Bate-papo exclusivo com Charles Guerreiro

Remo Edson Cimento prep goleiros e Tec Charles-Mario Quadros

Por Cláudio Santos

Revelado na escolinha de futebol do Paissandu, Charles Guerreiro fez carreira expressiva de jogador de futebol, passando por Flamengo e outros clubes, chegando à Seleção Brasileira. Depois disso, assumiu a condição de técnico de futebol. Treinou clubes como o Remo em 2005, Ananindeua em 2006, Remo em 2007, Cardoso Moreira em 2008, Paysandu em 2010, São Raimundo e Independente em 2011, Tuna Luso e São Raimundo em 2012, Paragominas em 2013 e o Remo de maio de 2013 até Março de 2014. Foi campeão paraense com o Remo, em 2007, campeão com o Paysandu, em 2010 e campeão da taça Estado do Pará (2º turno), em 2013.

Na entrevista abaixo, Charles fala francamente sobre sua experiência como técnico e dá detalhes sobre sua passagem recente pelo Remo, sem poupar os dirigentes que, segundo ele, tiveram uma atitude antiética por ocasião de seu desligamento.

Confira:

1- O que faltou pra você dar certo no Remo? 

CG: Mais certo do que eu dei?! Depois de anos sem título, semifinal da Copa Verde, campeão do primeiro turno e 90% encaminhado para a Série D.

2- Você, quando chegou ao Remo, foi montando sua comissão técnica, diferente de outras, em outros clubes que você trabalhou. Até hoje você não tem uma comissão técnica definida (auxiliar, preparador de goleiros, preparador físico etc.) Por quê? 

CG: Tenho sim. Mas a rejeição pelos profissionais locais é muito grande.

3- O que falta, na sua visão, para um técnico local decolar na carreira, iniciando um trabalho e montando, ele mesmo, seu elenco e ter sucesso? 

CG: O apoio da Diretoria.

4- Você aceita interferência de dirigentes no seu trabalho? 

GC: Não. Em hipótese alguma.

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5- Sempre falo que você só pode atestar a capacidade de um técnico, se ele é bom ou ruim, quando ele inicia um trabalho (com condições de trabalhar), monta seu elenco e alcança ou não o(s) seu(s) objetivo(s). Você pensa assim? 

GC: Com certeza. E mais uma vez isso não aconteceu.

6- Você se considera um bom técnico?  

GC: Sim. Porque eu sempre alcancei os objetivos que me foram propostos.

7- Torcedor, e grande parte da mídia, reclamava porque o Remo, com um timaço, não tinha padrão de jogo. Você concorda com isso? 

GC: Não. Conceito de padrão de jogo é resultado positivo e isso nós obtivemos.

8- Em uma entrevista, você disse que Athos e Eduardo Ramos não poderiam jogar juntos. Por quê? 

GC: Isso foi dito no início do campeonato, porque o Athos não estava adaptado ao futebol paraense. Quando os dois atuaram juntos classificamos o Remo contra o Nacional de Manaus.

9- Em sua passagem pelo Remo a base foi pouco aproveitada. Por quê? 

GC: Como não?! Sempre revelo jogadores da base. Jonathan, Alex Ruan, Warian (Ameixa), Guilherme e Rodrigo. Jogadores que escolhi para atuar nos momentos oportunos.

10- Em uma entrevista, você disse que tinha dirigente ligando pra contratar técnico na sua frente. Quem era esse dirigente? 

GC: Como não tenho como provar, prefiro não comentar.

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11- Gostaria que você falasse sobre o comportamento profissional que esses dirigentes tiveram com você: Zeca Pirão, Thiago Passos e Emerson Dias. 

GC: Com exceção do Zeca Pirão, tive um tratamento humilhante, sem respeito ético, moral e humano, sem profissionalismo e hostil. Prova disso foi a maneira como fui demitido. Estava pronto para dar treino, me afastaram do grupo, comunicaram sobre minha demissão primeiro aos atletas. É lamentável que o presidente do Clube do Remo esteja cercado de dirigentes que não amam o clube.

