Dilma e a corrupção na Petrobras

POR JORGE FURTADO
Se for possível, esqueça por alguns minutos todos os adjetivos e piadinhas, toda indignação seletiva dos que governaram o país por décadas e o transformaram na sociedade mais desigual do planeta, todas as manchetes escandalosas, esqueça as frases de efeito dos jornalistas que garantem seus empregos pensando exatamente como o patrão manda, os comentários dos seus amigos e colegas ressentidos pela ascensão social dos mais pobres, esqueça por alguns segundos o nosso racismo, nossa centenária indiferença com os miseráveis, nossa cordial tolerância com as injustiças sociais, nossa cômoda aceitação da existência de uma multidão de pobres dispostos a fazer o trabalho pesado por salários irrisórios, deixe de lado nossa ancestral complacência com a corrupção – que começa com a carta de Pero Vaz de Caminha pedindo ao Rei um emprego para um parente e vem até ontem, quando você aceitou pagar menos por um serviço sem recibo ou ofereceu um troco (ou um milhão) para o fiscal não lhe multar -, esqueça tudo isso por um breve instante e pense nos fatos.
1. O golpe civil-militar de 1964, que jogou o Brasil numa ditadura cruel que durou 25 anos e foi planejado e executado (hoje todos sabem) pelo governo americano e segundo interesses das grande empresas americanas, foi apoiado por pessoas de bem como você, que acreditavam no que diziam os jornais da época (os mesmos de agora), e queriam combater a corrupção na Petrobras e impedir as práticas comunistas do governo eleito.
2. Em 1989, ano que marca a volta da democracia com eleições diretas para presidente, o jornalista Ricardo Boechat foi premiado por denunciar a corrupção na Petrobras.
3. Em 1995 o jornalista Paulo Francis denunciou a corrupção na Petrobras e, por isso, foi processado.
4. Em 1997, o presidente Fernando Henrique Cardoso acabou com o monopólio da Petrobras na exploração do petróleo brasileiro e criou o sistema de concessão, que favoreceu as grande petroleiras americanas. FHC também editou a Lei n° 9.478, que autorizou a Petrobras a se submeter ao regime de licitação simplificado, na prática permitindo que a empresa contratasse fornecedores sem fazer concorrências públicas. Para o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, esse foi o momento em que “o governo Fernando Henrique colocou o galinheiro ao cuidado da raposa”.
5. Segundo o depoimento dos delatores premiados da Lava Jato (Pedro Barusco e outros) e segundo a denúncia do Ministério Público, foi em 1997 que esta quadrilha (Paulo Roberto Costa, Youssef e turma) começou a roubar a Petrobras.
6. Durante o segundo mandato de FHC, o Ministro da Justiça – e, portanto, chefe da Polícia Federal – era Renan Calheiros (PMDB).
7. Em 2009, com a descoberta das gigantescas reservas do pré-sal, o governo Lula anunciou mudanças na lei de exploração do petróleo, favorecendo a Petrobras. As petroleiras americanas, Chevron, Shell, Exxon e a inglesa BP, ficaram de fora. Em telegramas revelados pelo Wikileaks e publicados pela Folha de SP, o candidato tucano José Serra garantiu aos representantes da Chevron que, se eleito, voltaria ao sistema anterior. Desde então Serra e o PSDB vem defendendo o modelo de concessão e os interesses americanos no petróleo brasileiro.
8. A quadrilha de Youssef e Paulo Roberto Costa começou a roubar em 1997, roubou a Petrobras durante o segundo mandato de FHC, durante todo o governo Lula e nos primeiros anos do governo Dilma. Entre os beneficiados com o esquema milionário estão empresários e políticos de todos os partidos, especialmente do PP e do PMDB, mas também do PT, do PSDB, do PSB e outros.
9. Em 2013 Dilma sancionou a lei 12.846 que definiu como corruptores tanto as pessoas físicas como as pessoas jurídicas. Graças a esta lei, pelo menos oito empresas tiveram executivos presos: Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS, UTC, Engevix, Iesa, Queiroz Galvão e Mendes Júnior. A lei sancionada por Dilma pode render a condenação criminal dos sócios e executivos e pune as empresas com multas que variam de 0,1% a 20% sobre o seu faturamento. Foi com este temor que os milionários presos fizeram suas delações premiadas.
10. Dilma indicou e reconduziu ao cargo o Procurador Geral Rodrigo Janot, que investiga a corrupção na Petrobras e já indiciou muitas pessoas. (Bem diferente do que fazia o engavetador geral da república no governo FHC.)
11. A Polícia Federal, durante o governo Dilma, levou a cabo a Operação Lava Jato, que prendeu e desbaratou a quadrilha de Youssef e Paulo Costa, que roubava a Petrobras desde o governo de FHC, atravessou o governo Lula roubando e bateu no poste no governo Dilma. Entre os investigados, com fortes indícios de terem recebido dinheiro sujo, estão Renan Calheiros (ministro da Justiça e chefe da Polícia Federal de FHC) e Eduardo Cunha (PMDB), atual presidente da Câmara, com um longo histórico de envolvimento em falcatruas de toda espécie.
A corrupção na Petrobras é antiga, no Brasil é ancestral, e os ladrões de dinheiro público, de qualquer partido ou governo, devem ser severamente punidos e, isso é importante, devem devolver o dinheiro que roubaram aos cofres públicos, mas repassando esta lista de fatos, todos incontestáveis, você ainda acha que há algum sentido em pedir, com o pretexto de combater a corrupção na Petrobras, a saída de Dilma para entregar o governo a Renan Calheiros e a Eduardo Cunha?
Você não acha bem mais provável que, sob o pretexto de combater a corrupção, essa turma queira que a Dilma saia para atender interesses poderosos e voltar a roubar, como sempre fizeram?
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*Jorge Furtado é cineasta brasileiro, premiado internacionalmente e autor de diversos filmes e mini-séries para a TV de sucesso.

