Boca na botija

Por Renato Maurício Prado

O esquema é velho mas continua a ser usado por Confederações, Federações, Comitês, clubes etc. Consegue-se um patrocínio através de negociação direta entre contratante e contratado mas, na hora de assinar o compromisso, surge “do nada”, uma agência de publicidade (muitas vezes recém-criada), um empresário, um agente, em suma, um atravessador. Não passa, na verdade, de um laranja — em muitos casos das duas partes. Aquele que vai fazer a divisão da grana da “comissão” que será desviada para o bolso dos corruptos.
O grande mérito da reportagem de Lúcio de Castro (e põe merecimento nisso!) foi conseguir revelar e (o mais importante) comprovar uma dessas maracutaias, que vêm enriquecendo nababescamente vários dos dirigentes que estão há décadas no comando do nosso esporte, se perpetuando nos chamados “cargos de sacrifício” — aqueles nos quais, teoricamente, nada ou muito pouco recebem.
Quem milita no esporte, sabe muito bem que o “Dossiê do Vôlei Brasileiro”, como vem sendo chamado o espetacular furo do jornalista da ESPN Brasil, é apenas a ponta do iceberg. E se até naquela que sempre foi vista como a mais eficiente e bem sucedida das nossas confederações de esportes olímpicos acontece isso, imagine nas outras…
No caso em questão, entre outras maracutaias menores, Lúcio mostrou que dois contratos negociados diretamente pela CBV e o Banco do Brasil acabaram pagando comissões, de R$ 10 milhões cada (!!!), a empresas pertencentes a pessoas diretamente ligadas a Ary Graça, atual presidente da Federação Internacional de Vôlei e à época dirigente máximo da CBV. Uma delas, do ex-jogador de vôlei Marcos Pina, superintendente do órgão nacional durante anos; a outra, de Fábio André Dias Azevedo, diretor geral da FIV, agora dirigida por Graça.
Um escárnio que provocou revolta até dentro da Confederação, onde jogadores, técnicos e funcionários se sentiram, com razão, roubados. “Tem gente ficando rica às custas dos nossos joelhos, ombros e tornozelos”, disparou, por exemplo, em seu twitter, o atacante Murilo, um dos principais craques da seleção atual.
Num país sério, o patrocínio do BB seria imediatamente suspenso e os dirigentes envolvidos afastados, julgados e condenados. Tamanho escândalo deveria, ainda, ser o ponto de partida de vasta investigação de todas as negociações envolvendo o dinheiro público com entidades do gênero, inclusive o Comitê Olímpico Brasileiro e os clubes de futebol.
E não se surpreendam se começarem a aparecer na lista dos beneficiados empresas de “coleguinhas” que até bem pouco tempo exerciam altos cargos na mídia e sempre mantiveram íntimas ligações com os dirigentes do nosso esporte olímpico.
Parabéns, Lúcio! Isso é jornalismo esportivo e não “entretenimento”, como, infelizmente, acabam fazendo muitos companheiros da imprensa…

O verdadeiro motivo

Aqueles que acham que foi a Lei Pelé que provocou a disseminação dos empresários no futebol estão enganados. Foi a oportunidade que estes criaram para viabilizar o “por fora” que fez com que se multiplicassem e prosperassem. Certa vez, um ex-jornalista que virou agente me disse, sem pudor:

– Quando quero vender algum jogador, a primeira coisa que faço no clube é chegar no cara que leva grana. A partir daí, é moleza.
Sorrindo, me contou até um divertido caso:
— Pedi R$ 1 milhão de comissão e o sujeito fez cara feia! Pensei, melou. Aí, ele se virou pra mim, sério, e disse: vamos botar 2 milhões pra você. Mas metade desta grana é minha…

Galeria do rock

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Bonham, Plant, Page e Jones. Led Zeppelin em Londres, idos de 1970. 

Re-Pa mobiliza esquema com mais de 900 policiais

Mais de 900 homens da Polícia Militar integrarão o policiamento no primeiro jogo das semifinais da Copa Verde 2014, entre Remo e Paissandu, domingo, 16, no estádio Jornalista Edgar Proença. Todo o planejamento para a atuação da tropa da Polícia Militar está voltado para as ações preventivas, de fiscalização e de enfrentamento à criminalidade. Além do efetivo, que será comandado pelo tenente coronel PM Antonio Cavalcante, especificamente para o evento, a PM e os demais órgãos de Segurança Pública e Defesa Social colocarão em execução medidas estratégicas de fiscalização, que se estendem desde os corredores de acesso ao estádio até as ações no entorno do complexo do Mangueirão, com presença da Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Detran, Centro de Perícias Científicas e Superintendência do Sistema Penal.

