Pelas honras da firma

POR GERSON NOGUEIRA

O Campeonato Paraense está se desenrolando há 50 dias, o primeiro turno já foi disputado e os times tiveram tempo suficiente para se ajustar. Apesar disso, o nível geral da competição é dos mais rasos, talvez o pior dos últimos cinco anos. A dupla Re-Pa, principal atração e chamariz de público, responde pelas maiores decepções até aqui.

A rodada disputada no fim de semana é um retrato da indigência técnica. O Remo empatou com o Independente em casa, sábado à noite, alternando bons momentos com rasgos de extrema pobreza de jogo. O empate, no fim das contas, premiou o equilíbrio entre os times.

Na primeira etapa, o Remo acuou o Independente e conseguiu fazer uma boa transição. Surgiram boas jogadas em velocidade, empreendidas na direita pelo lateral Levy e por Eduardo Ramos, que explorava o setor esquerdo do Galo, desfalcado do titular e bom Jaquinha (suspenso).

O cruzamento para o gol nasceu justamente por ali. Depois de rebote do goleiro Alencar Baú, Ciro tocou para as redes, depois de ter desperdiçado duas grandes oportunidades. Yuri já tinha errado um cabeceio na pequena área. Welton também perdeu gol certo. Henrique fez o seu, mas o árbitro viu falta em lance absolutamente normal. Pelo Galo, Fabrício e Chaveirinho ameaçaram em chutes de fora da área.

Depois do intervalo, tudo mudou. O Remo voltou a ser o Remo de sempre, acomodado e confuso. Recuado, cheio de volantes, permitiu a pressão do Independente, sofreu um gol de Monga mal anulado e acabou cedendo o empate no último lance, em falha do goleiro Fernando Henrique.

O Papão repetiu o rival – até no placar – jogando ontem à tarde em Parauapebas. Fez 1 a 0 em golaço de Celsinho, mas arrefeceu do ritmo forte que imprimiu no início e cedeu o empate, após bobeada de Augusto Recife. A queda de rendimento quase propiciou ao Pebas a virada no segundo tempo. Fininho e Danúbio quase conseguiram.

É verdade que fazia um calor senegalês na cidade, causando acentuado desgaste nos atletas, mas o time alviceleste ficou com um jogador a mais (Danúbio foi expulso) nos 12 minutos finais, sem saber se valer dessa vantagem. E cabe registrar que este mesmo Pebas foi derrotado na quarta-feira pelo mistão do Londrina.

No geral, o Papão passa hoje a ideia de um time que já viveu dias melhores no próprio Parazão e que depende dramaticamente das habilidades de Celsinho, que ontem consignou o gol mais bonito deste início de temporada. Sem Ronaldinho Gaúcho cover, o Papão sofre horrores em campo – curiosamente, no elenco existem mais seis armadores.

Há quem atribua a visível desaceleração bicolor à ressaca pelo título do turno. É bem mais aceitável que tenha a ver com os cuidados das equipes interioranas em relação aos pontos fortes do time de Dado Cavalcanti.

As deficiências mais preocupantes da equipe são a falta de alternativas para mudar a forma de jogar, a facilidade com que se deixa agredir (principalmente quando não tem Ricardo Capanema, como ontem) e o inquietante jejum do ataque, que não marca há quatro rodadas.

Os demais jogos da rodada não acrescentaram muito ao pobre panorama exposto pelos dois grandes clubes da capital, que colecionam quatro empates consecutivos (4 pontos ganhos em 12 disputados) cada. O fato é que o Parazão vive um segundo turno extremamente parelho, o que pode levar à falsa impressão de uma equiparação de forças. Ledo engano.

O que há, até o momento, é um claro nivelamento por baixo, que inspira desde já sérias preocupações quanto à participação dos representantes do Estado nas competições nacionais – Copa Verde, Copa do Brasil e Brasileiros da Série B, C e D.

————————————————–

Um reforço certeiro e acessível

A pergunta que não quer calar: será que os grandes da capital não veem as qualidades do centrovante Monga, do Independente¿

————————————————–

Tabela reflete a balbúrdia técnica

A chave A1 do Parazão tem o Cametá em primeiro com 3 pontos, o Remo em segundo com 2, seguido pelo Parauapebas (2). São Francisco e Águia têm um ponto.

