Sobre encontros e desencontros

Por Gerson Nogueira

O futebol é pródigo em mistérios, coincidências e descaminhos. Tudo alinhavado muitas vezes pelos dedos do acaso. É o que torna a modalidade particularmente encantadora, pouco previsível. O turno do Campeonato Paraense terminou domingo passado com o triunfo do Remo, treinado por Charles Guerreiro. Quando tudo indicava que seria o grande nome da semana, respaldado pela conquista, eis que quase foi apeado do cargo na última sexta-feira, em virtude do tropeço na Copa Verde contra o Nacional.

unnamed (68)Por essas ironias próprias do futebol, o técnico Mazola Junior, que saiu do Mangueirão lamentando a perda do turno, fechou a semana em situação muito mais tranquila, ganhando elogios e festa na Curuzu. É que no meio da semana o bom trabalho desenvolvido no Papão frutificou de maneira esplendorosa, com o massacre de 6 a 1 sobre o Princesa do Solimões, atual campeão amazonense. Com o resultado, o campeão paraense praticamente selou classificação à semifinal da Copa Verde, com a incrível marca de 17 gols marcados (3 sofridos) em três partidas.

Charles e Mazola são técnicos jovens (o primeiro tem 50 anos, o segundo chegou a 49 na sexta-feira), aplicados e em ascensão no ramo. Charles, que rodou o país como atleta, acumula sucessos no plano regional. Mazola começou como auxiliar de Marco Aurélio no Cruzeiro campeão de 2002/2003 e trabalhou em equipes do Nordeste e Centro-Oeste.
Estão naquele patamar de profissionais que pode ser considerado ideal para as condições dos gigantes do futebol paraense. Sem dinheiro suficiente para bancar treinadores badalados (e caros), Remo e Paissandu tendem a buscar profissionais em busca de afirmação, cujos salários sejam compatíveis com seus orçamentos. Na Curuzu, é voz corrente que a Série B teria desfecho menos traumático caso Mazola estivesse no comando da equipe.
Grande parte dos méritos por sua contratação deve ser atribuída ao gerente Sérgio Pappelin, que o conhece de longa data. Contribuiu também para sua opção de vir dirigir o Papão a vontade antiga de trabalhar no futebol nortista. Mazola esteve em Belém, com o Cruzeiro, na Copa dos Campeões, em 2002. Apesar da tristeza pela derrota na final para o Paissandu, nunca esqueceu o fervor manifestado pela torcida alviceleste.
Charles fez carreira como jogador, defendeu grandes clubes e chegou à Seleção Brasileira. Como técnico, cumpriu a trajetória dos profissionais regionais. Começou em equipes emergentes, consolidando a imagem de acertador de times. A fama de treinador bom e barato mais atrapalhou do que ajudou. Associado a situações de aperto, raramente foi lembrado para assumir elencos de qualidade.
Teve um bom momento no Paissandu, contando com jogadores de primeira linha, e no Remo atual. A experiência no Baenão tem sido turbulenta. Os reforços adquiridos pelo clube, porém, ainda não renderam o esperado e Charles novamente se vê na berlinda, pressionado para obter resultados. Já garantiu o primeiro turno tão almejado (coisa que o Remo não via há seis anos), mas as cobranças se intensificam ante as dificuldades na Copa Verde.
O próximo desafio, para ambos, será a definição da vaga à semifinal da competição interestadual. Mazola já está com um pé lá, mas Charles tem o desafio de superar o Nacional dentro de Manaus, na inauguração da Arena Amazônia. Independentemente do que ocorrer, uma certeza: os dois continuarão amigos; e uma dúvida pertinente: caso Charles estivesse no Papão e Mazola no Leão, ambos estariam desfrutando de situação parecida com que vivem hoje?
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O debate sobre os estaduais 
Em ano de Copa do Mundo, com calendário apertado, os campeonatos estaduais estão novamente sob ataque. Os argumentos contrários a essas competições se concentram no aspecto deficitário das fórmulas de disputa. É fato: nenhum Estado conseguiu realizar um campeonato atraente e rentável. Como os times em geral estão capengas e os jogos são modorrentos, o torcedor foge como o capeta da cruz.
O Parazão é exemplo acabado dessa realidade. Há anos que vive das graças da dupla Re-Pa. Quando os dois estão engrenados, o campeonato vale pelos confrontos entre ambos e algumas partidas mais equilibradas com times azarões. O formato não ajuda. São dois turnos com semifinais em ida e volta. Maçante e disputado em campos de terceira categoria, o torneio se arrasta.
Não por acaso, um dos piores públicos do ano foi registrado aqui. Foi no jogo Santa Cruz x Gavião, assistido por 238 testemunhas. É bem verdade que o cenário nacional aponta situações até mais constrangedoras, como os 25 pagantes de Cruzeiro x Esportivo no Gauchão, ou os 32 de Oeste x Ituano pelo Paulista ou os patéticos 9 torcedores presentes ao jogo Legião x Ceilandense pelo certame brasiliense.
É improvável que os campeonatos acabem, até porque existem razões culturais, históricas e politiqueiras a ampará-los, mas é certo que estão a merecer uma repaginação radical. Que tal começar por fórmulas mais simples (turno único, pontos corridos), com menos jogos e mais qualidade? O distinto público e o próprio futebol teriam muito a agradecer.
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Bola na Torre
No programa deste domingo de Carnaval, debate sobre os preparativos para a reabertura do Parazão e os jogos de Paissandu e Remo na Copa Verde. O convidado é Charles Guerreiro, técnico remista, campeão da Taça Cidade de Belém. Na RBATV, à 00h15, logo depois do Pânico na Band.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 02) 