Viaturas, motocicletas, policiamento a pé, a cavalo, com uso de cães, bases de policiamento móvel e o serviço de inteligência se integram ao trabalho que visa garantir a segurança ao torcedor que irá prestigiar a partida, bem como aos profissionais que estarão trabalhando e à comunidade atingida como um todo. Na operação Re-Pa estarão integrados os Comandos da Capital, Região Metropolitana, Comando de Missões Especiais e Comando de Policiamento Especializado, além da presença dos alunos dos cursos de Formação de Oficiais e de Formação de Soldados da Polícia Militar.

Além dos órgãos do executivo estadual e o apoio dos órgãos municipais como a Guarda Municipal de Belém, a Superintendência de Mobilidade Urbana e a Secretaria Municipal de Economia, a Justiça Estadual também estará presente, atuando de acordo como o Estatuto do Torcedor e com o projeto “Futebol com Justiça”, que tem sido de grande relevância para a segurança em eventos esportivos como o Re-Pa.

Trânsito, condições de acessibilidade, abordagens, combate à situações de risco para crianças e adolescentes e monitoramento permanente, além do policiamento efetivado, são pontos em destaque para a partida, cujas ações preventivas começam desde o sábado, 15, por conta da Operação Minerva, em desenvolvimento desde a quinta-feira, 13, em Icoaraci e Ananindeua, além das atividades pontuais exercidas pelos batalhões sediados na capital. (Com informações da Ag. Pará) 

Agnaldo define time para o clássico

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O provável time do Remo para o Re-Pa de domingo, segundo quem acompanhou a última movimentação do elenco: Fabiano; Levy, Rafael Andrade, Max e Rodrigo Fernandes; Carlinho Rech, Dadá, Jonathan (foto) e Eduardo Ramos; Leandro Cearense e Tiago Potiguar (Leandrão). Ilaílson e Zé Soares estão lesionados. A definição da equipe ocorreu depois do treino tático comandado por Agnaldo de Jesus na manhã desta sexta-feira, na Toca do Leão. Vinte jogadores estão relacionados para a concentração, que deve começar nesta sexta-feira à tarde, no hotel Sagres: Fabiano e Maike Douglas; Levy, Rodrigo Fernandez e Alex Juan; Rafael Andrade, Max, Rogélio; Carlinho Rech, Dada, Jonathan e André; Eduardo Ramos, Athos; Potiguar, Ratinho e Guilherme; Leandrão, Leandro Cearense e Val Barreto. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola) 

Pokemon será mascote oficial do Japão na Copa

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Para sua participação na Copa do Mundo de 2014 a seleção do Japão definiu os personagens Pokemons como mascotes oficiais da equipe. O contrato foi firmado pela Adidas, fornecedora oficial dos uniformes da equipe, com a Pokemon Company. A imagem foi divulgada pela empresa em seu site oficial no Japão. Para aproveitar o marketing da Copa, é possível que um novo jogo do Pokemon seja lançado. 

Ensaio para o grande clássico

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Por Gerson Nogueira

unnamed (65)O Re-Pa de domingo, que abre a semifinal da Copa Verde, ganhou ontem ingredientes extras. A troca de comando no Remo (sai Charles, assume Agnaldo) à tarde e a grande atuação do Paissandu à noite em Castanhal. Agnaldo acrescenta ao jogo um tom emocional radical. A vitória de virada do Papão sobre o Santa Cruz credencia ainda mais o trabalho do técnico Mazola Junior.

Há cinco jogos sem vencer no Campeonato Paraense, o Papão entrou em campo sem cinco titulares e sofreu no começo da partida, principalmente pelo mau começo dos meias Héverton e Marcos Paraná. O gol de Rafael Paty logo aos 13 minutos também atrapalhou os planos do time.

Como Pikachu empatou logo em seguida, o jogo se reequilibrou, até porque o Paissandu mantinha um bom rendimento no meio-campo, principalmente pela atuação segura de Zé Antonio na proteção. Os problemas se concentravam na zaga, sempre intranquila em bolas aéreas, e no comando do ataque.

