Crônica da queda anunciada

POR GERSON NOGUEIRA

Marquinhos Santos caiu. O quadro estava desenhado desde que o PSC perdeu o Re-Pa e quatro dias depois foi eliminado da Copa do Brasil. O técnico ficou por um fio, mesmo tendo disputado somente cinco jogos na temporada. Não que sua situação fosse propriamente sólida antes disso. A permanência do treinador no comando após a campanha ziguezagueante na Série B 2017 chegou a causar surpresa.

Quando foi anunciado como o técnico para 2018, a diretoria justificou dizendo – com razão – que Marquinhos não havia tido a chance de começar um trabalho no clube. Havia desembarcado na Curuzu na 10ª rodada da Série B, substituindo a Marcelo Chamusca e pegando o bonde andando.

A condução do time montado por Chamusca não foi das melhores. O Papão sofreu um bocado para escapar da queda, só conseguindo respirar nas rodadas finais do campeonato. A rigor, Marquinhos utilizou um esquema sempre conservador, acumulando um inédito retrospecto de derrotas dentro de casa. Levava sufoco como visitante, mas fechava-se e com isso arrancava alguns bons resultados.

coluna do gerson - 13-02-2017

Para o torcedor, porém, a campanha foi frustrante. Acostumado a apoiar o time, na Série B 2017 não teve motivos para festejar, pois o Papão não se fazia respeitar como mandante. Acompanhava os jogos pela TV, sofrendo com a postura medrosa da equipe fora de casa.

Um aspecto do estilo pessoal do técnico sempre gerou muita crítica: a capacidade de ler um jogo de maneira inteiramente oposta ao que ocorria em campo. Viraram peças folclóricas suas entrevistas pós-jogo nas quais desfilava mil e uma razões para um resultado ruim.

Atribuía sempre os problemas do time às condições dos campos, ao mau tempo, à falta de tempo para treinamentos – como se os demais times não tivessem as mesmas dificuldades. Ao empatar com o modesto Paragominas, na Arena Verde, teve a coragem de dizer que o time iniciava ali a reabilitação depois do vexame diante do Novo Hamburgo.

Marquinhos se perdia pelas palavras. Na sexta-feira, após empate aos trancos e barrancos com o Interporto, em Porto Nacional (TO), o treinador analisou a atuação, mostrando-se satisfeito porque o time havia sido “agressivo do primeiro ao último minuto”. Na verdade, todo mundo viu que o PSC só atacou nos 10 minutos finais.

Para coroar a análise, referindo-se às cobranças pela queda na Copa do Brasil, comparou-se a ninguém menos que Tite. Segundo ele, o técnico da Seleção jamais teria feito carreira de sucesso se os dirigentes tivessem cedido às pressões quando o Corinthians foi eliminado pelo Tolima, na Libertadores de 2011. Um exemplo forçado e fora de lugar.

O descanso excessivo concedido ao elenco no Carnaval foi a gota d’água para a demissão. A diretoria não engoliu tamanha folga em meio ao cenário de indefinição no Parazão, onde o PSC caiu para a 2ª posição em seu grupo e terá duro compromisso em Parauapebas na próxima rodada.

No fim das contas, a incrível e inédita pré-temporada que avançou campeonato adentro – uma das mais anedóticas ideias do treinador – sobreviverá a Marquinhos, deixando o Papão ainda sem um time para chamar de seu, embora tenha elenco numeroso e (em tese) qualificado.

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Dado e Mazola cotados, mas clube analisa outros nomes

É provável que, quando esta coluna estiver sendo lida, a diretoria do PSC já tenha contratado um novo técnico. As sondagens começaram ainda na semana passada, pois a decisão de afastar Marquinhos Santos vinha sendo amadurecida desde o jogo contra o Novo Hamburgo.

A busca pelo substituto inclui a análise de nomes já conhecidos e que conhecem o clube. Casos de Dado Cavalcanti, Mazola Jr. e Givanildo Oliveira, com chances maiores para o segundo, embora persistam resistências ao estilo autoritário.

A prospecção também passa por nomes que nunca dirigiram o Papão: Lisca, Argel Fucs, Geninho, Sérgio Soares e Marcelo Cabo (ex-Atlético Goianiense) são mencionados. Argel, Geninho, Cabo e Lisca estão sem clube, mas a faixa salarial (acima de R$ 100 mil) pode emperrar as negociações.

