Por Cláudio Santos
Em entrevista concedida a Cláudio Santos, o presidente do Remo, Zeca Pirão, deixa em aberto a possibilidade de se candidatar à reeleição; comenta sobre a herança deixada pelos presidentes anteriores; elogia o passado de dedicação dos chamados “cardeais” ao clube; confirma a contratação do meia Robinho para a disputa da Série D e garante que a permanência do técnico Roberto Fernandes é questão de tempo de conversa.
Cláudio Santos – O que é mais fácil, ser presidente ou vice do Remo?
Zeca Pirão – Ser vice é mais fácil.
CS – O sr., como vice no ano passado, trabalhou mais no futebol, ao lado do Mauricio Bororó e não deu certo, mesmo tendo um bom técnico no comando. Por quê?
ZP – O grupo não estava fechado.
CS – O sr. foi colocado no Remo por pessoas ligadas aos “cardeais” e que sempre se meteram no Remo, única e exclusivamente pelo futebol e não pela parte administrativa. Por que o sr. trouxe pra comandar o futebol, já como presidente, pessoas que fazem oposição aos cardeais, como Thiago Passos, que veio da Assoremo?
ZP – Porque deixei em aberto para quem quisesse ser diretor e estivesse disposto a se doar pelo clube, independentemente de ser ou não oposição, já que eu viso uma administração aberta.
CS – Por tudo que o sr. acompanhou até hoje do futebol do Remo, se tivesse que assumir o clube novamente contrataria um técnico local pra comandar o time?
ZP – Nós temos técnicos competentes, mas, infelizmente, há uma desvalorização grande em relação a eles. Quando o time começa a perder, o primeiro a entrar na roda é o técnico, ainda mais se for local.
CS – Vou lhe ser sincero… Penso que se esses “cardeais” não se afastarem do Remo, o clube voltará ao fundo do poço. Uma frase sua justifica o meu pensamento, a quando de sua chegada ao Remo e tomar conhecimento da atual situação do clube: “Meu Deus, o que fizeram com o Remo”. O sr. concorda?
ZP – Primeiro, eu não o vejo só como “cardeais”, mas sim como pessoas que dedicaram uma parte de suas vidas ao clube. Tenho o maior respeito e admiração por eles. Não posso atribuir a eles a depreciação do clube.
CS – Diga, por favor, como o sr. recebeu o Remo?
ZP – Infelizmente, o futebol é o que sustenta todas as outras modalidades e, por isso, fica quase impossível fazer uma boa administração.
CS – Por tudo que o sr. viu da situação do Remo, ao chegar no clube, avalia – como muitos torcedores – que tem gente que diz amar o clube, mas não teve quando estava no poder atitudes de quem ama?
ZP – Sim. Com certeza. Mas prefiro olhar pra frente e fazer a minha parte.
CS – Os cardeais estavam no comando do futebol, quando o técnico Paulo Comelli disse em uma entrevista: “Nunca vi isso nos times por onde passei diretor pedindo o cartão de crédito do outro pra comprar as coisas pra dentro do clube”. O que o sr. pensa desse tipo de administração? A sua é diferente?
ZP – Não é certo, mas muitas vezes o clube não tem recursos. A não ser os que vêm do futebol e isso se torna muitas vezes comum no meio, o que de fato até hoje acontece.
CS – Dá pra perceber nos torcedores a gratidão que eles têm pelo sr., por tudo que vem fazendo pelo clube, na parte administrativa, mas o criticam pelo que fez no futebol. É difícil ser presidente sem se meter no futebol (montagem de elenco, escalação do time, contratação de técnico etc.)?
ZP – É impossível o presidente não se meter.
CS – No ano passado, o sr. passou por maus momentos ao ficar de fora da Série D. Como foi acordar um dia após a vaga já estar garantida na Série D 2014?
ZP – Sensação de tranquilidade e uma parte do dever cumprido.
CS – Qual a avaliação que o sr. faz dos seus diretores: Thiago Passos, Emerson Dias e Henrique Custódio?
ZP – Todos têm me ajudado o máximo possível.
CS – O sr. concorda que, pro bem do Remo, o novo presidente, caso o senhor não venha para uma reeleição, teria que ser da Assoremo e com perfil jovem? Como o sr. vê isso? Aliás, num percentual de 0 a 100 , qual a probabilidade do sr. disputar a reeleição?
ZP – Primeiro, o candidato tem que ter prestígio, credibilidade e comprometimento. Quanto à idade, depende. A probabilidade de reeleição, por enquanto, é zero.
CS – A ideia sua de ser técnico do Remo levantou uma suspeita nos torcedores quanto à misteriosa pessoa que falava com o Charles Guerreiro ao celular nos jogos. Desculpe, mas era o sr., presidente?
ZP – Não.
CS – Todos sabem que conseguir a vaga na Série D é só o primeiro passo para que o Remo não fique sem série. O próximo passo será ascender à Série C, caso contrário tudo volta a ser como antes. O que fazer, já que o Roberto Fernandes não ficará? Contratar um bom técnico ou um técnico local? Dispensar e/ou contratar jogadores? O que pensa pra levar o clube ao acesso?
ZP – Em primeiro lugar, formar um time competitivo. Em segundo, planejar a Série D. Depois, conquistar esse título. Sobre o técnico, o Roberto Fernandes não está descartado. É uma questão de tempo e conversa.
CS – O sr. já se imagina, dando o acesso ao Remo para ser considerado, ao final do seu mandato, como o melhor presidente da história do clube – ou, pelo menos, dos últimos 50 anos?
ZP – Minha última preocupação é essa. Minha meta é colocar o Remo no lugar que ele merece. É um desejo, acima de tudo, de torcedor.
CS – O seu primo, Paulo Wilson, faz um bom trabalho à frente da base do Remo, com os demais diretores e o coordenador técnico Valter Lima, mas apesar desse bom trabalho o clube continua perdendo muitos jogadores. Por quê?
ZP – Primeiro, o assédio é muito grande. Depois, porque precisa ser trabalhada um pouco mais essa visão da valorização desses profissionais e as oportunidades dadas a eles, aspecto que realmente tem deixado a desejar.
CS – Jornalistas perguntam e eu, como torcedor, vou perguntar também:presidente, o Remo já tem quantos jogadores contratados para a Série D? Poderia mandar uma ou duas contratações já certas aqui, de prima? Qual o técnico de sua preferência para a Série D?
ZP – Sim. Robinho é um deles. O Roberto Fernandes tem minha preferência.
CS – O sr., em entrevista, disse que gosta de ser chamado de Zeca Pirão…. Por que Pirão, presidente?
ZP – Porque é um apelido que meu pai me deu quando criança, pelo simples fato de comer muito pirão.
CS- Qual a mensagem que o senhor deixa para a grande nação azulina, que está junto com o sr. nessa dura caminhada rumo ao acesso à Série C?
ZP – Que acredite no trabalho. Que tenha fé em Deus que o nosso clube vai chegar ao lugar que merece.
O nosso Bate-Papo do mês de maio foi com o presidente azulino Zeca Pirão, que, mesmo monossilábico às vezes (é o jeito dele), contribuiu muito para o blog. Agradeço aqui ao grande amigo Sérgio Noronha, que intermediou a entrevista. Sem ele, não teria conseguido. No próximo Bate Papo, já no formato novo (vou fazer a entrevista pessoalmente, cara a cara) será com um grande bicolor. Espero que os amigos tenham gostado…
(Fotos: MÁRIO QUADROS/Arquivo Bola)












