Segunda parte do depoimento prestado à Polícia Federal no aeroporto de Congonhas:
Delegado da Polícia Federal:- Isso. Se o senhor quiser, vamos ajudar, vamos colocar o cafezinho aqui mais perto da gente, para a gente também poder se servir.
Declarante:- Qual era a pergunta?
Delegado da Polícia Federal:- O senhor descreveu quais são os setores do Instituto Lula que funcionam naquela sede ao lado da polícia militar, e aquela outra sede, a mais conhecida, quais são os setores do Instituto Lula que funcionam lá?
Declarante:- Lá tem a minha sala, tem a Clara Ant que é diretora que funciona lá, tem o Luiz Dulci que é o ex-ministro que funciona lá, tem o ministro Paulo Vanuchi que funciona lá e tem os funcionários que trabalham.
Delegado da Polícia Federal:- Certo. Como é que são feitas, como é que são colhidas as doações por empresas para o Instituto Lula?
Declarante:- Como qualquer outra empresa ou qualquer outro instituto, ou você recolhe fazendo o projeto ou você recolhe pedindo dinheiro.
Delegado da Polícia Federal:- Quem tem essa função de pedir dinheiro em nome do instituto?
Declarante:- A direção do instituto, isso é feito em qualquer instituto, isso vale…
Delegado da Polícia Federal:- Alguma pessoa em específico?
Declarante:- Isso vale, não, deve ser o tesoureiro e o diretor financeiro do instituto.
Delegado da Polícia Federal:- Quem são?
Declarante:- Hoje eu acho que é o Celso Marcondes, mas isso funciona como qualquer instituto, do Fernando Henrique Cardoso, do Sarney, do Bill Gates, do Bill Clinton, do Kofi Annan.
Delegado da Polícia Federal:- Há 5 anos atrás, quem tinha essa função de pedir doações a empresas em nome do Instituto Lula?
Declarante:- Sempre o diretor financeiro.
Delegado da Polícia Federal:- Cinco?
Declarante:- Sempre o diretor financeiro.
Delegado da Polícia Federal:- Quem foram os diretores financeiros nos últimos 8 anos?
Declarante:- Nos últimos 8 anos, não tinha diretor financeiro nos últimos 8 anos.
Delegado da Polícia Federal:- Desde que começou a ter o diretor…
Declarante:- Nós tivemos, tivemos acho que a companheira Clara Ant por um período e depois o Celso.
Delegado da Polícia Federal:- Certo. Em que período seria a senhora Clara Ant, em que período ela…
Declarante:- Eu acho que depois que nós voltamos.
Delegado da Polícia Federal:- Nós voltamos?
Declarante:- Da presidência.
Delegado da Polícia Federal:- Em 2011, janeiro de 2011?
Declarante:- em 2011.
Delegado da Polícia Federal:- Ela começou a exercer essa atividade de diretoria financeira?
Declarante:- Eu não sei se ela começou a exercer, aí eu não tenho certeza, pode perguntar pAra ela.
Delegado da Polícia Federal:- Ela era sua assessora no palácio do planalto?
Declarante:- Ela era deputada estadual, ela era dirigente do PT, ela foi dirigente e fundadora da CUT e ela era a pessoa que trabalhava as informações do governo na presidência da república.
Delegado da Polícia Federal:- Certo. O senhor lembra qual era o salário dela quando ela passou a trabalhar no instituto?
Declarante:- Não.
Delegado da Polícia Federal:- Do diretor financeiro em geral do instituto?
Declarante:- Não, é tudo igual, não tem acho que de diferença naquele…
Delegado da Polícia Federal:- Em torno de quanto mais ou menos?
Declarante:- Não sei.
Delegado da Polícia Federal:- É comum as empresas procurarem espontaneamente o Instituto Lula para oferecer doações?
Declarante:- Não. Aliás, eu não conheço ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo, se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira as costas e não dá o dinheiro, então dinheiro você tem que pedir, você tem que convencer as pessoas do projeto que você vai fazer, das coisas que você vai fazer. Lamentavelmente, no Brasil ainda não é uma coisa normal, mas no mundo desenvolvido isso já é uma coisa normal, ou seja, não é nem vergonha, nem crime, alguém dar dinheiro para uma fundação, aqui no Brasil a mediocridade ainda transforma tudo em coisas equivocadas.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor chegou a procurar alguma empresa para pedir dinheiro para esses projetos no Instituto Lula?
