Deu a lógica: Papão na final

unnamed (75)

Por Gerson Nogueira

Muitos contestaram quando observei aqui na coluna, depois do primeiro jogo da semifinal, que o Paissandu havia botado a mão na vaga. O vaticínio não era em vão. Baseava-se na lógica. E foi justamente a lógica que permeou a segunda partida, ontem, com placar final de 0 a 0. Coube aos bicolores a interpretação mais objetiva do que representava a Copa Verde no contexto regional. É, repito, a competição mais importante do ano, sob vários pontos de vista. Destaco os mais óbvios: permite participação numa competição internacional (Copa Sul-Americana) e garante o título oficioso de campeão do Norte.

unnamed

O Remo não se preparou adequadamente para a Copa Verde, como também não se planejou para o Campeonato Paraense. Como cumpriu o primeiro objetivo no certame estadual – vencer o turno – achou que talvez pudesse repetir a dose no torneio regional. Não deu. O Paissandu, que havia se ajustado ao longo do Parazão, deslanchou na Copa Verde. Marcou 20 gols, sofreu 4 e se manteve invicto até agora. Não é por acaso.

Foi do Remo o tempo maior de posse de bola na partida de ontem. Domínio que se mostrou ilusório nos primeiros 45 minutos. O time tinha a bola, mas não construía as jogadas necessárias para reverter a situação favorável ao adversário. Ratinho, Tiago Potiguar e Jonathan corriam muito, mexiam-se, mas sem organização ou método. Na correria, a bola escapava de seus pés e era retomada pelos marcadores do Papão, que, por seu turno, se encarregavam de errar também, devolvendo as gentilezas.
unnamed (88)Um jogo de erros, que perdurou ao longo de todo o primeiro tempo, com poucos momentos de fato emocionantes. Mais organizado, o Paissandu trocava passes e arriscava somente nas boas. O problema é que o time veio formatado para evitar gols e caprichou demais na disciplina tática, recuando em excesso. Nem assim o Remo se impôs e fez valer a maior presença ofensiva.
O segundo tempo teve um desenho diferente. Disposto a tudo, apesar do caos reinante no meio-de-campo, o Remo foi à frente e esteve a pique de marcar. Desfrutou de pelo menos três grandes chances. Nos contra-ataques, o Papão também teve momentos interessantes, mas falhou na aproximação entre meio e ataque, vitimando o artilheiro Lima, que ficou novamente em branco.
No final, levou a melhor a equipe mais preparada, que soube driblar suas limitações e garantir o resultado que lhe interessava, mesmo correndo alguns riscos desnecessários no confronto de ontem. Sem contar com um grande elenco, Mazola Junior transformou limão em limonada e armou um time competitivo, driblando carências crônicas no setor de criação. A conquista de um lugar na final da Copa Verde é, acima de tudo, mérito do treinador e de uma política austera de contratações.
A vaga de representante do Pará na decisão ficou em excelentes mãos, com toda justiça.
unnamed (80) 
Os quatro melhores do grande duelo
Charles agiganta-se nos grandes jogos. Brilhar nas situações decisivas é uma característica dos bons jogadores. O zagueiro, uma das grandes contratações do Papão (ao lado de Lima) foi novamente fundamental ontem. Mateus também teve grande papel.
Sem Eduardo Ramos e Athos, o Remo foi mais solidário, vibrante e comprometido no segundo Re-Pa das semifinais. Com alguma sorte e um mínimo de arrumação, podia ter vencido. Curiosamente, a saída de Carlinhos Rech (expulso) tornou o time mais rápido. Dadá e Potiguar foram os mais destacados do time.
unnamed
Direto do blog
“Olha, para quem assistiu a partida com emoção, pode ter sido um jogo emocionante, movimentado, eletrizante… Mas quem assistiu com frieza, sem tomar partido por um lado ou outro, A coisa tá preta! Está terrível o nosso futebol. No final, deu pena das duas equipes, estropiadas, sem condicionamento físico, a se arrastar pelo gramado. Nenhum desses atletas reune condições de atuar num centro sequer mediano do futebol brasileiro. O Remo, mesmo com dez, teve um domínio inexplicável lá pela metade do segundo tempo e esbarrou nas próprias limitações. Depois cansou e aí foi a vez de o Paissandu esbarrar nas suas igualmente imensas limitações técnicas e não saber matar o jogo. Precisamos melhorar urgentemente o nível técnico do nosso futebol – fica o alerta!”.
 
Do Pedro Lins, insatisfeito com a pobreza técnica do maior clássico da Amazônia.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 24)

Remo x Paissandu (comentários on-line)

Copa Verde 2014 – Semifinal

Clube do Remo x Paissandu – estádio Jornalista Edgar Proença, 19h30.

