Porque nasci Paysandu

POR SYANNE NENO (*), no Facebook

Todo jornalista esportivo que realmente ama o futebol e não cai na profissão de paraquedas, para aparecer na TV, tem um time de infância.
O meu já estava escolhido desde o ventre da mamãe. Papai era diretor de futebol do Clube de Suiço e tio Toni havia sido artilheiro e carrasco do Leão no último minuto da decisão do título de 59. Mas mesmo que eu não tivesse tido essa influência dentro de casa, traduzida em hinos do bicola ouvidos aos domingos, bandeira desfilada no carro em dia de decisão ( era mais pesada que a menina magricela que a segurava na janela) e muitas histórias vitoriosas contadas pelo papai, eu acho que teria escolhido ser bicolor.
A aura do torcedor do Paysandu sempre pareceu diferente para esta garotinha observadora. Eu percebia que os desdentadinhos das gerais do Mangueirão eram mais engraçados e meigos. Os velhinhos do lado bicolor, com seus rádios de pilha colados no ouvido, todos pareciam o vovô Gepeto, do Pinóquio.
Cresci reconhecendo no Paysandu Sport Club um time de massa que queria crescer. O Remo, por outro lado, para mim, era a aristocracia, herança da Belle Epoque paraense. Tradição, dinheiro e uma torcida maior do que a nossa.
Torcer para o Paysandu foi ter escolhido o clube que nasceu de uma dissidência, o subversivo, o revolucionário, para ser “apenas” um time de futebol com raizes mais populares.
Mas com o passar do tempo, o “time de futebol” embarcou nas asas de seu escudo rumo ao infinito e além. Conquistou a América, calou a Bombonera e bla bla bla, a história todos vocês conhecem.
Hoje, o Paysandu é realmente um clube de futebol de verdade e colhe os frutos de uma gestão moderna e profissional. O Sócio Torcedor é responsável por 25% da arrecadação do clube. E com a nova gestão deSergio Serra, o Paysandu quer voltar a ser o Paysandu que me encantou na infância. Entre as metas expostas em um quadro no auditório da Curuzu, está lá: ” A valorização de nossa origem”
Mas para que isso saia do papel e vire realidade, é preciso criar um plano de sócio torcedor que caiba no bolso daquele torcedor humilde e não deixe ele se sentir mais excluído dessa orgulhosa alcateia de lobos.
Os treinos, que hoje são fechados para a torcida, poderiam ser abertos pelo menos uma vez por semana para sócios e não sócios, incluindo os aposentados e cadeirantes que não pagam ingresso nos jogos e não podem arcar com um plano de ST.
Aí sim, o Paysandu vai começar a resgatar a sua verdadeira essência. A do clube que reconhece como hino uma marchinha que mais parece de Carnaval, a de um time eminentemente do povo!!
Porque é possível, sim, se modernizar, criar mecanismos para estimular o clube enquanto empresa, mas sem esquecer jamais daquele que o fez ser grande como hoje é: o torcedor das gerais. Aquele que hoje precisa decidir entre pagar o almoço da família ou ir para o estádio ver seu time jogar.
Torço de verdade, principalmente como jornalista, para que a nova gestão do Paysandu faça o clube realmente valorizar a sua identidade popular.
#Payxao #NovosRumos

16 comentários em “Porque nasci Paysandu

  1. Bela crônica da Siane. Mais bicolor que a Siane Neno só mesmo eu. Modéstia parte. Eu já fiz muito pelo Paysandu. Já perdi a conta da quantidade de ingressos que adquiri e fui aos jogos. Se esse dinheiro tivesse guardado num banco, teria uma grande soma. Mas não me arrependo um minuto, valeu a pena. Foram muitas alegrias vividas e poucas decepções. Mesmo porque o Paysandu está entre os clubes do Brasil que tem um dos maiores aproveitamentos jogando diante de sua torcida. Honestamente, digo que já tive imensa alegria de viver para ver conquistado um título de elite (Copa dos Campeões) que tão cedo não achava que viria para nós. Para mim era sonho distante o Paysandu ganhar um título que valia vaga na Libertadores onde estavam na disputa: Corinthians, São Paulo, Palmeiras , Flamengo, Fluminense, Vasco, Cruzeiro e Atlético, mas o sonho se realizou para meu orgulho bicolor. São as maiores glórias do Paysandu em todos os tempos. ….. e do Norte também. Nem bem deu-se no Paysandu uma pausa nas grandes conquistas , já está vindo aí a realização de outro grande sonho meu. É outra grande conquista que poderei ainda em vida, ver esse outro sonho realizado: O CT Raul Aguillera. Esse todo pronto será sem dúvida o marco que ajudará o Paysandu a crescer muito no cenário nacional e mundial no futuro com mais conquistas vultosas. Podem crer. Esse é o Paysandu, sempre me dando alegrias e realizando meus sonhos. Por isso jamais desistirei do Paysandu enquanto viver. Por isso vivo sempre exaltando suas glórias aqui no blog e o defendendo de quem lhe faz desdém para desespero dos torcedores adversários. Mas não consigo ser diferente. o Paysandu é minha vida, minha história, minha Payxão.

