Por Leo Germani
O Marco Civil da Internet no Brasil nasceu de um processo de consulta pública muito rico e democrático como resposta a interesses de se criminalizar e restringir atividades na internet. Ele parte do princípio de que, antes de se criar legislação específica para crimes digitais, é preciso ter uma base legal para garantir direitos do cidadão e a liberdade da rede. Neste sentido ele foi vitorioso, as legislações de criminalização não saíram e, desde então, a votação do Marco Civil vem caminhando vagarosamente pelos corredores burocráticos do Congresso.
Agora ele está prestes a ser votado. Porém, por pressões econômicas, sofreu alterações em seu texto – a internet continua sob ataque. A principal diz respeito a “neutralidade da rede”. E como começaram a circular campanhas na internet em defesa deste princípio, achei por bem fazer um post curto e explicativo para quem não é da área poder entender melhor, perceber a gravidade do tema, e se posicionar.
É um princípio que defende que todas as informações que trafegam na internet devem ser tratadas da mesma forma, em especial pelas empresas que fornecem infra-estrutura para a rede – os provedores de internet (aqui no Brasil, empresas como NET, Claro, Vivo, etc.). Na prática, significa que esses provedores não podem fazer distinção entre os pacotes de dados trocados entre os internautas, privilegiando certo tipos de pacotes sobre outros, ou certas fontes de conteúdo sobre outras.
Por exemplo, um provedor de internet não pode diferenciar a sua experiência de uso na internet deixando o acesso ao facebook privilegiado e rápido, enquanto limita a velocidade para assistir vídeos. Não pode também limitar a banda para serviços de Voz sobre IP ou downloads via BitTorrent. Não pode sequer deixar o acesso ao site Amais rápido do que ao site B.
Este princípio é um dos fundamentos da internet: a possibilidade de pessoas trocarem informações diretamente umas com as outras diretamente, sem interferências de intermediários.
Nesse cenário, os provedores de internet ganharão um universo enorme de “mercados” para explorar. Eles poderão, por exemplo, cobrar preços diferenciados dependendo do uso que você fizer da rede. Um plano para poder ter acesso a Voz sobre IP, outro para vídeos online, e assim por diante.
É como se o nosso fornecedor de energia elétrica, de repente, resolvesse colocar limitações sobre quais tipos de aparelho podemos ligar na tomada e cobrar preços diferenciados por isso. Este vídeo bem humorado de 3 minutos ilustra bem o que nos espera:
A verdade é que, por não termos uma legislação muito forte, os provedores de internet já filtram o acesso dos internautas, deixando, por exemplo, o Youtube mais lento em horários de pico ou limitando a velocidade para downloads. Há também agora planos de celular que oferencem acesso a uma determinada rede social gratuitamente, ou seja, dão acesso a internet, mas não a toda a internet!
As razões do problema
Para além do simples problema que teremos como “consumidores”, onde as empresas terão um campo infinito para nos explorar ainda mais, temos que pensar a partir de um ponto de vista do que queremos para a futuro da internet (e consequentemente para o nosso futuro, já que ele será conectado!).
A grande revolução da internet é permitir a comunicação irrestrita entre as pessoas. É dar voz e poder de mobilização para grupos historicamente excluídos e sem recursos. Este meu pequeno blog tem virtualmente o mesmo poder de alcance que o site da Rede Globo. Isso é revolucionário e aponta para uma nova era na comunicação – e na organização social – que já começou. A primavera árabe é apenas um exemplo disso.
Com o fim da neutralidade da rede a internet passa a ser irrestritamente controlada por pequenos grupos empresariais. Todo o conteúdo da rede que hoje é produzido e acessível no mundo todo poderá ser filtrado e o tráfego de visitas direcionado para grandes provedores de conteúdo. “No plano básico você tem acesso irrestrito aos ‘principais jornais’ do mundo, se quiser acesso a blogs internacionais é preciso pegar outro plano”.
