Reabilitação adiada

POR GERSON NOGUEIRA

O jogo se desenhava como a chance de reabilitação do Papão após as duas derrotas seguidas (Remo e Novo Hamburgo), mas a atuação repetiu o padrão das últimas apresentações. Cauteloso em excesso e pouco confiante, o time foi sufocado pelo esforçado Paragominas, que prevaleceu no primeiro tempo e só pecou nas finalizações.

O 2º tempo, disputado sob chuva, teve pouco futebol, mas os bicolores continuaram a jogar em nível insatisfatório, perdendo divididas e errando muitos passes. O empate em 0 a 0 não fez justiça ao volume ofensivo do Paragominas na partida.

Dispersivo e com o setor defensivo desprotegido, sem participação dos laterais Victor Lindenberg e Maicon, o PSC custou a se aprumar em campo. A cada investida do Paragominas, a defesa entrava em pânico. Apavorada, saía dando chutão e mandando a bola para fora, sintomas de um time sem entrosamento.

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A opção por dois armadores, Fábio e Pedro Carmona, pretendia tornar o time mais agressivo. Na prática, a proposta não deu em nada, pois ambos evitaram as jogadas de risco e ficaram sempre desconectados dos atacantes Cassiano e Moisés. A única boa investida do primeiro tempo resultou em chute torto de Carmona após passe de Cassiano.

Pelo lado do Paragominas, Balotelli, um atacante de força, criou seguidas situações de perigo. Errou três finalizações que poderiam ter levado ao gol, mas se destacou pela luta incessante. Na maioria das tentativas, levou a melhor sobre os marcadores, inclusive no lance mais bonito da tarde, aos 13’ do segundo tempo, quando disparou um chute cruzado que bateu na haste de proteção da trave de Marcão.

João Neto, Luquinha e Lincoln foram outros destaques da equipe. Curiosamente, apenas Marcão teve presença digna de registro no PSC. Muito exigido, fez intervenções corretas, sem dar rebotes.

A impressão é de que comissão técnica e jogadores do Papão ainda não atinaram para o tamanho do compromisso que têm com o projeto estabelecido pelo clube para a temporada. A maioria parece ver o Parazão como algo menor, esquecendo que a construção de um time vitorioso deve começar pela competição estadual.

Até agora, o PSC não mostrou qualidades que o diferenciem dos demais times do campeonato. Dispõe de valores individuais mais conhecidos e valorizados, mas é preciso que esses jogadores mostrem que podem ser úteis ao time.

A desorganização e o pouco apetite ofensivo refletem os tropeços recentes e também as dúvidas esboçadas pelo próprio treinador, ainda indeciso quanto a usar dois ou três volantes. A fragilidade defensiva afeta a produção dos laterais e, por tabela, termina estourando na linha de frente, onde Cassiano e Moisés têm ficado muito isolados e sem função.

O mais preocupante é que, em meio à crise provocada pelos últimos resultados, técnico e jogadores tenham saído de campo valorizando um empate conquistado a duras penas, satisfeitos com o resultado. É, no mínimo, uma visão distorcida da realidade.

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Críticas exigem equilíbrio e compreensão

Depois do jogo, entrevistado pelo repórter Dinho Menezes, o goleiro Marcão afirmou que o empate tinha sido importante, atribuiu ao gramado parte das dificuldades da equipe, destacando sempre que o time é muito técnico e possui alta qualidade. São jogadores que, acostumados a jogar em arenas da Copa, têm dificuldades de adaptação nos gramados locais.

Reclamou de cobranças exageradas e ressaltou, como problemas determinantes para a atuação de ontem, o trauma do revés em Novo Hamburgo e o desgaste das viagens, fator citado também pelo técnico.

Quanto às viagens, o problema é de natureza geográfica e, portanto, sem solução. Sobre críticas e trauma de derrotas, é preciso serenidade e compreensão quanto às expectativas do torcedor. Acima de tudo, cabe entender que o privilégio de jogar em time de massa traz junto o ônus da cobrança permanente.

