Papão fez quase tudo certo

POR GERSON NOGUEIRA

O futebol tem lá seus caprichos e mostrou isso no sábado à tarde, na Arena Fonte Nova. O Papão jogou com uma audácia inicial digna de elogios. Partiu com tudo para fustigar os donos da casa, imprensou mesmo a defensiva do Vitória e esteve a pique de fazer gol. Fez tudo isso, mas perdeu por 3 a 1. Daquelas derrotas que não envergonham, nem diminuem ninguém. O time saiu de cabeça erguida, certo do dever cumprido.

Caso houvesse justiça no futebol, era jogo para terminar empatado. O Papão foi melhor ao longo dos primeiros 25 minutos, mas cedeu terreno na parte final do primeiro tempo, sofrendo gol de falta – em lance de categoria de Escudero e azar do goleiro Emerson. O Vitória ampliou logo de saída na etapa derradeira. Pikachu diminuiu com um golaço, mas o Papão capitulou em vacilo de marcação, permitindo o pênalti que liquidou a fatura.

Sobre o primeiro tempo, cabe observar que o meia-atacante Rony movimentou-se bem, dando a velocidade pelos lados que o Papão só costuma ter quando Welington Jr. joga. Em duas jogadas rápidas, Rony acertou chutes bem calibrados, defendidos por Gatito Fernandez. No comando da ofensiva, Aylon também teve chances, abriu espaços e quase balançou as redes. O Vitória cresceu nos 20 minutos finais, chegando ao gol em perfeita cobrança de Escudero.

Chegaria ao segundo gol em cobrança de escanteio mal policiada pela zaga paraense. Mas, Pikachu, depois de algum tempo sem marcar, apareceu com desenvoltura nas articulações com o meio-de-campo, contando com a cobertura de Jonathan quando ia ao ataque. O gol lembrou alguns dos mais bonitos da carreira do lateral. Recebeu passe de Fahel nas costas da zaga e emendou de sem-pulo, com a bola entrando na forquilha esquerda do gol de Gatito Fernandez, sem chance de defesa.

O lance do gol tirou o Papão da acomodação. Confiante na possibilidade do empate, passou a envolver o Vitória, cujo único bom marcador no meio era Reiner, espécie de faz-tudo do time. Rony, Pikachu, Jonathan, Fahel e Aylon levavam sempre a melhor e criaram seguidas oportunidades, fazendo de Gatito Fernandez o grande destaque da partida.

Ninguém contava com um deslize individual, que pôs tudo a perder justo num momento de ascensão na partida, explorando o visível cansaço do Vitória. Gilson perdeu bola na intermediária e deixou a defesa sem alternativa, a não ser conceder o penal. O gol (segundo de Escudero) tirou as forças (e as chances) do Papão no jogo.

Para quem temia ver um Papão sofrendo com desfalques no setor de marcação e a ausência de última hora do centroavante Betinho, o técnico Dado Cavalcanti surpreendeu com um esquema funcional, leve e rápido, que botou pressão principalmente sobre o lado mais frágil do Vitória, a lateral-direita ocupada por Kanu.

Com alguma sorte, poderia ter marcado antes do Vitória, o que teria desnorteado o anfitrião diante de sua impaciente torcida. O revés, embora indesejado, não compromete a boa campanha no returno, principalmente porque o time mostrou qualidades e não desistiu de atacar.

————————————————————

Faltou ousadia e vibração

O extremo oposto aconteceu em Palmas (TO) quase no mesmo horário do jogo de Salvador. O Remo perdeu para o Palmas por 1 a 0 levando um gol de pênalti inexistente, mas depois de passar quase 90 minutos fugindo à responsabilidade de vencer a partida.

Com bons jogadores, o time não consegue jogar como time. É tome passes pro lado, recuos até os zagueiros, dali pro goleiro, depois para os laterais e a bola nada de chegar ao ataque. Nessa brincadeira, o Remo foi deixando o tempo escorrer sob o sol abrasador do Tocantins.

Teve um susto logo aos 10 minutos, quando Ted invadiu a área e obrigou Fernando Henrique a uma grande defesa. O estreante Kiros teve uma chance desviando cruzamento da esquerda, mas o goleiro Carlão defendeu bem. Depois, Léo Paraíba experimentou de fora da área, à direita do gol. Foi o único chute do Remo em todo o primeiro tempo.

