Sobre caciques e índios

Por Gerson Nogueira

José Maria Marin nem bem sentou na cadeira que foi de Ricardo Teixeira e já começa a experimentar as agruras da superexposição. Como novo manda-chuva do futebol brasileira, Zé das Medalhas – como é chamado nas redes sociais por conta do patético episódio da final da Copa SP – vê o seu passado de raposa felpuda da política de São Paulo esmiuçado, revirado e reavaliado. E não vai ficar por aí.
Presidentes de federações do Nordeste e do Sul ensaiam uma mobilização para forçar a convocação de novas eleições para escolher o substituto de Teixeira. Além da preocupação em afastar do comando um declarado aliado do ex-presidente, os dirigentes receiam que a CBF se transforme numa extensão da Federação Paulista de Futebol.
Como os estatutos da entidade não têm qualquer inspiração democrática, é pouco provável que Marin largue o osso sem oferecer resistência. Pela parte que nos diz respeito nesse latifúndio, o continuísmo na CBF significa a permanência do esquema político que domina a Federação Paraense de Futebol há anos.
Ao longo de todo o mandato de Teixeira, o coronel Antonio Carlos Nunes, presidente da FPF, comportou-se como obediente seguidor das ordens e vontades de Teixeira, sem que isso tenha resultado em qualquer benefício para o futebol paraense.
Gesto dos mais reveladores dessa fina sintonia entre ambos foi a escolha de Nunes para chefiar a delegação da Seleção Brasileira na Copa das Confederações de 2009, na África do Sul.
À sua maneira, Teixeira buscava compensar o Pará pela derrota na escolha das sub-sedes da Copa de 2014. Indiferente ao clima de revolta entre os paraenses, Nunes aceitou a indicação cala-boca sem pestanejar.
Com a queda de Teixeira, o dirigente paraense foi apontado como um dos maiores prejudicados, justamente pela relação de amizade com o antigo cacique. Rápido no gatilho, porém, apressou-se em hipotecar apoio incondicional ao novo comandante.
A levar em conta o que ocorreu nos últimos anos, é improvável que a proximidade entre os chefões da CBF e da FPF resulte em qualquer vantagem para os paraenses. A essa altura do campeonato, só resta torcer para que os ventos da mudança cheguem até o Norte e façam o que os clubes (e cartolas) daqui nunca tiveram coragem de fazer.  
 
 
O Remo, homenageado do dia na série SuperBola 2012, ainda não ganhou nada no Parazão – aliás, há três anos não sabe o que é conquistar sequer um turno. Mas, mesmo que não seja campeão, já conseguiu uma vitória expressiva. Sob a orientação de Flávio Lopes, reaprendeu a valorizar jogadores formados na própria base do clube. Hoje, no Baenão, há quase um time de garotos à disposição do treinador. Tiago Cametá, Igor João, Alex Juan, Alan Peterson, Paulo André, Jhonnatan, Betinho, Reis e Jaime já estão no elenco profissional. Lopes admite que poderá utilizar outros jovens valores.
Impressiona, acima de tudo, que um técnico vindo de longe (Minas Gerais) tenha tido a sensibilidade que faltou aos seus antecessores. A comparação é ainda mais assombrosa em relação a Sinomar Naves, que dirigiu o Remo por mais de seis meses sem notar que Jhonnatan, Cametá e Reis estavam prontos para jogar. Além disso, insistiu em desconhecer as características de Betinho, usado como volante e até como lateral.    
 
 
 
Direto do blog
 
“Um dia, o nosso pobre futebol paraense retornará às divisões de elite. Um dia, nossos dirigentes deixarão os cargos de presidente de nossos clubes, com vergonha por não conseguirem acabar com os mesmos. Um dia, Remo e Paissandu disputarão a Primeira Divisão do Nacional. Um dia, não haverá mais jogo no Baenão ou na Curuzu, só no Olímpico. Os ‘caldeirões’ serão apenas centros de treinamento. Um dia, quem sabe…”.
 