Na A2, o São Raimundo é o destaque, com 6 pontos. O Paragominas tem 4. Independente e Papão têm 2. Tapajós tem um.

Significa que, a três rodadas do final da fase classificatória do returno, todos têm chances de chegar às semifinais.

Parece um momento emocionante, acirrado e imprevisível. Só que não. É retrato explícito do baixo rendimento dos times, que provoca resultados surpreendentes e não permite destacar ninguém até aqui.

O São Raimundo, que não foi bem no primeiro turno, venceu duas vezes e se insinua como o time mais determinado desta fase. Contudo, do jeito como as coisas estão, não é seguro cravar todas as fichas no Pantera, até porque tudo pode mudar na próxima rodada.

————————————————-

Fla-Flu vale pelo diferente, mas bola sofre

Foi até interessante ver o Fla-Flu disputado pela primeira vez em São Paulo. Por coincidência, o clássico inventado 40 mil anos antes do nada, segundo Nelson Rodrigues, aconteceu no lendário Pacaembu, um dos estádios mais simpáticos do país.

Pena que a bola sofreu um bocado nos pés de gente sem a devida qualificação para o nobre esporte bretão. O Flu, mais técnico, foi incapaz de definir as jogadas. O Fla, disciplinado, seguiu à risca as normas do Muricybol: cruzou umas 300 vezes na direção da área, sem sucesso.

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 21)

Ministro do STF, sobre vazamentos: “Moro simplesmente deixou de lado a lei. Isso está escancarado”

Em entrevista concedida por telefone ao Sul21, Marco Aurélio Mello critica a conduta de Sérgio Moro: “Ele não é o único juiz do país e deve atuar como todo juiz. Agora, houve essa divulgação por terceiro de sigilo telefônico. Isso é crime, está na lei”.

marco-aruelio-mello-moro-1132x670

POR MARCO WESSHEIMER, no Sul21

Nas últimas semanas, Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal, tem erguido a voz contra o que considera ser um perigoso movimento de atropelo da ordem jurídica no país. Em recentes manifestações, Marco Aurélio criticou a flexibilização do princípio da não culpabilidade, e a liberação para a Receita Federal do acesso direto aos dados bancários de qualquer cidadão brasileiro. Na semana passada, o ministro criticou a conduta do juiz Sérgio Moro, no episódio do vazamento do conteúdo das interceptações telefônicas, envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff.

Em entrevista concedida por telefone ao Sul21, Marco Aurélio fala sobre esses episódios e critica a conduta de Sérgio Moro: “Ele não é o único juiz do país e deve atuar como todo juiz. Agora, houve essa divulgação por terceiro de sigilo telefônico. Isso é crime, está na lei. Ele simplesmente deixou de lado a lei. Isso está escancarado. Não se avança culturalmente, atropelando a ordem jurídica, principalmente a constitucional”, adverte.

Sul21: Considerando os acontecimentos dos últimos dias, como o senhor definiria a atual situação política do Brasil? Na sua avaliação, há uma ameaça de ruptura constitucional ou de ruptura social?

Marco Aurélio Mello: A situação chegou a um patamar inimaginável. Eu penso que nós precisamos deixar as instituições funcionarem segundo o figurino legal, porque fora da lei não há salvação. Aí vigora o critério de plantão e teremos só insegurança jurídica. As instituições vêm funcionando, com alguns pecadilhos, mas vêm funcionando. Não vejo uma ameaça de ruptura. O que eu receio é o problema das manifestações de rua. Mas aí nós contamos com uma polícia repressiva, que é a polícia militar, no caso de conflitos entre os segmentos que defendem o impeachment e os segmentos que apoiam o governo. Só receio a eclosão de conflitos de rua.

Sul21: Algumas decisões do juiz Sérgio Moro vêm sendo objeto de polêmica, como esta mais recente das interceptações telefônicas envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff. Como o senhor avalia estas decisões?

Marco Aurélio Mello: Ele não é o único juiz do país e deve atuar como todo juiz. Agora, houve essa divulgação por terceiros de sigilo telefônico. Isso é crime, está na lei. Ele simplesmente deixou de lado a lei. Isso está escancarado e foi objeto, inclusive, de reportagem no exterior. Não se avança culturalmente, atropelando a ordem jurídica, principalmente a constitucional. O avanço pressupõe a observância irrestrita do que está escrito na lei de regência da matéria. Dizer que interessa ao público em geral conhecer o teor de gravações sigilosas não se sustenta. O público também está submetido à legislação.