Na etapa final, com Rodrigo Soares substituindo a Alex Ruan (que havia recebido o cartão amarelo), o Remo seguiu na mesma pisada, toques laterais e improdutivos, raras arrancadas em direção ao gol inimigo. Vendo que o visitante não se decidia, o Palmas começou a se animar.

Leandrinho avançava pela direita, criando algumas situações, enquanto o Remo seguia os conselhos do técnico Cacaio, procurando se manter em seu campo, garatindo o empate em 0 a 0.

O Palmas resolveu arriscar um pouco mais e botou mais um atacante, Washington. Na primeira arrancada, fez uma ginga na entrada da área e em seguida se atirou ao chão. O árbitro cearense Avelar Rodrigues apontou a marca da cal, indiferente aos protestos dos jogadores remistas.

O pênalti inacreditável, obra de ficção, estava marcado e o gol saiu aos 44 minutos, após cobrança de Dão. O Remo então se lançou ao ataque como se não houvesse dia seguinte. Cacaio botou laterais, volantes e até zagueiros para ajudar na ofensiva desesperada pelo empate.

Nos oito minutos seguintes, o time foi tudo o que não tinha sido até então: agressivo, intenso e rápido. Kiros estourou bola em cima do goleiro, Ramos perdeu de cara e Edcléber desperdiçou a terceira oportunidade.

Caso tivesse toda essa volúpia desde o começo, o Remo certamente teria melhor sorte. Acontece que o falso controle das ações iludiu Cacaio. Quando ele substituiu Juninho por Edcléber na metade do segundo tempo, abriu mão de articulação no meio. A saída de Léo Paraíba também afetou o ataque. E a permanência de Kiros não se justificou, como já não se justificava sua estreia como titular.

Só não se pode dizer que a derrota remista foi castigo merecido porque a marcação do pênalti que deu origem a ela foi absolutamente ridícula, pelo primarismo da simulação. Mas a lição veio na medida certa. Se não aprender a atuar coletivamente, de maneira organizada, o Remo terá muitas dificuldades no prosseguimento da competição.

Apesar de contar com bons valores individuais, o Remo não parece um time, tamanha é a confusão em suas linhas. Além disso, falta vibração, combustível fundamental em jornadas eliminatórias.

————————————————————

Deu a lógica: Águia rebaixado

O Águia passou mais de 90% do campeonato na zona da morte. Reagiu nas últimas rodadas, mas não a tempo de escapar. Levou uma goleada de 4 a 1 do líder Fortaleza e vai disputar a Série D em 2016. Não há nem motivo para lamento porque o filme estava desenhado desde o começo da competição. Erros acumulados nos últimos três anos resultaram no desfecho de ontem, na Arena Castelão.

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 28)

18 comentários em “Papão fez quase tudo certo

  1. Bela coluna, Gerson.

    PSC jogou bem, mas no futebol jogar bem não é sinônimo de Vitória. Contudo, fica a esperança de que contra o time de Goiás o PSC possa ter melhor sorte.

    Remo espera demais e esquece de bradar que contra times do Norte é ele quem manda. O jogo em Palmas era o típico jogo de marcar o Palmas sob intensa pressão no início da partida. Não fez. Contudo, creio que, em Belém, o Remo leva essa.

    Aguia infelizmente demorou para acordar na competição. Jogo de hoje, depois do segundo gol, inexistiu, pois o Aguia caiu na apatia dos derrotados. Fica a lição, Aguia precisa do paraense para montar bons elencos. Esses dois últimos anos foram sofríveis.

    Curtir

  2. Papão segue vivo e muito vivo na disputa por uma das 03 vagas restantes. São dez jogos decisivos pra todos e temos 02 pontos de vantagens sobre os concorrentes diretos abaixo da tabela. Esses pontos podem ser decisivos no final.

    Quanto ao rival, a situação é preocupante( pra eles). Baseado no relato do colunista, o time não consegue jogar e sabemos que terá no sábado um adversário com uma zaga forte e bem postada, com retorno de jogadores importantes e que joga melhor fora do que em casa, além da pressão da torcida. Se levar um gol……….

    O Águia é o retrato da atualidade do futebol paraense, que, excetuando o PSC que tenta se reorganizar, os demais clubes seguem a passos largos para o fundo do poço.Fruto das administrações irresponsáveis de seus dirigentes, inclusive o double de treinador, o João Bocudão.

