O torcedor

foto inédita mario filhoLeia a seguir a crônica “O Torcedor”, de um dos jornalistas esportivos mais importantes do Brasil: Mário Filho. O cronista, célebre nos anos 50 e criador da expressão Fla-Flu, lutou para a construção do Maracanã na Zona Norte do Rio de Janeiro e, em sua homenagem, o estádio passou a ter seu nome. A crônica abaixo faz parte do livro As coisas incríveis do futebol: as melhores crônicas de Mário Filho, organizado por Francisco Michielin e que será lançado pela editora Ex Machina – a chegada às livrarias está prevista para este final de semana.

Por Mário Filho (*)

Um torcedor que assina “o torcedor do espelho” pergunta-me, por carta, com ar quase de zanga, porque eu, quando citei o caso do torcedor do bodoque, atrás do gol da piscina, lá em Campos Salles, não citei o caso dele: o caso do “torcedor do espelho”. Ele tinha tanto direito quanto o outro. E talvez mais. A pedrinha atirada pelo bodoque poderia “até” machucar. O espelho, não. E, além disso, o espelho era uma arma muito mais perfeita do que o bodoque. O bodoque acertaria ou não acertaria. Em São Januário, por exemplo, o bodoque não adiantaria de nada. E o espelho foi aplicado, com absoluto êxito, de “qualquer ponto” de São Januário. Amado ia defender uma bola e o reflexo do sol batendo sobre o espelho — um espelho de bolso, pequeno, leve, cômodo — cegou Amado. Gol do Vasco. “O senhor não se lembra? Pois o torcedor do espelho era eu.”

Naturalmente que eu me lembro do torcedor do espelho. Durante um certo tempo os torcedores do espelho se multiplicavam como vaga-lumes. A gente olhava para as arquibancadas e via tudo faiscando. De repente, o goleiro passava a mão pelos olhos. Qualquer pessoa, porém, podia levar um espelho para o campo. E a arma passou a não valer de nada. Se um torcedor do Vasco botava o reflexo do espelho em cima da cara do goleiro do Flamengo, o torcedor do Flamengo esperava o primeiro ataque contra o gol do Vasco e toca a cegar o goleiro do Vasco, o beque do Vasco, qualquer coisa do Vasco. E um dia um chofer, em São Januário, arrumou os faróis de um carro em direção ao arco do Flamengo. A polícia prendeu o chofer. O carro. Os faróis.

O que me impressionou mais na carta do torcedor do espelho foi o anonimato. Ele protestou porque eu não tinha citado o nome dele. Qual é o nome dele? Torcedor do espelho não se parece com nome de ninguém. E, no entanto, eu sei que basta. O “torcedor do espelho” agora mesmo está sorrindo. Encantado. Como se bastasse isso — a citação de um torcedor, que aliás não era um, era uma multidão — para identificá-lo. Ele pode pegar o pedaço de jornal e mostrá-lo a todo mundo. Hoje é dia de festa na casa do “torcedor do espelho”. “Você já leu a Primeira Fila?” — ele indagará de companheiros de repartição, de amigos, de vizinhos. — “Pois não perca a de hoje. Está boa. Cita-me”.

Eu um dia estava sentado diante de uma mesa redonda, escrevendo, escrevendo. Aí, apareceu um homenzinho, com um embrulho debaixo do braço. Dentro do embrulho estava um pacote de cinco contos de réis. O homenzinho encontrara o embrulho não sei onde e se apressara em vir entregá-lo. “Eu sou pobre, mas honesto” — declarou ele, com convicção. Com uma satisfação íntima, profunda, tomaram nota. Nome. Endereço. Tudo. Levaram o pacote para dentro. E o homenzinho começou a ficar nervoso. Ele vestira o terno dos domingos e feriados, mandara engraxar os sapatos, cortar os cabelos e nenhuma fotografia? Eu o vi querer dizer uma coisa. Não disse. Ou, por outra, só disse quando abriu a porta para sair: “Assim, sem fotografia nem nada, nem vale a pena ser honesto. Até desanima a gente”. E bateu a porta com violência. Em sinal de protesto.