Rádio Clube _ IBOPE_ Segunda a Sexta _ Tabloide

Na Rádio Clube, Valmir Rodrigues narra; Carlos Castilho comenta. Reportagem – Paulo Caxiado, Dinho Menezes, Paulo Fernando, Valdo Souza. Banco de informações – Adilson Brasil e Fábio Scerni.

Rock na madrugada – Green Day, Don’t Want To Know If You Are Lonely

A um passo da fronteira

Por Gerson Nogueira

Nelson Rodrigues disse que o Fla-Flu surgiu 40 minutos antes do nada. Que diria ele se fosse apresentado à gloriosa teia de conflitos de um Re-Pa? Ele, o maior poeta do imortal clássico carioca, morreu com essa nódoa no currículo de desportista. Não é ninguém, futebolisticamente falando, quem nunca viu um choque-rei da Amazônia. A paixão despudorada de um Estado inteiro, trincado ao meio por dois amores, é a justificativa viva do próprio futebol como esporte e manifestação popular. Nada mais espontâneo, incondicional e puro do que o amor de torcedor. Azulinos e alvicelestes têm o privilégio de exercitar isso sempre, sob as bênçãos dos deuses da bola.

unnamed (3)E é essa centenária rivalidade que entra em campo novamente neste domingo para testar corações e abalar as estruturas deste Pará continental. A ocasião é especial. Pouquíssimas vezes, nas últimas cinco décadas, ambos entraram em campo para um duelo que tem alcance regional e até internacional. Está em disputa a hegemonia da Região Norte. Quem passar adiante, conquista o título não oficial de campeão da Amazônia e se habilita a decidir a Copa Verde. Vamos ser realistas: o vencedor do confronto de hoje fica a um passo do título, pois será favorito ante o adversário brasiliense, ainda não definido,

Tantas coisas importantes em jogo e o engraçado é que o clássico nunca dependeu desses atrativos para galvanizar atenções e arrastar multidões. É claro, porém, que a possibilidade de um título aguça as expectativas, turbina as ambições. Fazia tempo que a torcida paraense não se via tão contrita em torno de uma decisão entre os velhos titãs. Depois de oito longos anos de frustração – de 2006 até 2013 -, sem nenhuma conquista de monta, a dupla Re-Pa tem a chance do renascimento, por vias inesperadas. A criação da Copa Verde reabriu a rota de fronteira, propiciando ao vencedor um lugar na Copa Sul-Americana 2015. Oportunidade de ouro para a ressurreição do Pará como força futebolística regional.
No jogo, a balança pende para o lado bicolor, pela vantagem mínima construída no primeiro embate. Como são equipes de perfil semelhante, tendem a equilibrar as partidas. Com isso, o empate desponta como grande possibilidade de resultado final – o que classifica o Papão. No afã de reverter a diferença caberá ao Remo lançar mão de todas as forças e manhas para vencer o confronto. O projeto não é impossível, mas as circunstâncias desfavorecem o Leão: tem três desfalques (Alex, Fernandes e Val Barreto) que podem comprometer a estratégia de buscar o gol a qualquer preço.
Outro ponto a complicar os planos azulinos é a crônica ausência de força coletiva. O Remo por vezes lembra um grupo de peladeiros, sem força ou direção. Não há jogo organizado, nem tramas urdidas para compensar essa deficiência. A situação se torna mais exasperante pois, do outro lado, o Paissandu ostenta como principal virtude justamente a força do entrosamento. É um time que traduz as ideias de seu comandante, Mazola Junior. Joga fechado, defende-se muito e sai com rapidez. Não cria tantas oportunidades reais de gol, mas é extremamente objetivo quando elas aparecem.
O clássico servirá, como sempre, para desnudar esses vícios e méritos. Vencerá quem melhor conviver com seus anjos e demônios internos.
———————————————————
Campeões brasileiros destoam na Libertadores
A primeira fase da Taça Libertadores está revelando uma irônica realidade, inimaginável há quatro meses. Cruzeiro, campeão brasileiro, e Flamengo, campeão da Copa do Brasil, em tese os dois melhores representantes brasileiros na competição, estão sob risco sério de eliminação. Erros táticos pontuais em jogos caseiros, agravados pela vertical queda de rendimento de jogadores importantes nas duas equipes. O certo é que, mais cedo do que se podia supor, as torcidas que mais festejaram no ano passado estão abandonando a lua-de-mel com seus times.
Coisas do Brasil.
———————————————————
Bola na Torre
Com Giuseppe Tommaso e Valmir Rodrigues, mais um convidado especial, estarei logo mais na RBATV debatendo todos os detalhes do clássico no Bola na Torre. Começa por volta de 00h15, depois do Pânico na Band.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 23)