
Por Gerson Nogueira
Quando dirigentes saem à cata de reforços quase sempre quebram a cara. Contratam mal, exageram na quantidade e gastam mais do que seus orçamentos permitem. É um eterno calo na gestão do futebol paraense. Tanto que virou lugar-comum criticar a política de contratações de Remo e Paissandu, notadamente nas últimas duas décadas. Raríssimos são os casos de acertos. Ante a avalanche de maus negócios nessa área, até a aquisição de jogadores apenas medianos já é saudada com alívio.
O Paissandu, que atravessou a temporada de 2013 às voltas com quase meia centena de contratações de baixa qualidade, iniciou a temporada acertando em cheio. A primeira bola dentro foi a vinda de Sérgio Papellin para cuidar do gerenciamento do futebol profissional. A experiência anterior, com Oscar Yamato, resultou em fiasco e insatisfação, por motivos diversos.
Sob a batuta de Papellin, o Paissandu passou a prospectar o mercado dos atletas de porte médio, longe das loucuras de negócios inflacionados pela esperteza de agentes e empresários. Com a chegada do técnico Mazola Junior, iniciou-se um processo de contratações pontuais, mirando na qualidade e nas necessidades do elenco.
A diretoria confiou na visão de seu gerente e resistiu bem às cobranças da torcida, ávida por nomes badalados e instigada pela política de risco desenvolvida pelo maior rival. Deu certo. Aos remanescentes da Série B foram acrescentados três zagueiros (João Paulo, Lacerda e Charles), um lateral-esquerdo (Aírton), um volante (Augusto Recife), dois meias (Héverton e Bruninho) e um centroavante (Lima). No limite do prazo para inscrições no campeonato, chegaram mais dois meias, Marcos Paraná e Jô.
Pode-se até questionar a demora na aquisição de atletas para a disputa da Copa Verde, mas não há como negar que a política conservadora nas contratações é digna de aplausos e vem em boa hora. Melhor ainda porque os jogadores disponíveis vêm dando conta das exigências impostas pelas competições disputadas.
Acima de todos, sem dúvida, está o atacante Lima. Com boas credenciais pelo histórico no futebol catarinense, veio cercado de certa expectativa quanto ao comportamento extracampo. Em poucas rodadas, conseguiu mostrar que a aposta foi muito bem sucedida em todos os aspectos.
Artilheiro do Parazão e da Copa Verde, com folga, Lima tem a eficiência e a frieza dos grandes goleadores. Sua virtude maior é a colocação na área, que facilita tanto o jogo aéreo quanto as manobras com bola no chão. Forte fisicamente, costuma ganhar nas disputas diretas com os zagueiros e finaliza muito bem, raramente desperdiçando oportunidades.
O campeonato estadual está na metade, mas ele já é o principal destaque entre os atacantes, destacando-se inclusive nos confrontos com o maior rival – teste fundamental para os centroavantes locais. A Copa Verde se encaminha para a reta final e não há outro finalizador a lhe fazer sombra. Outros jogadores (Charles e Max, no Remo) também se destacam, mas Lima é até agora a mais destacada exceção ao festival de engodos dos últimos anos.
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Da insustentável leveza do jogo
Pela ordem natural das coisas, depois da goleada sofrida pelo Remo diante do Internacional seguida da troca de técnico e da vitória de virada do Paissandu sobre o Santa Cruz, o favoritismo no clássico já teria nome e endereço. Mas quem disse que o futebol é regido pela ordem natural das coisas? Felizmente, estamos diante do mais imprevisível dos esportes coletivos. Seria muito chato se os jogos fossem regidos por determinismo.
Vai daí que voltamos à situação habitual das vésperas de Re-Pa. Nenhum favoritismo claro, pois quem parece melhor antes pode de repente cair de produção ao longo dos 90 minutos. Valências como força física, raça, determinação e superação podem influir de parte a parte, por vezes de maneira mais decisiva do que a própria técnica. Isso já aconteceu repetidas vezes, desautorizando (e desmoralizando) profetas e xamãs.
O Paissandu tem um time ajustado. Está mais confiante, tranquilo e inteiro fisicamente, pois poupou metade do time na quinta-feira. O Remo vem abalado emocionalmente, tenso e pressionado, além de desgastado pela jornada inglória da quarta-feira. Nada disso, por incrível que pareça, pode ser apontado como fator que desequilibre forças e assegure vantagens.
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Reflexos de uma queda
A demissão do técnico Charles Guerreiro na quinta-feira desencadeou um debate sobre a maneira como profissionais do futebol são tratados na hora de deixar os clubes. O próprio Charles reclamou da atitude dos dirigentes, mas o certo é que não se achou ainda um jeito de lidar com isso, principalmente nos clubes de massa, sujeitos a toda sorte de pressão e cobranças.
Charles vinha sofrendo fritura desde o começo do campeonato. A vitória no primeiro turno estabeleceu uma trégua, que foi abalada com o empate em casa diante do Nacional. O segundo empate, em Manaus, deu a classificação, mas não aliviou o coro de críticas ao técnico. Por isso, a surra imposta pelo Inter tornou insustentável sua permanência.
A diretoria, por mais que pudesse tentar outra maneira de comunicar o afastamento, não tinha meios de enfrentar a fúria do torcedor e a contrariedade dos associados. Calejado no futebol, o próprio Charles certamente tem consciência disso.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 16)