34 comentários em “Dilma e a corrupção na Petrobras

  1. Texto perfeito, concordo plenamente, mas infelizmente não tem mais volta e a situação da Presidente Dilma está insustentável, golpe está batendo na porta e estão todos contra ela, enquanto ela estiver no poder vão travar tudo e nada que ela tente fazer pra colocar nosso país novamente nos eixos será aprovado, o câncer da nossa política (congresso e senado), já decidiu por tira-la e assim de tabela queimar o melhor presidente que este país já teve (Lula), pois assim eles ficam livres para governar e novamente veremos o poder nas mãos da burguesia, novamente veremos os processos contra corruptos serem engavetados, novamente veremos impunidade e bandido de terno e gravata solto, novamente tudo na surdina e sem alarde, sem barulho e assim o povo pensará a paz voltou, não existe mais bandido, os corruptos do PT saíram e ficaram somente os políticos de bem. E assim viveremos felizes para sempre.

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  2. O problema dos políticos não é a corrupção, esta é imortal, mas o distanciamento do discurso de campanha, que soa a deboche e enganação pura no seu mais alto grau, levando a pequenos movimentos de reprovação popular que manipulados pelos adversários da maneira que lhes convém ganham ares de revolta. Foi assim com Collor, o “Caçador de Marajás”, imaginem, que desfilava bossalidade e arrogância de um playboy da elite, e com Dilma e sua “Pátria educadora”, a torar o orçamento da educação e logo, logo dos programas sociais, tudo isso sendo o PT um partido nascido e crescido do proletariado. O povo brasileiro é acomodado e dificilmente capaz de levantar um movimento de grande força por si só. Sou contra o impeachment, absolutamente anti-democrático e interesseiro como se desenha. Enquanto isso, eles, governo e oposição, comendo no mesmo prato do dinheiro do cidadão comum, vão negociando mais impostos e corte nas já carentes saúde, educação, seguraça etc. A impressão que tenho é que o Brasil está entrando numa fase de regressão de uns vinte anos. Que triste o nosso país.