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  2. Se não compreendi de maneira equivocada, reclamar do suposto distanciamento da identidade popular do listrado na gestão anterior, parece ser o objetivo do excelente texto da postagem.

    Todavia, quer me parecer que a maioria da torcida listrada não comunga deste pensamento. Salvo alguns reclamos vinculados ao desempenho do time dentro das quatro linhas, a torcida é quase unânime no apoio ao gestor que encerrou seu mandato.

    Tanto é verdade que nestes dois últimos anos surgiu uma nova categoria de torcedores do listrado, qual seja, o torcedor de dirigente. Enfim virou até lugar comum os torcedores pronunciarem constantemente a expressão de que administrativamente o listrado está próximo da excelência, sendo possível ouvir isso de todos os tipos de torcedores, independentemente do poder aquisitivo.

    De fato, sejam os hipossuficientes, sejam os abonados, sejam os muito abonados, enfim em todas as classes, a maioria dos torcedores está satisfeita do clube vir sendo administrado sob moldes empresariais. Aliás, são muitos os que revelam compreender que o valor elevado, cobrado pela adesão ao Programa Sócio Torcedor, mesmo nas faixas de preço mais em conta, decorre da necessidade de induzir o torcedor a fazer a adesão.

    Deveras, a impressão que passa é que o torcedor listrado está com a estima muito elevada e mesmo aqueles que não têm podido comparecer ao estádio (não podem aderir ao Programa, nem pagar o ingresso) não estão se sentindo excluídos, têm declarado entender que o Clube precisa se fortalecer como entidade.

    Enfim, a voz das ruas não revela que o distanciamento das bases populares tenha ocorrido. Pelo menos a maioria dos torcedores não se queixa deste distanciamento.

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  3. Como azulino, concordo com o amigo Oliveira. É preciso discernir sobre a estratégia de arrecadação e vontade da torcida. Parece bem aceite atualmente que o futebol passou a ser um esporte, ou um espetáculo, direcionado, apontado, exclusivamente para quem tem poder aquisitivo. Parece que isso vem na correia do psicológico do futebol como negócio, do clube empresa, como se vê na Europa. Mas, lembro a todos, que o desenvolvimento do futebol europeu foi para equipara-se ao nosso latino-americano e os dirigentes estão focando demais no negócio e esquecendo da demanda, que é a torcida… Isso, no Brasil, é um crime!

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  4. Belo texto da Syane e crítica justa a gestão Maia que, apesar de ser um excelente administrador é um grande presidente, aparentemente concentra decisões.

    Mas Maia já passou e fez um grande trabalho, mesmo com os defeitos (quem não tem, né?).

    Agora é hora de avançar em outras frentes. Que os dirigentes tenham sucesso.

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  5. Na mosca

    Parabéns Syanne. O Paysandu é o time de todas as raças, crédulos religiosos, opção sexual e principalmente de todas as classes sociais.

    Por isso é o mais querido
    Por isso e o mais amado
    Por isso é o mais fidelizado
    Por isso é o time do povo.

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  6. Certíssima conclusão Celira. A gestão do Paysandu é de dá orgulho a sua torcida, com algumas mazelas, é claro. O Paysandu está no caminho certo. Se o outro lado, obscuro, da Almirante Barroso seguir o mesmo exemplo teremos duas grandes forças no cenário futebolístico nacional.

    O clube cor de funeral tem o mapa da mina que é a sua imensa torcida, mas peca quando acha que só isso é suficiente para se manter neste cenário, infelizmente.

    Agradeço a Deus, todos os dias, por ser torcedor do Glorioso PAYSANDU!

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  7. Jamais imaginaria que fosse filha do grande matador do leão,com seus gols,geralmente de cabeça,já nos minutos finais. Lindo o seu depoimento,sua sinceridade,independente de ser jornalista,coisa que muitos não fazem,pensando em não se comprometer,ficando neutros como torcedores, quando o assunto é entre os dois maiores rivais. Ela além de bonita,simpática e competente, é uma pessoa muito aberta e educada ! Salve Papão !

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  8. eu estou escrevendo meu tcc relacionado com a campanha do paysandu na libertadores, eu queria muito fazer uma entrevista com vc, se poder me mande uma resposta.

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