    Curtir

  3. Na minha opinião o jogador Betinho cumpriu o jogo da suspensão no sábado, eis que não estava nem no banco de reservas e o PSC não fez uso da liminar concedida.. Gostaria de saber a opinião dos senhores.

    Curtir

  4. Final de semana não foi bom para o futebol paraense; Águia goleado e rebaixado, Remo perdeu e com o futebol apresentado não deve se classificar para a próxima fase, mesmo jogando em Belém e o Paysandu mesmo com a derrota se manteve no G4, com grandes chances de ascensão à série A.
    No caso do Remo, a falta de um desenho tático vai colocar um ponto final na saga azulina, o time não possui uma jogada ensaiada, além de não apresentar organização dentro de campo. Acredito que no dia 03/Out teremos um Palmaço em Belém.
    Permaneceremos com Águia e Paysandu entre os clubes do Pará com série.

    Curtir

  5. Atuaçao muito boa do Papão. Esteve muito perto de empatar mesmo, o que seria fundamental em termos de tabela de classificaçao. Entretanto, não restou apenas lamento e frustração, mas também motivação e demonstração de que a reta final pode ser bem cumprida. Estamos muito vivos, bicolores.
    Quanto ao penal em Palmas, a meu ver é o tipo da situação em que a tecnologia deveria ser usada para corrigir erros da arbitragem. Quantas coisas são ignoradas ou não vistas pelo árbitro e auxiliares e vem o STJD denunciar baseado em imagens da TV? Se envolvesse algum time de “tradição”, tipo Flamengo, Corinthians ou Fluminense, não tenho dúvidas de que alguém sopraria no ouvido do árbitro e este voltaria atrás na marcação. Pobre mijado.

    Curtir

  6. Paysandu merecia sorte maior. Levar três gols de bola parada é duro demais.

    O Águia tem que sair dessa gestão de compadres e procurar se profissionalizar. Gostaria de ver o Lecheva fazendo esse trabalho de soerguimento.

    Quanto ao bichano, acho que o maior problema que ele vai enfrentar é a matemática dos gols, pois a cada um que levar aqui, vai precisar fazer três e não pode esquecer de pagar os salários atrasados.

    Curtir

  7. enquanto isso arbitro relata em súmula o presentinho dado do dirigente remistas antes do jogo, eita timinho acostumado a mutretas, imagina o jogo de volta, vão fazer de tudo pra comprar juiz rsrs

    Curtir

  8. De acordo com o Regulamento Geral da Confederação Brasileira de Futebol, os participantes do jogo são proibidos de dar ou receber qualquer presente, pagamento ou outro benefício em circunstâncias que possam razoavelmente gerar descrédito para si mesmo ou para o futebol. Antes do Jogo, Fred Gomes foi até o vestiário da arbitragem para entregar três camisas do Remo.

    Amanhã haverá reunião do Conselho Arbitral da CBF e, talvez, o ato pode gerar alguma punição ao clube……..nada está tão ruim que não possa piorar!!

    Curtir

  9. Estamos no caminho certo, salvo algum acidente de percurso, JUNTOS chegaremos lá!!!! Quanto ao “agrado” dado pelo diretor do mijado, isso pode acabar com um brabo “disturbio gastro-intestinal” kkkkkkkkkkkk

    Curtir

  10. Rapaz quando eu penso que já vi de tudo da parte dos diretores remistas sempre aparece uma novidade destas para aumentar a coletânea de absurdos e micos azulinos.
    Se foi realmente relatada em súmula pode esperar a denúncia e algum “agrado” às avessas para o time paraense. Te dizer, diria o amigo Cláudio Colúmbia.

    Curtir

  11. Acho que meu médico vai prescrever novamente uns tempos de repouso sem sofrer, digo, torcer pelo Remo. Essa de presentear a arbitragem é de doer. Outra, esse jogo do Remo, eu vi contra o Castanhal semana passada: toca pra cá, toca pra lá e nada. Esse Kyros, parceiro… (ei, não foi o Val Barreto que fez um gol pelo Mogi ontem?). Galera do papão, pode zoar, vai. Agente merece!!! Valeu diretoria, valeu Cacaio. Inté, que eu vou começar a rezar pro sábado de aleluia…! Ai meu pai…!!!

    Curtir

Deixe uma resposta