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  3. Eu prometi que não iria comentar mais sobre política aqui porque não gosto, não adianta e é debate que não tem fim, tipo religião, onde cada um vai puxando mais e meia argumentos para defender suas teses. Mas neste caso depois de um longo jejum de comentários sobre política, retorno para dizer a este cidadão Jorge Furtado que a questão de pressão social sobre a não é só por causa da corrupção, mas o motivo principal é a crise por econômica que passa o país, reconhecida até pelo PT(LULA) onde antes diziam que tudo era apenas intriga da oposição e tudo estava bem no Brasil. Chego a medir esta crise como a maior da história do país e muito pior porque não vejo no horizonte alguma esperança de melhoria porque a mandatária petista do país está me parece sem idéias para amenizar a situação que se avoluma cada vez mais e mais, onde as ações dela para frear esta crise é continuar aumentando mais ainda preço de produtos e serviços, taxas de impostos, diminuindo recursos em programas sociais, coisas que se realizadas tendem a aumentar a crise como já afirmaram muitos economistas e pessoas entendidas no assunto. Dilma quer corrigir um erro com outro, e aí vem a pergunta: E mesmo melhor continuar com a Dilma??? ela é insubstituível, principalmente se levarmos em conta o péssimo governo que realiza, reprovado já por 70% da população???? pensem bem, sem a sem paixão política e pensando na classe pobre que está sofrendo mais que cigarro na boca de bebum. Eu acho que crise igual esta só no governo Sarney, mas tinha uma diferença onde naquele plano econômico até o povo tinha algum dinheiro para comprar, mas não existia produto porque tudo sumia das prateleiras em represália ao congelamento e ação dos “fiscais do povo”. era tempo que se tinha de madrugar em postos de venda para conseguir leite, gás, etc. Hoje até tem muito produto para comprar, mas tudo está caro pela hora da morte e cadê o dinheiro para comprar????????cadê o dinheiro???

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    1. Nélio, prefiro não acreditar no que acabo de ler. O amigo devia se informar melhor sobre a situação geral da economia no mundo para poder criticar a economia brasileira. Jorge Furtado é um grande diretor de cinema, jornalista e escritor. Não é um boboca qualquer. Seu texto é quase didático nas minúcias sobre o processo que desaguou na situação atual. Só os desinformados podem discordar dos fatos que ele enumera de forma pontual e cirúrgica. Dilma não é insubstituível, mas o mandato que ela obteve através do voto deve ser respeitado por todos os democratas e pessoas de bom senso. A questão econômica, tão angustiante nos dias que vivemos, já foi simplesmente asfixiante no final do governo FHC, que deixou o país quebrado, argolado nas mãos do FMI e com inflação nas alturas. Não vi à época ninguém falar em golpe, principalmente por parte das mesmas figuras que ora bradam contra a corrupção e os bons costumes, quase todos atolados no lamaçal de irregularidades que campeia na Petrobras desde os anos dourados do tucanato. Pense nisso.

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  4. Não concordo que a legitimidade nas urnas permita até o fim do mandato uma gerência falida. Golpe não é o caso e nunca será pelas circunstancias atuais, mas a consciência da gestora por um renúncia para o bem do País para que este saia da inércia é fundamental. Não merecemos esse sofrimento.

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    1. Amigo, democracia é isso. Já imaginou se diante de qualquer crise, tivéssemos que trocar o presidente? FHC fez o que fez, comprou até a releição e ainda quebrou a economia, e continuou tranquilamente até o fim. Outra coisa: quem assumiria, como sinaliza o Jorge Furtado: Renan, Cunha, Aécio?? Ora, me tire o tubo, como diz o amigo Cláudio.