O nome em jornal há de ter o seu encanto. Há de ter. Mesmo quando é uma indicação: “Leônidas fazia-se acompanhar por um amigo”. Quantos apontam a linha em corpo sete para dizer: “o amigo era eu”? Assim, não é difícil compreender o caso do “torcedor do espelho”. Eu, inclusive, devia a ele uma crônica. Quem me forneceu o motivo foi ele. Realmente, há uma porção de torcedores que intervêm em uma jogada, em um match, que decidem uma partida. Uns violentos. Os que levam tijolos para o campo. Os que bebem soda só para ficar com a garrafa na mão para o que “der e vier”. E outros maliciosos. Levando um espelho. Um bodoque. Um apito.

Antigamente, no mais aceso de um ataque, se ouvia o trilar de um apito, estridente. E uma parte da torcida gritava: “offside! pênalti!” O jogo parava. E o juiz tinha de dar bola ao alto. Com o tempo o apito — o “cesar” tudo, de um trocadilhista que queria ser agradável ao César Ladeira — perdeu o prestígio. E, às vezes, o juiz apitava, apitava, e não adiantava. Os jogadores continuavam jogando até que a bola entrasse, que a bola saísse. Ninguém “caía” mais no conto do apito. A não ser um de fora.

Carreiro costumava fazer isso. Ele, de boca fechada, dando um jeito qualquer na língua, produzia um som absolutamente igual ao de um apito. Uma vez ele marcou um gol porque, na hora que o beque ia rebater, ele “apitou”. O beque desistiu da rebatida. Carreiro invadiu a área, pegou a bola e colocou-a no cantinho. Por isso, se fala tanto hoje em gol anulado, apesar de o juiz ter apitado antes. Ninguém obedece, que não é besta. Quem sabe se o apito não foi o apito de torcedor?

Há torcedores, aliás, com força moral sobre o juiz. Com uma voz poderosa de comando. Uma voz assim de Victor McLaglen. Grossa. Estentórea. Hipnótica. O juiz não quer apitar e apita a ordem de offside! hands! foul! corner! Contra isso o juiz não pode lutar. Trata-se de alguma coisa mais forte do que ele. Felizmente, são raros os torcedores privilegiados com uma voz de comando. E, além disso, os que tem a voz de comando, não a gastam assim, sem mais nem menos. Guardando-a para ocasiões solenes. Quase cívicas.

Os torcedores do bodoque, do espelho, do farol de carro, do tijolo, do desaforo, da garrafa de soda ou de cerveja, do apito, são os torcedores por conta própria, que não se integram na multidão, que não se perdem no meio da multidão, que se destacam, conservando a personalidade. A maioria é parte de um todo, sentindo emoções em conjunto, não se dando ao luxo de vibrar só, como indivíduo. Depois da exibição de um escrete austríaco em Londres, cinco mil torcedores ingleses, sem aviso prévio, um não conhecendo o outro, não se cumprimentando sequer, atravessaram a Mancha para ir ver o Wonderful Team jogar em Bruxelas. Eu não conheço exemplo mais maravilhoso do homem massa, do homem multidão.

Pode-se dizer que há uma enorme diferença entre o torcedor inglês e o torcedor brasileiro. Um, torcedor de futebol, apenas. E o outro, torcedor de clube. De camisa. O torcedor inglês não intervém no match. Manifesta agrado ou desagrado com sobriedade. Valorizando a palma. Em um match Itália x Tchecoslováquia, porém, quando Plánička ia fazer uma defesa no canto, recebeu uma pedra atirada por um bodoque de torcedor, bem na nuca. Ele, no ar, em pleno salto, teve que coçar o pescoço. A bola entrou. Os tchecos, porém, se recusaram a continuar o jogo. A polícia andou prendendo tudo o que era torcedor mal-encarado. Com jeito de fazer uma coisa daquelas.

