Monde, onde o país também não exerce mais uma liderança.
A perda de influência na cena internacional, lembra o Le Monde, começou entretanto com Dilma – economista tecnocrata que nunca foi uma “expert” em política externa, observa o jornal. Foi início de uma derrocada que se concretizou depois do impeachment. Paulo Sergio Pinheiro, ex-secretário dos Direitos Humanos, relator da ONU, diz querer acreditar em um “parênteses maldito”.
Para o jornal francês, o tamanho do Brasil e seus recursos naturais podem ajudar o país virar novamente o jogo e voltar a ser um ator nas questões internacionais. “Mas é necessária uma limpeza de sua paisagem política”, conclui o artigo. (Do Brasil247)

POR GERSON NOGUEIRA
A notícia surpreende positivamente: setoristas do Remo informam que Oliveira Canindé vem escalando Eduardo Ramos e Flamel no time titular. Todos lembram que, na semana passada, o treinador disse que ambos não poderiam atuar juntos, por terem supostamente características parecidas. É uma mudança de conceito que pode vir a beneficiar o Remo com a formação de meia-cancha mais qualificada.
Flamel ainda se recupera da longa inatividade, mas, em forma, será peça de grande valia para aumentar o poder de fogo do ataque. Canindé não disse, mas deve ter observado que Ramos e Flamel não se anulam jogando juntos. Pelo contrário, ambos se complementam.
Ramos fica na organização, enquanto Flamel se encarrega da aproximação com o ataque, preferencialmente pela direita em triangulações com o lateral (Léo Rosa) e o homem de frente (Pimentinha). Dependendo do jogo, podem trocar de função, sem prejuízo para a evolução do time.
Quanto à outra preocupação de Canindé – o enfraquecimento da marcação –, cabe observar que a qualificação do meio-de-campo leva ao aumento da posse de bola. E, com mais tempo de domínio, o time naturalmente diminui a pressão adversária.
De mais a mais, há que observar a questão do custo-benefício. O Remo já vinha atuando com uma peça a menos no setor de armação. Além de não marcar e de apoiar pouco, Mikael não tem os recursos de Flamel para jogadas de bola parada ou arremates de média distância.
Caso a intenção se confirme, o Remo sai ganhando, a começar pelo perfil do treinador, que revela um aspecto raro na atividade: a capacidade de se corrigir e mudar de ponto de vista.
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Quem tem amigos (de verdade) nunca está sozinho
Depoimentos comoventes continuam a chegar à Rádio Clube, saudando a volta da emissora líder, após breve interrupção de sua programação. As manifestações partem de todos os cantos do Estado, comprovando a tradição regionalista e unificadora da emissora fundada por Edgar Proença há 89 anos, sob o slogan matador “a rádio que fala e canta para a Planície”.
Ninguém cala uma instituição, ainda mais quando esta tem fé pública – como poucas coisas neste Pará tão avacalhado – e incontáveis serviços prestados ao povo. Para milhares de paraenses, é impossível imaginar a vida sem Rádio Clube, vigoroso exemplo de resistência àquilo que dizem ser o crepúsculo do rádio AM.
Seus poderosos transmissores fazem com que as ondas da eterna PRC-5 invadam os lares há tantas décadas, tratando com intimidade os donos da casa e passando de geração a geração sem perder a magia.
Nós, operários do ofício radiofônico, devemos exprimir gratidão pelos que nos ouvem todos os dias, sem nunca deixar de confiar na sinceridade de nossos propósitos. É um privilégio sem igual falar para a grande confraria radioclubina – sim, a Clube não tem audiência, tem amigos.
O episódio da suspensão serviu para confirmar essa verdade. Afinal, é nos momentos de dificuldades que os verdadeiros amigos se manifestam.
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Contra velho conhecido, Papão tenta reabilitação
Melhor adversário não poderia haver para o Papão do que este CRB que vai muito mal na Série B, desde já sob risco de rebaixamento (é o 17º colocado). Contratou Dado Cavalcanti para tentar mudar o ritmo da prosa, principalmente dentro de seus domínios. O Papão também vive fase difícil, com resultados negativos nas últimas cinco rodadas – três derrotas e dois empates em casa –, mas pode explorar o desespero do anfitrião.