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Aos 28 minutos, novo apagão da zaga e Paty voltou a marcar. A vantagem parcial deu a falsa impressão de que o Santa Cruz tinha o controle da partida. Na verdade, o Paissandu continuava melhor e mais organizado, mas com aproveitamento sofrível no ataque, onde somente Pikachu exibia lucidez quando partia para ações ofensivas junto à área. Vânderson substituiu Lacerda e a defesa ganhou mais solidez, embora o Santa continuasse a assustar nos contra-ataques.

Depois do intervalo, o Papão voltou decidido, resoluto e conseguiu se impor em campo, obrigando o Santa Cruz a recuar exageradamente. Com boas inversões de jogadas e constantes avanços de Djalma pela direita, levou perigo logo aos 3 minutos com chance desperdiçada por Pablo.

Marcos Paraná, muito marcado, não rendia o esperado, sobrecarregando Pikachu e o setor de marcação. O Paissandu conduzia muito bem o jogo até a intermediária adversária, mas faltava a faísca do definidor e a torcida sentia saudade do artilheiro Lima, poupado por Mazola.

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O esforço acabou recompensado aos 32 minutos, quando Jô, que havia substituído Héverton, apareceu bem entre os zagueiros para finalizar. O gol empolgou o time, que seguiu pressionando até conseguir a virada, aos 38 minutos, com Dênis. Cambaleante, o Santa Cruz ainda permitiria o quarto gol, nascido por iniciativa de Jô e arremate final de Héliton.

A virada, em circunstâncias desfavoráveis e com vários desfalques, confirmou a maturidade emocional do time de Mazola, que não muda um palmo do planejamento traçado e nem se abala mesmo quando sofre gols em início de jogo.

No Santa Cruz, medroso e sem inspiração para arriscar mais, os melhores foram Mael (enquanto teve fôlego) e Rafael Paty, sempre oportunista. No Papão, Djalma, Zé Antonio e Jô se sobressaíram em relação aos demais. O resultado, nas circunstâncias, faz com que o time de Mazola chegue ainda mais forte ao Re-Pa. A conferir. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola) 

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Goleada foi só o pretexto

Chega ao fim a curta passagem de Charles Guerreiro pelo comando técnico do Remo. De estilo calmo e centrado, enfrentou muitas batalhas no Evandro Almeida. Contestado desde que o clube optou por uma política arrojada de contratações, conseguiu aos trancos e barrancos levantar o título do primeiro turno. Nem isso arrefeceu o tom das críticas ao seu trabalho.

Depois da classificação à semifinal da Copa Verde, obtida domingo em Manaus, foi recebido com vaias no aeroporto. Passou a se queixar de um complô de dirigentes para queimá-lo com a torcida. Veio então a gota d’água: o fiasco diante do Internacional foi o pretexto que a diretoria buscava para despachar Charles.

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Agnaldo de Jesus, contratado para ser seu auxiliar, assume interinamente o barco. Terá a missão espinhosa de dirigir o time no primeiro confronto da semifinal, domingo, mas já sabe que outro técnico será contratado. Motivador e querido pela torcida, Agnaldo terá que recorrer às palavras como única arma de superação.

O problema é que parte considerável do elenco preferia a permanência de Charles. Alguns jogadores chegaram a interceder junto ao presidente Zeca Pirão, como havia ocorrido antes, mas o afastamento foi mantido. Ninguém pode prever como o grupo vai reagir ao novo comando.

A interinidade, porém, tem o aspecto positivo de permitir a Agnaldo fazer mudanças que quase todos cobravam de Charles. Com ele no comando, é improvável que Leandrão e Diogo Silva se mantenham como titulares. Até Eduardo Ramos, mesmo carregando a camisa 33, corre risco de barração.

O certo é que o Remo terá outra cara no domingo.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 14)

De volta ao passado

Por Mino Carta 
“Mino Carta é um chato, se pudesse reescreveria os Evangelhos. Inimigo do regime, Geisel o detestava, mas não tinha rabo preso.” De um depoimento de João Baptista Figueiredo, gravado em 1988 durante um churrasco amigo e divulgado após a morte do último ditador da casta fardada.

