Lula está na mira, mas o alvo é Dilma

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POR ANDRÉ FORASTIERI, em seu blog

Lula e Dilma estão no banco dos réus. De lá jamais sairão. Uma eventual condenação abrirá a porta para novas acusações. Mas nem precisa. Mesmo se inocentados, permanecerão sob fogo cerrado. A missão de longo prazo é impedir Lula de voltar a concorrer para presidente. A missão imediata é impedir Dilma o quanto antes. O show de hoje, e de todo dia, é para atingir esse objetivo. Show que não tem data para acabar.
Agora bateram mais forte que nunca em Lula, e mais dolorido, em sua família. Ele promete bater de volta. Como todo poderoso e famoso, tem convicção que é um escolhido, e agora certeza que é perseguido. Diz que irá aos quatro cantos do país. Convoca petistas, sindicatos, sem-terra. Falou como falava nos palanques. Deve ter eletrizado os simpatizantes. As manifestações pró e contra Lula e Dilma vêm aí. Arrisca aparecer um mártir. O Brasil vai mal? As coisas sempre podem piorar – e frequentemente pioram.
As investigações são detalhe. Não se trata de provar crime. Se trata de criar um clima político que leve à cassação de Dilma e, sonho dourado, cadeia para ela e Lula. Por enquanto não existe prova de nada contra Dilma, pessoalmente. Mônica Bergamo, na Folha, noticia que a construtora Andrade Gutierrez pode dar à Lava Jato informações sobre pagamentos feitos à campanha de Dilma em 2014, via caixa dois. Se isso acontecer, pode chegar a justificativa necessária para o impeachment da presidente.
Dilma é peso pena que qualquer vento leva. Por mérito pessoal, jamais seria presidente. Lula ganhou quatro eleições para presidente, duas para si, duas para Dilma. Por isso, e pela sua desastrosa gestão da economia do país, é que ela é uma presidente tão fraca.
Lula foi o maior líder de massas que esse país já viu. Foi eleito para priorizar as necessidades dos pobres que o elegeram. Priorizou os grandes – grandes indústrias, grandes bancos, grandes grupos educacionais, grandes fazendeiros, grandes obras, grandes ganhos para quem tinha grandes fortunas. Não ignorou completamente os necessitados, raridade na nossa história. É sua única redenção e justificativa para seu grande capital eleitoral. Esses passinhos que deu na direção de uma melhor distribuição de renda já são pecado mortal para os poucos que têm muito. A profundidade do preconceito de classe no Brasil é poço sem fundo.
Corrupção é mato na história política do país. O papo que o PT “institucionalizou” é só isso, papo. A oposição grita contra Dilma e Lula. Como se o Congresso, presidido por Renan e Cunha, em que a maioria responde a processos, tivesse moral para clamar pela ética. Como se o PSDB não tivesse rencas de acusações a responder. Mas são sempre dois pesos, duas medidas. Lula e companhia têm muito a explicar. Alckmin, Aécio, Serra etc. também. Cadê os paladinos da justiça para encrencar com o PSDB? Fernando Henrique Cardoso corrompeu deputados para garantir a aprovação da emenda da reeleição, que o beneficiou. A Polícia Federal nem investigou… vão bater na porta dele no dia de São Nunca.
Otimistas entendem que o Brasil sairá melhor da Lava-Jato do que entrou – e que se for para começar a limpa pelo PT, que assim seja. Mas investigar de um lado só não é justiça, é perseguição política. Sim, será um país melhor com políticos corruptos na cadeia. Mas não se forem todos de um partido só. Não precisa muito para ampliar o escopo da Lava-Jato. Basta perguntar aos empresários corruptores, envolvidos na Lava-Jato quanto dinheiro deram para o PSDB e outros partidos da oposição, quanto pagaram por palestras, que benefícios suspeitos financiaram. Fácil e difícil assim.
A quem beneficiaria estender a investigação de corrupção ao PSDB, PPS, Democratas, Solidariedade etc.? Não ao “mercado”, e como se sabe, quem dita as regras do jogo é quem tem dinheiro. Por que a bolsa sobe e o mercado financeiro celebra quando há cheiro de impeachment de Dilma? Porque o PSDB é ainda mais pró-bancos que o PT, claro.
É diferença sutil, mas há diferença. O PT governou com as elites, mas sua base é o povão. O PSDB é a própria expressão eleitoral da elite, a de verdade e a que aspira a ser. Ambos são partidos de centro, por isso arquiinimigos. Não têm ninguém com expressão eleitoral à esquerda deste centro. Á direita temos conservadores de todos os matizes.
Dilma é o alvo. Mas os tucanos têm receituário parecido com o de Dilma para tratar nossos problemas. Trocar o governo atual por uma outra coalizão fisiológica, só que com o PSDB à frente (e um PT furioso na oposição) seria trocar seis por meia dúzia. Com um agravante. As oposições defendem ainda mais benefícios para os ricos e ainda menos benefícios para os pobres. Os antipetistas querem “ajuste”, que em português claro é menos dinheiro para educação, saúde, aposentadorias. Querem menos impostos (principalmente para os ricos) e juros sempre, sempre mais altos. Implementadas, as políticas defendidas pela oposição são garantia de acirramento da nossa desigualdade, que atrasa o país e é causa fundamental dessa penúria em que vivemos – material, intelectual, eleitoral. O tratamento arrisca matar o paciente.
Não que a saída de Dilma, e Lula fora do páreo, seja garantia de ascenção dos tucanos ao poder. No caso de convocação de novas eleições, pode acontecer qualquer coisa. O fastio do eleitor com os políticos está aí, em todas as pesquisas. Podemos eleger um populista de direita, um Trump à brasileira. Podemos eleger qualquer coisa.
Dilma pode sobreviver, mesmo com uma condenação de Lula, se não houver nenhuma prova contra ela? Sim. FHC terminou seu mandato, com o PT batendo forte, muitas acusações de corrupção, e pedidos de impeachment. Para ficar em um caso similar, outro “poste”, Celso Pitta, que Paulo Maluf elegeu em São Paulo, também governou até o final. Podemos ter sim mais três anos de Dilma no poder, crise econômica se aprofundando, crise política pegando fogo. Considerando o estado do Brasil, a pergunta é: para quê?

Um comentário em “Lula está na mira, mas o alvo é Dilma

  1. Bem, o artigo descreve bem o que aconteceu. Lula governando com a elite e redistribuindo as migalhas para a população (comparem os custos dos programas sociais com os custos dos subsídios fornecidos para as grandes empresas). Então, Lula usou sua popularidade para impor um poste como presidenta, cuja falta de competência e conduta raivosa sempre foi muito bem conhecida por todos. Agora, o país está em depressão, principalmente pela falta de confiança que existe no atual governo. Creio que a Dilma vai se arrastar até o final do mandato e com isso prolongar a crise econômica do país. Segurem os cintos. A viagem será atribulada. Boa sorte para todos.

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