Em alguns momentos, quando as coisas estão pretas, a torcida resolve dar uma mão ao time. Quando os brasileiros foram disputar com os argentinos, no campo do Barracas, em Buenos Aires, o último jogo do Sul-Americano de 25, Friedenreich marcou um, dois gols, e, quase na hora de marcar o terceiro, recebeu um pontapé pelas costas. Era o sinal. Senão combinado, pelo menos entendido. A torcedor entrou em campo e tocou o braço nos brasileiros. Amansando-os. Deixando bem claro que não se podia fazer, impunemente, uma porção de gols em cima dos argentinos. Os brasileiros não caíram na tolice de marcarmais gols. E os argentinos empataram o jogo. Que diabo: eles eram os donos da casa, não eram?

Eu ia me esquecendo do torcedor fotógrafo que leva magnésio para o campo e resolve bater uma chapa de uma defesa sensacional do goleiro “contrário”. Do “outro” não interessa. Uma vez o Vasco jogava não sei com quem. Talvez com o Flamengo, porque quase todos os fotógrafos torcem pelo Flamengo. O caso é que Rey ia segurar a bola quando se ouviu uma explosão medonha. Parecia de bomba. Rey tremeu, largou a bola, julgou que tinha sido alvejado por um bacamarte. E eu só vi vascaíno pulando para a pista e o fotógrafo correndo, gritando que tinha sido sem querer. Hoje, é proibido levar magnésio para o campo. Quem quiser bater fotografia de jogo noturno, têm de comprar lâmpada. Por quatro ou cinco mil réis. Mais barato do que um tiro de magnésio.

(*) Publicado originalmente em O Globo Sportivo, em 13 de agosto de 1948. 

Site inglês divulga foto da Brazuca da Final da Copa

Por Leandro Stein, do Trivela

Todo mundo já sabe como é a Brazuca, a bola da Copa do Mundo de 2014. Menos polêmica do que a Jabulani (até o momento), a gorduchinha tem sua pintura oficial para o torneio, mas também ganhou cores diferentes para homenagear diferentes seleções e clubes da Adidas. Porém, mesmo no Mundial, haverá uma versão especial da Brazuca, exclusiva da decisão. E que, ao menos nos bastidores, já foi revelada.

O furo é do site Footy Headlines, que costuma acertar em suas antecipações sobre material esportivo. Assim como as bolas das finais de 2006 e 2010, quando a Fifa começou a utilizar o modelo especial, a maioria dos detalhes são em dourado. Mas, com o verde também espalhado, não dá para negar que haja um brasileirismo na redonda, talvez querendo prever o que acontecerá no Maracanã. Confira:

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Alain Prost e os “segredos” de Ayrton Senna

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Numa entrevista reveladora à revista francesa Paris Match, o ex-piloto Alain Prost falou sobre os 20 anos da morte de seu arquirrival, Ayrton Senna. Para surpresa de muitos, Prost é absolutamente carinhoso e deferente com o brasileiro. “Jamais haverá outro como Senna, O homem e o piloto são absolutamente únicos. Ele tinha um talento inacreditável, todos os atributos de um belo rapaz, mas lia a Bíblia em seu quarto. Era alguém bastante secreto que levou uma parte do mistério consigo”, diz Alain.

O francês conta que, antes da morte de Ayrton em Ímola, o antigo rival lhe telefonou. “Ele contou segredos muito particulares. Coisas que eu não revelarei jamais. Me falou como se estivesse falando ao melhor amigo. Fiquei ao mesmo tempo orgulhoso e perturbado”. Prost disse que Ayrton tentou de todas as formas que ele voltasse à Fórmula 1. “Ele me confidenciou que sempre me teve como objetivo e que, na minha ausência, não se sentia mais motivado. Nossa briga foi muito positiva, de uma certa maneira. Éramos os melhores inimigos do mundo. Disse a ele que iria contratá-lo como piloto no dia em que tivesse minha própria escuderia”.

Uma das maiores revelações de Prost é sua hesitação em comparecer ao velório de Senna. “Eu temia a reação do público brasileiro a meu respeito. Telefonei para Bethy Lagardère (brasileira, viúva do empresário francês Jean-Luc Lagardère), de quem eu era muito próximo para lhe pedir conselhos. Ela me convenceu a ir ao enterro. Tive uma relação muito bonita com a família de Ayrton”.