Sul21: Na sua opinião, essas pressões midiáticas e de setores da chamada opinião pública vêm de certo modo contaminando algumas decisões judiciais?

Marco Aurélio Mello: Os fatos foram se acumulando. Nós tivemos a divulgação, para mim imprópria, do objeto da delação do senador Delcídio Amaral e agora, por último, tivemos a divulgação também da interceptação telefônica, com vários diálogos da presidente, do ex-presidente Lula, do presidente do Partido dos Trabalhadores com o ministro Jacques Wagner. Isso é muito ruim pois implica colocar lenha na fogueira e não se avança assim, de cambulhada.

Sul21: Os ministros do Supremo, para além do que é debatido durante as sessões no plenário, têm conversado entre si sobre a situação política do país?

Marco Aurélio Mello: Não. Nós temos uma tradição de não comentar sobre processos, nem de processos que está sob a relatoria de um dos integrantes nem a situação política do país. Cada qual tem a sua concepção e aguarda o momento de seu pronunciar, se houver um conflito de posições. Já se disse que o Supremo é composto por onze ilhas. Acho bom que seja assim, que guardemos no nosso convívio uma certa cerimônia. O sistema americano é diferente. Lá, quando chega uma controvérsia, os juízes trocam memorandos entre si. Aqui nós atuamos em sessão pública, que inclusive é veiculada pela TV Justiça, de uma forma totalmente diferente.

Sul21: A Constituição de 1988 incorporou um espírito garantista de direitos. Na sua avaliação, esse espírito estaria sob ameaça no Brasil?

 Marco Aurélio Mello: Toda vez que se atropela o que está previsto em uma norma, nós temos a colocação em plano secundário de liberdades constitucionais. Isso ocorreu, continuo dizendo, com a flexibilização do princípio da não culpabilidade e ocorreu também quando se admitiu, depois de decisão tomada há cerca de cinco antes, que a Receita Federal, que é parte na relação jurídica tributária, pode ter acesso direto aos dados bancários.

Sul21: A expressão “ativismo jurídico” vem circulando muito na mídia brasileira e nos debates sobre a conjuntura atual. Qual sua opinião sobre essa expressão?

Marco Aurélio Mello: A atuação do Judiciário brasileiro é vinculada ao direito positivo, que é o direito aprovado pela casa legislativa ou pelas casas legislativas. Não cabe atuar à margem da lei. À margem da lei não há salvação. Se for assim, vinga que critério? Não o critério normativo, da norma a qual estamos submetidos pelo princípio da legalidade. Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Se o que vale é o critério subjetivo do julgador, isso gera uma insegurança muito grande.

Sul21: Esse ativismo jurídico vem acontecendo em um nível preocupante, na sua opinião?

Marco Aurélio Mello: Há um afã muito grande de se buscar correção de rumos. Mas a correção de rumos pressupõe a observância das regras jurídicas. Eu, por exemplo, nunca vi tanta delação premiada, essa postura de co-réu querendo colaborar com o Judiciário. Eu nunca vi tanta prisão preventiva como nós temos no Brasil em geral. A população carcerária provisória chegou praticamente ao mesmo patamar da definitiva, em que pese a existência do princípio da não culpabilidade. Tem alguma coisa errada. Não é por aí que nós avançaremos e chegaremos ao Brasil sonhado.

Sul21: Como deve ser o encaminhamento da série de ações enviadas ao Supremo contestando a posse do ex-presidente Lula como ministro?

Marco Aurélio Mello: Eu recebi uma ação cautelar e neguei seguimento, pois havia um defeito instrumental. Nem cheguei a entrar no mérito. Nós temos agora pendentes no Supremo seis mandados de segurança com o ministro Gilmar Mendes e duas ações de descumprimento de preceito fundamental com o ministro Teori Zavaski, além de outras ações que tem se veiculado que existem e que estariam aguardando distribuição. Como também temos cerca de 20 ações populares em andamento.

No tocante aos mandados de segurança, a competência quanto à medida de urgência liminar é do relator. Não é julgamento definitivo. Quanto à arguição de descumprimento de preceito fundamental, muito embora a atribuição seja do pleno, este não estando reunido – só teremos sessão agora no dia 28 de março – o relator é quem atua ad referendum do plenário.