Ou seja, como bem coloca Sergio Amadeu, transformariam a internet numa grande rede de TV a Cabo, com um número limitado de canais para você escolher. E se você quiser que o seu conteúdo seja privilegiado e acessado pelo mundo todo, deve ficar amigo dos donos da infra-estrutura – os provedores. Essa é exatamente a lógica excludente do modelo de comunicação do século XX, que todos pensávamos já estar superado com a chegada da internet.
Outro ponto importantíssimo a se levantar é a respeito de novas tecnologias e protocolos. Na internet existem vários tipos de protocolos distintos que foram sendo criados ao longo do tempo: para páginas web, para emails, para mensagens instantâneas, para troca de arquivos p2p, etc. O que aconteceria, em um cenário sem neutralidade da rede, com novos protocolos que ainda não existem? Teriam que ter participação ou autorização dos provedores. A inovação, principal motor da internet e da sociedade em rede, ficaria perigosamente restringida.
Não é uma questão técnica
É preciso ter claro que não se trata de uma discussão técnica – o argumento das teles é que falta banda, e é preciso restringir para melhorar o serviço. Mas o fato é que a motivação real é o lucro, e não outra. Além disso precisamos ter em vista o quadro mais amplo, onde há uma agenda de ataques a liberdade na internet em várias frentes, sugiro a leitura do meu post de 2012 “a internet está sob ataque e você está no meio do tiroteio“.
Barulho! Compartilhe esse problema com amigos. O deputado que defende os interesses das teles é o Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Encha o saco dele! Acesse http://salveainternet.meurio.org.br/ para mandar uma mensagem para todos os deputados. Acesse o site do marco civilpara ver o calendário de eventos e ações que vão acontecer esta semana.
Vamos pra frente ou vamos enterrar a internet?

Como desdos primordios e do tempo da ditadura,as classes privilegiadas tentam de todas as formas calar a voz do povo…Diga não a esse projeto desse politico corrupto.
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Como sempre, querem cercear a liberdade de opinião na rede
Não à censura, o verdadeiro nome disso
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Todos os dias são inventadas novas fórmulas e siglas, na tentativa de nos domar. O Marco Regulatório das Comunicações…o controle social da mídia… o marco civil da internet…não passam de eufemismos para esconder a arma mais poderosa dos regimes de exceção: a censura.
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Kkkkkkkk Vendo isso daqui dos EUA, realmente estamos muito atrasados, aqui Pago Tv internet de alta Velocidade 4G e não existe limite, uso um Roteador Wi Fi com 10 equipamentos conectados ao mesmo tempo, e a velocidade não muda. Te dizer! Facebook com acesso grátis parece piada, é como se os caras fossem os donos do site. Kkkkkkkkkk
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Aqui no Brasil é engraçado: defendemos a lesão do usuário em nome da “liberdade de expressão”, os interesses dos grandes conglomerados empresariais e de mídia em nome da não interferência do Estado em nichos da economia e neste caso em particular por se tratar de “controle e censura” do mesmo num meio onde campeia não a liberdade de informação, mas o vale-tudo conteudístico. Realmente somos um país atrasado amigo Jaime. Por aqui, reforma agrária é coisa de comunista, greve é motin de vagabundos e uma internet decente é censura governamental. Como diz o amigo Cláudio, “me tirem o tubo”!!!
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É bem razoável esclarecer que ao falar sobre a censura, falei da censura das teles que querem impor limites à internet, por isso o nome do post.
No caso do Marco Civil, penso ser importantíssimo para o país manter essa condição e também retirar o fator político do ato.
Ontem vi uma campanha no twitter contra o Marco Civil, é preciso separar as coisas, por mais que isso seja um programa do governo, é necessário entender que isso não vai ser importante para um partido apenas ou para o governo, é para a população inteira.
Tem gente metendo as mãos pelos pés e sendo contra só porque é o PT….
É importante abrir o olho, senão vão atochar mais uma vez em nome de partidarismos, como aconteceu com a CPMF
No melhor, é preciso informar-se sobre antes de emitir opinião
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