Um passeio alviceleste

Por Gerson Nogueira

Poucas vezes neste Parazão um time se mostrou tão desarvorado em campo quanto a Tuna, ontem. O Paissandu nem precisou fazer uma exibição magistral para botar os cruzmaltinos na roda e criar um caminhão de chances de gol. No primeiro tempo, jogando na conta do chá, o time de Lecheva venceu por 1 a 0, mas podia ter feito três ou quatro gols se seus atacantes fossem menos afobados.
O gol inaugural, em jogada isolada de Cariri, revelou o mau posicionamento dos zagueiros e volantes da Tuna. Enquanto o meia arrancava em direção ao gol, os marcadores se limitavam a acompanhar com os olhos. O vacilo geral deixou Cariri cara a cara com o goleiro André Luiz, livre para finalizar.
Até aquele momento a Tuna ainda ensaiava equilibrar as ações. Lineker se movimentava pelo lado esquerdo e Beá travava uma briga desigual com a zaga do Paissandu. André Mensalão ficava mais atrás, procurando organizar as jogadas. A defesa, porém, vivia aos sobressaltos, chegando tarde para marcar e dando vários rebotes aos atacantes do Paissandu.
No segundo tempo, Fernando Silva não corrigiu os problemas de posicionamento e a situação se repetiu várias vezes. Tiago Potiguar e Cariri cansaram de chegar à área tunante sem receber combate.
Cabe dizer que Pikachu e Héliton envolviam a zaga mais por seus méritos do que por fragilidade dos adversários. Bryan, Pablo e Robinho destoaram dos demais, mas a superioridade técnica do Paissandu foi assombrosa e a goleada podia ter sido mais ampla. 
Lecheva, que venceu duas seguidas e pode permanecer no cargo até o final do Parazão, arrumou bem as peças, embora ainda não tenha resolvido a equação do ataque, onde Adriano Magrão ainda parece um estranho no ninho. Aliás, pelas facilidades encontradas ontem, Magrão perdeu tremenda chance de quebrar o jejum de gols com a camisa alviceleste. Talvez não desfrute mais de tanta moleza no restante do campeonato.
Na Tuna, Lineker, Mensalão e Beá se movimentaram incessantemente buscando espaços. Maraú também se apresentou para o jogo, mas o caos prevaleceu e a equipe parecia mais um bando sem objetivo definido. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola)
 
 
Por mais de duas décadas o país do futebol se acostumou a pensar que Ricardo Teixeira era invencível. Tantas jogadas aprontou ao longo desse tempo e tantos inimigos conseguiu derrotar que a imagem se consolidou. Imagino que o próprio cartola se convenceu disso – e talvez aí tenha residido seu grande erro.
O futebol, esporte que Teixeira aparentemente não aprecia, é a prova viva de que toda invencibilidade pode ser quebrada. Há dez dias, o dirigente ensaiou uma saída, mas recuou no meio do caminho. Optou por se licenciar da CBF no que, descobriu-se ontem, foi apenas uma malandragem para ganhar tempo.
Há dois anos, logo depois da definição das sub-sedes da Copa de 2014, o destino do mais longevo manda-chuva do nosso futebol começou a se definir. Denúncias cabeludas sobre contratos fraudulentos, firmas fantasmas e parcerias nebulosas começaram a assombrá-lo em notícias que pipocavam na imprensa européia. 
A traição – revelada na célebre reportagem da revista Piauí – ao ex-sócio Joseph Blatter foi a gota d’água. As últimas salvaguardas caíram por terra e Teixeira foi diminuindo de tamanho. Voltou a ser um cartola eminentemente paroquial, uma espécie de Caixa D’Água mais arrogante. Sobrevivia precariamente no comando da CBF, mas não tinha qualquer força como chefe do Comitê Organizador da Copa.
Finalmente, pressionado pelas circunstâncias adversas, decidiu sair pela porta dos fundos. Permanece a salvo graças à conivência da baixa cartolagem que o bajulava incansavelmente e à teia poderosa de cúmplices, incluindo autoridades, políticos e a Globo velha de guerra.
Aliás, quase tão constrangedora quanto a renúncia de Teixeira foi a maneira surrealista com que o principal telejornal da emissora tratou o assunto, como se o ex-aliado tivesse passado de estadista. Seria cômico se não patético. 
 
 
 
Direto do blog
 
“Agora o mais importante é discutir a CBF. Por suas implicações administrativas essa entidade deveria ser auditada (também) pelo Tribunal de Contas da União e não apenas pelo seu Conselho Fiscal e Assembleia Geral. Há que se considera que os grandes recursos da CBF são provenientes de contratos comerciais que podem ter beneficiários outros além da própria entidade. No passado, reclamava-se da ingerência do Estado nos assuntos da CBF e hoje as coisas correm soltas para satisfação de alguns poucos”.
 