36 comentários em “Sobre encontros e desencontros

  1. Olá amigos sobre o meu texto na Tribuna do Torcedor” que eu escrevi, acho que preciso esclarecer algumas coisas.

    1-O que eu quis dizer é que o campeonato ganhou um elemento novo no momento em que o remo depende dele para não ficar sem calendário, a torcida do paisandu torcendo para o remo ficar sem calendário e a do remo desesperada pelo titulo. Isso é um fato.

    2-Em nenhum momento afirmei que o paisandu faria corpo mole no segundo turno para prejudicar o remo, o que eu disse é que eu já havia lido e ouvido comentários sobre isso. Eu pessoalmente não acredito nessa possibilidade.

    3-Quando eu disse no final que a situação pode se inverter, eu não afirmei que vai acontecer. O que eu quis dizer é que tudo pode acontecer com nosso clubes. Um dia tínhamos dois times na principais divisão do Brasil, hoje só temos o águia e o paisandu na série C. Ou seja a situação pode melhorar ou pode piorar.

    4-Quase não comento no blog, acho que os comentários tem caído de qualidade, deixando o debate esportivo para cair na discussão boba. Minha intenção era apenas discutir a atual situação do nosso futebol. Só isso. Ainda acho que aqui é o melhor espaço de debate na internet sobre o nosso futebol.

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    1. Irretocáveis colocações, amigo e camarada de roquenrou Marcelo. No item 4, você expõe um dos flancos abertos destes tempos de mundo digital, no qual muitos procuram se sobrepor aos outros à base de xingamentos, insultos, leviandades e agressões verbais de toda ordem. Ainda acredito na evolução humana, por isso insisto em manter este espaço, mas muitas vezes já pensei em fechar o boteco virtual.

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  2. A ida do Charles ao programa será ótimo. Lá ele será ainda mais cobrado sobre a falta de jogadas ensaiadas, de entrosamento, de ligação entre meio campo e ataque, etc. Espero que com o tempo que ganhou para treinar, ele perceba a necessidade de mudanças. Athos, Cearense e Zé Soares devem entrar no time, até para tirar o marasmo de alguns.

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  3. Belém é um Oasis no futebol do norte.
    Os companheiros de Santarém, Paragominas, Marabá e Rio Branco até se esforçam, mas não é a mesma coisa.

    Remo e Paysandu deveriam se assanhar mais para os gramados nordestinos, essa que é a verdade. Lá, a galera realmente é fanática por futebol.

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  4. Aliás, o Remo e o Paysandu são muito parasitados. Pela FPF, por outras instituições…
    Tanto é verdade, que o Pará é o único estado que onde existe “venda” de vaga na série D. Nos outros, é de costume que existam uma ou duas desistências até algum time corajoso se aventurar.
    Aqui, é uma briga insana.

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  5. Marcelo, seu item 2 pode ate nao ser verdade…mas…rrsrrss…
    Gerson, parabens pela coluna hoje…beirou a perfeicao….e

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    1. Eu também não sou fã dos pontos corridos, amigo Valentim, mas neste caso específico – em face da necessidade de reduzir datas – seria a saída mais justa.

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  6. Gerson, com todo respeito a sua opinião, entendo que com pontos corridos o campeonato seria ainda mais chato, tal qual o chatissimo campeonato (pseudoeuropeu) brasileiro.

    Vale destacar que o problema de publico em competições nacionais é uma coisa que vai além da fórmula, o brasileirinho tem públicos pífios em diversos jogos.

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    1. Penso que, com pontos corridos, teríamos menos jogos, amigo Celira. O grande problema são as fórmulas mirabolantes, como essa mania de semifinais de turo em duas partidas.

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  7. Como eu planejaria nosso campeonato:
    Três grupos com 6 participantes cada.
    Grupo nordeste
    Grupo Sul e Sudeste
    Grupo Oeste

    Jogos de ida e volta
    Classificação para as finais…
    2 Grupo nordeste
    1 Grupo sudeste e sul
    1 Grupo Oeste

    Ida e volta as semi
    Ida e volta as finais e disputa de 3 colocado.

    Detalhe… Turno único…

    1 – Vagas para Copa Verde – Campeão e Vice do Nordeste, Disputa entre os campeões do eixo sudeste-sul com Oeste.
    2 – Vagas copa do Brasil… Campeao e Vice

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  8. Amigo Marcelo, não deixe de comentar neste espaço. Sei que algumas as vezes aparece anônimos que apenas agridem, mas não podemos nos deixar vencer por estes.