Temos que esperar as próximas horas. A situação se agravou muito com os últimos episódios envolvendo a delação do senador Delcídio e a divulgação das interceptações telefônicas. Não podemos incendiar o país.

Sul21: O STF deverá ter um papel fundamental para que isso não ocorra…

Marco Aurélio Mello: Sim. É a última trincheira da cidadania. Quando o Supremo falha, você não tem a quem recorrer. Por isso é que precisamos ter uma compenetração maior, recebendo não só a legislação e as regras da Constituição Federal, que precisam ser um pouco mais amadas pelos brasileiros, como também os fatos envolvidos.

Foto de capa: Dorivan Marinho/SCO/STF

O desespero de Emílio Odebrecht

POR PAULO NOGUEIRA, no DCM

Disse já mais de uma vez que tenho sido procurado por jornalistas da Globo revoltados com o que a empresa tem feito. Uma mensagem que me chegou ontem à noite me trouxe tristes memórias. Não tenho condições de confirmar. Então vou desde já avisando que o teor da carta pode ser falso.

Mas, lamentavelmente, é uma situação factível.

X – chamemos assim –me disse o seguinte. “Emílio Odebrecht procurou João Roberto Marinho em busca de ajuda para seu filho Marcelo, preso. E ouviu o seguinte: ‘Fala para o Marcelo entregar o Lula que a gente ajuda.’”

mi_1570193476972352-600x400

De novo: pode ser invenção, e espero que seja. Não consigo acreditar que João Roberto Marinho fosse capaz de uma resposta daquelas. Convivi com JRM no Conselho Editorial da Globo quase três anos, entre 2006 e 2008, e guardei a lembrança de um homem equilibrado, sereno e sensato.

Mas o mais importante é outra coisa.

Neste momento, já não é surpresa se um pai desesperado recorrer à Globo na procura de ajuda para um filho preso.

Se há alguém que pode efetivamente colaborar num quadro daqueles é a Globo, de cujo apoio Moro depende. Moro sabe que se a Globo se voltar contra ele por algum motivo, ele pode terminar na cadeia pelos abusos cometidos na Lava Jato.

A mensagem de X me remeteu à ditadura militar.

Pais de filhos desaparecidos tentavam de tudo para conseguir informações. Os donos de empresas jornalísticas, dada a sua proximidade com os generais, eram frequentemente procurados.

O livro K, de Bernardo Kucinski, conta uma dessas histórias. É um livro autobiográfico. K é o pai de Kucinski. E o enredo gira em torno da enlouquecedora jornada de K para conseguir informações sobre sua filha, Ana Rosa, sequestrada (e morta) pela ditadura. Ana, irmã de Bernardo Kucinski, era uma jovem e brilhante professora de química da USP.

K recorreu a um empresário de mídia não nomeado no livro, e judeu como ele. Mas nada obteve senão uma seca resposta de que não havia como fazer nada, visto que ela era comunista.

A filha de K já estava morta enquanto ele ainda a procurava. Abutres chegavam a ele dizendo que tinham informações, e as dariam caso recebessem dinheiro.

O que K faria hoje caso um filho fosse alcançado por Moro?

Se tivesse acesso à Globo, como provavelmente Emílio Odebrecht tem, recorreria aos Marinhos.

É a história, perturbadoramente, que se remete.

Troque os generais por Moro. Foi dado a Moro um poder extraordinário de prender pessoas. Ninguém o fiscaliza, ninguém lhe cobra nada. O antigo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sempre se omitiu diante das evidências de abuso e partidarismo de Moro.

Os juízes do STF, como notou com precisão Lula, se acovardaram. A imprensa, interessada no foco anti-PT dado por Moro, sempre o incentivou. Os primeiros e tímidos reparos apareceram apenas quando extrapolou como no caso da condução coercitiva de Lula.

É apavorante a perspectiva de que retornemos ao ambiente da ditadura. Emílio Odebrecht, quer tenha ou não apelado para João Roberto Marinho, é um pai tão atormentado quanto K.

E isto pode ser uma tragédia nacional.