12- Você perdeu seu auxiliar e homem de confiança, Nildo. Naquele momento não era hora de entregar o seu lugar, também? 

GC: Em clubes grandes não se demite o auxiliar técnico, se demite o técnico e a comissão sai junto. A saída do Nildo foi decisão da Diretoria para colocar um auxiliar deles e isso é inaceitável.

13- Você foi para um jogo sem nenhum auxiliar, mas não deixou (as imagens da TV mostraram isso claramente) de falar ao celular, durante todos os jogos. Com quem você falava ao celular? 

GC: Sempre usei o celular durante os jogos. Não começou após a saída do Nildo. E sobre a pessoa com quem falo é alguém de minha confiança.

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14- Treinos táticos ou coletivos? Por quê? 

GC: Gosto dos dois trabalhos. Mas executo de acordo com a necessidade do jogo. Treino tático se for para posicionar e corrigir o time ou o coletivo se quiser criar situações para o jogo.

15- Você conquistou muita coisa como jogador, chegando a jogar no clube de maior torcida do Brasil, o Flamengo, e depois conquistou o sonho de todo jogador de futebol, chegando à Seleção Brasileira. Assim foi com Carlos Alberto, Zé Teodoro. Você concorda que ser jogador e ser técnico de futebol são duas coisas bem diferentes? 

GC: Com certeza. O treinador lidera e o jogador é liderado. Como jogador cheguei na Seleçao graças ao meu talento e a minha dedicação, e o treinador depende dos atletas.

16- Porque você disse que sabia, desde a sua chegada, que não era bem-vindo ao Baenão? 

GC: Porque a torcida do Remo sempre me rotulou como torcedor do Paysandu, clube onde comecei minha carreira. Inclusive integrantes de uma torcida, conhecida como Fenômeno Azul, me ameaçaram através de uma carta, antes da final do jogo contra o Paragominas, ano passado onde o Remo não conseguiu a vaga para a Série D. E também porque um grupo de dirigentes não queria minha ida pro clube, mas fui com o presidente.

17- Uma coisa que me deixa intrigado é que o presidente Zeca Pirão está em todos os jogos do Remo, quer aqui, quer lá fora. Nunca tinha visto isso de um presidente. O presidente se metia na escalação do time? 

GC: Esse presidente é um apaixonado pelo Clube do Remo. Na tentativa de ajudar, todo presidente opina, mas a decisão final é sempre minha.

18- Você já pensou na hipótese de “meter a mão no bolso” e passar uma série B ou A, do início ao fim, fazendo um estágio com um bom técnico do futebol brasileiro? 

GC: Não preciso meter a mão no bolso, porque sempre sou convidado a custo zero. E ainda não fiz por falta de oportunidade de trabalho. Mas o momento é agora.

19- Porque o zagueiro Henrique não foi aproveitado por você e, em contrapartida, Rubran foi muito aproveitado? Qual era o problema do Henrique no Remo? 

GC: Porque o Rubran é de minha confiança, um dos poucos que eu indiquei.

20- O que falta para o futebol paraense crescer a nível nacional e voltar aos velhos bons tempos? 

GC: Seriedade e liberdade para os treinadores porque essa é uma função do técnico e não da diretoria. A verdade é que o futebol é uma grande mentira (como diria Paulo Angioni, supervisor de times como Flamengo e Vasco) e todos são coadjuvantes. Porque para entender de futebol e opinar, tem que acompanhar o dia a dia.

Charles, a pedido de muitos amigos aqui do blog, é o primeiro técnico local focalizado em nosso Bate-Papo. Acabou de sair do Remo numa situação conturbada e, penso eu, deveríamos saber um pouco mais sobre essa sua saída do Leão, daí a importância e atualidade da entrevista. Agradecemos desde já ao advogado André Cavalcante, que fez os contatos com o treinador, inicialmente através de sua filha, Carolina Ayres. Solícito e atencioso, Charles não fugiu aos questionamentos que lhe foram feitos. Por isso, digo que é sempre bom separar o profissional da pessoa, e isso eu sei fazer muito bem. Espero que os amigos tenham gostado. 