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 05) 

Rock na madrugada – The Byrds, I’ll Feel A Whole Lot Better

Bate-papo no boteco virtual – Paragominas x PSC

Campeonato Paraense 2018 – 5ª rodada

Paragominas x Paissandu – Arena Verde, em Paragominas, às 16h

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Na Rádio Clube, Carlos Gaia narra, Gerson Nogueira comenta. Reportagens – Dinho Menezes, Giuseppe Tommaso. Banco de Informações – Adilson Brasil 

Fargo 2ª temporada: ironia fina, direção firme e excentricidades seguram a trama

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Por Vitor Gross, no Omelete

Uma das minhas poucas ressalvas com a primeira e brilhante temporada de Fargo era a maneira como alguns cacoetes de narrativa e arquétipos de personagens foram praticamente tirados do longa de 1996 e implementados – com muita habilidade, vale ressaltar – na televisão. Não levo isso como um defeito em si, mas como algo que poderia ser melhor aproveitado. E foi o que Noah Hawley fez no segundo ano da produção do FX: tudo mudou, mas a essência irônica e excêntrica da criação dos irmãos Coen foi mantida com originalidade.

Ambientada em 1979 na cidade de Luverne, Minnesota, Fargo retornou com a difícil tarefa de orquestrar quatro núcleos diferentes e narrar a caminhada de seus personagens até o massacre de Sioux Falls, mencionado na primeira temporada por Lou Solverson (então vivido por Keith Carradine, papel segue no segundo ano para Patrick Wilson), o pai de Molly e agora protagonista da série. O ainda jovem policial precisa investigar um sangrento crime envolvendo a criminosa família Gerhardt; o estranho casal Peggy (Kirsten Dunst) e Ed Blumquist (Jesse Plemons); e o conflito entre os criminosos locais e a máfia de Kansas, com sua trupe liderada pelo filosófico Mike Milligan (Bokeen Woodbine).

No início do primeiro episódio é possível notar que o humor negro será um personagem recorrente. Logo quando Rye Gerhardt (Kieran Culkin), filho mais novo do casal Floyd (Jean Smart) e Otto (Michael Hogan), entra em cena e discute com seu irmão Dodd (Jeffrey Donovan), Fargo antecipa em apenas algumas linhas de diálogo a bagunça absurda que aguarda os personagens nos próximos capítulos.

Mesmo que o humor por vezes ácido e característico das produções dos irmãos Coen – produtores executivos da série – apareça com frequência, a maneira como ele é implementado acaba sendo o diferencial. Por mais que todos os personagens contribuam para o ar cômico em algumas cenas, eles fazem isso sem perder a seriedade e densidade de suas personas. Os momentos genuinamente dignos de uma comédia são fruto de situações absurdas e personagens preparados para isso, como Karl Weathers (Nick Offerman), o único advogado da cidade que claramente tem uma personalidade inspirada em Walter Sobchak (John Goodman), de O Grande Lebowski, e rouba a cena em seus poucos minutos de tela.

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Já a seriedade do programa alcança um nível muito mais profundo do que o visto na primeira temporada. Abandonando o simbolismo e alegorias dos primeiros dez episódios – que levaram muitos a acreditar que o Lorne Malvo de Billy Bob Thornton fosse o próprio diabo -, Fargo volta com uma proposta um pouco mais desenvolvida. O contexto social da época é refletido de maneira quase que intimista em seus personagens, fazendo com que o tempo de tela de cada um deles seja relevante não só para o andamento da trama, mas também para a construção daquele universo recheado de um medo sutil e momentos que flertam com o realismo mágico. Desde o papel de uma mulher na estrutura familiar da época, bravamente desafiado pelas personagens de Dunst e Smart – ambas entregando performances sensacionais -, até a apreensão trazida pelos conflitos governamentais e internacionais da época, a série balanceia com perfeição o absurdo e uma teórica vida normal.

[Cuidado, possíveis spoilers abaixo!]

A palavra “absurdo” não foi mencionada tantas vezes por nada. A premissa de Fargo basicamente se apoia nas incoerências que resultam de pequenos crimes e como eles influenciam a vida de todos os envolvidos. Porém, essa temporada não se reservou apenas aos inesperados surtos de violência que acabavam por reduzir o número de personagens e aumentar a contagem de cadáveres. A inesperada presença de alienígenas é um fator determinante para a trama da série desde seu primeiro episódio, quando Rye para no meio da estrada ao avistar um disco voador e é atropelado por Peggy. A imprevisibilidade desses pontuais e inimagináveis eventos adicionam um charme – com o perdão do trocadilho – de outro mundo ao programa.

