Situação de alto risco

44e55918-2e11-442b-b1ae-b7c8d8ec3508

POR GERSON NOGUEIRA

À medida que se aproxima a maratona mais pesada para o Remo neste começo de temporada aumenta a cobrança sobre a comissão técnica. Pesam contra o trabalho de Leston Junior neste momento as atuações pouco convincentes, os muitos embaraços para superar equipes apenas medianas e a falta de um esquema definido e treinado.

Em dois meses à frente do Remo, o técnico ainda parece tatear no escuro, buscando ajustes a cada jogo e quase nunca repetindo a mesma formação ao longo do Campeonato Paraense. De definitivo apenas o apego ao sistema 4-5-1 e aos três volantes.

Essa maneira de atuar torna o time absolutamente previsível, na medida em que os laterais funcionam como válvula de escape. Lecheva, nos dois confrontos entre Remo e Independente, fechou os lados e investiu nas jogadas pelo meio-campo.

Na semifinal do turno, quase ganhou o jogo conseguindo ser ligeiramente superior aos azulinos. No sábado, escolado pelo primeiro enfrentamento, voltou a tentar fazer o bloqueio pelos lados, mas quase perdeu o jogo na etapa inicial porque Leston adiantou Levy e Eduardo Ramos pela direita surpreendendo a marcação do Independente.

Já no segundo tempo, quando Leston substituiu Ramos por Alisson, a equipe se encolheu e esqueceu tudo o que havia produzido de positivo na primeira parte do jogo, quando desfrutou de pelo menos quatro chances, além do gol de Ciro.

Recuado e cauteloso, o Remo ficou à mercê do Independente, que empatou e só não venceu porque insistiu excessivamente em cruzamentos sobre a área. Quando arriscava a troca de passes no chão, levava sempre de vencida o trio de marcação posicionado à frente da zaga remista.

Vale dizer que a filosofia de Leston em nada difere de tantos outros treinadores de perfil conservador que já trabalharam no Pará – e no Remo. Os mais recentes e notórios foram Flávio Araújo, Zé Teodoro e Roberto Fernandes. Coincidentemente, nenhum logrou obter resultados gloriosos. Muito pelo contrário.

Brandiam formatação tática defensivista, com alguns resultados positivos no começo, seguidos de frustração no desfecho das competições. Leston ainda tem crédito, pelo curto tempo de trabalho, mas começa a sofrer um desgaste oriundo da má performance do Remo no Parazão, mesmo não sendo o único culpado pelo acontece.

O elenco é limitado e é pública a reivindicação dele por reforços pontuais. A questão é que, para um torneio de muro baixo como o estadual, esperava-se bem mais do atual time azulino. Dos contratados com aval de Leston somente Ciro se destacou até agora. Marco Goiano, Ítalo e Yuri têm sido razoáveis. João Vítor, Artur, Michel, Murilo e Alisson nada acrescentaram.

Ao mesmo tempo, o discurso inicial de valorização dos atletas caseiros vem sendo derrubado pela realidade. Depois da surpreendente liberação de Alex Ruan, outros bons valores – Edcléber, Igor João, João Victor e Sílvio – raramente são lembrados.

O tempo conspira contra o projeto de Leston no Remo. Os três próximos jogos pelo Parazão (Tapajós, Papão e São Raimundo) definem seu futuro no Evandro Almeida. Precisará somar sete pontos nesses confrontos para ir à semifinal. Caso não alcance essa soma mínima, o sonho do tri azulino se desfaz e a torcida não assimilará o fracasso.

bd39078e-07ac-43b9-b791-a295ba569736

————————————————-

Direto do Facebook

“Eu estou querendo acreditar que as coisas vão melhorar, mas a paciência já está indo pro espaço. É sempre o mesmo discurso. O Remo não está evoluindo nada. Nem queria que o técnico fosse embora, mas precisamos reforçar. E o preparo físico está muito ruim. Acho que pro Campeonato Paraense já era pra ter contratado jogadores daqui. O Ezequias (Independente) é bom zagueiro, o lateral Jaquinha também. É preciso ver mais um atacante, mas está acabando o prazo. Melhor reforçar logo com jogadores da região, que já conhecem o campeonato”.

Bruno Ruivo, torcedor do Leão, agoniado com as incertezas vistas até aqui.

