Melhor que a encomenda

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Por Gerson Nogueira

Saiu tudo conforme o script sonhado por Roberto Fernandes e a torcida azulina. Com uma escalação ousada, usando apenas um volante, o Remo saiu em busca de três gols e acabou fazendo quatro. A melhor atuação do time no campeonato garantiu o direito de decidir o returno. Ratinho, com participação em três gols, foi decisivo para o êxito da empreitada remista. Sem ele dificilmente a vitória viria com tamanha facilidade.
O jogo mostrou um Remo muito diferente daquele que perdeu de 3 a 0 em Tucuruí. Desta vez, o torcedor viu um time visivelmente comprometido, acreditando em todas as bolas e, acima de tudo, dedicando-se ao objetivo de vencer.

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unnamed (76)Apesar disso, a equipe não conseguiu ir além de um primeiro tempo morno. Teve completo domínio, sufocou o adversário, mas criou poucas chances e chutou pouquíssimas vezes. Em consequência do 0 a 0, deixou o campo sob algumas vaias e carregando o pesado fardo de uma desvantagem de três gols no placar agregado. Pior: tendo que correr contra o tempo para construir em apenas 45 minutos o resultado que precisava.
Nem o mais otimista dos azulinos imaginava que os ventos começariam a soprar logo nos primeiros segundos da etapa final. A bola rolou e Ratinho, que substituiu a Tiago Potiguar, foi lançado na ponta direita e avançou rumo à linha de fundo. Passou por um marcador e cruzou com perfeição.
A zaga do Independente, ainda se aprumando na área, não cortou o cruzamento, que foi encontrar o garoto Roni entrando pela esquerda. O cabeceio foi fulminante, sem defesa para Dida. Aos 30 segundos de jogo.
Com o gol inaugural, o Remo ganhou confiança, subiu de vez rumo à área adversária e perdeu duas boas chances, com Roni e Dadá. Mas, aos 12 minutos, Ratinho voltaria a fazer das suas. Desta vez, no estilo que o caracteriza. Balançou na frente dos zagueiros, limpou a jogada e bateu forte, à meia altura. Um golaço para aumentar a mais a empolgação azulina em campo.

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Ainda atordoado, o Independente tentava se recompor, mas errava a saída e começou a ter dificuldades para conter os avanços de Eduardo Ramos e Dadá pelo meio. Aos 13 minutos, depois de retomar a bola junto à área, Dadá disparou com a bola dominada e foi derrubado por Fernando, que recebeu o segundo amarelo e deixou o Independente com 10 jogadores.

A expulsão tornou o Remo ainda mais presente no ataque. Aos 20, Roni entrou pela esquerda e chutou rasteiro em direção ao gol. Ratinho se antecipou aos zagueiros e tocou para as redes: 3 a 0. Cumpriu à risca a missão que lhe confiada pelo técnico Roberto Fernandes. Tinha que entrar e botar fogo no jogo. Incendiou de tal forma que antes da metade do segundo tempo o Remo já podia administrar a vantagem.
A partir daí, o Remo sossegou um pouco, recuperando o fôlego de tanto esforço em busca do placar que lhe convinha. Eduardo Ramos recuou, ajudando Dadá na marcação. Jonathan entrou para reforçar a cobertura, mas a zaga se mantinha firme, evitando as tentativas desesperadas de Chaveirinho, Léo Rosa e Kariri, os mais ofensivos do Independente.

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Lecheva ainda botou Joãozinho, mas o Remo se mostrava soberano lá atrás e muito perigoso sempre que atacava. Dadá chutou rente à trave. Val Barreto e Roni perderam duas chances. Ratinho saiu lesionado, mas já tinha cumprido espetacularmente sua missão.
No final, o árbitro Joelson dos Santos acabou complicando sua atuação ao marcar penal inexistente, aos 42 minutos. Barreto foi derrubado fora da área, mas a penalidade foi marcada. Leandro Cearense converteu e sacramentou a goleada que põe o Remo na final do returno.

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Ratinho, Dadá e Roni em destaque

Ratinho, pela fantástica atuação em apenas 28 minutos, foi o grande nome da semifinal. Dadá veio logo a seguir, com participação importantíssima para o equilíbrio do time nos dois tempos. Roni, veloz e agressivo, foi o atacante remista mais produtivo. Eduardo Ramos, sem a responsabilidade de carregar a camisa 33, atuou como um legítimo 10. Organizando e lançando, arriscando algumas tentativas e colaborando na marcação.
Quase todo o time do Remo se apresentou bem. No primeiro tempo, faltou mais contundência, mas a produção na etapa final compensou por completo todos os problemas iniciais.
A atuação do Independente foi decepcionante, tanto no aspecto coletivo quanto no individual. Travada, preocupada excessivamente em não levar gol, a equipe cedeu espaço demais ao Remo. Nos instantes finais, quando precisou sair de seu campo para buscar o gol, não teve pernas nem talento para empreender a pressão necessária. Vigiado por Dadá, o meia Kariri teve papel inexpressivo e, em função disso, Wegno e Chaveirinho pouco produziram no ataque. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola) 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 02)

A cara do torcedor

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À saída do estádio Evandro Almeida, Edson Suk e amigos comemoram a vitória do Remo sobre o Independente.