Prost só não disse que, anos antes da morte de Senna, publicou um livro na França revelando muitos segredos sobre a vida pessoal do piloto brasileiro, insinuando uma relação mais íntima entre o campeão e um misterioso comissário de bordo português. Talvez por essa razão não tenha comparecido ao velório de Senna. (Com informações da revista Época) 

Anti-Copa, anti-eleição & anti-jornalismo

Por Paulo Moreira Leite, da IstoÉ

cl_2295361079348171Só é possível entender a importância atribuída pelos meios de comunicação aos protestos anti-Copa, ontem, como parte do esforço para colocar o governo Dilma na defensiva quando faltam cinco meses para a eleição presidencial. É isso e só isso.

Na maioria dos protestos realizados no país havia menos gente do que no Palácio do Planalto, às 15 horas da tarde de ontem, quando o governo, entidades patronais e as centrais sindicais – inclusive a Força Sindical – assinaram um acordo pelo trabalho decente durante da Copa do Mundo. A luta pelo “trabalho decente” é uma campanha da Organização Internacional do Trabalho e o evento ocorreu nessa perspectiva.

Você pode achar burocático. Mas veja as consequências práticas. No final do dia, em Brasília, grandes redes de alimentação e hotéis – estamos falando de Mac Donalds e Habibs, Accor, por exemplo – haviam firmado um acordo que, soube depois, era inédito no mundo.

Um total de 1600 empresas (o plano é chegar a 6000 nas próximas semanas), que empregam alguns dezenas de milhares de trabalhadores, firmou um compromisso para a Copa. Reforçar direitos trabalhistas, criar formas legais de evitar que trabalho temporário seja sinônimo de trabalho precário e impedir o avanço da exploração sexual de crianças e adolescentes, tão comum em situação desse tipo.

Sabe a preocupação social? Sabe aquele esforço para impedir que a Copa transforme o país num grande bordel? Pois é. Você pode até achar que tudo isso é café pequeno diante das imensas causas e carências do país. É mesmo. Também pode se perguntar para que falar de iniciativas modestas, limitadas, quando a rua arde em chamas de pneus revolucionários.

São, definitivamente, iniciativas menos que reformistas, para falar em linguagem conhecida. Populistas, para usar um termo típico de quem não tem voto nem consegue comunicar-se com o povo. Eleitoreiras, é claro. Mas eu acho que os fatos de ontem ensinam muita coisa sobre o Brasil de hoje.

A menos que se acredite que em 2014 o Brasil se encontra às portas de uma revolução, numa situação que coloca questões econômicas como a expropriação dos meios privados de produção e criação de uma república de conselhos operários e populares, convém admitir que nossos meios de comunicação resolveram construir um embuste político em torno dos protestos e apresentar manifestações de rua fracassadas como se fosse um dado politicamente relevante, digno de muita atenção.

Não seja Ney Matogrosso: conheça os dados. Entre no debate real.

Veja quem defende, a portas fechadas, as “medidas impopulares”. Quem já se rendeu ao capital financeiro e quer entregar o Banco Central – isto é, a moeda dos brasileiros – aos mercados, para que possam jogar com ela, especular, comprar e vender. Não acredite na lorota de austeridade, de defesa da moeda acima da política e dos interesses sociais em eterno conflito. O que se quer é mais cassino em vez de mais salário mínimo. (Quase rimou…)

No cassino está o filé – que é sempre para poucos. E quando alguém falar no exemplo dos países desenvolvidos, recorde: no mármore da entrada do FED, o BC americano, está escrito que a instituição tem dois compromissos – defender a moeda do país e o emprego dos cidadãos. Lá, no coração do capitalismo, o BC tem essa função – ou missão, como dizem os RHs de hoje em dia. Toda luta pela independência do Fed consiste em lutar para revogar o compromisso com a defesa do emprego.

