Algumas palavras sobre o Comandante

101345949-79834395-530x298

POR GERSON NOGUEIRA

“Condenem-me, não importa, a história me absolverá”.

A morte de Fidel não foi inesperada. Ocorre que quando um gigante morre o impacto é sempre duro. O velho Comandante convalescia há pelo menos quatro anos, mas, com sua partida, vai embora uma das últimas utopias da geração que acreditava poder mudar o mundo. Fidel simboliza o destemor e a bravura dos grandes heróis, por conduzir sua pequena ilha a um confronto de gigantes contra a maior potência do planeta. Rico de nascença, nem por isso hesitou em pegar em armas para defender suas convicções e desafiar o império ianque.

Quantos hoje teriam o mesmo desprendimento? Num mundo tão refém do individualismo e do deus mercado é natural que alguns não compreendam sua persona revolucionária. Cometeu, sim, erros – mas, quem nunca? O mais importante legado da vida política de Fidel foi a dignidade que deu ao povo de Cuba, um pequeno país que se tornou referência mundial em educação e saúde públicas.

Um Don Quixote pragmático, mas não menos visionário. Li muito sobre Fidel e sua revolução. Li ensaios sérios que buscavam desmistificar sua aura heroica. Nada disso conseguiu diminuir seu tamanho. Poucos líderes mundiais foram tão analisados, julgados e fotografados ao longo dos anos. Poucos também construíram uma imagem tão forte e definitiva.

fidel-castro-onu

“Comer pouco, dormir pouco e incomodar muito vocês”.

Aliás, estou lendo “Corpos Divinos”, espécie de romance autobiográfico de Guillermo Cabrera Infante, contemporâneo da tomada do Palácio de Moncada, em 1959. No livro, o cubano Infante traça em poucas linhas um retrato pouco lisonjeiro do Comandante.

cynan7sweaauqkoNão esqueço das referências discretas à revolução cubana contidas em “O Poderoso Chefão II”, principalmente a cômica cena da fuga em massa e estabanada dos partidários de Fulgencio Batista, como ratos, escapando sorrateiramente dos guerrilheiros que desciam a serra.

Fidel desafiou, com coragem e astúcia, o poderio bélico norte-americano. Indomável, resistiu meio século às pressões declarada ou oculta de Tio Sam, sem recuar ou afrouxar de seu intento de garantir uma Cubra livre e independente. Cabra bom.

Portou-se como símbolo maior do pensamento de esquerda no mundo até seus últimos dias. Ditador? Sim, mas não havia outro meio de manter seu país a salvo do capitalismo que tanto condenava e resistir ao poderio bélico norte-americano. Alinhou-se sempre do lado certo, apoiando movimentos populares pelo mundo e avalizando Mandela, Allende, sandinistas na Nicarágua, Lula, Chavez, Dilma.

Acima de tudo, Fidel foi um bravo, um líder admirável, construtor de sonhos e fiel aos seus ideais. Veio, viu e venceu. Que descanse em paz.

cymgwrqwqaarpgx

3 comentários em “Algumas palavras sobre o Comandante

  1. Há muitos Fidéis. O ditador. O Sanguinário. O opressor.

    Sim! É provável que ele tenha sido isso e até mais.

    Contudo, resumir Fidel a isso é não ver que ele também era um sonhador. Uma amante da esperança. Da paz. Da igualdade. Da irmandade.

    Ora, se Cuba tem uma educação de qualidade, uma saúde ímpar no mundo e o segundo melhor IDH do américa latina, é graças ao sonhador Fidel.

    Se Cuba não prosperou economicamente com o socialismo, pelo menos tornou-se um lugar mais humano para se viver. Mais humano do que qualquer país do nosso continente.

    Curtir

    1. Aliás, observo alguns ignorantes políticos vociferando nas redes sociais e chamando Fidel de tirano. Fico a imaginar o que pensam do ínclito FHC, cujos governos carregam – entre outras manchas terríveis – o recorde de crianças morrendo de fome no país (300 por dia!). Quem é, afinal, o tirano?

      Curtir

Deixar mensagem para celira Cancelar resposta