Parauapebas x PSC – comentários on-line

Campeonato Paraense 2016 – 2ª rodada do returno

Parauapebas x PSC – estádio Rosenão, 16h

Rádio Clube _ IBOPE _  Sábado e Domingo _ Tablóide

Na Rádio Clube, Géo Araujo narra, Carlos Castilho comenta. Reportagens – Giuseppe Tommaso e Dinho Menezes. Banco de Informações – Adilson Brasil e Fábio Scerni 

Juiz sabia da gravação sem cobertura legal, quem estava nela e seu teor!

Cd_iW6yWIAAiw9n

POR PAULO HENRIQUE AMORIM

Os Estados Unidos tiveram um Moro.
O obscuro senador Joseph McCarthy, que entrou para a história com um infame neologismo: “macartismo”.
A perseguição aos esquerdistas americanos, sem prova, com a manipulação da imprensa e o acoelhamento do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Aí, um jornalista chamado Ed Murrow, que ancorava o programa “See it now”, na rede CBS de televisão, com patrocínio da Alcoa, destruiu a carreira nefanda do McCarthy.
Murrow não disse nada.
Limitou-se a colar declarações de McCarthy à televisão, que manipulava e por ele se deixava manipular.
Uma após a outra, sem interferência do âncora.
McCarthy por ele mesmo.
McCarthy se enforcou-se nas próprias palavras.
É o que Janio de Freitas, incomparável jornalista num país em que, em 99% dos casos, como diz o Mino Carta, os jornalistas são piores que os patrões, é o que Janio de Freitas acaba de fazer com o McCarthy de Curitiba.
McCarthy, alcoólatra e cardiopata, morreu pouco depois de encerrar o mandato (era senador de primeiro mandato, tão obscuro e superficial quanto seu descendente de Maringá).
Moro pode ser convidado pelo professor Boff a dirigir-se ao Inferno: à cadeia em que mictórios são grampeados pela Polícia, mantém cidadãos sem culpa formada, pois nem julgados foram, como é o caso do José Dirceu, que ficará preso porque está preso e, solto, desmoralizará o Moro!
Em tempo: por causa desse programa, a Alcoa deixou de patrocinar o See it Now e, pouco tempo depois, Murrow foi demitido.
Espera-se que o Otavím não conheça esse episódio, que vai contado, em mais detalhes em “O Quarto Poder”.
E no filme “Boa noite e boa sorte”, de George Clooney
Ao Janio magnífico!

Talvez sem volta

POR JANIO DE FREITAS
Se fosse preciso, para o combate à corrupção disseminada no Brasil, aceitar nos Poderes algumas ilegalidades, prepotência e discriminações, seria preferível a permanência tolerada da corrupção. Os regimes autoritários são piores do que as ditaduras, ao manterem aparências cínicas e falsos bons propósitos sociais e nacionais, que dificultam a união de forças para destituí-los.

A corrupção é um crime, como é um crime o tráfico de drogas, como o contrabando de armas é crime, como criminoso é –embora falte a coragem de dizê-lo– o sistema carcerário permitido e mantido pelo Judiciário e pelos Executivos estaduais. Mas ninguém apoiaria a adoção de um regime autoritário para tentar a eliminação de qualquer desses crimes paralelos à corrupção.

A única perspectiva que o Brasil tem de encontrar-se com um futuro razoavelmente civilizado, mais organizado e mais justo, considerado entre as nações respeitáveis do mundo, é entregar-se sem concessões à consolidação das suas instituições democráticas como descritas, palavra por palavra, pela Constituição. Talvez estejamos vivendo a oportunidade final dessa perspectiva, tamanhas são a profundidade e a extensão mal percebidas mas já atingidas pela atual crise.

Apesar desse risco, mais do que admiti-las ou apoiá-las, estão sendo até louvadas ilegalidades, arbitrariedades e atos de abuso, inclusive em meios de comunicação, crescentes em número e gravidade. Os excessos do juiz Sergio Moro, apontados no sensato editorial “Protagonismo perigoso” da Folha (18.mar), e os da Lava Jato devem-se, em grande parte, à irresponsabilidade de uns e à má informação da maioria que incentivam prepotência e ódio porque não podem pedir sangue e morte, que é o seu desejo.

Moro e seus apoiadores alegam que as gravações clandestinas foram legais porque cobertas por (sua) ordem judicial, válida até 11h12 da quinta 17. Dilma e Lula foram gravados às 13h32. Esta gravação sem cobertura judicial foi jogada para culpa da telefônica. Mas quem a anexou como legal a um inquérito foi a PF, em absoluta ilegalidade. E quem divulgou a gravação feita sem cobertura judicial foi o juiz Sergio Moro, cerca de 16h20.