Rogerinho, mantido no comando enquanto a diretoria procura técnico, tem nova oportunidade de mostrar seu valor. Uma vitória fora de casa pode alavancar a reação e – de quebra – respaldar o interino.
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 23)

POR LUIS NASSIF, no Jornal GGN
PEÇA 1 – A corrupção histórica da Fifa
No dia 23 de maio passado, a edição em inglês do El Pais noticiava a prisão de Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona de 2010 a 2014, ex-executivo da Nike (https://goo.gl/R9W6yx). Era uma notícia curiosa. O Ministério Público da Espanha prendeu Rosell e desvendou uma organização criminosa cujo epicentro estava no Brasil.
Preso na Espanha, Sandro Rosell foi quem trouxe a Nike para a Seleção brasileira.. Quando foi preso, El Pais, ABC e Publico manchetaram que “esquema brasileiro cai na França”.
As investigações mostraram que Rosell atuava em parceria com o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Ricardo Teixeira através da empresa Alianto.
Em um boxe destacado, a reportagem informava que “os negócios da Rosell no Brasil há muito tempo estão no radar das autoridades”. Mas quem estava investigando era exclusivamente o Ministério Público da Espanha, em cooperação com o FBI e com a colaboração do Ministério Público da Suíça. E o nosso bravo MPF?
Desde 2008 pairavam suspeitas sobre a dupla, devido a um amistoso entre a Seleção Brasileira e a de Portugal.
Em outubro de 2010, a BBC divulgou um documento da ISL, empresa de marketing esportivo que faliu, sobre supostos subornos a três membros do Comitê Executivo da FIFA: Nicolas Leoz, presidente da Conmebol, Ricardo Teixeira, presidente da CBF e Issa Hayatou. O foco da corrupção eram esquemas de revenda de ingressos em várias edições da Copa do Mundo.
Em maio de 2011, David Triesman, ex-presidente da Federação Inglesa de Futebol, em depoimento na Câmara dos Comuns, denunciou Jack Warner, Nicolás Leoz e Ricardo Teixeira de tentarem suborna-lo em troca de votar na Inglaterra para sede da Copa de 2018.
Em julho de 2012, a FIFA divulgou que a ISL pagou suborno a João Havelange, ex-presidente da FIFA, da CBD, e para seu genro Ricardo Teixeira entre 1992 e 1997. Aí já se entrava na seara dos direitos de transmissão dos eventos.
Em 27 de maio de 2015, o FBI cercou um hotel em Zurique, e levou presos para ao Estados Unidos 7 dirigentes da FIFA, sob a acusação de organização mafiosa, fraude maciça e lavagem de dinheiro. Entre eles, o presidente da CBF, José Maria Marin. Ou seja, cidadão brasileiro, preso na Suíça e julgado nos Estados Unidos, meramente devido ao fato de parte do dinheiro da propina ter transitado por bancos norte-americanos. O poder do império nunca foi tão ostensivo.
Em 25 de fevereiro de 2016, as investigações sobre a FIFA abriram uma nova linha de escândalos, agora diretamente ligado ao Brasil: o desvio de dinheiro de patrocínios de jogos da Seleção Brasileira, envolvendo Rosell, Teixeira e Havelange.
Estimava-se que de cada US$ 1 milhão de cachês recebidos pela Seleção, US$ 450 mil íam direto para o bolso de Teixeira. E Rosell ainda recebia uma comissão de intermediação.
Nesse período todo, o MPF iniciou uma investigação no Brasil, atendendo a pedido de cooperação do FBI. Foi impedido de remeter os dados para o Departamento de Justiça dos EUA por uma liminar concedida por uma juíza de 1ª instância. Um poder que ajudou a derrubar uma presidente da República foi incapaz de derrubar a liminar.
Pior que isso, não continuou a investigar as denúncias no Brasil, apesar dos suspeitos serem brasileiros e do crime ter sido cometido no Brasil, com empresas e confederação brasileiras.
O que explicaria essa atitude?

PEÇA 2 – Como o MP (da Espanha) descobriu uma organização criminosa (no Brasil)
As investigações espanholas baseavam-se em reportagens de 2013 do Estadão, de autoria do correspondente em Genebra Jamil Chade. No início, em cima de um amistoso da Seleção Brasileira com a portuguesa. Depois, se expandiu.