Declarante:- Não, porque não faz parte da minha vida política, ou seja, eu desde que estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor nunca pediu dinheiro em nome do instituto?
Declarante:- Não, e pretendo não pedir nos últimos anos que eu tenho de vida.
Delegado da Polícia Federal:- Era só o diretor financeiro que pedia ou mais alguém fazia esse tipo de pedido?
Declarante:- Deve ter mais gente que pedia, aí teria que perguntar para quem conhece.
Delegado da Polícia Federal:- Para quem o conhece?
Declarante:- Deveria perguntar para quem conhece.
Delegado da Polícia Federal:- Que seriam os diretores financeiros?
Declarante:- O Paulo Okamotto, pode perguntar para o Paulo quem é que pedia.
Delegado da Polícia Federal:- Qual era a função do Paulo?
Declarante:- O Paulo é o presidente do instituto, o Paulo coordena o instituto, coordena as reuniões, o Paulo coordena as decisões do instituto, o papel de presidente.
Delegado da Polícia Federal:- Também pede dinheiro para o instituto?
Declarante:- Eu acho que pode pedir, não sei se pede, mas eu acho que pode pedir.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor não lembra, porque o fluxo financeiro do instituto é grande, então eventualmente pode…
Declarante:- Ele é menos do que eu precisava.
Delegado da Polícia Federal:- Não, sem entrar nesse mérito, mas eventualmente uma doação grande ela deve ser comemorada…
Declarante:- Não havia comemoração.
Delegado da Polícia Federal:- Não, não, não, no sentido de que uma empresa, num instituto que tenha uma determinada finalidade, eu acredito que uma doação grande inserida é chegada com bons olhos, ou seja, essa notícia é transmitida, eu falei isso para lhe perguntar, o senhor lembra do senhor Paulo Okamotto comemorando, dando uma boa notícia para a diretoria de que eventualmente tenha recebido uma quantia suficiente para um determinado projeto?
Declarante:- Não.
Delegado da Polícia Federal:- Não?
Declarante:- Não.
Delegado da Polícia Federal:- Tem um valor mínimo de doação, tem alguma definição?
Declarante:- Não.
Delegado da Polícia Federal:- É dado recibo?
Declarante:- É, porque tudo tem que ser legalizado, se a pessoa dá o dinheiro eu acho que a pessoa quer comprovação que doou.
Delegado da Polícia Federal:- E é por transferência ou em reais?
Declarante:- Não sei, não sei.
Delegado da Polícia Federal:- Qual era o montante médio anual de recurso auferido?
Declarante:- Ah, não sei, não pergunte para mim essas coisas financeiras porque eu não cuido disso.
Delegado da Polícia Federal:- Certo. Não teria nem ideia de quanto…
Declarante:- Nem no instituto e nem em casa eu cuido disso, em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida e no instituto tem pessoas que cuidam.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor não faz nem ideia?
Declarante:- Não faço ideia.
Delegado da Polícia Federal:- De quanto entra em dinheiro?
Declarante:- E faço questão de não fazer ideia.
Delegado da Polícia Federal:- Como são destinadas e aplicadas essas doações?
Declarante: Não sei.
Delegado da Polícia Federal:- Quem decide o senhor falou sobre quem aplica e tal, então seria a diretoria?
Declarante:- A diretoria.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor recebe uma remuneração pelo instituto?
Declarante:- Não.
Delegado da Polícia Federal:- Existe algum museu sendo construído, reformado?
Declarante:- Teria se o Ministério Público tivesse deixado, porque nós entramos com o pedido, o Kassab nos deu um terreno ali próximo à região da Estação da Luz, onde está fazendo… Aquela região do crack lá, a cracolândia, o Kassab nos deu o terreno que a gente queria fazer o Memorial da Democracia, o Ministério Público de São Paulo entrou com um processo e está suspenso até agora, então não tem; eu pensei em levar para a universidade, mas aí resolvi deixar lá.
Delegado da Polícia Federal:- E foi enviado algum recurso para a África para eventualmente ajudar na miséria ou fome, alguma coisa assim?
Declarante:- Não, não.
Delegado da Polícia Federal:- Aqui no Brasil foi…
Declarante:- Que eu saiba não.
Delegado da Polícia Federal:- E aqui no Brasil?