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  5. Acredito que esteja ocorrendo uma pressão do empresariado em cima do Congresso, pois eles reconhecem que quem aprova e dita as regras do Executivo é o Congresso. Por exemplo, se acabarem com as Medidas Provisórias, pouco interesse terá o Congresso em votar algum Projeto de Lei do Executivo. Voltando ao empresariado, estes se sentem os maiores prejudicados, por isso a pressão sobre o Congresso, tanto que este votou a favor da manutenção financeira (empresarial) aos partidos (candidatos). Eles não conseguem engolir que a presidente foi eleita de forma democrática, devendo ser respeitada a vontade daqueles que a elegeram
    Com relação a crise econômica, esta é mundial. Penso que a realização da copa do mundo, deixou um enorme rombo na economia brasileira, pois aplicaram recursos que agora não trazem retorno ao país. Sem falar que toda obra no Brasil, seja federal, estadual ou municipal, é superfaturada.
    Assim como a Petrobrás, outro que precisa ser investigado é o BNDES, pois com certeza deve ter muita falcatrua e não seria de hoje.

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  6. Agora entendo porque o amigo Nélio não discute política….rsrsrs. Dizer que esse governo tá pior que o do Sarney só pode ser brincadeira, mas cada um tem sua opinião e eu respeito, embora não concorde. Um grande abraço!

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  7. Dentre outras, a função de um profissional como o autor da postagem que ora comentamos é p. ex., escrever um texto para representação artística (cinema, televisão, teatro), a partir de uma história original ou de adaptação de uma já existente.

    No caso dos problemas da Petrobras, me parece que o autor da postagem cumpre muitíssimo bem este papel, inclusive se valendo de várias ‘licenças poéticas’ para tal.

    Para não alongar demais este já delongado texto, cito alguns exemplos no comentário seguinte.

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  8. Pois bem, sem me vincular à ordem numérica constante do roteiro feito pelo autor da postagem, a partir de agora ofereço os exemplos que prometi acima.

    O primeiro diz respeito ao golpe militar de 64 e a pretensa relação de absoluta identidade que o mesmo teria com um eventual impedimento da presidente da República.

    Eis aí uma barra por demais forçada.

    Primeiro que ali tudo se fez contrariamente às normas constitucionais em vigor, mediante o uso ostensivo da força, onde o poder legislativo e o judiciário foram neutralizados. Agora, não. Se ocorrer, o impedimento será a culminância de um processo que se dará todo ele com base na democrática Constituição em vigor, seja no que diz respeito aos motivos, seja no que diz respeito aos procedimentos.

    Segundo que o impedimento que eventualmente venha a ocorrer não constitui novidade em nosso país. Já ocorreu uma vez, por motivos até menos graves dos que aqueles motivos sob os quais hoje se cogita repeti-lo. E, mais importante, no caso anterior, as principais vozes que hoje se levantam contra, são aquelas que hoje se levantam contra

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  9. Retificando: E, mais importante, no caso anterior, as principais vozes que hoje se levantam contra, são aquelas que antes se levantam veementemente a favor. Do que se constata, no mínimo, uma falta de coerência incomensurável.

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  10. Adiante, ainda na área da coerência, é de se perguntar, se o governo apóia as investigações, se inclusive reivindica pra si o ineditismo e a primazia do desejo de efetivamente investigar e levar a termo as investigações das malfeitorias no governo: como atribuir a pecha de golpe aos eventuais desdobramentos destas investigações?

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  11. Não acredito que exista alguém que acredite que as malfeitorias na Petrobras tenham começado há 12 anos, com o início do governo rubro.

    É claro que começou antes. A origem deve remontar ao tempo da criação da empresa.

    Mas, agora, então, por isso, quem quiser e puder, tem licença, está autorizado, tem permissão, para cometer as mesmas malfeitorias e ficar impune porque aqueles que mal fizeram anteriormente não foram punidos?