Segundo fonte ligada à diretoria, o nome mais cotado é o de Dado Cavalcanti, mas Mazola, velho conhecido da casa e com boa passagem pelo clube, também está na fita. O certo é que, qualquer que seja o escolhido, terá o desafio de estruturar um time às pressas, visando corrigir a rota no Parazão e encaminhar a busca pelo bi da Copa Verde.

(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 13) 

Carmen Lúcia e Fux se ajoelham aos pés da Globo

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Por Alex Solnik, no Brasil247

Aos pés da Santa Cruz/ você se ajoelhou/ e em nome de Jesus/ um grande amor você jurou” diz a letra de um velho samba-canção na voz de Orlando Silva.

Os últimos acontecimentos indicam que Cármen Lúcia, presidente do STF e Luiz Fux, presidente do TSE se ajoelharam aos pés da Globo e lhe fazem juras de amor eterno.

Estão fundamentando suas mais recentes deliberações não nas leis em vigor, não na lei máxima, mas nos desejos da Rede Globo, que passam longe de qualquer arcabouço legal.

Aproveitando-se do vazio de poder criado por ela própria ao expor o escândalo das fitas de Joesley, a Globo tenta assumir abertamente o comando das eleições. E o comando do país, o que só é possível com um presidente minúsculo como Temer.

Houve quem entendesse que quem tomou o poder depois do golpe foi Temer; outros, que foi Eduardo Cunha; mas está ficando na cara que quem tomou o poder de assalto foi a Globo.

Sua principal arma não é a sua opinião, o que seria legítimo, mas a intimidação mais explícita, como estamos vendo agora acontecer com a presidente do STF e o presidente do TSE.

Isso ficou muito claro quando, em editorial do dia 30 de janeiro deste ano “O Globo” ameaçou retaliar a presidente Cármen Lúcia e também o STF caso ela colocasse em votação a questão da prisão em segunda instância, cujo placar poderá ser favorável a Lula.

Cabe a ela, só a ela marcar o julgamento ou não, mas a Globo vetou e ela aceitou o “cala boca” sem reclamar.

Em seguida, ao assumir a presidência do TSE, a primeira coisa que Luiz Fux fez foi dizer ao Globo que a candidatura Lula é “irregistrável”, criando uma figura inexistente na Lei da Ficha Limpa e na língua portuguesa.

E foi em frente, alardeando estar disposto a mexer na lei a toque de caixa só para impedir o registro de Lula, num flagrante casuísmo e desrespeito à tão propalada máxima de que “a lei é para todos”.

Além disso, quer mudar a lei da ficha limpa em pleno ano eleitoral, algo muito parecido com um juiz de futebol mudar a regra do impedimento no meio do jogo.

Indiferente ao que determinam as leis em vigor, que deveria ser a primeira a cumprir por ser uma concessão estatal, a Globo pressiona ambos explicitamente para que (1) Lula seja preso antes das eleições e (2) Lula fique fora das eleições. E eles obedecem docemente.

A Globo derrubou Dilma, quer derrubar Temer a qualquer momento e Lula antes que seja tarde demais.

Nas próximas eleições o candidato da Globo a presidente é a própria Globo.

Seja quem for o vitorioso, o que ela quer é continuar no poder para impor a agenda dos seus patrocinadores, que são as grandes multinacionais e cujos interesses, é claro, são opostos aos dos brasileiros.

Ninguém pode ser mais popular que a Globo, para que ela continue manipulando as classes C e D com suas novelas, futebol e carnaval.

Por isso a ordem é destruir Lula.

Marquinhos Santos não é mais técnico do Papão

A diretoria do Paissandu comunicou na tarde desta segunda-feira (12) a dispensa do técnico Marquinhos Santos, após “uma série de avaliações” sobre o trabalho da comissão técnica. Abaixo, a nota oficial do clube:

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Com base em uma série de avaliações, a Diretoria do Paysandu Sport Club decidiu, no fim da manhã desta segunda-feira (12), fazer algumas mudanças na comissão técnica da sua equipe de futebol profissional. A partir de hoje, o treinador Marquinhos Santos e seu auxiliar Edison Borges não fazem mais parte dos projetos traçados pelo Papão para esta temporada.

O clube agradece aos profissionais pelo trabalho, empenho e dedicação total em prol da defesa da camisa bicolor, que sempre foi honrada por ambos durante o período de aproximadamente oito meses em que estiveram no Estádio da Curuzu. Também vale lembrar e reconhecer todos os esforços feitos pelo técnico e seu auxiliar para garantir a permanência do time na Série B do ano passado.

