
Quando o magnata Peter Lim (foto), de Cingapura, comprou o Valencia, em 2014, prometendo saldar as gigantescas dívidas do clube e também investir alto em contratações, os torcedores logo imaginaram um retorno à era de glórias da equipe, no início dos anos 2000, época em que os “Morcegos” foram bicampeões espanhóis, deixando os poderosos Real Madrid e Barcelona para trás, e fizeram grandes campanhas na Uefa Champions League, chegando a duas finais (2000 e 2001).
Três anos depois, porém, os valencianistas vivem um pesadelo… Com uma campanha tétrica em La Liga, a equipe da terra da paella está à beira da zona do rebaixamento, empatada em 12 pontos com o Sporting Gijón, primeiro clube a figurar na degola. São três vitórias, três empates e nove derrotas em 15 partidas até agora.
Para piorar, o Valencia ainda levou um retumbante 4 a 1 em pleno Mestalla na última terça-feira, pela Copa do Rei, o que levou a torcida a protestar em frente ao estádio após a humilhação – algo que já se tornou comum nos últimos meses. A fase tenebrosa é motivada por uma série de péssimas decisões tanto de Peter Lim, o “homem da grana”, quanto da executiva que ele escolheu para gerenciar o Valencia: sua compatriota Lay Hoon Chan, empresária formanda na Universidade Nacional de Cingapura e que ocupa a presidência do time desde julho de 2015.
Entre os atos trágicos, estão péssimas escolhas de treinadores, as promessas não cumpridas feitas a esses técnicos e também a contratação em “baciada” de reforços caros (e ruins) indicados pelo megaempresário Jorge Mendes, o mesmo de CR7. Além disso, a equipe espanhola não consegue controlar suas dívidas e vê o sonho da construção no novo estádio do clube, o Nou Mestalla, ficar cada vez mais distante. A arena já foi parcialmente erguida, mas as obras estão abandonadas por falta de verba.
Na última temporada, a primeira inteira de Lim à frente do time, o clube terminou em 12º lugar no Espanhol. Antes disso, ele havia comprado a equipe em boa fase, já que na temporada 2014/15 o Valencia ficou em 4º lugar e se classificou para a Champions.
Veja tudo o que deu errado nos últimos três anos:
TÉCNICOS NÃO PARAM NO CLUBE
Desde que Peter Lim assumiu, em maio de 2014, cinco técnicos já passaram pelo Valencia: quatro efetivos e um interino. O último foi o italiano Cesare Prandelli, ex-comandante da seleção Azzurra, que pediu demissão na semana passada, acusando o magnata asiático de não ter cumprido as promessas feitas a ele quando o contratou. “Haviam me falado que trariam quatro jogadores. Mas, no dia 29, o plano se converteu em (Simone) Zaza ou um meio-campista. Poderia escolher somente um. Passamos de quatro para um. Eu queria o Zaza no dia 27, porém, para minha surpresa, quando cheguei de férias ele não estava lá”, disparou.
Antes de Prandelli, passaram pela área técnica outros nomes menos conhecidos, como o português Nuno Espírito Santo (indicado por Jorge Mendes) e Pako Ayestarán, além do interino Salvador González Marco, o Voro, auxiliar que assumiu o comando interinamente entre contratações. O pior nome disparado, porém, foi o inglês Gary Neville, outra indicação de Jorge Mendes. Ex-lateral direito e ídolo do Manchester United, Neville chegou sem nenhuma experiência prévia como treinador, já que vinha trabalhando como comentarista de televisão na Inglaterra, e, como esperado, foi um fracasso retumbante.
Ao todo, o britânico conseguiu só 10 vitórias em 28 partidas, sendo demitido com o Valencia em 14º lugar, a seis pontos da zona do rebaixamento, depois de levar um humilhante 7 a 0 do Barcelona pela Copa do Rei, em um episódio deprimente.
CONTRATAÇÕES EQUIVOCADAS
As contratações da era Peter Lim foram em sua grande maioria desastrosas. Desde que assumiu o time, o ricaço torrou milhões em reforços caros e inúteis (a maioria indicados Jorge Mendes), que só trouxeram prejuízo financeiro e esportivo. Uma das piores contratações foi a do atacante Negredo, por quem Lim pagou 31 milhões de euros, ou R$ 115,8 milhões – à epoca, o espanhol tinha 30 anos.
Fracassou de maneira melancólica, chegando até a ficar fora do banco de reservas em alguns jogos, e acabou emprestado ao Middlesbrough, da Inglaterra. Entre outras contratações consideradas “furadas” feitas por intermédio de Jorge Mendes, aparecem atletas como o atacante Rodrigo (30 milhões de euros, ou R$ 102,2 milhões) e o meia Enzo Pérez (25 milhões de euros, ou R$ 85,2 milhões), entre muitos outros.
A única transferência bem avaliada feita no “pacotão Mendes” foi a do zagueiro argentino Otamendi (ex-Atlético-MG), contratado por 15 milhões de euros (R$ 51,1 milhões, na cotação atual) e vendido por quase o triplo ao Manchester City. Outras exceções foram o defensor alemão Mustafi, trazido por 8 milhões de euros (R$ 27,25 milhões) e negociado com o Arsenal por 41 milhões de euros (R$ 139,7 milhões), e o meia André Gomes, comprado por 20 milhões de euros (R$ 68,1 milhões) e vendido por 55 milhões de euros (R$ 187,4 milhões) ao Barcelona.
As principais críticas são pelos altos valores investidos em contratações de jogadores de pouco impacto, como o tunisiano Abdennour, que custou 21,8 milhões de euros (R$ 74,3 milhões), e o goleiro australiano Ryan, que custou 7 milhões de euros (R$ 23,85 milhões) para ser reserva de Diego Alves.
Na última janela de transferências, os erros seguiram se repetindo. Caso, por exemplo, da contratação do veterano zagueiro Garay, 30 anos, que veio do Zenit por incríveis 24 milhões de euros (R$ 81,8 milhões). Ainda foram gastos 8,5 milhões de euros (R$ 29 milhões) para tirar o irregular atacante Nani do Fenerbahce.
De acordo com o jornal Deporte Valenciano, o magnata asiático injetou até hoje 222 milhões de euros (R$ 756,4 milhões) nos cofres dos “Morcegos” desde maio de 2014. Segundo a revista especializada Forbes, a fortuna do magnata de 63 anos é de US$ 2,2 bilhões (R$ 7,2 bilhões), o que o coloca como 11º homem mais rico de Cingapura.
TORCIDA ABANDONA O BARCO
O desempenho desastroso do time em campo e a falta de perspectivas fizeram a torcida do Valencia ir gradativamente abandonando o Mestalla na temporada. Segundo levantamento do jornal Super Deporte na terça, os “Morcegos” viram o número de torcedores cair em mais de 18 mil nos sete jogos feitos na arena até agora.
No primeiro jogo em casa em 2016/17, 37.144 pessoas acompanharam a derrota para o pequeno Las Palmas. Já contra o Málaga, em 4 de dezembro (última vez que a equipe atuou em seus domínios por La Liga), só 23.121 testemunhas apareceram. E uma coisa acompanha a outra: se antes era difícil derrotar o Valencia no Mestalla (em 2015, o clube era o 3º melhor mandante do Espanhol), hoje isso é muito fácil: a equipe tem o 2º pior desempenho atuando em casa, sendo melhor só que o Osasuna.
Na atual temporada, foram só cinco pontos conquistados em sete jogos. (Da ESPN)