Foi sofrido, mas Seleção sai fortalecida

Por Gerson Nogueira

Quando Howard Webb deu início ao jogo, as mais de 57 mil pessoas presentes a Arena Mineirão estavam tomadas pelo entusiasmo e a certeza de um jogo emocionante. Ninguém imaginava que seria um teste para cardíacos. Depois de 120 minutos de bola rolando, com atuação razoável do Brasil e um jogo tático do Chile, foi necessária uma série de penalidades para definir o primeiro classificado às quartas de final da Copa. Júlio César, que defendeu dois tiros livres, saiu como herói da tarde em Belo Horizonte. No placar, para delírio da massa, 3 a 2 para o Brasil.

O primeiro tempo teve amplo domínio brasileiro. Time saía com disposição para o ataque e criava boas situações no jogo aéreo. Coube a Daniel Alves abrir os trabalhos, cruzando forte e ganhando escanteio. No rebote, Marcelo desperdiçou uma boa chance, chutando à direita do gol de Bravo, aos 4 minutos. Em resposta, Diaz aproveitou rebatida da defensiva brasileira e chuta perto do gol, assustando Julio César.
Lento na articulação de manobras pelo meio, Brasil acabava facilitando o trabalho de marcação do adversário. Com o congestionamento das intermediárias, o jogo fica feio, dominado por chutões e passes errados. Para evitar os avanços de Neymar, o Chile se mantém atrás, com até cinco marcadores e só arrisca lançamentos longos para Sanchez e Aranguiz.
Aos 10 minutos, primeiro lance agudo na área brasileira. Jara aproveita avanço de Marcelo e chega com muito perigo pela direita do ataque. Diante do imobilismo da defesa, Julio César pula e defende com dificuldade o cruzamento rasteiro.
Em seguida, tentando responder à súbita pressão do Chile, o Brasil ataca pela esquerda e Hulk é lançado na área. No choque com os zagueiros, cai pedindo pênalti, mas Webb não vai na corda.
A partida vivia momentos de apagão criativo, com erros de parte a parte, bolas espirradas e pouca objetividade. Assustado com a possibilidade de cruzamento, Mena cortou a bola com a mão e recebeu amarelo. A Seleção Brasileira decidiu ensaiar uma meia pressão sobre os zagueiros Isla e Silva, provocando seguidas falhas.
Mais avançado jogador do Brasil, Neymar recebia passes e partia decidido para a tentativa de dribles. Para contê-lo, chilenos diminuem a distância e apelam para o jogo bruto.
Jogadas pelos lados tornaram o Brasil mais insinuante, minando a resistência da marcação chilena. A persistência deu certo. Em escanteio pela esquerda do ataque, Tiago Silva desvia de cabeça e David Luiz divide a bola no segundo pau, mandando para as redes e abrindo o placar aos 18 minutos.
O Chile tentava reagir timidamente, mas a bola era retomada e criava condições para contra-ataques fulminantes. Neymar teve duas boas chances, mas Fred se movimentava pouco, permitindo que a zaga se antecipasse sempre.
Aos 32, um lance bobo na lateral direita resultou no empate que o Chile não fazia por merecer. Marcelo arremessou a bola, Hulk tocou curto e Vidal se apossou da jogada. Daí a bola chegou a Sanchez, que bateu rasteiro no canto direito de Julio César. Nem os chilenos acreditavam direito no presente.
Confiante, o Brasil foi ao ataque e quase desempatou aos 36 com Neymar. Seu cabeceio tinha endereço certo, mas Mena apareceu para desviar. Logo depois, nova investida de Neymar provocou rebote da zaga, mas Fred chutou por cima. De fora da área, Daniel ainda mandou um tiro forte aos 42, mas Bravo espalmou.
Brasil começou o segundo tempo com alguns cochilos, mas Fernadinho aos 5 minutos quase acertou o alvo. Bola passou rente ao poste direito de Bravo. Chile voltou com Aranguiz e Sanchez bem abertos, buscando aproveitar as subidas dos laterais.
Aos 9 minutos, um lance polêmico. Hulk recebeu a bola dentro da área e tocou na saída do goleiro. Bandeira anulou alegando toque de mão, mas imagens não mostraram a infração. O Brasil não conseguia se ajustar no meio e, aos 17 minutos, Aranguiz acertou um sem-pulo que obrigou Júlio César a uma grande defesa.
Como não conseguia render e participar de jogadas no ataque, Fred foi sacado aos 19 minutos para a entrada de Jô. Mesmo com um jogador mais ágil na frente, Neymar não conseguia receber sobras junto à área e via-se obrigado a buscar jogo no meio, afastando-se da zona de chute.
Foi o pior momento brasileiro na partida, demonstrando muita desorganização e até nervosismo em lances envolvendo Daniel Alves e Fernandinho. Finalmente, aos 31 minutos, uma jogada levantou a torcida brasileira. Marcelo cruzou rasante da esquerda e um leve toque de Isla evitou que Jô entrasse com bola e tudo. Com Ramires substituindo a Fernandinho, o time acordou e Daniel botou bola na área para cabeceio de Neymar no centro do gol. Bravo, bem colocado, defendeu.
Aos 37, foi a vez de Hulk invadir e chutar forte, mas o goleiro volta a aparecer com segurança. Nos instantes finais, Chile ensaia um avanço de seus meio-campistas, mas sem resultado prático. Jorge Sampaoli, que já havia tirado Vargas, troca Vidal por Pinilla.
E veio a prorrogação, sob aplausos das duas torcidas e preocupações dos dois técnicos. Neymar cobra falta com perigo logo a 1 minuto. Depois disso, Hulk e o próprio Neymar arrematam ao gol, mas Bravo não deu chances. Nos instantes finais, tentativas insistentes do Brasil, mas sem a inspiração necessária para vencer a barreira defensiva chilena.
Boa arrancada de Neymar pela esquerda terminou com cabeceio de Jô por cima da trave. Jogo já estava no segundo tempo da prorrogação, com o Chile visivelmente administrando para levar o jogo para as penalidades. Extenuados, os times produziram pouco, mas Pinilla ainda acertou o travessão no único ataque chileno em toda a prorrogação. Neymar e Hulk puxaram um contra-ataque que quase resultou em gol na última tentativa brasileira.
Depois que Webb encerrou a prorrogação, vieram as cobranças de tiros livres da marca do pênalti. Júlio César defendeu duas vezes e Jara chutou na trave esquerda a última cobrança chilena. O Brasil venceu por 3 a 2 (David Luiz, Marcelo e Neymar marcaram) e a torcida, que gritava o tempo todo “Eu acredito”, saiu em delírio pelas ruas de Belo Horizonte e por todos os cantos do país. Sexta que vem tem mais.