No dia 23 de maio último a operação Rimet – como foi batizada – avançou. Segundo The Guardian, a polícia invadiu escritório, casas e empresas em Barcelona, prendeu Rosell e, com ele, dados sobre pagamentos ilegais recebidos por ele e Teixeira, entre outros, na promoção de jogos no Brasil, Argentina, no Comenbol entre outros torneios. Havia suspeitas de que quase 15 milhões de euros tivessem sido lavados através de paraísos fiscais.
A operação era uma colaboração entre o MP espanhol, o suíço e o FBI. No centro das acusações, o grande parceiro de Rosell, Ricardo Teixeira.
A reportagem dizia que o FBI esperava que, além do MP Espanhol, também o brasileiro e a Polícia Federal, atuassem paralelamente no Brasil, especialmente nos negócios envolvendo a Seleção brasileira e a Nike. Além de presidente do Barcelona, Rosell havia sido executivo da Nike.
O MPF e a PF brasileiro se mantiveram mudos e quedos. Como entender esse anomia?
PEÇA 3 – O know how brasileiro e a Globo
A FIFA é um escândalo eminentemente brasileiro, know how tupiniquim, desenvolvido pela Rede Globo, em parceria com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e levado por João Havelange para a FIFA.
Cria-se uma empresa laranja, que adquire os direitos de transmissão por um preço mínimo. Depois, a laranja vende para as emissoras de TV, que faturam várias vezes mais com a venda do patrocínio. Parte da diferença fica com os laranjas, que repassarão para os dirigentes esportivos.
Nos campeonatos brasileiros, o laranja era a empresa Traffic Group, do ex-jornalista J. Hawilla. Na Argentina, o Torneios y Competencia. Na FIFA, a ISL, que quebrou em 2001. Nos negócios de Rosell, a Alianto.
Os grupos de midia acertavam os acordos com os dirigentes de federações, mas o contrato era fechado com os laranjas. Era da parte dos laranjas que saiam as propinas para os dirigentes. E se fosse muito grande a diferença entre o valor recebido pelas emissoras na venda de patrocínios, e aqueles pagos aos laranjas, tratava-se de negócio entre privados. Crime perfeito!
PEÇA 4 – A situação das investigações
As investigações apontaram corrupção na venda dos jogos da Copa do Mundo, das Eliminatórias, da Copa das Américas e da Libertadores.
Na FIFA, as investigações rapidamente descobriram as relações entre o ILS e os dirigentes, incluindo os brasileiros João Havelange e Ricardo Teixeira. No Brasil, nada foi feito. Embora, na FIFA, Teixeira fechasse os negócios diretamente com a Globo – outras emissoras precisavam passar pelos intermediários – a emissora passou relativamente incólume pelas primeiras etapas da investigação.
O jogo passou a ficar pesado para a Globo agora, quando o FBI e o Ministério Público da Espanha identificaram pagamento de propinas na venda dos direitos de transmissão da Copa Brasil. Ali, não houve intermediários: a Globo comprou diretamente da CBF, através de seu diretor Marcelo Campos Pinto. Foi propina na veia, sem os cuidados da intermediação.
A Globo entrou definitivamente na mira do Departamento de Justiça dos EUA, do FBI e da cooperação internacional.
Esse fato explica muito dos episódios recentes da política brasileira, como se verá a seguir.
A situação de três presidentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) é insólita. O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, está preso nos Estados Unidos há dois anos. Outro ex-presidente, Ricardo Teixeira, não pode sair do Brasil. J. Hawilla também está preso. E o atual presidente, Marco Polo Del Nero, não pode viajar. Em outros tempos criminosos fugiam da Justiça de seus países refugiando-se no Brasil. Agora, criminosos brasileiros fogem da Justiça de outros paúises nao saindo do país e nçao sendo incomodados pela Justiça brasileira.
Marin é secundário. Ficou pouco tempo na presidência da CBF e ganhou participação minoritária no esquema. As três pessoas-chaves são Ricardo Teixeira, Del Nero e o diretor da Globo Marcelo Campos Pinto, que negociava os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.
Em dezembro de 2014, J. Hawila confessou sua culpa à Justiça norte-americana. Não se sabe o que resultou da sua delação.