Na sua explicação que seguiu a divulgação, porém, Moro deixou a evidência que desmonta seu alegado e inocentador desconhecimento daquele “excedente” gravado. Ao pretender justificá-lo como informação aos governados sobre “o que fazem os governantes” mesmo se “protegidos pelas sombras”, comprovou que sabia da gravação sem cobertura ilegal, de quem estava nela e do seu teor. E tornou-a pública, contra a proibição explícita da lei.

A ilegalidade foi ampliada com a divulgação, em meio às gravações, dos telefones particulares e das conversas meramente pessoais, que Moro ouviu/leu e, por lei, devia manter em reserva, como intimidades protegidas pela Constituição. E jornais em que a publicação de pornografia e obscenidades está liberada, para pasmo da memória de Roberto Marinho, atacam a “falta de decoro” das conversas pessoais.

O STF decidiu desconectar as ações sobre contas externas de Eduardo Cunha e de Cláudia Cruz: a dela foi entregue a Moro. No mensalão, em 38 julgados no STF só três tinham foro privilegiado. Os demais foram considerados conexos. Há duas semanas, o STF manteve em seu âmbito, como conexos, os processos do senador Delcídio e o do seu advogado. Por que a decisão diferente para Cruz? A incoerência não pode impedir suposições de influência da opinião pública, por se tratar de Cunha e sua mulher.

Ainda no Supremo, Gilmar Mendes, a meio da semana, interrompeu uma votação para mais um dos seus costumeiros e irados discursos contra Dilma, o governo, Lula e o PT. Seja qual for a sua capacidade de isenção, se existe, Mendes fez uma definição pessoal que o incompatibilizaria, em condições normais, para julgar as ações. Assim era.

Muitos sustentam, como o advogado Ives Gandra, que “a gravação [a ilegal] torna evidente que o intuito da nomeação [como ministro] foi proteger Lula”, o que justificaria o impeachment. Foi o mesmo intuito da medida provisória de FHC que deu ao advogado-geral da União título de ministro para proteger Mendes, com foro especial, contra ações judiciais em primeira instância. Uns poucos exemplos já mostram a dimensão do que se está arruinando no Brasil, talvez sem volta.

murrow

Juízes justiceiros que sonham com Watergate

1458424342_316271_1458425550_noticia_normal_recorte1 (1)

POR DAVID ALANDETE, no El País – Madri

Qual Justiça decidirá sobre Lula: a que presume a inocência de todos acusados ou a que atende apenas à indignação nas ruas?

Há pouco de épico na tentativa de retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Governo do Brasil. Sua posse como ministro foi apressada e incômoda, como se a história se repetisse como trâmite burocrático. Sensações reduzidas pelo fato de que, neste momento, quem pisa nos calos de Lula sejam os juízes e não (aparentemente) adversários políticos.

A Justiça decidirá quanto há de verdade nas acusações de enriquecimento ilícito que pendem sobre Lula. A questão é qual Justiça decidirá: a que presume a inocência de todos os acusados ou a que atende apenas à indignação política nas ruas.

O herói das manifestações numerosas contra o Partido dos Trabalhadores é o juiz federal Sergio Moro, que comanda as investigações de desvio de dinheiro da petroleira estatal. Este, convencido pelo papel que lhe foi designado pela história, cita em seus autos o caso Watergate, paradigma de abuso de poder e queda de um presidente. Efetivamente, Moro recorreu às proporções desse grande escândalo para justificar a gravação e a filtração de uma conversa telefônica em que a presidenta Rousseff comunicava a Lula que havia enviado o termo de posse de ministro. “Use-o apenas em caso de necessidade”, disse. Se assinasse o documento, como fez na quinta-feira, Lula receberia foro privilegiado e apenas o Supremo poderia julgá-lo. Vendo Lula escapar pelos seus dedos, o magistrado parecia lançar uma mensagem desesperada: façamos história, que caiam.

Ao seu resgate, veio outro juiz federal, Itagiba Catta Preta Neto, que se apressou a ordenar a anulação da nomeação de Lula porque “a ostentação e exercício do cargo poderia tornar-se uma intervenção indevida e odiosa na atividade policial do Ministério Público”. Uma apelação curiosa, vinda desse magistrado.

