
Por Gerson Nogueira
Venceu o time mais organizado e seguro de seus limites. Perdeu o que entrou mais tenso e desgastado emocionalmente. Se antes do clássico, o Paissandu já havia demonstrado dispor de mais conjunto ao longo do primeiro turno e da própria Copa Verde, com a bola rolando isso ficou flagrante logo nos primeiros movimentos. Enquanto os remistas se livravam da bola de qualquer jeito, os bicolores valorizavam a posse e sabiam que destino dar às jogadas.
Faltava, porém, como vem faltando há algum tempo, o toque de classe no meio. Apesar disso, a vitória veio depois de boa manobra pela linha de fundo, como ensinam os manuais. Mas, depois do gol e da expulsão de Val Barreto, Papão preferiu trocar passes a agredir. Desperdiçou a chance de estabelecer boa vantagem contra um adversário confuso e combalido. No instante final, como castigo pela acomodação, quase cedeu o empate.
Apesar da vantagem por estabelecer um ritmo e controlar melhor as emoções, o Paissandu deixava a desejar na chegada à área remista porque Lima vivia isolado pelo lado esquerdo do ataque e Héverton ficava muito atrás, participando mais das ações no meio-de-campo.
Sem um condutor no meio, o Paissandu se valia de seus laterais, principalmente Djalma, para ir à frente. Pikachu, o homem responsável pela organização, ficava no meio-termo. Nem organizava, nem se apresentava como atacante de fato.
No Remo, Eduardo Ramos continuava sua saga do sumiço. Entrou em campo, mas não deu as caras. Pouquíssimas participações, sempre com passes laterais, sem inspiração. Dadá tentava ser volante e armador, sem conseguir, obviamente. Potiguar prendia muito a bola, mas era um dos poucos a tomar iniciativa, partindo pra cima dos marcadores.
Aos 13 minutos, o primeiro lance digno de nota. A zaga não cortou uma bola marota e Lima recebeu livre à altura da linha da grande área. Bateu firme, rasteiro e a bola explodiu na trave direita de Fabiano. A jogada levantou a torcida do Papão, mas o jogo seguiu truncado, entregue aos seis volantes de Sparta – Capanema, Augusto Recife e Zé Antonio x Jonathan, Carlinho Rech e Dadá.

O Remo aos poucos foi saindo da timidez inicial, buscando chegar pelas laterais também. Aos 21 minutos, em jogada que começou na esquerda com Eduardo Ramos e Rodrigo Fernandes, a bola chegou a Leandrão. O centroavante disparou à meia altura e a bola, caprichosamente, estourou na trave direita de Mateus.
Um a um em tiros na trave. E foi só o que aconteceu de expressivo no primeiro tempo.
A metade final trouxe um Paissandu mais agudo, pressionando e conseguindo faltas junto à área. Depois de insistir seguidamente, veio a recompensa. Djalma recebeu e lançou Pikachu, que dominou e deu um balãozinho para o interior da área, no chamado ponto futuro. Héverton calculou bem a chegada e testou, sem defesa para Fabiano.
Quando o gol saiu, Agnaldo já havia substituído Leandrão por Val Barreto e Carlinho por Ratinho. Com a desvantagem no placar, o que era difícil se tornou ainda mais complicado para o Remo de Agnaldo: o time não conseguia se impor, parecendo até intimidado em vários momentos.
As opções de saída ficaram mais congestionadas, pois Mazola adiantou a marcação e cercou os laterais Levy e Rodrigo. Com isso, a bola tinha que passar por Dadá ou Jonathan, provocando erros. Nervosos e bem marcados, andaram entregando passes nos pés dos adversários.

Quando Val Barreto foi expulso, em falta aparentemente não intencional, o Remo pareceu se entregar de vez. As falhas se repetiam, a bola mal chegava em condições a Ratinho e Athos (que substituiu Ramos) aparecia no ataque como ponta. No Papão, Lima ficou sem receber assistências, apesar de bons ataques surgidos com Pikachu e Héverton.
E, de repente, os deuses do futebol resolveram interferir e por pouco não castigaram o excesso de zelo do Papão em administrar o placar. Em bola alta na área, rebatida de cabeça por Charles, o rebote veio para Rafael Andrade, que mandou no travessão. Susto e silêncio do lado bicolor. Vibração da torcida remista, que aproveitou o lance empolgante para deixar o Mangueirão cantando, como a dizer para si mesma que a decisão ainda não terminou.

Clássico pobre de destaques
Djalma, Charles e Capanema (mesmo carregando nas faltas) foram os destaques. Héverton foi decisivo no lance do gol, mas teve participação discreta nas manobras ofensivas, contribuindo para isolar Lima.
No Remo, Dadá tentou arrumar a saída, mas estava muito sozinho e pouco podia fazer. Jonathan correu muito, sem produzir nada ante a desorganização reinante. Max foi bem. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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Remo desafina também fora de campo
A barafunda gerencial e administrativa do Remo ficou novamente exposta ontem, depois do jogo. Diretores foram desautorizados pelo presidente e a informação sobre a contratação de Tarcísio Pugliese, cogitada desde sexta-feira, foi desmentida duas vezes. Ninguém parece se entender no clube e a derrota no clássico deve contribuir para agravar o caos.
Tudo indica, se o presidente não mudar de ideia, que Agnaldo seguirá como técnico até o próximo domingo. Pugliese foi deixado de lado, pelo menos por enquanto.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 17)