Fargo aposta sempre na capacidade do espectador de aceitar que as decisões e ações de seus personagens são nada menos do que dignas de suas problemáticas e complexas personalidades, desafiando sempre essa habilidade de aceitação por tomar direções inesperadas que, por mais absurdas que sejam, sempre soam naturais e friamente calculadas para encaixar no complexo esquema de eventos do seriado. Mike Milligan, por exemplo, representa parte do sentimento de inquietação passado, já que sua presença ganha um tom ameaçador uma vez que imprevisibilidade e astúcia se tornam aspectos marcantes de sua persona. Toda a expectativa em torno do que o personagem seria capaz só se torna realidade quando ele abandona seus incríveis monólogos filosóficos para liquidar três personagens introduzidos de uma maneira tão cerimoniosa que era fácil confundi-los como grandes reforços ao elenco.

Balanceada com perfeição entre momentos inesperados e grandiosos com suas cenas mais intimistas, Fargo fecha com maestria sua segunda antologia pontuada por personagens e atuações excêntricas e uma trama que funciona no melhor estilo Coen, homenageando várias produções dos consagrados diretores mas criando uma personalidade forte sem perder a sua essência.

Galeria do rock

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Michael J. Fox, astro de “De Volta para o Futuro”, com Eddie Vedder, na festa de introdução do Pearl Jam ao Hall of Fame, em 2017.

Sem maioria, Sanchez inicia mandato no Corinthians saindo à francesa

Depois da eleição mais disputada da história recente do Corinthians, o novo presidente do clube, Andrés Sanchez, teve perfeita noção do que terá de enfrentar pela frente assim que ouviu seu nome ser apontado como o vencedor do pleito. Sem maioria no Conselho e precisando deixar o clube escondido no banco de trás de um carro, ele encarou um aperitivo do que pode lhe esperar no triênio 2018-2020.

No poder desde 2007, a Renovação e Transparência ruma para sua quinta administração, a terceira sob a batuta de Andrés. Dessa vez, porém, Sanchez assume com o clube dividido, incluindo o seu grupo, e precisará mostrar toda a sua capacidade de articulação para ter governabilidade no caso. A começar pelo os novos 200 nomes que precisarão aprovar suas medidas.

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Dentre as oito chapas que se elegeram para o Conselho Deliberativo, apenas a Preto no Branco, mais votada, e a Renovação e Transparência, já conhecida, defendem abertamente o mandatário. A Tradição Corinthiana, sexta que mais recebeu votos, tem maioria de membros a favor de Andrés Sanchez, mas não declara abertamente a sua preferência.

A Chapa São Jorge 77 esteve abertamente ao lado de Roque Citadini, fazendo até campanha pelo candidato, relação semelhante com a da Corinthians Supremo e Felipe Ezabella, quarto colocado no pleito. As chapas Mosqueteiros, Inteligência Corinthiana e Fiéis Escudeiros declararam-se independentes do processo eleitoral para presidente, sem tomar posição.

Outra relação aparentemente desgastada é com a torcida, que protagonizou as fortes cenas do último sábado. Após passarem cerca de 20 minutos pedindo para entrarem no ginásio onde estava sendo realizada a votação, aficionados partiram para cima de Andrés com cânticos de ordem e chegaram a atingi-lo com um copo de cerveja, em protesto tão grande que interrompeu a entrevista concedida pelo dirigente.

Encurralado entre seus seguranças, Andrés teve de esperar por 20 minutos dentro do vestiário feminino do local, enquanto pessoas ligadas às chapas tentavam acalmar a situação. Depois, para deixar o Parque São Jorge, precisou deitar no banco de trás de um carro para passar despercebido por aqueles que ainda estavam no clube. Algo pouco usual para quem acabara de ser escolhido pelo voto dos sócios.