————————————————–

Com o boi na sombra

Em situação oposta à vivida pelo maior rival, o Papão administra estrategicamente sua campanha no Campeonato Paraense. Assegurado na final pelo título da Taça Cidade de Belém, o time de Dado Cavalcanti não precisa se arrebentar na disputa do segundo turno.

Os quatro empates em sequência não geram (ainda) preocupações maiores na Curuzu, embora evidenciem uma queda acentuada de rendimento em relação ao primeiro turno. Comissão técnica e diretoria partilham do mesmo ponto de vista: não há motivo para desespero a essa altura.

Ao Papão resta disputar bem a Copa Verde e correr poucos riscos no returno. O Re-Pa da quarta rodada é o único ponto fora da curva nesse projeto de risco calculado. Um mau resultado diante dos azulinos poderia abrir a crise que tem sido evitada pela lembrança da conquista do turno.

Os próximos confrontos pela Copa Verde (Fast Clube) e Copa do Brasil (Independente) preocupam, mas não alteram a agenda traçada de preparação para a competição mais importante – o Campeonato Brasileiro da Série B.

Há outro fator a blindar a caminhada do time. Dado Cavalcanti, que acabou de comemorar um ano de casa, consolidou prestígio e ganhou a confiança do torcedor. Não há quem discuta o fato de que ele é o comandante certo para a campanha na Série B. Isto, naturalmente, contribui bastante para serenar os ânimos na Curuzu.

————————————————

Um novo projeto de vovô ídolo

O anúncio de Luiz Carlos Imperador, 35 anos, ídolo do imponente Guarani de Sobral, como reforço para a reta final do Parazão reaviva de imediato duas lembranças desagradáveis (e recentes) no Baenão. Finazzi, o centroavante que foi trazido mesmo com a costela fraturada, só marcou passagem pelo dinheiro obtido na Justiça do Trabalho. Flávio Caça-Rato ganhou recepção de ídolo e saiu pela porta dos fundos.

(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 22) 

Autocracia constitucional e protofascismo das massas

CeFQ0y7WEAADrgj

POR ALDO FORNAZIERI, no Jornal GGN

Os principais juristas do Brasil – Celso Bandeira de Mello, Dalmo Dallari, Walter Maierovitch, Fábio Konder Comparato, entre outros – são unânimes em afirmar que o juiz Sérgio Moro agiu ilegalmente, violando a Constituição. A ilegalidade concentra-se em torno do dois elementos fundamentais: gravar e divulgar a presidente da República, detentora de foro privilegiado e divulgar os grampos do ex-presidente Lula e de outras pessoas violando a Lei Nº 9.296, que regulamenta as interceptações telefônicas. Quanto a isto tudo, há farto material na internet que pode ser consultado.

Convém, contudo, examinar as concepções de fundo do juiz Moro  e do Ministério Público que, como bem disse o ex-governador Cláudio Lembo, este ultimo se alçou à condição de “rei absolutista do Brasil, que faz o que quer e não responde pelos seus atos”. “Entregar as gravações a uma emissora de TV é um golpe, um golpe midiático”, disse Lembo. A figura de um Luís XIV, que proclama “o Estado sou eu”, cai bem a Sérgio Moro.

Moro justificou a divulgação dos grampos em nome do interesse público. “O interesse público e a previsão constitucional da publicidade dos processos impendem a continuidade do sigilo sobre os autos”, argumentou. Preliminarmente, note-se que não há processo ou indiciamento contra Lula, o grampeado. Em segundo lugar, é preciso notar que, no Brasil, há um processo de fascistização judicial em nome da suposta supremacia do interesse público que vem servindo de abrigo a uma sistemática violação do Estado Democrático de Direito fundado nas tradições liberais, democráticas e republicanas do constitucionalismo norte-americano.

A teoria constitucional norte-americana do Estado de Direito, particularmente emanada dos textos dos Federalistas Alexander Hamilton e James Madison, assenta a pedra angular de que os direitos civis e de liberdade dos indivíduos são o supremo fundamento da Constituição. “República” significa a garantia desses direitos. A vontade fundante do representado consistiu em instituir o poder do Estado para que esses direitos fossem garantidos. Nem o legislador, nem o magistrado supremo, nem o funcionário judicial ou qualquer outro funcionário podem agir contra esses direitos. Eles devem ser sempre agentes da garantia desses direitos.