Nota do Departamento de Justiça informou que Hawilla concordou com o confisco de US$ 151 milhões de seu patrimônio. Nos dez últimos de atuação, a Traffic faturou em torno de US$ 500 milhões. Por aí, dá para se ter uma pálida ideia do montante que circulava pela organização criminosa.
Quando o escândalo esquentou, a Globo aposentou Marcelo, que está girando por aí sem ser incomodado pelo MPF ou pela Polícia Federal.
PEÇA 5 – A parceria Ministério Público-Globo
Vamos conferir uma pequena cronologia, que ajudará a entender muitos dos episódios políticos recentes.
17 de maio de 2017 – O Globo dá início à fritura de Michel Temer, publicando com exclusividade o furo da delação dos irmãos Batista, da JBS, e hipotecando apoio total ao PGR Rodrigo Janot. Foi uma cobertura atrapalhada, na qual todos os veículos da Globo caíram de cabeça, no início de uma forma atabalhoada, como se infere da primeira cobertura do Jornal Nacional. A partir daí, se tornaria o assunto diário dominante em toda a imprensa e nos blogs.
21 de maio de 2017 – quatro dias depois, Teixeira planta uma nota na seção Radar, da Veja, informando que estava se preparando para um acordo de delação nos Estados Unidos. Era um recado claro: ou me protegem, ou vamos todos para o buraco. Nos EUA, o delator se obriga a confessar os crimes, não pode faltar com a verdade e não pode esconder informações. As penas para as faltas são superiores àquelas previstas para o crime.
23 de maio de 2017 – o escândalo estoura na Espanha, com a prisão de Rosell e tem ampla repercussão na imprensa europeia. No Brasil, apenas uma cobertura pontual e sem desdobramentos, com exceção do correspondente do Estadão em Genebra, Jamil Chade..
26 de maio de 2017 – Reportagem de Chade informando que documentos de posse da Procuradoria Geral da República, enviados pelo FBI e pelo MP da Espanha, indicavam que Ricardo Teixeira usou conta dos Estados Unidos para movimentações financeiras, enquanto presidia a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
As transferências se deram através de contas do Banestado e do Banco Rural. Levantamentos da COAF (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) identificaram remessas de R$ 229 milhões entre 2007 e 2012. Desse total, segundo Chade, R$ 149 milhões estariam sob suspeita.
No período, Teixeira recebeu R$ 13 milhões do ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell, R$ 5 milhões da FIFA, R$ 4,4 milhões do Comitê Organizador da Copa de 2010 e R$ 3,5 milhões da CBF.
Em outra reportagem, publicada no mesmo dia 26 de maio, Chade revela que Teixeira utilizou uma rede de empresas de fachada e contas em seis paraísos fiscais para desviar cerca de R$ 30 milhões da seleção brasileira e lavar dinheiro. Por essas contas passaram mais R$ 90 milhões de origem suspeita. Nos documentos, uma informação que colocava a Globo no epicentro do escândalo: a compra dos direitos de transmissão da Copa Brasil diretamente da CBF.
Importante: segundo Chade, o MPF já tinha recebido todas as informações do FBI e do Ministério Público espanhol.
PEÇA 6 – Juntando as peças do jogo MPF + Globo
Janot tinha perdido todo o protagonismo da Lava Jato para a força tarefa de Curitiba. Estava enfraquecido perante seus pares. E a manutenção da presidência com Michel Temer era sinal forte de que seu grupo perderia espaço na escolha do novo PGR.
Já tinha informações sobre a Operação Rimet antes de se tornar pública.
De certo modo, foi apanhado no torvelinho das delações da JBS, sendo empurrado para o centro do tablado.
Mesmo assim, o material da JBS lhe foi duplamente benéfico. De um lado, lhe devolveu o protagonismo junto à categoria; de outro feriria de morte o governo Temer. E a Operação Rimet lhe deu o aliado dos sonhos, a própria Globo.
A Globo foi informada que a Operação Rimet estava prestes a explodir. Precisaria com urgência de um tema suficientemente bombástico para matar a cobertura que se seguiria.
O caso JBS explode no dia 17 de maio, uma semana antes da Operação Rimet vir a público, dois dias antes de Teixeira passar recibo sobre ela. A Globo entra de cabeça no tema e, nas semanas seguintes, o tema JBS se sobrepôs a todos os demais, inclusive à Operação Rimet, que recebeu uma cobertura burocrática dos jornais – com exceção do bravo Jamil Chade.