Em entrevista concedida antes da posse, Andrés disse que precisaria de 100 dias para mostrar o que gostaria de fazer em seu retorno ao poder. Eleito para o mandato-tampão, de 2007 a 2009, depois de 2010 a 2012, quando acabou com a reeleição, ele volta com a missão de explicar o pagamento do estádio de Itaquera e buscar mais recursos para o futebol, sem patrocínio master desde abril do ano passado.

Dentro de campo, seu mandato começa neste domingo, às 19h30 (de Brasília), quando o Corinthians encara o Novorizontino, fora de casa. Para a modalidade, carro-chefe do Alvinegro, ele já deixou claro que Duílio Monteiro Alves será o diretor de futebol. Ex-diretor-adjunto na gestão de Mário Gobbi, Duílio pode até a Novo Horizonte para acompanhar a partida.

Agora com um novo chefe, o gerente de futebol, Alessandro, é um dos nomes que passará por avaliação da nova presidência. A princípio, ele não agrada ao novo presidente e poderia ser tirado do cargo. Porém, com aprovação interna e da torcida, o ex-lateral pode ver o mandatário rever sua posição e mantê-lo na gestão do futebol.

A ação violenta da torcida se estendeu a jornalistas. O repórter Flávio Ortega, da ESPN, foi agredido com empurrões e chutes na sede corintiana.

Fargo 1ª temporada: uma série de responsa, com a chancela criativa dos irmãos Cohen

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Por Ritter Fan, no Plano Crítico

Bemidji, Minnesota. Uma cidade fria, com neve o tempo todo e onde nada de relevante realmente acontece. Um encontro casual coloca em movimento uma engrenagem de muito sangue que deixa evidente o que está logo abaixo da superfície da natureza humana.

Isso é, em poucas palavras, o que é Fargo, a série baseada no filme cult de mesmo nome dos irmãos Coen, que atuam como produtores executivos. Noah Hawley é o showrunner e roteirista que, usando uma estrutura de antologia, na linha de True Detective e American Horror Story, em que cada temporada conta uma história diferente, com personagens e atores diferentes, consegue fazer uma das séries mais cativantes e perturbadoras do ano.

Àqueles que consideram Fargo (o filme) uma obra-prima que não deveria ser tocada, vale deixar claro logo de início: a série não é uma adaptação do filme. Trata-se de uma história com a atmosfera e traços de personagens extraídos da obra dos Coen, mas o que vemos na tela é algo diferente, novo e excitante assim como o filme foi em 1996 e continua sendo até hoje. Pode parecer estranho esse tipo de arroubo criativo – e eu realmente achava isso até ver o magnífico primeiro episódio – mas é impressionante como tudo funciona bem, tanto para quem conhece como para quem não conhece a obra original (e, quem não conhece, faça um favor a si mesmo e assista!).

O encontro casual que mencionei no início se dá entre Lester Nygaard (Martin Freeman em papel claramente refletindo o de William H. Macy, na pele de Jerry Lundegaard, do filme), vendedor de seguros e Lorne Malvo (Billy Bob Thornton), assassino profissional. O que os dois estão fazendo juntos? O destino os levou ao hospital onde se encontram. Lester sofreu bullying do eterno valentão de escola Sam Hess (Kevin O’Grady) e machucou o nariz e Lorne bateu com o carro que, no porta malas, continha uma de suas vítimas, que saíra correndo, de cueca, pelo meio da neve.

Como o famoso diabinho do ombro de Lester, Lorne planta a semente que viria, logo no final do primeiro episódio, deflagrar, na mente mais fraca e influenciável de Lester, a vontade de se libertar do que ele vê como a principal fonte de suas agruras: sua esposa que o massacra com comentários que o emasculam e sempre o compara com seu irmão bem-sucedido Chazz (Joshua Close). Ao mesmo tempo, Lorne, sempre o diabo, interpreta um desejo de Lester de se livrar de Sam Hess como uma encomenda de assassinato.

O que vemos, a partir daí, é a tenaz policial Molly Solverson (Allison Tolman) desconfiada do envolvimento de Lester no que aconteceu em sua pacata cidade. Em Duluth, cidade “grande” próxima, Lorne fornece elementos para tornar o pacato policial Gus Grimly (Colin Hanks) desconfiado que há alguma coisa errada. É evidente que os caminhos de Gus e de Molly convergirão em algum momento. Com isso, estabelece-se as linhas narrativas que pavimentam o caminho nevado que a série toma.