Brasil x Chile (comentários on-line)

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Copa do Mundo 2014 – Oitavas de final

Brasil x Chile – Arena Mineirão, 13h

Na Rádio Clube, Guilherme Guerreiro narra, Carlos Castilho comenta. Reportagens – Paulo Fernando e Carlos Estácio. Banco de Informações – Adilson Brasil.

Papão pode perder Lima para Chapecoense

O atacante Lima, artilheiro do Paissandu na temporada, pode não retornar à Curuzu para a disputa da Série C 2014. Dirigentes do clube admitem a dificuldade em manter o centroavante, que se valorizou no mercado em função dos gols marcados com a camisa alviceleste e teria recebido uma proposta irrecusável da Chapecoense para disputar a Série A. Além disso, problemas de natureza pessoal também poderão influir na sua decisão de deixar o Papão. A posição do clube é de somente liberar o jogador se for devolvido o valor das luvas. Ao mesmo tempo, já é forte a preocupação em buscar um substituto para o goleador. (Com informações de Cláudio Santos) 

Cobertura começa antes do sol nascer

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Equipe da Rádio Clube do Pará e do DIÁRIO estão desde as 6h30 deste sábado (28) no Centro de Imprensa, iniciando a cobertura de Brasil x Chile pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Jornalistas do mundo inteiro, não apenas chilenos e brasileiros, se fazem presentes ao amplo centro montado a alguns metros da Arena Mineirão. Repórteres dos portais de internet passaram a noite aqui, à espera do grande jogo. Cobertura de Copa do Mundo exige esse tipo de dedicação e comprometimento.