Instala-se, então, a guerra mundial entre Janot e Temer, com abundância de combustível sendo levado à imprensa, especialmente aos veículos das Organizações Globo. Ao mesmo tempo, na disputa da lista tríplice aparecem três favoritos – Raquel Dodge, Mário Bonsaglia e Ela Wiecko -, ameaçando deixar de fora o candidato de Janot, Nicolao Dino.
No dia 19 de junho, matéria de O Globo tentava queimar dois dos favoritos à lista tríplice. Segundo a matéria, Raquel Dodge seria a candidata de Gilmar Mendes e dos caciques do PMDB; já Mário Bonsaglia seria o preferido de Temer.
No mesmo dia, à noite, cobertura de O Globo para os debates dos candidatos, insistiu na tese de que Raquel era a favorita do PMDB. No dia 20 de junho, matéria do G1 insistindo na tese de que Raquel era a candidata do Palácio. Na miscelânea em que se tonou o jornalismo on-line, imediatamente várias outras publicações endossaram a tese.
Quem acompanha por dentro o MPF sabe que as informações eram falsas, visando manipular as eleições para a lista tríplice. Contrariamente ao que a Globo esperava, a manipulação está fortalecendo as duas candidaturas. A manutenção do grupo de Janot seria a garantia de que o assunto Fifa-Copa Brasil-Globo continuaria intocado pelo MPF. Nâo por cumplicidade, mas por falta de coragem de enfrentar o império midiático.
PEÇA 7 – A atrofia do futebol brasileiro
A falta de atuação do MPF em relação ao grupo CBF-Globo é a principal responsável pela fragilidade do futebol brasileiro, pelo fato de ter transformado a pátria do futebol em um mero exportador de jogadores, alimentando o submundo da lavagem de dinheiro internacional.
Só depois que estourou o caso FIFA, e J. Hawila foi preso, houve algum questionamento do poder da Globo sobre as transmissões, através da TV Record. A disputa levou a Globo, pela primeira vez, a oferecer luvas decentes para os clubes de futebol.
Os clubes de futebol bem administrados poderiam ter se convertido em Barcelonas, Real Madri, Internacional de Milão. Mas a corrupção na venda de direitos de transmissão exauriu os clubes, impedindo o fortalecimento e a própria profissionalização do futebol brasileiro, que se tornou um dos pontos mais evidentes de corrupção e lavagem de dinheiro no comércio de jogadores.
A única operação no setor, tocada pelo procurador Rodrigo De Grandis – que emperrou as investigações sobre a corrupção da Alstom em São Paulo – foi contra um empresário russo, porque havia a suspeita de que José Dirceu pudesse estar por trás dele. A suspeita jamais foi confirmada, mas forneceu a motivação para o MPF se interessar pelo tema.
Do lado da mídia, esmeraram-se até encontrando parentes de políticos petistas trabalhando na arena do Corinthians. Mas fecharam os olhos para o maior episódio de corrupção da história, depois da Lava Jato.
Outro lado
Conversei com pessoa que acompanhou de perto os primeiros movimentos da Lava Jato. Ainda em 2015, o patriarca da Odebrecht, Emilio Odebrecht, dizia que a posição da Globo – investindo no impeachment de Dilma e na Ponte Para o Futuro – era devido ao fato de ter sido alcançada pelo FBI. A Globo ficou nas mãos do Departamento de Estado.
Segundo ele, o Departamento de Estado estaria se valendo disso para conseguir a adesão de Dilma para o projeto de derrubada da lei do pré-sal e das multinacionais brasileiras. Na época, ele julgou que fosse excesso de visão conspiratória da parte de Emílio. Agora, está reconsiderando a avaliação.
Em estudo monumental, historiador francês Christian Ingrao ressalta papel decisivo dos intelectuais na elite da Ordem Negra de Himmler

JACINTO ANTÓN, de Barcelona – El País
A imagem que se tem popularmente de um oficial da SS é a de um indivíduo cruel, chegando ao sadismo, corrupto, cínico, arrogante, oportunista e não muito culto. Alguém que inspira (além de medo) uma repugnância instantânea e uma tranquilizadora sensação de que é uma criatura muito diferente, um verdadeiro monstro. O historiador francês especializado em nazismo Christian Ingrao (Clermont-Ferrand, 1970) oferece-nos um perfil muito diverso, e inquietante. A ponto de identificar uma alta porcentagem dos comandantes da SS e de seu serviço de segurança, o temido SD, como verdadeiros “intelectuais comprometidos”.