Com uma fotografia excepcional, que emula a de Fargo (o filme), a temporada consegue ser um prazer visual a todo momento. O branco da neve e o vazio da cidade são utilizados de forma a refletir o estado de espírito e mental de Lester ao longo dos episódios. Cores frias entrecortadas por elementos específicos com cores fortes – como o inesquecível laranja do casaco de neve de Lester – passam a tristeza de uma vida empacada, sem a mais remota chance de crescimento. Culpa da esposa de Lester em sua cabeça, mas nós sabemos, claro, que o único responsável por seu comodismo é ele mesmo, um homem preso à sua falta de coragem e ambição, por sua inveja do sucesso das pessoas ao seu redor. Lester é um homem que, com o tempo, adota uma persona que não é a sua, quase que tentando, orgulhosamente, se parecer com seu “mentor” Lorne Malvo. Mas o que Lester não consegue perceber é que Malvo é o que ele é e qualquer outra persona dele é um disfarce. Malvo sabe quem é e quem quer ser e esse embate de personalidades, que se dá, na verdade, com os dois traçando caminhos separados durante fundamentalmente quase toda a temporada, é absolutamente fascinante e transforma cada episódio de pouco menos de uma hora em experiências curtas, que sempre deixam o gosto de quero mais.

Acontece que uma temporada inteira não poderia se sustentar sem outros personagens quase igualmente fascinantes. A dupla Solverson e Grimly funciona como uma boa contrapartida a Nygaard e Malvo. Os dois são fundamentalmente bons. Enquanto Solverson representa a vontade de trabalhar e a inteligência de lidar com uma situação impossível (traços presentes também em Nygaard), Grimly é o inocente útil, um homem completamente sem ambições e que sabe e aceita isso sem pensar duas vezes.

O novo chefe da polícia de Bemidji, Bill Oswalt (o ótimo Bob Odenkirk, o Saul de Breaking Bad eBetter Call Saul) representa a inoperância do serviço público. Nada acontece em sua cidade e, quando acontece, ele só quer se livrar do caso, encerrando-o de qualquer jeito, sem se preocupar – ou refutando como maluquice – as elaboradas teorias de Solverson. Mas Oswalt também é um personagem fundamentalmente bom e não faz o que faz (ou o que não faz, na verdade) por mal, mas sim talvez por não compreender de verdade o quão sombria pode ser a alma humana. Seus momentos de realização do que o mundo é na verdade são tocantes e inesquecíveis, convertendo-o em um personagem que, se em um primeiro momento temos uma certa ojeriza, passamos a nos compadecer por ele.

Mas Fargo é uma série definitivamente diferente e essa qualidade foi vista, por muitos comentadores, como seus aspectos negativos. São dois os momentos tidos como “falhas”, mas que fazem a série ser o que ela é. O primeiro deles ocorre logo após os eventos do primeiro episódio, com Lorne Malvo iniciando uma nova missão – completamente diferente da que a levou a Bemidji – em Duluth. Trata-se de uma trama envolvendo a chantagem de Stavros Milos (Oliver Platt), um magnata local dos supermercados que é protegido pela máfia que contrata Malvo para resolver o problema. Malvo tenta inverter o jogo, passando de hitman para chantageador sem uma explicação aparente, iniciando uma trama que envolve as pragas bíblicas e uma fantástica sequência de invasão de uma casa pela polícia local (não entrarei em detalhes para manter a presente crítica sem spoilers).

Toda essa história paralela, porém, é de tirar o chapéu em toda sua construção e execução. Ela serve de comentário para a história principal, novamente lidando com a corrompida e desesperançosa alma humana sendo manipulada pelo diabo. A ligação bíblica direta com as pragas de Moisés não deixa isso em mistério e Malvo fica cada vez mais próximo da figura do diabo. Ao mesmo tempo, começando em Bemidji, dois pistoleiros (Mr. Numbers e Mr. Wrench, vividos por Adam Goldberg e Russell Harvard) de Fargo tentam descobrir quem matou Sam Hess, levando a outra fantástica sequência na neve, durante um whiteout (quando ninguém consegue enxergar um palmo à sua frente diante do branco da neve e que faz o elenco principal convergir para um ponto só, mas por razões completamente diferentes e descoladas da trama que envolve Lester Nygaard. E claro, não deixem de se deliciar com o plano sequência em Fargo, que vem em decorrência do whiteout, em que Malvo faz o que faz de melhor. Nosso olhar é externo apenas e dependemos dos sons para entender a cena – nada complicado – mas é um momento para se aplaudir de pé em termos de eficiência dramática, direção e fotografia.