É do conhecimento até do mundo mineral que nunca escrevi uma única, escassa linha para louvar os torturadores da ditadura, estivessem eles a serviço da Operação Bandeirantes ou do DOI-Codi. Ou no Rio, na Barão de Mesquita. E nunca suspeitei que a esta altura da minha longa carreira jornalística me colheria a traçar as linhas acima. Meu desempenho é conhecido, meus comportamentos também. Mesmo assim, há quem se abale a inventar histórias a meu respeito. Alguém que, obviamente, fica abaixo do mundo mineral.
Não me faltaram detratores vida adentro, ninguém, contudo, conseguiu provar coisa alguma que me desabonasse. Os atuais superam-se. Um deles se diz jornalista, outro acadêmico. Pannunzio & Magnoli, binômio perfeito para uma dupla do picadeiro, na hipótese mais generosa de uma farsa cinematográfica. Esmeram-se para demonstrar exatamente o que soletro há tempo: a mídia nativa prima tanto por sua mediocridade técnica quanto por sua invejável capacidade de inventar, omitir e mentir.
Afirmam que no meu tempo de diretor de redação de Veja defendi a pena de morte contra “terroristas”, além de enaltecer o excelente trabalho da Oban. Outro inquisidor se associa, colunista e blogueiro, de sobrenome Azevedo. E me aponta, além do já dito, como um singular profissional que não aceita interferência do patrão. Incrível: arrogo-me mandar mais do que o próprio. Normal que ele me escale para o seu auto de fé. O Brasil é o único país do meu conhecimento onde os profissionais chamam de colega o dono da casa.
Não há nas calúnias que me alvejam o mais pálido resquício de verdade factual. Os textos que me atribuem para baseá-las nascem de uma mistificação. Pinçados ao acaso e fora do contexto, um somente é de minha autoria e nada diz que me incrimine. E pouparei os leitores de disquisições sobre minha repulsa visceral, antes ainda que moral, à prisão sem mandado, à tortura e à pena de morte. Quando o Estadão foi pioneiro na publicação de um artigo assinado por Magnoli, limitei-me a escrever um breve texto para o site de CartaCapital, destinado a contar a história de outra peça de humorismo, escrita em 1970 por um certo Lenildo Tabosa Pessoa, redator, vejam só, do Estadão, e intitulada O Senhor Demetrio. Ou seja, eu mesmo, marcado no batismo por nome tão pesado.
Lenildo pretendia publicar seu texto no jornal, os patrões, Julio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita, não deixaram. Surgiu em matéria paga o retrato de um hipócrita pretensamente refinado que, como Arlequim da política, servia ao mesmo tempo Máfia e Kremlin. O senhor Demetrio, de codinome Mino. Diga-se que Lenildo encontraria eco três anos depois no programa global de um facínora chamado Amaral Neto, também identificado como Amoral Nato, que repetia Lenildo no vídeo. Como se vê, tom e letra das calúnias estão sujeitos a mudanças ideológicas.
Ao negarem espaço nas páginas da sua responsabilidade à diatribe de Lenildo, os herdeiros do doutor Julinho quiseram respeitar a memória do meu pai, que trabalhou no Estadão por 16 anos, e meu honesto e leal desempenho na criação da Edição de Esporte e do Jornal da Tarde. O Estadão, evidentemente, não é mais o mesmo. Lenildo e Amaral Neto me tinham como perigoso subversivo de esquerda. Em compensação, hoje sou acusado de ter dirigido naquele mesmo 1970 uma Veja entregue “à bajulação, subserviência e propaganda da ditadura”. É espantoso, mas a semanal da Abril em 1970 era submetida à censura exercida na redação por militares. Eu gostaria de saber o que acham os senhores Pannunzio, Magnoli e Azevedo a respeito de quem na mídia brasileira se perfilava illo tempore ao lado da ditadura. Ou seja, quase todos.
Quem, de fato foi censurado? Os alternativos, então chamados nanicos, em peso, do Pasquim a Opinião, que depois se tornaria Movimento, sem exclusão de O São Paulo, o jornal da Cúria paulistana regida por dom Paulo Evaristo Arns. A Veja, primeiro por militares, depois por policiais civis no período Médici. Com Geisel, passou a ser censurada diariamente, de terça a sexta, nas dependências da Polícia Federal em São Paulo, e aos sábados, à época dia de fechamento, na própria residência de censores investidos do direito a um fim de semana aprazível. Enquanto isso, Geisel exigia que os alternativos submetessem seu material às tesouras censórias em Brasília, toda terça-feira.
Sim, o Estadão também foi censurado e com ele o Jornal da Tarde. A punição resultava de uma briga em família. O jornal apoiara o golpe, mas sonhava com a devolução do poder a um civil, desde que se chamasse Carlos Lacerda. Este não deixava por menos nas suas aventuras oníricas. O Estadão acabou sob censura, retirada contudo em janeiro de 1975, no quadro das celebrações do centenário do jornal. Carlos Lacerda foi cassado. Diga-se que ao Estadão permitia-se preencher os espaços vagos deixados pelos cortes com versos de Camões, em geral bem escolhidos, e ao Jornal da Tarde com receitas de bolo, às vezes discutíveis. O resto da mídia não sofreu censura. Não era preciso.