A Diretoria do Paysandu Sport Club já começou a trabalhar em busca de um novo treinador e de um auxiliar-técnico, que devem ser contratados e anunciados muito em breve por meio do site oficial bicolor.

A reapresentação da equipe de futebol profissional segue marcada para esta terça-feira (13), às 8h30, no Estádio da Curuzu. Os atletas vão ser recebidos por Aílton Costa, auxiliar-técnico do clube, e pelos demais integrantes da comissão técnica. 

(Texto: Assessoria de Comunicação) 

“A gente precisa é construir um país que esteja à altura dessa festa”

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O comediante Gregório Duvivier escreveu uma reflexão sobre o Carnaval, sua filha recém-nascida e a situação política e social do Brasil. O texto foi publicado originalmente na Folha de S.Paulo.

Neste ano foi diferente. A melhor parte aconteceu em janeiro, dentro de uma sala de parto, em Laranjeiras — sem ajuda de nenhum psicotrópico. Ali, segurando em minhas mãos três quilos e seiscentos de filha, pensei algo que eu nunca tinha pensado antes: isso aqui é melhor que o Carnaval.

“Mas nem pensar”, respondia aos amigos que perguntavam se a gente conseguiria “fugir pros blocos”, ou quem sabe até “trazer o bebê”. Não levo nem celular pra bloco, vou levar filha? Não encosto um dedo nela sem antes me besuntar inteiro de álcool gel, não há possibilidade de esfregar essa moleirinha cheirosa num tórax anônimo e fedido. 

(…)

Debruçado na janela, me flagrei xingando os foliões que confundiam o canteiro em frente ao meu prédio com um banheiro químico. Qual o sentido disso tudo? Essa euforia sem sentido num país miserável? Vão cuidar de seus filhos, seus desnaturados. Por isso é que esse país não vai pra frente.

Até que, no sábado de manhã, tava um céu azul, e os amigos fizeram um bloco saindo do Outeiro da Glória, e minha filha tava dormindo profundamente, e minha mulher me diz “Vamo?” e a gente sondou com os avós e eles toparam ficar com a neta (vida longa aos avós) e quando a gente viu, a gente tava descendo a Ladeira da Glória, nem aí pros corpos suados, “meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê” e daí a gente lembrou por que a gente ama essa cidade, e esse país, porque a gente tem a melhor música do planeta, e a gente faz a maior festa popular do planeta, e a gente tem a gente mais legal do planeta, o que a gente precisa é construir um país que esteja à altura dessa festa e dessa gente, Caetano diria: o Brasil precisa merecer o Carnaval, e mais ainda: o Brasil precisa merecer o Caetano, e a gente saiu correndo pra casa pra tomar um banho de álcool gel e abraçar a nossa filha, elucubrando fantasias possíveis pro Carnaval do ano que vem.

O Zé Miranda

Por Lúcio Flávio Pinto

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“P(*), Miranda, abaixa essa luz”.

“Não posso, Onetti. O cara está me arrastando”.

Rubens Onetti, o camera-man, voltou-se a tempo de ver José Miranda ser arrastado pelo colarinho por um agente da Polícia Federal, que o impedia de fazer a iluminação da cena, no auditório da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), em Belém, abrilhantado por tantas figuras ilustres. Miranda se debatia para tentar repor o refletor na direção certa, para iluminar a cena filmada por seu companheiro da TV Marajoara, mas não conseguiu. Ele e Onetti foram retirados do local. Era proibido fazer o registro naquele dia da década de 1960, em pleno regime de exceção no país.

Esse José Miranda de tantos episódios cômicos ou dramáticos se foi no final da semana, anônimo, depois de se ter tornado célebre por suas ousadias e pelo tom bilioso de alguns dos seus frequentes comentários e profecias. Integrou uma geração de pioneiros na reportagem para a imprensa, principalmente televisiva e mesmo impressa.

Fotógrafos que se formaram empiricamente, no trabalho do dia a dia, sem base teórica, na base do ensaio e erro. Mas sempre buscando uma qualidade a mais, uma angulação diferente. E com uma característica constante em Miranda: não recusar servilo, não voltar da rua sem uma matéria, arrancada a qualquer custo das circunstâncias.