Assim, há um claro limite para a ação dos agentes públicos: a Constituição. No sistema de equilíbrios, freios e contrapesos, o maior freio dos três poderes é a Constituição. Mas, em sendo a Constituição vontade manifesta do representado fundante, ela mesma é limitada. Limitada pelos direitos civis e de liberdade dos indivíduos. O conceito de Estado Democrático de Direito nasce desse entendimento, o que significa a noção de poder do Estado limitado e de Constituição limitada pelos direitos. Decorreu daí as contemporâneas noções de “cláusulas pétreas”, no seu aspecto de que nada pode ser aceito, emenda constitucional ou qualquer outra coisa, que viole os direitos e garantias individuais.

Com o processo de fascistização jurídica no Brasil quer se fazer crer que, com o princípio da supremacia do interesse público, pode-se derrogar a garantia dos direitos fundamentais. Quando se faz isto já não há Estado Democrático de Direito, já não há República, já não há o Estado liberal.

Segundo o raciocínio de Norberto Bobbio acerca dos direitos há que se observar que os direitos civis e de liberdade são autoaplicáveis e nenhum interesse público pode feri-los. O único âmbito em que o Estado pode interferir positivamente sobre os direitos para garantir a supremacia do interesse público é o âmbito das necessidades e carecimentos, no âmbito dos direitos sociais, difusos e econômicos.

A Perigosa Promiscuidade entre Moro e as Massas

Ao publicar os grampos, além de outras ilegalidades, o juiz Moro perpetrou um violento ataque ao Estado Democrático de Direito, ao conteúdo liberal do Estado e às liberdades e garantias individuais. Moro violou a intimidade, a vida privada, a honra, a imagem e a dignidade humana do ex-presidente Lula e de outras pessoas de forma irreparável. Se as instâncias judiciais funcionassem nesse país, Moro deveria responder pelos seus atos e deveria ser afastado de suas funções.

Se restava ainda alguma dúvida de que Moro e os procuradores da Lava Jato agem de forma politicamente orientada já não resta mais nenhuma dúvida. Se restava ainda alguma dúvida de que está em andamento um golpe judicial no Brasil basta ver a decisão de Gilmar Mendes que, em articulação com a troika de Curitiba, também agiu de forma discricionária e arbitrária, anulando a posse do ex-presidente Lula. A série de liminares anulando a posse mostram que já não funciona o princípio republicano da separação dos poderes e que o Judiciário se alçou na condição de poder acima da lei.

CeFTHD4WAAAY50v

Já não há mais apenas uma crise econômica e politica. Há uma clara crise institucional. Resta ver ainda se o Supremo Tribunal Federal pode agir com bom senso e imparcialidade para barrar essa crise institucional. Pelas ações do Ministério Público, do juiz Moro e de Gilmar Mendes, o Judiciário perdeu a condição de mediador, de dirimidor de conflitos e crises e passou a estimulá-los de forma violenta e irresponsável. De forma irresponsável, o juiz Moro vem estimulando a conflagração social e a violência de grupos descontrolados.

É preciso enfatizar que se Lula e outros políticos têm pendências com a lei eles devem responder com a garantia de seus direitos em consonância com a ordem constitucional vigente. É necessário, assim, chamar a atenção, mais uma vez, para elementos de conteúdo totalitário presentes nas ações do Ministério Público e do juiz Moro.

Como observa Hannah Arendt, os movimentos totalitários abusam das liberdades democráticas para violá-las sistematicamente. Eles não visam organizar classes ou grupos sociais específicos, mas mobilizar massas, estimular a força bruta. Nas manifestações do último dia 13 o que se viu foram massas sem controle que expulsam até mesmo políticos como Aécio Neves que comungam do seu ideário. São massas propensas à violência na obediência cega a um único líder – o juiz Moro.

Os agentes do Estado totalitário não levam em conta as leis e a Constituição. A lei é feita no ato, de acordo com a lei do movimento. Foi isto que fez o juiz Moro ao divulgar o grampo. Ao perceber que lhe era tirada a prerrogativa de perseguir Lula interpretou discricionariamente a lei e a Constituição no ato, promovendo um golpe político para atingir seus objetivos políticos.

Se a lei escrita e a Constituição atrapalham os objetivos políticos dos agentes do Estado, danem-se as leis e a Constituição. Existe a hermenêutica para fazer valer a lei não escrita e a Constituição não escrita. Quando a hermenêutica se apresenta na forma da vontade arbitrária dos agentes públicos em substituição às leis e à Constituição é porque já não há garantia das liberdades e dos direitos. Todos correm riscos. Da hermenêutica judicial à hermenêutica policial existe apenas um fio muito tênue. A violência ilegal do Estado quer arrombar as portas da legalidade para apresentar-se com uma face legal. Os que protestam contra o estado de exceção judicial ou andam de roupa vermelha correm o risco de serem agredidos pelas massas  embestadas em nome do supremo líder, Sérgio Fernando Moro.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. 