Quando me chamam para fazer palestras em cursos de jornalismo, sempre me surpreendo ao verificar que o enredo que acabo de alinhavar é ignorado pelos alunos e por muitos professores. Acham que a censura foi ampla, geral e irrestrita. Meus críticos botões observam que me surpreendo à toa. Pois não se trata de futuros Pannunzios, Magnolis e Azevedos? No caso deste senhor Reinaldo, vale acentuar uma nossa específica diferença. Não me refiro ao fato de que eu reputo Antonio Gramsci um grande pensador, enquanto ele o define como terrorista. A questão é outra.
Ocorre que, ao trabalhar e ao fazer estágios na Europa, entendi de vez que patrão é patrão e empregado é empregado, e que para dirigir redações o profissional é chamado por causa de sua exclusiva competência. Ao contrário do que se dá no Brasil, por lá não há diretores por direito divino. Por isso, ao deixar o Jornal da Tarde para tomar o comando dos preparativos do lançamento de Veja, me senti em condições de exigir certas garantias.
No Estadão tivera um excelente relacionamento com a família Mesquita, fortalecido pela lembrança que cultivavam de meu pai, iniciador da reforma do jornal que Claudio Abramo aprofundou e completou. Gozei na casa então ainda do doutor Julinho, filho do fundador, de grande autonomia, aquela que facilitou a criação de um diário de estilo muito próprio, arrojado na diagramação, em busca de qualidade literária no texto. Estava claro, porém, que a linha política seria a da família. Com os Mesquita me dei muito bem, foram de longe meus melhores patrões, talvez os remanescentes não percebam que por eles tenho afeto, embora, saído do Estadão, não me preocupasse em mostrar que minhas ideias não coincidiam com as deles.
Convidado finalmente pelos Civita para a empreitada de Veja, solicitei uma liberdade de ação diversa daquela de que gozara no Jornal da Tarde. Só aceitaria o convite se os donos da Abril, uma vez definida a fórmula da publicação, se portassem como leitores a cada edição, passível de discussão está claro, mas a posteriori, quer dizer, quando já nas bancas.
Pedido aceito. A primeira Veja, espécie de newsmagazine à brasileira, foi um fracasso. Além disso, já irritou os fardados por trazer na capa a foice e o martelo. A temperatura subiu com a segunda capa, a favor da Igreja politicamente engajada. A quinta, com a cobertura do congresso da UNE em Ibiúna, foi apreendida nas bancas. E também o foi aquela que celebrou a decretação do AI-5 no dia 13 de dezembro de 1968. Tempos difíceis. Mas a edição de mais nítido desafio aos algozes da ditadura é de mais ou menos um ano depois. A chamada de capa era simples e direta: “Torturas”, em letras de forma.
A história desta reportagem começou cerca de três meses antes, com uma investigação capilar conduzida por uma equipe de oito repórteres encabeçada por Raymundo Rodrigues Pereira. Foram levantados 150 casos, três deles nos detalhes mínimos. Emílio Garrastazu Médici acabava de ser escolhido para substituir a Junta Militar e pela pena do então coronel Octavio Costa acenava em discurso, pretensamente poético ao declinar a origem do novo ditador por dizê-lo vindo do Minuano, à necessidade do abrandamento da repressão. Raymundo e eu recorremos a um estratagema, e saímos com uma edição anódina para celebrar o vento gaúcho. Falávamos da posse, da composição do ministério, do discurso. Chamada de capa: “O Presidente Não Admite Torturas”.
Ofereço este número de Veja à aguda análise de Pannunzios, Magnolis, Azevedos e quejandos. (Nada a ver com queijo.) Bajulação e subserviência estão ali expostas da forma mais redonda. Naquele momento, a mídia foi atrás de Veja, e por três dias falou-se mais ou menos abertamente de tortura. Logo veio a proibição, que Veja ignorou. Na noite de sexta-feira a reportagem da equipe de Raymundo descia à gráfica para arrolar 150 irrefutáveis casos de tortura, dos quais três em detalhes. Ao mesmo tempo, eu mandava cortar os telefones da Abril para impedir ligações de quem pretendesse interferir, autoridades, patrões e intermediários. A edição foi apreendida nas bancas, e logo desembarcou na redação a censura dos militares.
Quando ouvi falar em distensão pela primeira vez, meados de 1972, pela boca do general Golbery, à época presidente da Dow Chemical no Brasil, pareceu-me possível alguma mudança na sucessão de Médici. De fato, Golbery, que vinha de conhecer, articulava na sombra a candidatura de Ernesto Geisel, títere sob medida para as suas artes de titereiro. Meados de 1973, assenta-se a candidatura obrigatória de Geisel. Alguns meses após, ministério em gestação, Golbery, futuro chefe da Casa Civil à revelia de Médici, me sugere uma conversa com o recém-convocado para a pasta da Justiça, Armando Falcão. Assunto: fim da censura em clima de distensão.
Conversei duas vezes com Falcão enquanto Roberto Civita entre janeiro e fevereiro de 1974 apontava em Hugh Hefner um notável filósofo da modernidade. Mal assumiu a pasta, dia 19 de março de 1974, Falcão chamou-me a Brasília para comunicar que a censura se ia naquele instante. Sublinhei: “Sem compromisso algum de nossa parte”. “Claro, claro”, proclamou, e me deu de presente seu livro de recente publicação, intitulado A Revolução Permanente. Mais tarde Golbery comentaria: “Falcão é o nosso Trotski”.