O segundo ponto que foi criticado diz respeito ao salto temporal de um ano que acontece no oitavo episódio. Serei particularmente críptico aqui, para evitar spoilers, mas o fato é que Noah Hawley recorre esse artifício não para permitir a resolução da trama de maneira mais fácil, mas sim para nos mostrar que a vida continua, mas que, no final das contas, tudo é cíclico e atos bons ou maus cometidos em determinado momento de sua vida inevitavelmente voltarão em algum momento futuro. Parece que Hawley “nos engana” com a passagem de tempo, mas acreditem em mim quando eu digo que ela funciona perfeitamente, sem artificialidades além do que o que a própria narrativa nos impõe desde o começo (lembram-se da coincidência que começa tudo?).

Se Fargo será renovada para uma segunda temporada, pouco importa. A história de Lester Nygaard e Lorne Malvo acaba aqui e ela merece ser conhecida por todos. Se a série é alguma coisa, ela é uma bela e consistente homenagem a um grande pequeno filme de 1996, mas uma homenagem de roupagem própria, de vida própria e de personalidade própria. Deleitem-se com a podridão humana no melhor estilo dos Coen mais uma vez!

Fargo – 1ª Temporada (Fargo – Season 1, EUA – 2014)
Showrunner: Noah Hawley
Direção: Adam Bernstein, Randall Einhorn, Colin Bucksey, Scott Winant, Matt Shakman
Roteiro: Noah Hawley (baseado em filme de Joel e Ethan Coen)
Elenco: Billy Bob Thornton, Martin Freeman, Colin Hanks, Allison Tolman, Bob Odenkirk, Kate Walsh, Adam Goldberg, Russel Harvard, Oliver Platt, Shawn Doyle, Tom Musgrave, Keith Carradine, Joshua Close
Duração: 550 min. (aprox.)

Sob o peso das pressões

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POR GERSON NOGUEIRA

Por mais habilidade semântica que os dirigentes do Papão tentem usar, há um fato que salta aos olhos a essa altura: o prazo de validade da comissão técnica está nos estertores. Com boa vontade, pode-se dizer que a situação só se sustentará caso o time vença neste domingo em Paragominas.

Nada a ver com o Parazão, onde o PSC vai bem na classificação. O problema é mais em cima: Marquinhos Santos encontra-se no fio da navalha, sua situação está no limite do tolerável, depois de dois resultados negativos em menos de uma semana: derrota no Re-Pa, de virada, e eliminação na Copa do Brasil com o revés diante do Novo Hamburgo.

Alguns dirão que é cedo para a avaliação do trabalho desenvolvido, pois foram apenas cinco partidas – quatro pelo Parazão e uma pela Copa BR. Ocorre que Marquinhos não é avaliado somente pela temporada de 2018. O julgamento envolve o desempenho na Série B de 2017.

O anúncio de sua permanência no comando dividiu a torcida e causou fissuras dentro da diretoria do PSC. Muita gente no clube defendia que fosse dispensado, mas o presidente Tony Couceiro e outros integrantes da cúpula entenderam que Marquinhos merecia a chance de formar um elenco à sua maneira para encarar as batalhas de 2018.

A diretoria fez sua parte. O elenco foi montado, com o atendimento às indicações do técnico e a participação do executivo André Mazzuco nas tomadas de decisão. Acontece que, dos 16 jogadores contratados, poucos têm se mostrado à altura dos desafios que o Papão teve pela frente.

A rigor, apenas Moisés, Cassiano e Pedro Carmona (com ressalvas) passaram nos primeiros testes. Os demais 13 reforços não conseguiram se estabelecer até aqui, nem mesmo para compor o leque de alternativas que o técnico precisa ter a cada partida.