O Brasil sempre a nos surpreender

CeExi1oW4AA22GM

Zezé Perrela, tucano de Minas e aliado de Aécio, posa para fotos com delegados da Polícia Federal. No cartaz amarelo, sua declaração de amor à corporação: “Eu confio na PF”. Não é pra menos. Era de Perrela o helicóptero que caiu nas terras de Aécio Neves com 450 quilos de pasta de cocaína. Em 10 minutos, a PF vistoriou o local e chegou a uma conclusão surpreendente: não havia dono da droga.

Perrela, como se vê, tem motivos para homenagear os bravos agentes federais todos os dias.

Radicalização nas ruas, nas redes e até no palco

POR RICARDO KOTSCHO

Multiplicaram-se nos últimos dias os casos de intolerância e violência na crescente onda de radicalização que se alastra pelo País. Nas ruas, nas redes sociais e até no palco e na platéia de um teatro em Belo Horizonte, agressões verbais são seguidas de ameaças físicas. Não preciso nem ir longe: é só ver os comentários que recebo aqui no Balaio enviados por leitores dos dois lados envolvidos na guerra política, igualmente ofensivos e grosseiros, em que argumentos há muito foram trocados por xingamentos.

O que era para ser o espaço democrático de um debate de ideias, generosamente oferecido pela internet, acabou se transformando num dos principais instrumentos desta radicalização política estúpida e perigosa, que já passou de todos os limites da civilidade. É o caso de se pensar se vale a pena manter aberta esta área de comentários, já que em nada contribui para pacificar os ânimos exaltados, muito ao contrário.

Os fatos não importam: o que se quer é simplesmente destruir quem pensa diferente. Nestes meus mais de 50 anos ganhando a vida como jornalista, nunca vi nada parecido.

Para se ter uma ideia de a que ponto chegamos, durante a apresentação do espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, no teatro Sesc Palladium, em Belo Horizonte, no sábado à noite, o ator Claúdio Botelho entrou em conflito com a platéia, após insultar Dilma e Lula, que chamou de ladrões. A platéia reagiu aos gritos de “Não vai ter golpe”. Botelho chamou os espectadores que o vaiavam de “bandidos”, “neofascistas” e “filhos da (*). A sessão acabou no meio, com a platéia esvaziada e o ator blasfemando no camarim.

Cláudio Botelho deixou o teatro protestando: “Comecei a ficar com medo. Tive que sair escoltado pela polícia. Eu corria o risco de linchamento”. Ao ficar sabendo do que aconteceu, Chico Buarque retirou os direitos de suas músicas que havia cedido ao ator e vetou nova exibição do espetáculo. A vida real está superando a ficção mais inverosímel.

Sob o título “Ânimos exaltados no Rio”, a coluna de Ancelmo Gois, em “O Globo”,  registra outro episódio emblemático dos tempos que estamos vivendo.

“Ontem, um jornaleiro de Ipanema, da banca que fica ali entre as ruas Aníbal de Mendonça e Barão da Torre, disse para uma cliente: “Bolsonaro para presidente”. Indignada, ela se negou a comprar o jornal. Ele quis bater boca: “Lula é um ladrão”. Ela retrucou: “Você é um fascista”. E o barraco estava feito. Calma, gente”. Na véspera, o mesmo colunista já havia contado a história da senhora que foi hostilizada numa praça porque levava na coleira seu cachorrinho com lenço vermelho no pescoço.

“Políticos que presenciam a história desde os anos 50 afirmam que só se pode comparar estes dias com o período que antecedeu o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. O pau quebrou”, lembrou em sua coluna no domingo o comentarista político Ilimar Franco.

Vida que segue.

Fogão vence Madureira e avança na Taça GB

https://www.youtube.com/watch?v=31spocSrsqg

A imagem do dia

12670788_1014356805301885_6352461551081657458_n

Avião presidencial americano Air Force One prepara aterrissagem história em Havana, neste domingo, levando o presidente Barack Obama em visita oficial à terra de Fidel e Céspedes. (Foto: Reuters)

Enquanto isso, no Brasil, tem babaca insultando e espancando pessoas que vestem vermelho.