De Tavernard Neves, tentando descortinar a era pós-Teixeira.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 13)

Tuna x Paissandu (comentários on-line)

Parazão 2012 – terceira rodada do returno.

Tuna x Paissandu – estádio Mangueirão, 15h30.

Na Rádio Clube – Claudio Guimarães narra; Rui Guimarães comenta. Dinho Menezes nas reportagens.

Perguntinha do dia

Além de Flamengo, Corinthians, Rede Globo e coronel Nunes, quem mais sentirá falta do Ricardo Teixeira?

(a partir de sugestão do baluarte Marcelo Maciel)

Direto do túnel do tempo

Com esse título sugestivo (e premonitório), a revista Placar anunciava, há 23 anos, a chegada de Ricardo Teixeira ao comando do futebol nacional. Nas fotos, abraços do novo capo com velhas raposas – Otávio Pinto Guimarães, Caixa d’Água e Nabi Abi Chedid. Apoiado pelo então sogro João Havelange e com o suporte da principal rede de TV do país, Teixeira rapidamente dominou todos os setores do futebol no país, impondo-se até sobre presidentes. Leal, a Globo seguiu dando-lhe retaguarda até mesmo quando surgiram as primeiras denúncias de irregularidades e contratos fraudulentos. Talvez por isso mesmo, no noticiário sobre a renúncia do cartola, o canal Sportv adotou um curioso estilo contido, quase consternado e com os comentaristas falando até em “legado” de Teixeira.

E Teixeira caiu mesmo…

Ricardo Teixeira oficializou, no final da manhã desta segunda-feira, sua renúncia à presidência da CBF e desligamento da chefia Comitê Organizador da Copa de 2014. O anúncio oficial foi divulgado pela entidade há alguns minutos.

Tribuna do torcedor

Por Marco Augusto Leão Bordalo (marcobordalo@ig.com.br)

Sou paraense, residente no DF e torcedor do Paysandu. Inicio identificando quem e onde estou, pois meu argumento em prol da tese da torcida única, em parte de consolidou por morar fora do Pará.
Pergunte a qualquer torcedor de São Paulo, Rio, Minas ou do  Rio Grande do Sul sobre para qual time torce? Via de regra, e o contrário será raríssimo, dirão que torcem por clubes dos seus estados e só. E mais, fale do Paysandu, do Remo ou de outro clube paraense para um deles. O deboche sobre a existência dos nossos clubes será a tônica das respostas. Digo isto, pois convivo com esses caras.
Sabe mais? Torcem pra que nenhum clube do norte participe do brasileiro, seja de que divisão for, sabe por que. Porque no norte é o fim do mundo, um calor dos infernos, dizem eles.
Lembra daquele brasileirão da séria A que roubaram um monte de pontos do Paysandu para favorecimento de clubes do sul maravilha? Fariam isso se fosse de um clube abaixo  do DF?
Não sou xiita, o que tenho é muita vergonha na cara, motivo pelo qual quando me perguntam (somente paraenses me fazem esta pergunta) qual o meu time no Rio ou em Sâo Paulo, minah reposta é a mesma: sou do Papão até em Marte. 
No meu local de trabalho tem bonequinho do Papão e sempre falo do meu bicolor, e por essa postura, acabei sendo repeitado pelos meus colegas de trabalho.

Para Caniggia, Pelé foi o melhor de todos

Do UOL Esporte

Autor do gol que eliminou o Brasil na Copa do Mundo de 1990, Claudio Caniggia colocou fogo em uma polêmica que parece não ter fim e divide não só brasileiros e argentinos, mas boa parte do mundo. O ex-jogador escolheu Pelé como o melhor de todos os tempos em detrimento ao amigo Diego Maradona. “Os melhores são Pelé, Diego [Maradona] e Cruyff. E nessa ordem. Há também o Di Stéfano, que não vi jogar. Mas diria que o quarto talvez seja o Messi. Romário e Ronaldo estão com certeza entre os dez, talvez entre os cinco. Foram os melhores brasileiros que vi. Foram geniais”, disse Caniggia. O argentino veio ao Rio de Janeiro para a disputa do Mundial de Futevôlei 4 x 4, encerrado no último sábado com o título da equipe de Renato Gaúcho.

Responsável pela eliminação brasileira nas oitavas de final da Copa de 90, na Itália, Caniggia é extremamente solícito e simpático, o que não ocorre com Maradona. E apesar de normalmente pisar em ovos na hora de comparar o eterno camisa 10 da seleção de seu país com o atual melhor do mundo, Caniggia não tirou o pé da dividida. “Acho que a eleição que o Marca [jornal espanhol] fez é ridícula, sem sentido ou propósito, a não ser o de vender jornal. Quero deixar bem claro que acho o Messi um supercraque, mas não dá para comparar um jogador de 24 anos com outros que fizeram história ao longo da carreira. Foi uma eleição com 87 mil pessoas, mas mais de 50 mil não devem ter visto o Diego [Maradona] jogar. Messi é parecido com Diego? É, mas ser parecido não é ser igual. Nem ser melhor”, diz o ex-atacante.