Os duelos com o Remo e o Novo Hamburgo serviram para medir a qualidade do time e a força do elenco. Os resultados indicam que as escolhas, pelo menos à primeira vista, não atendem às necessidades. Na verdade, o próprio conceito de equipe precisa ser melhor dimensionado.

Sob o discutível argumento de que a pré-temporada iria se alongar até o dia 28 de janeiro, data do Re-Pa, Marquinhos tentou plantar vacinas para eventuais insucessos. A esperteza acabou se virando contra o feiticeiro. Enfrentando equipes igualmente recém-formadas, o time do Papão teve desempenho insatisfatório, muito abaixo do esperado.

A queda na Copa do Brasil foi a mais dolorosa, até mesmo do ponto de vista do planejamento para a temporada. Levando em conta premiações e possibilidades de faturamento com bilheteria, a competição é extremamente lucrativa, mesmo que não haja a pretensão de levantar o título.

Nem tanto pela derrota em si, mas pela maneira relaxada e comodista como ocorreu, o trabalho do técnico estará a partir de agora permanentemente sob o crivo de dirigentes e torcedores. O cancelamento formal dos festejos pelo 104º aniversário do clube indica que a eliminação não foi digerida. Por ora, paira certa tensão no ar, mas o jogo em Paragominas pode fazer com que a situação se torne insustentável.

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O grande enigma em torno do Leão de Ney da Matta

O Remo fechou a semana como o único time do Estado a sobreviver na Copa do Brasil – até porque ainda não estreou no torneio. O insucesso do principal rival ajudou a atenuar o peso das cobranças pela patética atuação contra o Manaus, na quarta-feira, pela Copa Verde.

Faltou tudo ao Leão na Arena da Amazônia, a começar por organização e desprendimento para travar um jogo equilibrado. Um sintoma da apatia da equipe foi a passividade com que o setor de marcação atuou, sem dividir jogadas e preferindo apenas cercar os jogadores do Manaus.

Sofreu dois gols em lances de treino coletivo e não teve força para esboçar uma reação mínima. Nem sombra do time aguerrido e audaz do clássico contra o Papão. O mau desempenho respinga também sobre o técnico Ney da Matta, que voltou a se equivocar nas escolhas.

Poderia ter substituído Adenilson por Jefferson Recife ainda no primeiro tempo, mas preferiu esperar até que a derrota já estivesse desenhada. O mesmo pode ser dito sobre a tardia entrada de Jayme no ataque, além da inexplicável ausência de Elielton como opção de velocidade contra um time cheio de veteranos, visivelmente cansados nos últimos 30 minutos.

O confronto do meio de semana contra o Atlético-ES, em Itapemirim, pela Copa BR, vai servir para se ter uma ideia mais clara sobre o Remo atual, cujas oscilações inquietam o torcedor e preocupam a diretoria de Futebol. Afinal, o Leão precisa se sair bem nas competições para faturar mais e escapar do enrosco financeiro em que se encontra.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 21h, na RBATV, com a participação de Valmir Rodrigues e deste escriba de Baião. Em pauta, os jogos da quinta rodada do Parazão. O telespectador participa via whatsapp e concorre a prêmios.

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Truculência gratuita não combina com esporte

Tento entender, inutilmente, o frisson que envolve os fãs de MMA e suas derivações. A imagem de lutadores pouco empenhados em vencer, com silhuetas que se enquadram mais no padrão do sumô, não contribui para que eu consiga mudar de ideia quanto à modalidade, decididamente algo muito distante do conceito de esporte.

Não há sentido em acompanhar lutas que se repetem mecanicamente sem variações de golpe e um mínimo respeito a regras. Nem a escolha de Belém como sede de uma etapa chega a comover, visto que a opção tem mais a ver com a queda vertical de interesse nas principais praças do país.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 04)

Direto do Face

“Bastou uma semana, desde a condenação de Lula pelo TRF-4, e o grande líder do Reich de Curitiba já começou a ser lançado às feras pela mídia que o criou. Assim como Joaquim Barbosa, o menino pobre que mudou para Miami, Moro em breve vai descobrir como as elites brasileiras descartam seus serviçais”.

Leandro Fortes, no Facebook