A língua portuguesa já perdeu a Copa

Por Moacir Japiassu, no Comunique-se

Torcedores que, à paixão pelo futebol, acrescentam o bom gosto de ler e colaborar sempre com o Jornal da ImprenÇa, escrevem para deixar aqui o seguinte registro: a Seleção Brasileira pode até ganhar a Copa, mas a língua portuguesa tem sido goleada pela ignorância qual o time de Cristiano Ronaldo na partida contra a Alemanha.

“Haja saco para agüentar repórteres, narradores e comentaristas a falar ‘por conta’ de minuto a minuto nas transmissões dos jogos!”, escreve Aristides Pires de Miranda, advogado paulistano e torcedor do Palmeiras. “Simplesmente escoucearam  para escanteio o tradicionalíssimo e corretíssimo ‘por causa’, como você e Janistraquis já estão carecas de denunciar.”

 Outro leitor/colaborador, entre os mais de 40 que escreveram à coluna  é Ernesto Rodriques Menezes, o qual se apresenta como ‘comerciante carioca e botafoguense’, e, como os demais, não suporta ‘por conta’ a substituir ‘por causa’; ele aproveita para também reclamar de outro lance:

 “A palavra ‘companhia’ é sempre pronunciada ‘companía’, como se o H não existisse; aliás, quem adora dizer isso é o seu amigo Lucas Mendes quando se despede dos telespectadores do Manhattan Connection e agradece a nossa ‘companía’.”

 Marilene Caldas, professora carioca que ‘morre de paixão pelo Fluminense’, garante: “Esses chamados ‘profissionais da imprensa’ não entendem nada de futebol, enrolam o torcedor em falações sem fim, e, quando a gente faz as contas, percebe que não disseram nada aproveitável.”  

 E quase todos os leitores/colaboradores da semana execraram narradores/comentaristas/repórteres por enfiarem os Estados Unidos num horroroso singular. Virou hábito, digamos, analfabetístico, dizer “o Estados Unidos”. Então, já que agora é assim, escutamos à exaustão “o Estados Unidos foi…”, “o Estados Unidos fez…”, e segue o desrespeito pela transmissão afora.

6 comentários em “A língua portuguesa já perdeu a Copa

  1. Com todo respeito a Japiassu, penso que esta ser uma reclamação desnecessária. A língua evolui e o texto oral é repleto de ocultamento de palavras tipo “O (país) Estados Unidos foi competente na economia”… No texto escrito devemos cobrar a norma… na oralidade devemos ser menos ortodoxos…

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  2. Não, celira. Na verdade nosso ensino é deficiente e chegamos ao ponto em que profissionais da palavra não sabem se expressar corretamente. Os jornalistas de Portugal não cometem esses erros grotescos que ouvimos por aqui e, posso assegurar, os africanos de língua portuguesa Angola e Moçambique também falam com mais correção que seus colegas tupiniquins. Entre os países lusófonos, o Brasil é quem fala pior a língua natal e sendo “compreensivos” com esses semi-analfabetos não vamos melhorar o idioma, e sim piorá-lo, como vem ocorrendo nas últimas décadas.

    Mas não é só o pobre português que vem sendo desrespeitado. A verdade, igualmente, vem sendo solenemente ignorada, principalmente nas análises dos jogos da seleção nacional. São “coincidências” ridículas e forçadas, comentários tendenciosos, mentirosos mesmo. Quem não lembra do casagrande dizendo que a seleção estava jogando futebol-arte no segundo tempo contra camarões?

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  3. O pior de tudo é o gol antológico. Antologia é uma coletânea de textos literários, agrupados de acordo com suas especificidades. Portanto, por mais que um gol seja espetacular, jamais será antológico, no máximo, um “gol de placa”.

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  4. Nada disso me incomoda mais que a tal licença poética… Pobre, se erra a regra, é burro… Rico, é licença poética…

    Mas também há o preconceito com interjeições e outras falas típicas locais: sumano, pitiú e piché, rapidola, égua e chibé, paidégua, carimã e caribé… temos que nos valorizar mais.

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