De Edmundo Neves, sonhando com dias melhores para o futebol do Pará.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 16) 

12 comentários em “Sobre caciques e índios

  1. Melhor é sempre sonhar com dias melhores, amigo Edmundo.É isso aí.

    – Agora, Gerson e amigos, esse negócio de tentar entender o porque o Sinomar passou 8 meses à frente do Remo e não descobriu esses valores, é pelo mesmo motivo que faz com que o Nad, agora o Lecheva, não descobrirem valores no Papão, também, ou seja, não sabem ensinar fundamentos, não sabem treinar um time taticamente, não, não,….. Não sabem nada, por isso, insistem a fazer coletivos e mais coletivos.
    O Remo, fez com o Flávio Lopes o que sempre falo aqui: Tragam um bom técnico, lá em novembro, que ele fará com que se revele alguns garotos da base e os pratas da casa e, montará um bom time, para disputar títulos e, com uma folha salarial baixa. Mas não, preferem contratar essas bombas locais e, depois, quando chega um técnico de fora, se espantam.
    – Um bom técnico, é tudo, em clubes de massa, então….

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  2. Aliás, um jornalista(só pode ser piada) disse em sua coluna em um jornal da cidade, que o Lecheva aplicou uma Arapuca pra cima do Fernando Silva. hehehe, sinceramente, mas essa, na minha opinião, foi a piada da semana. Ficou na frente, inclusive, da queda do Ró no jogo contra o São Paulo. Taí uma idéia, Gerson e amigos, poderíamos fazer, toda Sexta, a imagem ou o Mico da semana. Quem sabe?
    Aliás, na minha opinião, quem aplicou uma arapuca no Fernando Silva, foi o Fabiano Bastos, quando fez ele acreditar que era possível ser técnico da Tuna. Te dizer…

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  3. Gerson, também alimento a esperança, de que uma mudança no comando da CBF, traga algum benefício ao futebol do Pará, tão espezinhado pelo malandrão rt e sua trupe, porém, lembro que para ser beneficiado numa provável mudança, há de se tomar partido, descer do muro e o agora “desprotegido” presidente da FPF, está mudo, silente, continua em cima do muro, como sempre; se não manifestar-se publicamente pela mudança e não correr o risco, não poderá depois reclamar assento à mesa, na nova direção que com certeza virá.
    A propósito, lembro de um adágio popular, não sei onde, creditado a não sei quem, “se o barco não sabe a qual porto se dirigir, então, nenhum vento lhe será favorável” penso que se aplica a atual situação.
    Por outro lado, os administradores(talvez esteja comentendo um pedcado, usando essa classificação) dos ditos grandes do futebol Paraense, são tão vesgos e tíbios , que mesmo sabendo que carregam na costa o Campeonato, permitem a permanencia dessa desastrada administração; se os dois não concordassem, esse acn já teria rodado há muito.

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  4. OBS: Vendo o jogo do Santos, atualmente não axiste outro camisa 10 para a seleção, a não ser o Ganso, o menino jogou muito ontem, a visão de jogo dele, a muito tempo não via um jogador tão tecnico. O ultimo jogador que vi com tais caracteristicas foi o Zidane, penultimo o nosso Giovane.
    Mano, não inventa, é Ganso e Neymar + 9 jogadores.

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  5. Nessa tal aliança entre as federações do Norte, Nordeste e Centro-oeste, Pará e Acre já estão roendo a corda em troca de uma ridícula copa Pan-Amazônica, onde a grande estrela pode ser o The Strongest, da Bolívia, clube que recentemente levou de cinco do Internacional.

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  6. Eu também tenho esperanças que um dia os clubes brasileiros inspirem-se nos clubes ingleses e percebam que não precisam de da CBF para nada e criem suas próprias ligas, até por quê os clubes suriram primeiro. Que ela fique com a galinha dos ovos de ouro, ou seja, a seleção brasileira e deixe os clubes em paz.

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  7. Faço aqui um lembrete: O Sr. Flávio Lopes foi obrigado a avaliar os garotos da base porque não havia tempo hábil para trazer seus prediletos. E deu certo! Caso tivesse tido o tempo necessário teria feito o que todos fazem…

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