POR GERSON NOGUEIRA
Menos pelas mexidas que Dado Cavalcanti começou a fazer no time e mais pela falta de criatividade do Londrina, o Papão conseguiu um bom resultado ontem à noite, no estádio do Café. O empate em 0 a 0, obtido na casa de adversário que briga diretamente pelo acesso, na reta final da competição, deve ser contabilizado como bastante positivo.
É verdade que o Papão levou alguns sustos, mas no geral se comportou a contento e mereceu a igualdade no placar. Sem ter um ataque mais agudo no primeiro tempo, utilizando apenas Rivaldinho na frente, Dado apostou no contra-ataque sem que os seus homens de meio (Raí, Jonathan e Celsinho) tivessem as características exigidas para esse tipo de jogo.
Nos primeiros minutos, o Papão ensaiou uma meia pressão e Raí acertou um tiro forte de longa distância, que quase surpreendeu o goleiro Marcelo Rangel. A ousadia parou por aí, pois o Londrina passou a concentrar o jogo em tentativas para o centroavante Itamar (35 anos, 103 quilos) e em jogadas trabalhadas por Zé Rafael na meia-cancha.
Para não deixar os zagueiros Pablo e Lombardi muito expostos ao ataque paranaense, Recife e Rodrigo se limitavam a formar um bloqueio em frente à área, às vezes auxiliados por Jonathan e Raí. Notória a falta que um meia-armador de qualidade, como Tiago Luiz (poupado), faz à equipe. Sem seus passes e lançamentos, o Papão fica absolutamente previsível e limita-se a tentar cruzar bolas na área.
Por sorte, o Londrina não mostrou, pelo menos ontem, virtudes que justifiquem a quinta posição na Série B. Foi um time sem vibração e limitado quanto ao repertório de jogadas ofensivas. O paraense Paulinho exagerou na lentidão pelo lado esquerdo, enquanto o volante Germano – artilheiro do time – posicionava-se muito atrás, longe dos atacantes.
No segundo tempo, um lance rápido gerou gol anulado erradamente pela arbitragem. Anderson cruzou para a área e Itamar saltou livre para cabecear. Emerson ainda tentou espalmar, mas a bola morreu no fundo das redes. O assistente apontou impedimento, mas o atacante estava na mesma linha do último homem da defesa do Papão, Lombardi.
Jonathan passou a atuar como um atacante pelo lado esquerdo, levando alguma vantagem sobre a marcação, mas as jogadas não tinham continuidade quando chegavam a Rivaldinho. Dado demorou a substituir, perdendo a chance de testar Cleiton (que substituiu Raí) mais cedo.
De toda sorte, apesar do esforço, o Londrina não se fazia merecedor da vantagem. Mesmo insistindo com as tentativas aéreas, o time da casa não conseguia levar maior perigo. Depois do gol anulado, somente outro lance levantaria a torcida, quase ao final: Safira cruzou e Jô, com o gol escancarado, finalizou no travessão. A bola bateu na linha e voltou.
Desanimado, o Londrina arrefeceu e cedeu espaços ao ataque do Papão, que já contava com Leandro Cearense e Bruno Veiga. O problema é que o cansaço já dominava as equipes e a partida entrou em ritmo mais lento. Cearense ainda teve boa oportunidade, depois que Veiga dividiu bola com a zaga. Chutou à meia altura, no canto, mas o goleiro defendeu. O resultado final só foi bom para o Papão.
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No Remo, circo armado e eleição ameaçada
Às vésperas de eleição decisiva para os destinos do Remo, uma ruidosa batalha interna sufoca o debate de ideias próprio de uma campanha eleitoral. De um lado, o presidente do clube vive sob o ataque inclemente da chapa de oposição, cujo candidato é também o presidente do Conselho Deliberativo, com poder e influência para criar vários focos de incêndio – e atrapalhar ainda mais a gestão atual.
Nas redes sociais, o clima é de guerrilha. Reputações são enlameadas, figuras da velha guarda são achincalhadas e qualquer ato de um dos lados é rechaçado de imediato pelo oponente. Ontem, depois que a diretoria anunciou o cadastramento do Profut, a oposição rebateu de pronto alegando que nem tudo é divino e maravilhoso. Lembrou que muito há de ser feito para que a adesão ao Profut possa vir a ser digna de festejos.
Em entrevista a uma emissora de rádio, o candidato Manoel Ribeiro falou que a eleição direta foi a pior coisa que podia ter ocorrido ao Remo, renegando o próprio estatuto do clube. Garantiu que o torcedor não quer saber se a administração é boa ou ruim. Completou o exercício de sincericídio dizendo que há um milionário por trás de sua campanha.
Sem detalhar propostas de gestão, o candidato repetiu apenas o mantra de que o Remo precisa voltar a vencer e a alegrar sua torcida – sem explicar exatamente como pretende alcançar essas metas.
Coincidência ou não, horas após MR haver detonado o instituto da eleição direta surgiu a informação de que o pleito poderá ser adiado. O presidente da assembleia geral, que não pode decidir monocraticamente sobre o assunto, estaria propenso a suspender a eleição de 12 de novembro, alegando incorreções na lista de votantes.
De repente, por vias transversas, a eleição esconjurada pelo “Marechal da Vitória” pode não acontecer. Enfim, nada a estranhar dentro do circo de horrores em que se transformou a campanha eleitoral azulina.
(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 02)