    E qual foi o partido que passou uma vida inteira, desde sua fundação, se candidatando a assumir o poder, e prometendo, em troca, que quando assumisse o poder se comportaria completamente diferente dos anteriores?

    Será que este partido, que prometeu e não cumpriu, pode agora se livrar de sua responsabilidade simplesmente dizendo que não foi o primeiro? Será que por ter repetido o que os outros fizeram antes, será que por ter seguido o péssimo exemplo dos anteriores está isento de qualquer responsabilidade?

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  12. Se foi no governo fhc que o galinheiro(petrobras) foi entregue à raposa(com a debilização dss regras de licitação), por que quando assumiu o governo, o partido rubro não consertou as coisas, expulsou a raposa e fechou as portas pra ela? Por que, ao contrário, deixou tudo lá como estava antes de assumir?

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  13. Se, e somente se, a presidente for impedida, o Cunha não poderá assumir, ou se assumir não poderá permanecer. Quanto ao Calheiros, ele é o mais recente amiguinho de infância do governo que reforçou os laços de amizade política com ele, então, se o próprio governo não o repudia, não é coerente que os defensores do governo o repudiem. Demais disso, em princípio, se a presidente for afastada quem assume é o vice, o qual, nada obstante não seja diferente do calheiros e do cunha quanto à petrobras, também integra o portfolio de nomes nos quais a presidente tem ancora sua permanência no cargo.
    Por fim, não é demais lembrar que a presidente só permanece formalmente no cargo, eis que na prática, de há muito quem governa é o grande capital, representado pelos 3 supra citados e outros mais detentores de mandato ou não.

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  14. Excelente análise, Antonio. Como diz o Nélio, cada um tem a sua opinião a respeito. Eu concordo com a sua, permitindo-me acrescentar que nossa democracia tem que superar esse dogma do “eu faço errado porque foi feito errado e com isso tá tudo bem”. Mudemos para “eu vou fazer certo porque para isso fui eleito e assim deve ser”, independentemente da cor do partido.

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  15. Prezado Oliveira, como de costume, vou pela riqueza do impensado e começo por uma nada sutil defesa da CPMF, pois, como sabemos, a justiça pode, às vezes, ser obtida por um caminho não especulado contra alguns bem conhecidos. Primeiro. Sabemos o quanto é forte, e perniciosa, a ação dos rentistas em nossa economia. Só para comparar, o estadunidense aplica seu valioso Dollar em produção e serviço, porque a rentabilidade de aplicações financeiras por lá, nos EUA, não rende o mesmo proporcionalmente que rende aqui. É que as políticas econômicas de lá têm efeito sobre a produção. O “american way of life” não se obtém por especulação financeira, mas pelo trabalho duro e a livre iniciativa. Há muitos mais serviços e produtos competindo pelo mercado que em qualquer outro lugar do mundo, e é isso o que faz a prosperidade lá. Os donos do capital investem em ideias e inovação. No Brasil esse discurso é um engodo, os donos do capital no Brasil investem em operações de crédito e de financiamento, apostando na baixa liquidez dos trabalhadores e nos relativamente altos riscos dessas operações numa economia ainda pouco industrializada. Trocando em miúdos, o dinheiro da pequena parcela mais rica do país está protegido no banco, recolhendo proporcionalmente menos impostos que a produção, pagando impostos como IR e IOF, face ao ISS, ICMS e IPI. Incide sobre mercadorias e serviços a alíquota de ICMS, IPI (quando for o caso) e ISS (quando serviço e não mercadoria). Quero dizer que a produção recebe a carga tributária maior e massiva, enquanto as aplicações financeiras pagam menos impostos. A CPMF é um imposto democrático na medida que cuida tributar quem recebe menos e tributar mais quem recebe mais em operações que não privilegiam a especulação financeira. A CPMF cobraria mais ou menos uns R$ 4,00 de cada R$ 1.000,00 movimentados financeiramente. Só como comparação, paga-se R$ 170,00 de cada R$ 1.000,00 por mercadoria ou serviço, sem contar ISS e IPI. Ao pobre, a CPMF é um tributo irrisório, como aos grandes especuladores, mas faria justiça na proporcionalidade das movimentações financeiras. Ao mesmo tempo, penso que a instituição de um imposto justo (como penso que seja a CPMF), é preciso a redução de um outro, mormente da produção, como o IPI.