Próxima entrevista: teremos um dirigente polêmico, ligado ao Paysandu e que vai dar muito o que falar. Será postada logo no início de abril. 

(Fotos: MÁRIO QUADROS/Arquivo Bola) 

42 comentários em “Bate-papo exclusivo com Charles Guerreiro

  1. Parabéns Cláudio Santos, muito bons os questionamentos e também as respostas, as quais solidificam o entendimento que tenho a respeito do comportamento das diretorias dos Clubes do Norte, eles pensam que profissionalizar o futebol é tão somente contratar profissionais graduados, academicamente, para assumir determinadas funções de liderança e comando nos times de futebol, aí a vaca vai continuar indo pro brejo; fora dessa, vou colocar o Vandick Lima, duramente criticado, por mim inclusive, na condução do Bicolor Amazônico, no ano 2013, ele, porém, percebeu isso e mudou de atitude, essa é a chave, é a deixa como se diz, mudar de atitude, isso é que faz a diferença.
    Porém, mesmo assim, ele ainda está em observação, o estágio é lento, pois mudança é processo e não acontece por decreto, tampouco no grito, muito menos com agressões e humilhações tais quais essas, que o CG reportou.
    O CG, sempre foi um profissional competente e de sucesso e um grande caráter, quem acompanha a carreira dele desde quando surgiu nas bases do Grande Bicolor Celeste Amazônico, sabe disso, falta a ele,(meu entendimento) apenas, um pouco mais de demonstração de firmeza, notem que falo de demonstração de firmeza, não da falta dela, na condução dos plantéis que comanda, mesmo à frente de pseudos diretores; a esse propósito, gostaria de ver um profissional com os conhecimentos técnicos e a postura do CG, associado à ousadia, do Renato Gaúcho.

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  2. O futebol dá mesmo muitas voltas e em cada uma delas a curiosidade é imensa. Afirmo isso porque no tempo do penta azulino a diretoria bicolor teve de tirar o jesus do time azulino e trazer para o Paysandu a fim de ganhar novamente um título depois de 5 anos porque o jesus estava borrado de sorte e não perdia uma para o Paysandu. Agora porém, tivemos de torcer para tirarem o CG guerreiro do time azulino e colocarem o jesus Agnaldo lá porque a vaga na decisão da Copa verde seria nossa tranquilamente.

    kakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakakak
    foi o que ocorreu

    kakakakakakakakakakakakakakakakakaka

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  3. Parabéns Claudio pela entrevista. Espero que o CG siga o conselho e realize um estagio com um grande treinador para aperfeiçoar seus fundamentos como treinador.

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  4. Sinceramente nem seu por onde começar pelas respostas…. Pistão tático, jogs revelados, até a escolha do rubran ao invés do Henrique…. Meu deus…. Nem sei como ainda ganhamos o primeiro turno

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  5. A entrevista com Charles é reveladora. Sendo a pergunta do Rubran muito interessante, pois revela o quanto a confiança (e a desconfiança também) pesam na escalação de um jogador.

    Espero que Charles (grande jogador) e Lecheva (jogador muito disciplinado taticamente), façam estágios em grandes clubes da série A, pois as conquistas locais indicam que são promissores, mas verdes para o cargo em grandes clubes.

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  6. Putz…Charles é muito zerado!
    Antes eu achava que isso, por si só, era irrelevante. Atualmente, vejo que foi prejudicial ao leão.
    O Remo contratou jogadores em declínio TÉCNICO (Athos, Ramos, Leandrão, Zé Soares…À exceção do primeiro, nenhum vinha bem em seu clube anterior), que foi acentuado pela falta de padrão TÁTICO.

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  7. O CG pipocou sobre o homem do celular kkkkk, mas reconheceu a contra-gosto que o ZP mandava no time. Boa entrevista, Claudio e o entrevistado foi mais objetivo do que o Benazzi.