Acho que foi um dos mais destacados dentre eles, Porfírio da Rocha, quem, na visita do primeiro presidente militar a Belém, o marechal Castelo Branco, achou de aumentar a luz no ambiente. A caixa de luz da sede da SPVEA (antecessora da Sudam, criada em 1966) tinha vários interruptores. No açodamento do flagrante, Porfírio escolheu um dos botões – e escolheu o errado. Aquela era a chave geral.

Seguiu-se a total escuridão. Porfírio, mais do que depressa, inverteu o interruptor. Mas a luz era fria e demorou a voltar. Quando a luz foi restabelecida, um agente da PF estava com seu revólver assentado na cabeça do fotógrafo. Porfírio escapou por pouco. Passado o susto, continuou o seu trabalho – com a luz que havia, naturalmente.

Miranda começou nessa conjuntura difícil para o jornalismo instantâneo, de rua, que precisa ser tão rápido quanto a cena em movimento a ser captada, o que exige raciocínio rápido e resposta imediata dos músculos ao raio de luz no cérebro. Começou na iluminação para o cinegrafista Onetti, aquele que filmava jogo de futebol com uma câmera de mão, com a missão de encontrar a bola em movimento pelo menos por alguns segundos – o que não era nada fácil.

Miranda foi evoluindo até se tornar fotógrafo solo, digamos assim. Os anos arrefeceram a sua impetuosidade e arredondaram as duras angulações da sua personalidade, até que ele se tornou um bom camarada, um companheiro de trabalho prestativo, embora o humor de vez em quando se avinagrasse, o que não impedia de fecharmos o lance com risadas. Risos que ecoam pela memória no adeus ao velho companheiro de tantos instantâneos jornalísticos. (Transcrito do Facebook)

Convivi com o Zé Miranda durante anos, ao longo das décadas de 70 e 80, principalmente, trabalhando em veículos diferentes (eu no Liberal e ele na Província), sempre acompanhando suas aventuras e grandes feitos jornalísticos. No final dos anos 90, a convite de Antonio José Soares, fui trabalhar na Província já moribunda, realizando um velho sonho. Lá, entre outras alegrias, pude ter contato mais direto e diário com um Miranda já veterano, mas na plenitude da capacidade profissional. Um dos gigantes do fotojornalismo paraense – e talvez do Brasil -, integrando trinca fenomenal com Porfírio da Rocha e Pedro Pinto. Deixa um exemplo de dedicação extrema à profissão e de competência acima de qualquer suspeita. 

Tuiuti denuncia golpe, escracha “patos” e ataca reformas do governo na Sapucaí

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Michel Temer “vampiro”, paneleiros com camisetas do Brasil e patos da Fiesp sendo controlados pela mídia, críticas às reformas trabalhista e da Previdência. Esses foram os temas trabalhados pela escola de samba Paraíso do Tuiuti na noite desta segunda-feira (11) na passarela da Sapucaí, no Rio de Janeiro (RJ).

Com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, sobre os 130 anos da Lei Áurea, a agremiação denunciou o golpe parlamentar de 2016 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff e fez duras crítica ao atual governo de Michel Temer (MDB). Em uma das alas, como a reforma trabalhista e da Previdência representariam essa nova escravidão no Brasil.

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“Eu acho que a gente está fazendo uma coisa que todo mundo quer. Todo mundo quer botar pra fora, as pessoas querem gritar o “Fora Temer”, as pessoas querem se manifestar e é forma de manifestar da minha parte”, disse em entrevista professor de história Léo Morais, que interpretou o Michel Temer Vampiro na última alegoria da escola, intitulada “Navio neo tumbeiro”.

Outra ala de destaque no desfile da Tuiuti foi a dos “manifestantes fantoches”, que ironizou os chamados paneleiros que saíram às ruas com camisetas do Brasil pedindo o impeachment de Dilma. A escola de samba utilizou mãos gigantes representando a mídia, que controlava esses paneleiros envolvidos por patos amarelos, em referência à campanha da Fiesp contra o aumento de impostos que inflamou a população contra o governo petista.

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A passagem das últimas alas e alegorias levou a plateia ao delírio, que aplaudiu e respondeu à agremiação com um “Fora, Temer”, rapidamente abafado pela transmissão da Globo. Nas arquibancadas da Sapucaí, várias faixas protestando contra o processo que pode tirar Lula da eleição presidencial de 2018.

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(Com informações do Brasil de Fato; edição de Luiz F. Albuquerque)