Declarante:- Deixa eu lhe falar, o instituto não é uma ONG, o instituto não é, eu tomei uma decisão que o instituto não seria uma ONG, nós não vamos fazer um instituto que “Ah, mandar 10 milhões para cuidar não sei do que, não sei aonde”, não, não é esse o papel do instituto, o papel do instituto é tentar mostrar para as pessoas que é possível pescar, o papel do instituto é ensinar as pessoas a pescar os mesmos peixes que nós pegamos no Brasil, mostrar que é possível um país se desenvolver, evoluir, gerar emprego, gerar renda, melhorar a vida de todo mundo, melhorou a vida da Polícia Federal pra cacete no meu governo, melhorou a vida dos catadores de papel pra cacete, melhorou a vida do pequeno produtor rural como nunca melhorou nesse país, então o que nós fazemos é mostrar o que acontece, o que é possível fazer num país, esse é o papel do instituto.
Delegado da Polícia Federal:- Certo.
Declarante:- E o meu papel pessoal, porque eu faria isso independentemente de instituto.
Delegado da Polícia Federal:- Mudando um pouquinho de assunto agora, o senhor conhece a empresa G4 Entretenimento e Tecnologia Digital?
Declarante:- Eu não conheço, mas eu sei que acho que é do, o meu filho acho que era sócio dela, G4.
Delegado da Polícia Federal:- Qual filho?
Declarante:- O Fábio.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor sabe quais as atividades exercidas por ela?
Declarante:- Não sei. Esse negócio de game, não me pergunte nada que eu sou analfabeto.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor saberia dizer, ele já comentou com o senhor quantos empregados, ele dá emprego para quanta gente lá, quantas famílias sobrevivem dela, não sabe dizer?
Declarante:- Não, cada um cuida do seu nesse país.
Delegado da Polícia Federal:- Mas, assim, mais de 5, mais de 20?
Declarante:- Eu não sei, querido, não tenho a menor noção.
Delegado da Polícia Federal:- E o senhor sabe onde ela se situa?
Declarante:- Não. Aliás, eu nunca fui.
Delegado da Polícia Federal:- Além do seu filho Fábio, seria um dos sócios dela, quem seriam os outros sócios?
Declarante:- Não sei, querido.
Delegado da Polícia Federal:- E ela já recebeu valores do Instituto Lula?
Declarante:- Se prestou serviços, não recebeu benefícios, recebeu pagamentos, eu não sei se prestou serviços, mas se prestou serviços recebeu, todo mundo que presta serviços para o instituto recebe.
Delegado da Polícia Federal:- E o senhor sabe se ela prestou algum serviço?
Declarante:- Não sei, não sei.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor conhece a empresa Flex BR Tecnologia Ltda.?
Declarante:- Essa eu faço questão que você conheça.
Delegado da Polícia Federal:- Eu não conheço.
Declarante:- Eu não conheço, quero que você conheça, eu não conheço, quero que você vá conhecer.
Delegado da Polícia Federal:- Por quê?
Declarante:- Porque é uma peça de ficção, eu não conheço, não sei onde fica, eu sei que vocês estão investigando ela porque eu vi no relatório, Deus queira que vá muita gente da Polícia Federal lá para ver, e ver o que ela já produziu na vida.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor acha que é positivo ou negativo o que ela produz?
Declarante:- Não, deixa vocês investigarem que é melhor. Eu só espero que depois que investigarem me deem um atestado de estar dizendo a verdade sobre cada coisa, só isso.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor afirma que nunca ouviu falar nessa empresa?
Declarante:- Se eu não ouvi falar? Se eu não tivesse ouvido falar eu teria ouvido aqui na petição que me mandaram aqui, porque tem escrito nela.
Delegado da Polícia Federal:- Não, mas assim, antes de ter…
Declarante:- Não.
Delegado da Polícia Federal:- Não, nunca, não tem conhecimento, ok. Obviamente, então, o senhor saberia falar alguma coisa entre ela e o Instituto Lula, alguma relação entre elas?
Declarante:- Não.
Delegado da Polícia Federal:- Em relação a Camargo Correa, Construtora Camargo Correa, que relação ela pode ter com o Instituto Lula?
Declarante:- Nenhuma.
Delegado da Polícia Federal:- O senhor tem conhecimento se ela fez doações ao Instituto Lula?
Declarante:- Até saiu na imprensa que ela fez.
Delegado da Polícia Federal:- E o senhor sabe dizer quem pediu as doações para ela?
Declarante:- Eu vou repetir, deve ter sido ou o tesoureiro do instituto ou algum diretor do instituto, ela deu para o instituto acho que a metade do que ela deu para o Fernando Henrique Cardoso, metade, deveria ter dado mais, mas deu menos.