    continuo…

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  16. Amigo Lopes,

    Não há muitas defesas para a volta da CPMF. Mas tenho uma que, para mim, vale por todas:

    O Brasil não é um governo, o Brasil não são partidos e políticos, o Brasil não é um território. Para mim o Brasil é seu povo e se o povo quer um Brasil melhor deve retribuir para com o outro povo que está sem emprego, depois de alguns anos de bonança.

    Basicamente está é a razão de eu apoiar a CPMF.

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  17. Segundo. Dito isso, observo que a opinião da imprensa sobre a CPMF tem cunho político e não enriquece um debate em tono da reforma tributária e em torno da justiça social, mas apenas na defesa do interesse próprio e o dos clientes.

    Terceiro. Cabe ressaltar que a descoberta do pré-sal passa por uma sutil reestatização da Petrobras. Ora, como as reservas do pré-sal superam em muito as reservas pós-sal, e com a lei que define que somente a Petrobras tem o direito de explorar o pré-sal, com os recursos obtidos daí destinados à educação e à saúde, é claro e evidente que as acionistas estrangeiras da Petrobras (Chevron, Exxon, BP e Texaco) estão querendo reverter o jogo para que o governo revogue a lei do pré-sal para que elas também possam explorar economicamente essas reservas. Ora, o fato de os delatores da Petrobras estarem no processo desde o governo FHC só mostra a intenção política das denúncias e o desejo de enfraquecimento da companhia brasileira para propor o desfecho que levará à atuação dessas companhias sobre o pré-sal. O fim da crise econômica pode estar na sinalização de revogação da lei do pré-sal, mas isso seria o início do fim do PT. E talvez da soberania do Brasil sobre as próprias riquezas.

    Quarto, e último. Por isso, é significativo que o governo mantenha a disposição de não engavetar investigações da PF e manter na ribalta o PGR Rodrigo Janot, numa clara e inequívoca sinalização política que aponta para uma alternativa ao combate à corrupção nessa e, quiçá, noutras estatais, pela reforma política, pelo não comprometimento de políticos com seus financiadores de campanha. É preciso notar que tudo isso está ligado ao mesmo tempo e que o país precisa urgentemente uma ética política e uma lei política mais bem definida para que se possa usurpar do poder homens e mulheres mais ligados aos interesses corporativos que aos populares. A lei da ficha limpa, de fidelidade partidária e, sobretudo, uma reforma política que retira a participação de grandes grupos econômicos interessados em negócios com o estado são todos parte da reforma que o Brasil precisa.

    Não é a defesa do impeachment de Dilma que nos torna conscientes dos nossos deveres de cidadãos, mas o de repúdio a esse ato inconstitucional, entendendo que um meio aparentemente legal pode esconder uma grande injustiça, atrasando ou impedindo as reformas realmente necessárias ao desenvolvimento do país e que garantam a soberania nacional sobre as próprias riquezas. O PT, face ao realizado por FHC (a comparação é inevitável) devolveu, não totalmente é verdade, a soberania à pátria brasileira, muito mais (ou o contrário) daquilo que fez FHC enquanto presidente.

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  18. Sobre o comentário do amigo Antônio Oliveria, tenho algumas humildes considerações a fazer.

    1) O texto do autor da postagem é uma análise histórica de discursos e enunciados que vão e voltam com outra roupagem, produzindo objetos diferentes, porém semelhantes. Lembre-se que 64 em outras condições de possibilidades já foi vista como Revolução de 64. A leitura do golpe nasce em condições de possibilidade dos anos anteriores.