Três semanas após, a censura voltou, mais feroz do que antes. Duas reportagens causaram a costumeira irritação, fatal foi uma charge de Millôr Fernandes. Em revide, decretava-se que a censura seria executada em Brasília às terças-feiras. Fui visitar Golbery no dia seguinte, eu estava de veneta rebelde, levei meus dois filhos meninotes, e andei pela capital federal de limusine. No meu livro de próxima publicação, O Brasil, a sair pela Editora Record como O Castelo de Âmbar, descrevo assim a visita ao chefe da Casa Civil.
“A secretária do ministro, dona Lurdinha, senhora de modos caseiros, redonda rola sobre o carpete sem perder o sorriso, chega-se ao meu ouvido, murmura: “Veio também o senhor Roberto Civita, quer ser recebido mas não tem hora marcada”. Não deixo que o tempo se estique inutilmente, tomo a visão panorâmica da antessala e vejo Arci, entalado em uma poltrona com expressão perdida na paisagem da savana descortinada além das vidraças. “Que faz aqui?” E ouço meu próprio latido.
“Vici me contou que você viria, e eu gostaria…”
“Você não pediu audiência, não tem hora”, proclamo.
Ele insiste, à beira da imploração. O meu tom chama a atenção de Manuela e Gianni, encaram a cena sem entender o assunto, percebem porém que o pai está muito irritado, enquanto o outro tem jeito de pedinte. Lurdinha traz uma laranjada para as crianças e avisa que o general está à espera. Admito: “Você entra comigo, mas se compromete a não abrir a boca”. Ele promete.
Na conversa que se segue no gabinete da Casa Civil, o meu argumento é óbvio, Veja é uma revista semanal que encerra o trabalho na noite de sábado e vai às bancas às segundas-feiras, obrigá-la a submeter textos e fotos aos censores na terça significa inviabilizá-la. Pergunto a Golbery: “Os senhores pretendem que Veja simplesmente acabe?” Não, nada disso. “Então é preciso pôr em prática outro sistema.”
O chefe da Casa Civil entende e concorda. Diz: “Vá até o Ministério da Justiça, fale com Falcão, a Lurdinha já vai avisá-lo, diga a ele que vamos procurar uma saída até amanhã no máximo, a próxima edição tem de sair regularmente”.
Golbery fica de pé, hora da despedida. O general não conhecia o patrãozinho que até aquele momento cumpriu a promessa feita na antessala. E de supetão abre a boca: “General, se o senhor acha que devemos tomar alguma providência em relação ao Millôr Fernandes…”
Golbery fulminou-o: “Senhor Civita, não pedi a cabeça de ninguém”.
Vici e Arci, ou seja, Victor Civita e Roberto Civita, assim se chamavam no castelo envidraçado à beira do Tietê, esgoto paulistano ao ar livre. Esse entrecho já o desenrolei em O Castelo de Âmbar sem merecer desmentido e o próprio Millôr o colocou no ar do seu blog logo após a publicação no final de 2000. Ao sair do gabinete de Golbery, eu disse a Roberto Civita “você é mesmo cretino”, como depois o definiria na conversa de despedida com o pai Victor, mas poderia dizer coisa muito pior. Quanto à minha saída da direção de Veja e de conselheiro board abriliano, descrevi o evento em editorial de poucas semanas atrás. Faço questão de salientar, apenas e ainda, que não fui demitido, e sim me demiti para não receber um único centavo das mãos de um Civita, nem que fosse a comissão pelo empréstimo de 50 milhões de dólares recebidos pela Abril da Caixa Econômica Federal, juntamente com o fim da censura, em troca da minha cabeça. A revista prontamente caiu nos braços do regime.
A partir daí, tive de inventar meus empregos para viver. Ou por outra, para viver com um salário infinitamente menor (insisto, infinitamente) do que aquele dos importantes da imprensa, e nem se fale daqueles da televisão. Ganham mais que os europeus e de muitos americanos. Em outro país, um jornalista com o meu passado não sofreria as calúnias de Pannunzios, Magnolis e Azevedos, e de vários que os precederam. Muito representativos de uma mídia que manipula, inventa, omite e mente. Observem os fatos e as mentiras da atualidade imediata, o caso criado pelo protagonismo de Gilmar Mendes e pela ferocidade delirante dos chapa-branca da casa-grande. Além do mais, há em tudo isso um traço profundo de infantilidade, um rasgo abissal, a provar o estágio primitivo da sociedade do privilégio, certa de que a senzala aplaude Dilma e Lula e mesmo assim se conforma, resignada, dentro dos seus habituais limites.
Os caluniadores são, antes de mais nada, covardes. Sentem as costas protegidas pela falta generalizada de memória, ou pela pronta inclinação ao esquecimento. Pela impunidade tradicional garantida por uma Justiça que não pune o rico e poderoso. Pelo respaldo do patrão comprometido com a manutenção do atraso em um país onde somente 36% da população conta com saneamento básico, e 50 mil pessoas morrem assassinadas ano após outro. Confiam no naufrágio da verdade factual, pela enésima vez, e que tudo acabe em pizza, como outrora se dizia, a começar pela CPI do Cachoeira e pela pantomima encenada por Gilmar Mendes. E que o tempo, vertiginoso e fulminante como sempre, se feche sobre os fatos, sobre mais uma grande vergonha, como o mar sobre um barco furado.