Delegado da Polícia Federal:- E quem é o tesoureiro do instituto?
Declarante:- Olha, eu vou repetir aqui, ou é o Celso Marcondes ou é a Clara Ant, se não for nenhum dos dois é o presidente do instituto.
Delegado da Polícia Federal:- Ok.
Declarante:- Se não for o presidente do instituto…
Delegado da Polícia Federal:- O Paulo Okamotto então pode ser tesoureiro também, ele pode exercer a função de tesoureiro também?
Declarante:- Quem?
Delegado da Polícia Federal:- O Paulo Okamotto.
Declarante:- É que o presidente é a maior autoridade do instituto, é a maior autoridade do instituto, então mesmo coisas que a tesouraria faça muitas vezes têm que passar por ele, é assim até no Corinthians.
Delegado da Polícia Federal:- Então é possível, por exemplo, que o próprio Paulo Okamotto ou a Clara Ant tenham pedido doações a qualquer empresa, entre elas a Camargo Correa?
Declarante:- É possível, é possível.
Delegado da Polícia Federal:- Certo. O mesmo se aplica à OAS, ou seja…
Declarante:- A todas.
Delegado da Polícia Federal:- Odebrecht?
Declarante:- A todas.
Delegado da Polícia Federal:- Andrade Gutierrez?
Declarante:- Aos bancos…
Delegado da Polícia Federal:- À UTC?
Declarante:- Todas, todas, todas.
Delegado da Polícia Federal:- Queiroz Galvão…
Declarante:- Todas.
Delegado da Polícia Federal:- Enfim, todas essas fizeram doações ao Instituto Lula…
Declarante:- Não sei se todas fizeram.
Delegado da Polícia Federal:- Não sabe?
Declarante:- Não sei, querido.
Delegado da Polícia Federal:- Certo.
Declarante:- Você perguntou da, da…
Delegado da Polícia Federal:- Camargo Correa…
Declarante:- Da Camargo Correa, eu disse que a imprensa já deu que a Camargo Correa tinha doado dinheiro para o instituto e disse que ela doou metade do que doou para o Fernando Henrique Cardoso, o restante…
Delegado da Polícia Federal:- O senhor saberia dizer quem na Camargo Correa seria o interlocutor da Camargo Correa para fazer doação, ou da OAS?
Declarante:- Não sei. Não sei.
Delegado da Polícia Federal:- Alguém da OAS, alguém da Andrade Gutierrez, que a gente possa verificar porque passou por essa pessoa?
Declarante:- Eu já disse para você que a mim não interessa discutir esses assuntos, não me interessa.
Delegado da Polícia Federal:- Em razão das doações ao Instituto Lula, o senhor já gestionou pelos interesses dessas empreiteiras em contratos e financiamentos?
Declarante:- Não entendi a pergunta. Dormiu pouco essa noite?
Defesa:- Não, dormi bem.
Delegado da Polícia Federal:- Em razão das empresas que doaram valores para o Instituto Lula, como essas, Camargo Correa, OAS ou qualquer uma outra, o senhor já chegou a fazer gestão para que elas fizessem algum contrato com a administração pública federal?
Agente da Polícia Federal:- A hora que precisar interromper para comer alguma coisa, então. Já está tudo aqui, o Morais trouxe.
Declarante:- O que vocês têm aqui para comer?
Delegado da Polícia Federal:- Não, pode dar uma olhadinha aí, pode abrir, o que achar que é bom…
Defesa:- O pior é que tem os outros todos olhando aí…
Delegado da Polícia Federal:- Não, a gente tomou café, o ex-presidente no fim saiu sem café e tem todo o direito aí de se alimentar.
Defesa:- E pode parar se quiser.
Declarante:- Eu não quero só um pãozinho.
Delegado da Polícia Federal:- Então vou aproveitar para pegar um cafezinho também.
Declarante:- Então eu vou escolher o misto quente.
Defesa:- Deveria ter pego outro.
Declarante:- Não, é a mesma coisa, vou comer um misto quente… O senhor quer?
Defesa:- Não, obrigado.
Declarante:- O senhor tomou café em casa?
Defesa:- Comi alguma coisinha no caminho.
Declarante:- Tem pão de queijo aqui, olha, quem quiser pão de queijo.
Delegado da Polícia Federal:- Acho que trouxeram para todos.
Declarante:- Não, foi para todos, não foi só pra mim.