Numa conjuntura pré-eleitoral todo cuidado é pouco. Cada rua interrompida, cada pedrada, cada confronto desnecessário com a polícia e cada pequena labareda representa um desgaste das instituições políticas construídas democraticamente no fim da ditadura militar. O que se pretende é atingir um governo que toma medidas parciais mas concretas em defesa da maioria e favorecer uma restauração conservadora. O capítulo final do embuste — por isso é embuste — é este. Criar uma imagem, um borrão, um ruído, que embaralhe o debate da eleição.

No país real de 2014, as alternativas são duas. E todos sabem quais são. E é por causa delas que a revolta policial do Recife, ontem, recebeu o tratamento de um episódio menor e passageiros, não é mesmo?

Ocorrem protestos relevantes que, curiosamente, não foram divulgados nem explicados. Na região Sudoeste de São Paulo, ontem, os trabalhadores cruzaram os braços em seis empresas. Mais tarde, avançaram por uma das pistas da Via Anchieta e fizeram uma passeata por por meia hora. Olha a falta de charme radical-televisivo dessa turma. Olha o tédio concreto de suas reivindicações. A monotonia. Não vai ter vidro quebrado?

Certíssimo.

Ligados à indústria de auto-peças, os trabalhadores querem a manutenção do IPI que ajuda a vender automóveis, até hoje o setor da indústria que possui a cauda mais longa na produção de empregos diretos e indiretos. No país real, onde vive a maioria dos brasileiros, uma das prioridades é e sempre foi esta: emprego, que permite pagar a conta do fim do mês.

A reivindicação dos metalúrgicos não era improvisada. E nada tem a ver com anti-Copa, movimento que ignoram porque gostam de futebol, não querem perder a oportunidade de torcer pela Seleção Brasileira em seu próprio país. Também admitem que os empregos que a Copa criou ajudaram no orçamento de amigos, parentes e vizinhos.

Os sindicatos querem sentar com os empresários e o governo para discutir medidas que a CUT e a Força Sindical trouxeram da Alemanha, onde estiveram recentemente. Naquele país, onde trabalhadores, empresas e governo repartem custos que ajudam a manter o emprego mesmo nas situações em que a economia esfria – esse tipo de pacto é um dos motivos que explica a vitória eleitoral de Angela Merkel, que não aplica contra seu povo a política de austeridade que exige dos países mais fracos da União Européia.

No mundo real, vivemos a época do capitalismo rastejante, como definiu um dos dirigentes políticos de minha juventude. Cada emprego é uma epopeia, todo benefício social é um suadouro, garantir um horizonte de segurança para a família é uma utopia.

O que nossos conservadores mais reacionários pretendem é um confronto com todas as armas – inclusive o embuste – com um governo que, com todos os limites, falhas e alguns erros clamorosos, tem conseguido aliviar o sofrimento dos mais pobres.

Numa fase da história em que a desigualdade se amplia na maioria dos países, gerando uma situação social e econômica que bons estudiosos indicam como caminho seguro para novas catástrofes, o Brasil conseguiu avançar na direção contrária. O plano era fazer o país virar uma Grécia. Virou… o Brasil.

Vamos lembrar de 1964. Num país polarizado, com um governo que havia chegado no limite possível, a revolta dos sargentos, e dos cabos, a radicalização dos camponeses, a campanha sistemática de denuncia dos políticos e do Congresso envolvia causas justas e corretas – mas seu efeito real foi abrir caminho para o golpe de Estado e uma derrota de 20 anos.

Lembrem de 1933, na Alemanha. Convencido de que havia chegado a hora do assalto ao poder, o Partido Comunista Alemão, orientado por Josef Stalin, estimulou uma política sectária de denúncia da social-democracia. Rompeu a unidade dos trabalhadores e passou a acusar os social-democratas de social-fascistas. O saldo foi Hitler – uma derrota que só seria revertida pela II Guerra Mundial.

A historia mudou bastante, de lá para cá. Mas convém entender que algumas lições permanecem.

(*) Jornalista experiente (foi correspondente em Paris e Nova York), Paulo Moreira Leite é diretor da Sucursal da revista IstoÉ em Brasília; é autor de “A Outra História do Mensalão”.