    O que quero dizer, amigo, é que hoje o discurso que a retirada da mandatária pode ser lido como coerente, mas no futuro, se vier a acontecer (espero que não venha, pois será um golpe gigantesco em nossa breve história democrática), poderá muito bem ser vista como o Golpe dos Coxinhas.

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  19. Corrigindo…

    O que quero dizer amigo, é que hoje, o discurso da retirada da mandatária pode ser lido como coerente e constitucional, mas no futuro, se vier a acontecer a saída (espero que não venha, pois será um golpe gigantesco em nossa breve história democrática), poderá muito bem ser visto como o Golpe dos Coxinhas.

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  20. Humildes que nada, amigo Celira, suas considerações são grandiosas, como sempre. O fato d’eu nem sempre concordar com elas, como agora, não quer dizer lá muita coisa. O que é realmente importante é que possamos discutir, comentar, debater, respeitosamente, como sempre fazemos.

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  21. Mais uma correção…

    Onde lê-se:

    “A leitura do golpe nasce em condições de possibilidade dos anos anteriores”.

    Deve-se ler:
    “A leitura do golpe nasce em condições de possibilidade dos anos posteriores”.

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  22. Não há tubo para ser tirado, caro Gerson. Creio que O vice assumiria. Sobre o FHC, Entregou o Brasil organizado e veja como estar hoje, Sem essa de tubo.

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    1. Ferdinando, leia mais e se atualize. Não seja um mero repetidor da ladainha direitista, como alguns outros bocós de variados níveis, manipulados por uma velha mídia ávida por voltar a mandar no país. Esse tal Brasil “organizado” de FHC tinha endividamento externo crescente, educação no chão (foi o presidente que menos abriu universidades desde JK), sucateamento da indústria naval, vendido a preço de banana as principais estatais (Vale, inclusive), inflação em disparada e quebradeira recém-ocorrida. Não fale ou repita platitudes. Acima de tudo, respeite os fatos e aceite argumentos contrários. Por isso, é me tire o tubo, sim. Ora, ora…

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  23. Amigo Lopes, concordo com você que em se tratando de cpmf a questão nunca girou em torno do que é melhor para a população brasileira.

    Tudo não passa de interesse político voltado exclusivamente para arrecadação sem qualquer vínculo com qualquer objetivo de investimento no interesse público.

    Tanto prova que o grupo político que a ele se opõe hoje, é o mesmo grupo que o instituiu no passado. E o grupo que ao cpmf se opôs no passado, é o mesmo grupo que o quer ressucitar no presente.

    E estes grupos políticos que hoje se digladiam a respeito do tema, já tiveram o tributo à disposição no seus respectivos governos para aplicação na saúde e a saúde sempre foi um caos, pois eles não aplicaram.

    Por isso, sob o meu ponto de vista, o cpmf não tem defesa, até porque, o governo atual, já provou que não tem palavra, eis que promete uma coisa e faz outra diametralmente oposta.

    E todos sabemos disso, posto que testemunhamos e experimentamos o desapreço da presidente à palavra dada. Ela promete aplicar o produto da arrecadação do novo cpmf na previdência, mas certamente não vai fazê-lo. Tudo leva a crer, principalmente a conduta anterior da presidente, que ela não vai cumprir a palavra dada.

    E só quem perderá será o trabalhador. Este vai sofrer o sangramento do tributo duas vezes. Uma diretamente quando usar cheque, cartão ou outro meio semelhante; outra indiretamente nos preços dos produtos ou serviços que adquirir ou utilizar, eis que o cpmf dos empresários vai ser repassado para o preço a pagar. Aliás, mesmo quem não operem com cheque, cartão etc, vai pagar o tributo na forma indireta pelo repasse aos preços daquilo que adquirir.