Mais de um ano atrás, antes da eleições que Rousseff ganhou novamente, o mesmo recomendava: “Ajude a derrubar Dilma e volte a viajar para Miami e Orlando. Se ela cair, o dólar também cairá”. “Fora Dilma”, escreveu, ao lado de uma selfie, em uma manifestação. E recentemente, proclamou em seu Facebook: “Lula pode ser ministro da Justiça. Estamos perdidos”.

Assim acaba a independência judicial. Apesar de as fronteiras entre o ativismo política e a Justiça serem tão difusas quanto no caso de Lula, outro magistrado, esse do Supremo, decidiu, na sexta-feira, suspender sua nomeação como medida cautelar.

Moro, portanto, pode continuar indo atrás de Lula. É o seu papel. Quando se viu obrigado a explicar por que filtrou uma conversa privada entre a presidenta e Lula, disse que a “chefe da República não tem privilégio absoluto no sigilo das suas comunicações”, como demonstra “o precedente da Suprema Corte norte-americana em EUA v. Nixon, em 1974, um exemplo a ser seguido”. Esquece que, no caso de Watergate, quem gravou seus adversários não foi um juiz, mas o próprio presidente, que foi obrigado a renunciar. Não é um mau exemplo para um magistrado, especialmente se ele tiver ambições políticas.

Caixa Seguradora lança produto para torcida do Remo com prêmios de até R$ 5 milhões

95a33319-a86b-4e12-8f01-cb21ce692978

A Caixa Seguradora está lançando o Cap Leão Campeão, um título de capitalização feito sob medida para os torcedores do Clube do Remo. Agora, além de incentivar o Leão, o remista vai torcer pela própria sorte e ainda dará apoio financeiro ao time do coração. Os torcedores concorrerão a até R$ 2 milhões todo mês. Haverá ainda um supersorteio de até R$ 5 milhões no último mês de vigência do título e 111 prêmios semanais de até R$ 200 mil. O produto custa a partir R$ 30 mensais e o Remo será beneficiado com uma remuneração paga a cada título vendido.
Os títulos serão comercializados pela internet no site www.capleaocampeao.com.br a partir desta quinta-feira (17). No final do plano, o cliente recebe todo o dinheiro guardado de volta, atualizado pela TR. O lançamento oficial do produto ocorreu na quarta-feira (16), no estádio Mangueirão, onde o Leão enfrentou o Náutico/RR pela Copa Verde.

As ruas

Cd1O8gVW4AALq2i

POR JOÃO BOSCO MAIA, no Facebook

Ontem, na velha e amiga rua, reencontrei dezenas de companheiros. Entre as palavras de ordem e as passadas, relembramos de outros momentos semelhantes ao que estávamos. Relembramos desde as minipasseatas, que recebiam esse nome pelo número pequeno de pessoas e pela sua curta duração. Não demoravam mais do que um quarteirão, pois tínhamos que correr da Polícia Militar e do Exército. A ordem escrita em ato institucional era: nada de motim. Quantas corridas dessas durante a madrugada, deixando pincéis, lata de tinta e a frase inacabada no muro (a única imprensa que nos restava)? Ah, queridos companheiros, se juntássemos os passos dados das vezes que fomos para a rua enfrentar a ditadura, como nunca andamos em separado, teríamos dado a volta ao mundo.

9fcc04ea-3064-4c7d-ba6b-53ef3366a550 (1)

Depois, vieram as lutas ecológicas (quantas!), as estudantis (restaurante universitário, meia passagem, eleição direta pra reitor, fim do regime seriado), as sindicalistas (direito de greve, data-base, 1/3 de férias), as propriamente políticas (sepultamento da ditadura, diretas-já). Fomos às ruas contra os assassinatos dos homens ligados ao campo (Expedito, João Canuto, o genocídio da Curva do S). Cruzamos a cidade de Belém chorando sobre os caixões de Paulo Fonteles e João Batista. Voltamos ontem à rua, e nela estaremos sempre, porque, no dia que não o fizermos, estará acabada a finalidade do homem sobre a face do planeta. O triste somente é tornar à rua não por uma reivindicação nova, mas pela mesma síndrome que convergiu para o golpe de 64, cujo fator preponderante é a reunião de pessoas que nunca antes foram às ruas.