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  8. Agora Claudio, você é rodado e bem informado no meio do futebol, mesmo não sendo jornalista, e não tem papas na língua se expondo no TT e redes sociais em geral. Pergunto: o CG já lhe conhecia ou sabia da sua opinião sobre ele como técnico? Te recebeu na boa pra entrevista? Ou você se fez de clone pra conseguir o bate-papo? Rss

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  9. – Verdade amigo Mauricio.. Fugiu um pouco.. mas nas entrevistas, a partir do mês de maio, vu mudar um pouco o jeito de entrevistar, até para que eu possa forçar mais na entrevista… Penso que vai ficar melhor

    – Quanto a ele me conhecer, nem toquei nesse assunto, amigo.. rs Charles e sua filha me trataram muito bem, além do Dr. André Cavalcante, que fez a “ponte”..

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  10. O amigo Lucilo encomendou a camisa, com o rival bem na foto; campeão do primeiro turno do Parazão, classificado para a semi-final da Copa Verde, e agora.. Depois de 40 dias, caindo, caindo, caindo pelas tabelas ! Fora da Copa Verde, fora da Copa do Brasil, e praticamente fora do segundo turno do Parazão..

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  11. Apesar das criticas pela demora, vou usa-la com a mesma emoção e orgulho de sempre. Afinal foi eleita entre às 10 mais lindas do planeta. Além do mais tenho comemoração à vista, o título Paraense. Anotem! como diz o amigo Cláudio. kkkkk

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  12. Amigo Cláudio, vou te sugerir uma entrevista caso seja possível, com o técnico Aderbal Lana. Pela sua sinceridade e polêmica, acho que daria uma bela entrevista. Eu particularmente gosto do estilo dele.

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  13. Esse Maurício…”máquina do Pirão”,kkkkkk.
    Mais,sem papo de mais bonita do planeta em site de votação às escuras, nós usamos as camisas dos nossos times é porque somos paraenses em primeiro lugar e temos orgulho dos nosso times sejam eles Paysandú ou Remo, estando com o sem série, nós somos Pará!

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  14. Por sinal, Cláudio, uma questão para você…

    Mudaste um pouco de opinião sobre Charles? Como você vê ele como técnico, em termos de futuro?

    Parabéns! O próximo é o LOP?

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  15. Cláudio, esse próximo entrevistado seria o Miguel Pinho ? Caso a resposta seja positiva, todos que frequentam o blog, sabem quem intermediou e fez os contatos para viabilizar a entrevista.

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  16. Égua Gil! Vai rolar entrevista psicografada? Rsss
    Mas quem garante que o MP falou mesmo o que vai ser publicado? Do jeito que o Chico Xavier odeia ele…

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  17. Boa entrevista, mais não podemos deixar de observar a realidade: – o Remo não tinha tática; não tinha jogadas ensaiadas, não aproveitava jogadores do sub 20, não tinha um preparo físico satisfatório e o técnico sempre se equivocava na hora de mexer. O Chales apesar de boa praça é técnico de time pequeno…………………………..

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  18. Amigo, somente agora estou pondo em dias os assuntos do futebol, mas a entrevista com CG revelou + 1 vez q n/clubes são primariamente dirigidos, aliás diria q em boa parte dos clubes nacionais, inclusive nos grandes, olhe apenas quatro exemplos recentes: São Paulo, os Atléticos (mineiro e paranaense) e o Flamengo. Entretanto, técnicos continuam a cometer erros passados, qdo., começam a dar certos em clubes médios, trocam c/ mta. facilidade os cargos atuais por promessas de clubes maiores, o q indica ausência de critérios e planejamento meticuloso no futuro e mta pressa em faturar rapidamente altas somas. Alguns pagam alto preço por esse tipo comportamental.
    A entrevista foi oportuna e diria que alcançou os objetivos, dando oportunidade aos técnicos de casa se manifestarem e deixarem expresso seus depoimentos.
    Abçs.

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