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  24. Amigo Celira, concordo com você na possibilidade da presidente ser apeada do poder mediante golpe, mas só em tese. Assim como, em tese, também podemos falar no impedimento legítimo da presidente. Enfim, só podemos cravar uma das duas hipóteses. SE e APÓS o impedimento se efetivar é que poderemos falar em ato legítimo ou em golpe.

    Amigo Gerson, também concordo com você que há muito bocó, de todos os níveis, opinando sobre o assunto, se limitando apenas a “currapaquear” o discurso manipulador da mídia a qual está vinculado, seja à direita, seja à esquerda.

    Amigo Lopes, também concordo que há muito interesse internacional no infortúnio da Petrobras para se aproveitar da situação e se apossar do seu patrimônio, mas se não podemos descartar a participação tucana (e não podemos mesmo) neste estado deplorável de coisas, com maioria de razão não podemos descartar a participação petista, com o agravante para esta que é o descumprimento da inverdadeira promessa que fez quando assumiu o poder de que não cometeteria e corrigiria todos os malfeitos do antecessor.

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  25. Para encerrar, vou-me embora deixando para reflexão a autoridade de um argumento que aborda todo o assunto objeto do artigo do roteirista Jorge Furtado (problemas na Petrobras) mais o adendo feito pelo Lopes (cpmf) e não pode ser tachado de tucano, não pode ser acusado de petista, não pode ser tratado como bocó, nem apontado como oriundo do PIG, tampouco como gerado nas hostes do PIG, eis que foi colhido na produção do Especialista em Brasil e em Amazônia, o Lúcio Flávio Pinto. Diz ele:

    “Um governo que cai

    (…)

    “Além disso, falta sinceridade e capacidade de autocrítica à presidente. A admissão de erros que faz não tem consequência: é um recurso tático. A promessa de mudança é cosmética porque, no fundo, ela acha que os erros estão fora dela e os culpados são os outros, os autores do inferno, na versão existencialista de Jean-Paul Sartre (que Dilma certamente não leu, ainda que venha a dizer o contrário, sem a menor possibilidade de convencimento).

    “As medidas anunciadas ontem têm o gosto travo do déjà-vú – não de ontem, mas de muito antes, inclusive da época dos militares, com o dedo gordo de Delfim Neto por trás desses impulsos compulsivos do governo por mais receita, anulados por sua inibição patológica de cortar na carne. A montanha pare um rato, mas esse animal é amestrado: foi treinado para morder a vítima de sempre, o cidadão.

    “Há momentos em que a criatividade é colocada de lado pela necessidade e aí o que a burocracia faz é tascar novo imposto, elevar alíquotas, suprimir benefícios, cortar investimentos – o Brasil lambendo suas feridas, sem tentar curá-las. O gigantismo do Estado, a ineficiência da burocracia, a superficialidade das políticas públicas, a arraigada ganância das elites e a corrupção generalizada, que não se traduz apenas pela materialidade do dinheiro, mais efeito do que causa dessa leniência permissiva e abusiva que contamina tudo.

    “Não por acaso o cenário principal desse drama-quase-tragédia (como na letra do famoso bolero) é a maior empresa do país, que é estatal e tem função estratégica. Em razão de todos os fatores citados, a Petrobrás perdeu 200 bilhões de dólares do seu valor em poucos meses, a partir do início da Operação Lava-Jato, que revelou suas entranhas apodrecidas pelas delinquências de uma centena de indivíduos poderosos – e inescrupulosos. De US$ 260 bilhões caiu para US$ 60 bilhões.

    “Nada seria definitivo, é claro. Trata-se de medição conjuntural e o produto da empresa, o petróleo, resiste às intempéries. O problema está na atitude dos marinheiros enquanto o barco ameaça naufragar: eles continuam a proceder como se não tivessem dado causa ao acidente com a embarcação, que parecia singrar normalmente o oceano.”

    (…)

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