    Quanto ao sarro, quando não é ofensivo a A ou B, é válido e faz parte do esporte de chuteira, não custa lembrar que futebol só tem graça quando não é levado totalmente a sério.

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  9. Vou para minha tréplica rs…

    Com está formula improvisada que sugeri. Teriamos 14 jogos no maximo, ou seja, 14 datas.

    O campeonato paraense, atualmente, tem que dispor no mínimo de 22 datas e no maximo de 24 datas.

    Com uma competição de pontos corridos, considerando os oito participantes, que acho pouco times para pontos corridos – creio que iriamos ter turno e returno, sendo campeão o de maior pontuação na soma dos turnos – teríamos 14 datas.

    Se considerarmos a emoção, creio que a primeira opção seria mais interessante do que uma competição por pontos corridos – que poderia ter uma definição muito antecipada.

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  10. Algumas coisas interessantes dessa proposta improvisada e sonhadora.

    1 – Teriamos mais clubes de outras micro-regiões, potencializando o futebol na região (na teoria). Vale destacar que cada jogo iria valer muito, pois perder pontos poderia resultar em eliminação precoce.
    2 – A Primeira fase seria decisiva, pois valeria vaga para Copa Verde,
    3 – A fase de mata-mata valeria entrada na Copa do Brasil.
    4 – A fase de mata-mata valerá vaga na série D.
    5 – Teriamos, no máximo, 4 RexPa decisivo (no mínimo 2).

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  11. Será que o nosso futebol esta tão atrás do futebol amazonense?Enquanto o Remo só empatou com o nacional,o Fast clube,fez 4 hoje pelo campeonato local,uma vergonha se fomos comparar a folha salarial do Remo com a do Fast

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  12. Gerson, sou marco sousa que morava em macapa e agora morando em açailandia MA e escutando a Radio Clube na sky desde do ailton as 6 da manha, esporte das 13, das 18 um abraco a todos

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  13. Parabens a todos do blog pelo nível dos debates e das propostas. Mais uma vez fica provado que coisas desse tipo deveriam ser objeto de debates mais amplos envolvendo o torcedor e não ser decidido entre quatro paredes por quem só pensa no público na hora de meter a mão no seu bolso.

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  14. Sou contra os estaduais. Já tiveram espaço, agora não passam de peso morto. Primeiro porque apenas os chamados grandes ganham e segundo porque não levam praticamente a lugar nenhum. Os melhores classificados vão à Copa do Brasil, competição que apenas os favoritos ganham, com raras exceções. Será que alguém ainda tem esperança do CR ou o PSC ganhar essa competição?
    O que eu apoio é um campeonato nacional divido em regiões. Os melhores iriam para um mata-mata nacional. Só assim, na minha opinião, seria quebrado o monopólio das 12 equipes que mandam e desmandam no futebol nacional.

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  15. Celira, parabéns pela fórmula. Confesso que eu já havia rabiscado uma igual, só que contrário da tua, a minha era voltada para uma provável segunda divisão. Eu acrescentaria uma coisa, ao invés de quatro semifinalistas, eu sugiro oito, dois de cada grupo e mais dois por índice técnico.

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  16. A nível nacional, 5 divisões com 20 clubes em cada uma.Turno e returno, pontos corridos, exceto a última que teria 32 começando com 4 grupos de 8 (28 representantes estaduais + 4 rebaixados).
    Os estaduais serviriam só para a indicação dos representantes estaduais para 5ª divisão nacional, copas regionais (Verde, Nordeste etc) e copa do Brasil.
    Com isso a tendência é que alguns campeonatos estaduais viriam a ser extintos, ou ao menos sem a presença dos seus principais clubes. Seria o caso de São Paulo e Rio, a julgar que seus clubes grandes já estariam envolvidos em Libertadores, Série A e B, CB etc.
    Estaduais como o Paraense, somente por força das rivalidades, tenderiam a continuar existindo.

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  17. Amigo Anônimo, a solução para o Pará passa pela independência do estado, tornando-se, consequentemente, um país. Mas, nos dias de hoje, um movimento separatista soaria um absurdo… Ainda mais se considerarmos o Pará, um dos estados mais ricos do Brasil, contribuindo significativamente com a balança comercial.. Nunca deixariam isso acontecer.

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  18. A emoção, amigo C. Lira, fica para as demais competições em que Remo e Paysandú estiverem competindo.
    Proponho essa fórmula em função do desgaste tão propalado que os campeonatos estaduais vem sofrendo, chegando ao ponto de ser sugerida sua extinção.
    Diante disso, um campeonato enxuto, de fórmula simples porém justa.

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  19. Amigo Valentim.

    Creio que um campeonato de pontos corridos precisaria de mais do que oito clubes.

    A fórmula improvisada que proponho, abre margens para ampliação de clubes interioranos, sem aumentar a quantidade de datas (teria a mesma quantidade das datas que uma competição de pontos corridos – 14).

    Tem, de fato, alguns aspectos questionáveis como o fraco nível técnico deos grupos. Mas com o tempo e apoio poderíamos melhorar o nível técnico da competição.

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