O termo, que escandalizou o mundo intelectual francês, é arrepiante quando se pensa que esses eram os homens que lideravam as unidades de extermínio. Em seu livro Crer e Destruir: Os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista, Ingrao analisa minuciosamente a trajetória e as experiências de oitenta desses indivíduos que eram acadêmicos – juristas, economistas, filólogos, filósofos e historiadores – e ao mesmo tempo criminosos –, derrubando o senso comum de que quanto maior o grau de instrução mais uma pessoa estará imune a ideologias extremistas.

“É curioso que Müller e outros como ele, com alto grau de instrução, pudessem se envolver assim na prática genocida”, diz Ingrao. “Mas o nazismo é um sistema de crenças que gera muito fervor, que cristaliza esperanças e que funciona como uma droga cultural na psique dos intelectuais.”
O historiador ressalta que o fato é menos excepcional do que parece. “Na verdade, se examinarmos os massacres da história recente, veremos que há intelectuais envolvidos. Em Ruanda, por exemplo, os teóricos da supremacia hutu, os ideólogos do Hutu Power, eram dez geógrafos da Universidade de Louvain (Bélgica). Quase sempre há intelectuais por trás dos assassinatos em massa”. Mas, não se espera isso dos intelectuais alemães. Ingrao ri amargamente. “De fato eram os grandes representantes da intelectualidade europeia, mas a geração de intelectuais de que tratamos experimentou em sua juventude a radicalização política para a extrema direita com forte ênfase no imaginário biológico e racial que se produziu maciçamente nas universidades alemãs depois da Primeira Guerra Mundial. E aderiram de maneira generalizada ao nazismo a partir de 1925”. A SS, explica, diferentemente das ruidosas SA, oferecia aos intelectuais um destino muito mais elitista.
Mas o nazismo não lhes inspirava repugnância moral? “Infelizmente, a moral é uma construção social e política para esses intelectuais. Já haviam sido marcados pela Primeira Guerra Mundial: embora a maioria fosse muito jovem para o front, o luto pela morte generalizada de familiares e a sensação de que se travava um combate defensivo pela sobrevivência da Alemanha, da civilização contra a barbárie, arraigaram-se neles. A invasão da União Soviética em 1941 significou o retorno a uma guerra total ainda mais radicalizada pelo determinismo racial. O que até então havia sido uma guerra de vingança a partir de 1941 se transformou em uma grande guerra racial, e uma cruzada. Era o embate decisivo contra um inimigo eterno que tinha duas faces: a do judeu bolchevique e a do judeu plutocrata da Bolsa de Londres e Wall Street. Para os intelectuais da SS, não havia diferença entre a população civil judia que exterminavam à frente dos Einsatzgruppen e os tripulantes dos bombardeiros que lançavam suas bombas sobre a Alemanha. Em sua lógica, parar os bombardeiros implicava em matar os judeus da Ucrânia. Se não o fizessem, seria o fim da Alemanha. Esse imperativo construiu a legitimidade do genocídio. Era ou eles ou nós”.
Assim se explicam casos como o de Müller. “Antes de matar a mulher e a criança falou a seus homens do perigo mortal que a Alemanha enfrentava. Era um teórico da germanização que trabalhava para criar uma nova sociedade, o assassinato era uma de suas responsabilidades para criar a utopia. Curiosamente era preciso matar os judeus para realizar os sonhos nazistas”.
Ingrao diz que os intelectuais da SS não eram oportunistas, mas pessoas ideologicamente muito comprometidas, ativistas com uma visão de mundo que aliava entusiasmo, angústia e pânico e que, paradoxalmente, abominavam a crueldade. “A SS era um assunto de militantes. Pessoas muito convictas do que diziam e faziam, e muito preparadas”. O que é ainda mais preocupante. “É preciso aceitar a ideia de que o nazismo era atraente e que atraiu como moscas as elites intelectuais do país”.
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