Delegado da Polícia Federal:- Doutor, eu vou passar para o senhor um mandado de intimação para uma audiência, uma audiência que o senhor Luiz Inácio Lula da Silva deve comparecer em São Paulo mesmo, no Fórum, enquanto eu continuo as perguntas o senhor olha se está tudo ok, depois a gente só pega a assinatura.
Defesa:- Está bom.
Delegado da Polícia Federal:- A via dos senhores e depois pegar o ciente. O senhor fique à vontade, quando a gente for recomeçar o senhor só me avisa.
Declarante:- Você sabe que…
Defesa:- Está desligada, né?
Delegado da Polícia Federal:- Não.
Defesa:- Mas só lembrar o seguinte, continua ligado isso daqui.
Declarante:- Se quiser continuar, pode continuar, eu sei falar de boca cheia.
Delegado da Polícia Federal:- Não, não, eu só não quero atrapalhar o seu café.
Declarante:- Na fábrica a gente trabalhava em horário corrido, você tinha meia hora para comer, então era uma desgraça, você comia falando, então…
Defesa:- Quem tirou tanta gente da miséria tem direito a comer também.
Delegado da Polícia Federal:- É verdade.
Declarante:- É leite, isso é chá, né?
Delegado da Polícia Federal:- Isso aqui é chá.
Defesa:- Eu acredito que já houve uma carta precatória em São Paulo, o senhor sabe dizer se é a mesma?
Delegado da Polícia Federal:- Olha, eu não faço a mínima ideia do que é isso aí, só chegou para mim agora o mandado da intimação, não sei nem da onde veio direito, não tive tempo de ler.
Defesa:- Há um réu numa ação penal que arrolou o senhor como testemunha, o réu José Carlos Bumlai, e ao que me consta já chegou a intimação, mas parece que o juiz aqui que preside o processo fez encaminhar ele diretamente uma nova intimação. O estranho é que veio na verdade sem precatória, mas a forma como chegou, quem é que encaminhou isso aqui, esse documento?
Delegado da Polícia Federal:- Chegou no e-mail do colega aqui da nossa equipe dizendo “Olha, chegou uma ordem judicial pedindo para que tu intimes o ex-presidente Lula”.
Defesa:- Então, é porque eu não estou vendo é o seguinte, quer dizer, há procedimento que se deve observar, então…
Delegado da Polícia Federal:- Talvez isso até favoreça o próprio intimando…
Defesa:- É, na verdade eu prefiro sempre observar o procedimento legal.
Delegado da Polícia Federal:- Então, mas eu costumo dizer sempre “A ordem judicial a gente cumpre e não questiona”, então eu estou cumprindo uma ordem judicial.
Defesa:- Para mim o procedimento é importante.
Delegado da Polícia Federal:- Não, claro, mas eu acho que se o senhor…
Defesa:- Eu gostaria na verdade de saber a origem, porque eu não posso assinar um documento que veio sem carta precatória…
Delegado da Polícia Federal:- Não, eu estou declarando aqui no audiovisual que esse documento chegou por e-mail para a nossa equipe policial, a origem foi…
Defesa:- Tem o número do processo?
Delegado da Polícia Federal:- Está aqui. A 13ª vara federal encaminhando um mandado de intimação, agora, neste momento, eu passo a dar ciência ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva que existe uma petição número 5007401-06.2016.404.7000, Paraná, esse é o número do processo, o requerente é o Ministério Público Federal e o requerido é a senhora Marisa Letícia e o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Mandado de Intimação, doutor Sérgio Fernando Moro, Juiz Federal da 13ª Vara Federal, manda a quaisquer autoridades policiais a quem este for apresentado que em seu cumprimento procedam a intimação do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, qualificação, para que compareça na sede da Justiça Federal em São Paulo, situada na Avenida Ministro Rocha Azevedo, 25, na sala de videoconferência 1, décimo quinto andar, para audiência de instrução que será realizada por videoconferência no dia 14 de março de 2016, as nove e meia da manhã, ocasião em que será ouvido como testemunha arrolada pela defesa de José Carlos Costa Marques Bumlai, acerca dos fatos descritos na denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal nos autos da ação penal 5061578-51.2015.404.7000. Então é apenas um mandado de ordem para uma testemunha, agora se o senhor acha que o procedimento não é correto, aqui não é o momento para o senhor alegar porque eu apenas estou cumprindo um mandado, mas eventualmente o senhor pode peticionar nos autos se o senhor entender que não…
Defesa:- É que me causou surpresa porque foi expedido, pelo que me consta, uma carta precatória, então eu não entendi só a, a…
(Continua…)