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Muvucas típicas de pré-decisão

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Por Gerson Nogueira

A primeira sexta-feira sem jogo na Copa acabou jogando luzes sobre os preparativos finais dos times que abrem a fase eliminatória. Brasileiros, chilenos, uruguaios e colombianos estão no centro das atenções mundiais. Óbvio que é sobre o Brasil, favorito ao título e anfitrião, que se concentram as maiores expectativas. Ciente disso, o técnico Felipão preferiu encher linguiça na entrevista do dia e foi buscar nos desvios do tempo um personagem desconhecido. Falou de Paulo César Tatu, um obscuro boleiro dos anos 70, com quem jogou nos tempos de zagueiro.

Mais um dos truques de Felipão para descontrair a entrevista coletiva obrigatória e tentar escapar de perguntas inconvenientes. Aliás, Tatu entrou e saiu da conversa sem maiores explicações. Mas deve se entender como inconveniência a obrigatoriedade de comentar a tremenda responsabilidade sobre as costas da Seleção Brasileira e abordar a pressão que os chilenos estão fazendo em cima da arbitragem.

Felipão foi direto sobre a ansiedade e as cobranças sobre os jogadores. Não fugiu do pau. Bem ao seu estilo, disse aos jornalistas que lotavam a área de imprensa que existe o risco de eliminação precoce nas oitavas, mostrou respeito pelo Chile e considerou que o grupo está preparado psicologicamente para as dificuldades embutidas nas fases eliminatórias.

Sobre as insinuações quanto a possível favorecimento dos árbitros à seleção anfitriã, Felipão se armou para responder, mas foi prontamente interrompido pelo assessor da CBF Rodrigo Paiva, que fez um breve discurso em tom irritado. Disse, em resumo, que o Brasil pentacampeão do mundo merece respeito e que a pressão do Chile não se justifica. Exagerou um pouco ao avaliar que o povo brasileiro teria sido ofendido pelos chilenos.

Mais do que as arengas naturais de véspera de decisão, Felipão tem mesmo que se preocupar é com a arrumação do time que vai pegar seu maior desafio no torneio até agora. Com a entrada de Fernandinho já definida, resta confirmar se Maicon entra na lateral direita e se David Luiz (que não terminou o treinamento do dia) terá ou não condições de jogo.

Sem David Luiz, Dante entra na zaga e altera bastante a maneira de atuar da Seleção ali atrás. David sai mais, chegando a contribuir com tentativas de lançamento. Dante joga mais fixo, como Tiago Silva. O dado positivo é que acrescenta um potencial agressivo nas bolas aéreas.

De todas as modificações possíveis, a entrada de Fernandinho é a que mais interfere no jeito de atuar da Seleção. Ao contrário de Paulinho, que ficava mais recuado na versão atual, o volante do Manchester avança e sai bastante para o jogo. Vai tornar o time mais agudo e vertical, embora menos reforçado na marcação, obrigando Hulk a voltar para guarnecer suas subidas.

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Chile vai concentrar marcação em Neymar

Do lado chileno, Jorge Sampaoli foi bem menos explícito que Felipão. Com as protocolares palavras de respeito pelo Brasil, o argentino deixou claro que sua preocupação é mesmo em relação a Neymar. Não menosprezou os demais brasileiros, mas elegeu o camisa 10 como alvo de sua atenção. Deu a pista de que pode impor marcação individual ao craque da Seleção, observando que se movimenta muito e flutua por todas as faixas do campo.