A obrigação de vencer bem

Por Gerson Nogueira

unnamedA missão é desafiadora. O Remo precisa vencer por três gols de diferença para ir à final do returno do Parazão. Fazer gols por necessidade premente é um dos grandes dilemas do futebol. Sempre é mais fácil, ou menos difícil, chegar ao gol quando não há uma obrigação a pairar sobre a cabeça.
A coisa se complica ainda mais quando o adversário tem bom time e sabe como se comportar fora de casa. O Baenão lotado sempre representou vantagem para os azulinos, mas, em determinadas circunstâncias, também pode se tornar mais um oponente.
É o que Lecheva e seus comandados irão buscar hoje à tarde. Conduzir o Remo a uma zona de desconforto é o primeiro passo para que o Independente saia de Belém com a classificação garantida para a decisão. No primeiro jogo, o posicionamento da equipe foi decisivo para a vantagem estabelecida no final.
Lecheva pôs o Independente para jogar no campo de defesa remista, diminuindo espaços e não permitindo que os azulinos tivessem uma saída de bola com qualidade. Com paciência e organização, o time construiu o placar que lhe interessava. A mesma frieza tática deve ser empregada hoje para conservar a vantagem e, se possível, ampliá-la.
Abalado pela derrota, Roberto Fernandes reconheceu que o Remo abdicou da luta em Tucuruí. Comportou-se de maneira apática, como se não estivesse disputando uma decisão. Em consequência disso, ele anunciou que iria promover mudanças drásticas no time.
No meio do caminho, a preparação foi atrapalhada pela invasão de baderneiros ao Baenão, hostilizando e ameaçando jogadores. Eduardo Ramos, alvo dos “uniformizados”, não deve entrar de cara. Será substituído por Athos, que quase pediu as contas no sábado.
Athos é a melhor das escolhas para organizar o meio-campo, mas precisará ter suporte de volantes que saiam para o jogo. Jonathan e Dadá têm essa característica. Na frente, Leandro Cearense e Potiguar (ou Ratinho) terão a incumbência de definir as jogadas. De quebra, têm a responsabilidade de fazer com que o ataque seja novamente um setor decisivo da equipe.

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Racismo no futebol: os perigos da impunidade

Por força da leniência de alguns e da impunidade que campeia em todos os níveis, o futebol paraense tem servido de cenário para atos racistas nos últimos três campeonatos. O preparador físico Wellington Vero foi protagonista de dois episódios, um em Castanhal em 2011 e outro em Marabá em 2012. Nada aconteceu para coibir a prática discriminatória.
Um novo incidente foi registrado, sábado, no estádio Maximino Porpino, em Castanhal, depois da partida entre Paissandu e Águia pela Série C. O auxiliar técnico Brigatti, do Papão, teria dirigido ofensas racistas ao jogador Eduardinho, do Águia.
Os jogadores do time marabaense se revoltaram com o ocorrido, o diretor João Galvão exigiu um posicionamento por parte dos bicolores, mas a história mudou de curso depois que o próprio atleta decidiu não levar o caso adiante. Todos se contentaram com a visita cordial que o presidente Vandick Lima, do Paissandu, fez a Eduardinho ainda nos vestiários, desculpando-se pelos impropérios do auxiliar.
O caso Eduardinho amplia o histórico de ocorrências de ódio racial no Pará e a impunidade sempre tende a estimular a repetição. Se é verdade que aumentou muito o nível de consciência quanto à gravidade do crime, é inegável também que as próprias vítimas não se sentem encorajadas a sustentar as denúncias.

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Sob o signo da valentia

Não foi uma façanha qualquer. A história do jogo teve tintas épicas para o surpreendente e aguerrido Atlético de Madri, que conquistou o direito de disputar pela primeira vez a final da Liga dos Campeões arrancando vitória incontestável dentro de Londres. E alcançou essa condição contra um time formatado preferencialmente para não perder.
Não levava fé no Atlético desde que vi a primeira partida contra o Chelsea, na semana passada. Naquele dia, os encarnados de Madri exageraram nos chutões e passes errados, sucumbindo à duríssima marcação inglesa. Ontem, porém, Simeone posicionou seu time com ousadia e mobilidade.
Nem o gol de Fernando Torres no começo do primeiro tempo esmoreceu o Atlético. Seguiu atacando com o mesmo ímpeto e chegou ao empate antes do intervalo, aproveitando-se do surpreendente nervosismo dos donos da casa e dos talentos de Arda Turan e Diego Costa. Depois, quando se esperava um sufoco inglês, o que prevaleceu foi a tranquila postura de um time rápido e determinado tanto atacando como defendendo.
Simeone, um ex-volante botocudo, aplica no Atlético a filosofia argentina de jogar futebol. Marcação incansável, objetividade nos contra-ataques e destemor em relação a qualquer adversário. Apesar das limitações do elenco, um dos menos estrelados da Europa, a fórmula está dando certo.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 1º)