Sob alta temperatura

Por Gerson Nogueira
 
O imponderável está diretamente ligado à magia do futebol e, por vezes, vem em socorro do torcedor. Ontem, no Baenão, um jogo que começou morno, quase monótono, de repente virou um movimentado embate entre equipes que buscavam o gol a todo custo. E um toque de mão mudou toda a história.
Em jogada rápida antes do primeiro minuto da etapa final, Cassiano foi à linha de fundo e cruzou à meia altura. A bola desviou na mão do zagueiro Adson. Por uma fração de segundos, o árbitro Marco Antonio Mendonça pareceu hesitar. Antes, porém, que a bola parasse de girar ele já apontava para a marca da cal.
Pode-se questionar, pelas regras do jogo, se o tal lance de bola na mão é pênalti mesmo. Nos tempos de moleque em Baião, só era penalidade quando o sujeito tascava a mão na bola. Ocorre que a Fifa estabelece, já há alguns anos, que o que vale é a intencionalidade e manda que os árbitros punam quando o jogador abre os braços, pecando por imprudência.
O certo é que o gol que se seguiu ao pênalti pôs fogo na partida. O Remo, de repente, saiu da rotineira troca de passes e passou a ter o contra-ataque à sua disposição, pois ao Independente não mais interessava ficar preso lá atrás, fazendo o tempo passar.
Com a desvantagem, Valter Lima viu-se obrigado a abrir mais o time, que havia entrado com uma formação que privilegiava o passe no meio-de-campo e sem atacantes de referência. Vinha dando certo até o fim do primeiro tempo. O gol de Fábio Oliveira desmontou essa estratégia. E o jogo ficou mais bonito de ver.

A nova situação permitiu que Betinho, Reis e Cametazinho, que atuavam bem, aparecessem mais ainda. Cassiano também se tornou mais produtivo, pois é um jogador que depende de jogadas em velocidade. Do lado do Independente, Fidélis, Gian e Tiago Floriano foram os mais beneficiados porque o time passou a verticalizar os passes.
O empate, aos 19 minutos, foi produto dessas duas vontades. O Remo tentava fazer mais um gol e se descuidou atrás, com a subida de Aldivan. O Independente foi cirúrgico. Lançou Tiago Floriano pelo corredor aberto. O cruzamento rasteiro encontrou Totti livre para finalizar.
Longe de se acomodar, o Remo permaneceu ofensivo, sabendo que não restava outro caminho, mesmo expondo-se defensivamente. Acabou premiado instantes depois com o gol de Fábio Oliveira em manobra que envolveu Jhonnathan e Cassiano, justamente os melhores do jogo.
Apesar da altíssima temperatura, os 20 minutos finais foram disputados na valentia e em velocidade, apesar da temperatura no Baenão. Chances ainda apareceram de parte a parte, mas o placar já estava definido. Com justiça. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola)
 
 
O empate entre S. Raimundo e Águia foi ruim para o Águia e pior ainda para o Pantera, que não consegue sair das últimas posições do returno e do campeonato. O segundo gol marabaense, marcado por Rayro, confirmou uma tendência do S. Raimundo neste Parazão: entregar o ouro nos minutos finais, para desespero da torcida alvinegra de Santarém.
 
 
Recebo mensagem do amigo Ronaldo Passarinho fazendo a correção de um comentário que fiz há dois domingos, no Bola na Torre. Disse, na ocasião, que Raimundo Ribeiro havia sido responsável pela vinda de Artur e Luciano Viana para o Remo. “Os jogadores Luciano Viana, Artur e outros vieram para o Remo na gestão do Ubirajara Salgado. O que o Raimundo Ribeiro fez foi vendê-los, todos”, esclarece Ronaldo, em cima do lance.
 
 
Sobre a coluna de ontem, “A patrulha fundamentalista”, transcrevo trecho da manifestação do José Eliziário Bentes, que explica o motivo de sua insatisfação com os “torcedores mistos”:
“Não sou contra quem tem outro time de futebol, de fora do Pará, para torcer, até porque eu tenho a minha segunda bandeira. Mas o que eu não concordo, sendo esse o meu interesse pelo tema, é que torcedores do Remo ou do Paissandu, nos dias em que esses clubes estão jogando, seja lá com quem for, compareçam nos estádios trajando camisas de outros clubes, como, por exemplo, hoje (ontem), no Baenão, no jogo Remo x Independente, onde só nas cadeiras vips tinham 8 torcedores com camisas do Flamengo, Fluminense, Vasco, Palmeiras… É isso que sou contra. E não sou contra de graça. Penso que isso tem uma conotação bem mais profunda e que propaga uma fatia hereditária que há muito nós nos livramos”.

(Coluna publicada no Bola/DIÁRIO, edição de segunda-feira, 12)