O técnico do Chile projeta um jogo diferente do que seu time vem praticando na Copa. Como o Brasil verticaliza jogadas, mas pouco valoriza a posse de bola no meio, avalia que o embate será amarrado no meio e que os contragolpes devem decidir a parada. Penso como ele, mas considero que a pressão inicial da Seleção pode mudar radicalmente o panorama do confronto. Um gol logo nos primeiros minutos servirá para alterar toda a programação da véspera.

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Dilma acerta em comparecer à final

Sem medo de vaias ou xingamentos, que tanto constrangimento provocaram por ocasião da abertura da Copa do Mundo na Arena São Paulo, a presidente do Brasil vai mesmo entregar a taça aos campeões do mundo, depois da partida final, dia 13 de julho, no Maracanã. Não haverá discurso, apenas a presença da principal autoridade do país na entrega do troféu ao capitão da seleção vencedora.

Sem as manifestações que tantos profetas davam como certas para bagunçar a Copa, Dilma Rousseff irá cumprir o ritual que historicamente é cumprido nos mundiais de futebol. Faz muitíssimo bem. Representará todos os brasileiros, na condição de legítima presidente de um país democrático. Além disso, a mulher que enfrentou tantas violências físicas e psicológicas na luta contra a ditadura militar não pode amofinar diante de um grupelho de mal-educados.

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Imprensa enaltece hospitalidade brazuca

Com destaque crescente na análise dos grandes veículos da mídia internacional, a aprovação à amabilidade do povo brasileiro é publicamente explicitada em pesquisa divulgada ontem. O levantamento indica que 30% dos jornalistas que cobrem a Copa no Brasil. Alegria, sensação de segurança, clima e beleza natural são outros itens destacados pelos profissionais estrangeiros. Eles responderam à pergunta sobre o que mais agradou aos visitantes.

De negativo, há queixas quanto a preços de serviços e produtos, além de um quase unânime queixume sobre o trânsito nas cidades-sede do Mundial, com ênfase para São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

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Valcke receita tratamento; Tabarez ganha aplausos 

O secretário geral da Fifa surpreendeu com uma frase coerente em relação a Luis Suárez. Indagado sobre a pena aplicada ao jogador pela mordida em Chiellini, o francês Jerôme Valcke disse que o atacante precisa de tratamento. Ninguém tinha tocado nesse delicado tema ao abordar o caso, mas Suárez parece ter de fato problemas de agressividade e dificuldades de sociabilidade, fazendo por merecer já há algum tempo assistência especializada.

Valcke só não explicou os motivos da desumana cena de expulsão do jogador da concentração uruguaia. A virulência do ato de oficialização de seu desligamento é, desde já, o momento mais triste desta Copa das Copas.

Recebido como herói pela torcida uruguaia, Suárez continua sem admitir ter errado. Seu silêncio estimula o sentimento de que foi vítima de uma ação orquestrada, como defendem até jornalistas sérios do Uruguai. Por sorte, o professor (é mestre de verdade) Oscar Tabarez foi o primeiro a reconhecer que seu jogador teve uma conduta inadequada, embora criticando o excesso de rigor da pena.

Informou que o Uruguai vai entrar forte hoje contra a Colômbia, sem sentir os efeitos emocionais da perda de seu principal jogador. Figura de fino trato, Tabarez merece todos os aplausos ao final do pronunciamento à imprensa.

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Nas Gerais, clássicos reverenciam o futebol

O clima pré-jogo em Belo Horizonte é dos mais animados, justificando a fama de cidade que ama futebol, dividida que é entre duas paixões centenárias. Cruzeirenses e atleticanos terão a oportunidade rara de unir forças e vozes hoje à tarde na Arena Mineirão. E devemos ter, pela primeira vez, uma torcida com bom gosto para a trilha sonora do espetáculo, afinal vêm de Minas algumas das canções brasileiras mais inspiradas sobre futebol.

A já clássica “Uma partida de futebol”, do Skank, é apenas parte de uma coleção admirável, que inclui a belíssima “Bola de meia, bola de gude” (Milton Nascimento/Fernando Brant) e “País do futebol”, que o próprio Milton celebrizou. Se depender de música para seguir em frente, a Seleção pode se considerar muito bem servida.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 28)