Texto longo, mas necessário e irretocável, com a marca do grande jornalista. Cabra bom.

Tribuna do torcedor

Por Márcio Robério (roberio2305@hotmail.com)

Olá, Nogueira! Sou leitor diário da sua coluna e acompanho o futebol paraense desde a década de 90. Torço pelo Remo  e me impressiona a falta de profissionalismo  e de critérios em todos os sentidos  dos dirigentes azulinos. Aqui em Brasilia temos “times” mas não temos a razão de existir do futebol, que é o torcedor. O Clube do Remo tem uma torcida apaixonada, que nunca abandona o time, mas tem coisas quem não tem como não se indignar. Por exemplo, olha o naipe de jogador que está afundando o Remo: Eduardo Ramos, Leandrão e Tiago Potiguar. Com todo respeito, mas, pela tradição do Remo, essas 3 caricatas figuras não têm a mínima condição de jogar no Leão. E Charles Guerreiro precisa se reciclar se quiser continuar sendo treinador. Ontem, ele mostrou ao mundo da bola como escalar um time para ser goleado, num esquema tático suicida, enfrentando um time infinitamente superior tecnicamente. A prova disso  foi o escore final do jogo. Vexame no Colosso do Bengui. Pior que a goleada é a postura dos mandatários azulinos de tentar tapar o sol com a peneira, iludindo o torcedor com um discurso otimista em relação a uma possível conquista da Copa Verde. Sinceramente, só acredito vendo… O Fenômeno Azul está de saco cheio desse calvário que parece não ter fim. É hora de levantar, sacudir a poeira, Leão, e dar a volta por cima. Avante, Leão Azul do meu coração. Nogueira, parabéns pelo seu trabalho  e pela coerência nas suas análises sempre transparentes e objetivas, à moda de Baião. 

Rock na madrugada – Hüsker Dü, Makes No Sense At All