Os caixotes que rondam Neymar

Por Gerson Nogueira
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Quando Pelé reinava nos gramados, marcadores seus batiam cabeça para tentar conter as arrancadas e dribles infernais. Inutilmente. Com Mané Garrincha as tentativas eram ainda mais patéticas. O monstro das pernas tortas desmoralizava laterais e beques. Com Diego Maradona ainda foi assim. Quando surgiu no começo dos anos 80, as jogadas de El Pibe eram esquadrinhadas e avaliadas. Apesar disso, ninguém encontrou um antídoto eficaz.
Nos últimos tempos, grandes jogadores passaram a ser mais estudados ainda. Em consequência, passaram a ter menos tempo de brilho e permanência no topo. Aconteceu com Ronaldo Fenômeno, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho e certamente vai ocorrer também com Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Neymar.
Com Messi, a marcação conseguiu relativo sucesso, influenciando muito na decadência experimentada pelo Barcelona. Nos últimos dois anos, o time mergulhou em vertiginosa queda, sem ter perdido nenhum de seus craques. Uma das causas: Messi, o astro da companhia, passou a ter seus avanços em campo cuidadosamente monitorados. Como é craque indiscutível, continuou a fazer gols e a dar show, mas não com a frequência de antes.
Nesta Copa, contra a Bósnia, Messi só foi Messi no segundo tempo, quando achou uma faixa de campo mais propícia para avanços e tabelinhas. Ganhou a companhia de um atacante forte, Higuaín, que assumiu o papel de pivô, despovoando a entrada da área.
Em proporção menor, Neymar trilha uma situação muito parecida. Do jogador surpreendente das duas últimas temporadas, passou a ser mais previsível. Seus dribles curtos e arranques inesperados não surtem mais o mesmo efeito devastador sobre as defesas inimigas.
Na Copa das Confederações, ele ainda conseguiu se sobrepor ao cerco dos defensores, trocando constantemente de posição no ataque. Na Copa, já não adianta trocar tanto de lugar, pois sempre aparecem três ou quatro homens no seu caminho. A Croácia jogou dessa maneira, embora afrouxando junto ao meio-de-campo, mas o México cuidou do bloqueio com disciplina e método.
Sob o comando de Rafa Márquez, a zaga mexicana chegou a encaixotar Neymar com até quatro jogadores de uma vez só. Ele driblava um, dois e parava no terceiro. Sem companheiros para dialogar e inverter funções, via-se obrigado a permanecer com a bola e, quanto mais tempo ficava com ela, aumentava o cinturão de zagueiros à sua volta.
Pela gravidade da situação, a comissão técnica do Brasil certamente já identificou o problema. Felipão e Parreira devem estar buscando alternativas, mas é cada vez mais improvável que a um jogador tão importante quanto Neymar seja concedido espaço para manobrar. Contra Holanda ou Chile nas oitavas, primeira parada eliminatória, o policiamento ao único craque brazuca deve ser mais ampliado.
Aí volta-se ao ponto inicial da história: só o próprio Neymar pode buscar meios de fugir à marcação, com habilidade e alguma matreirice.
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Batalha perdida nas arquibancadas
Uma Copa que periga virar uma versão mais encorpada da Copa América, como bem lembrou o professor Rosemiro Pamplona, já é dominada por cores, aromas, danças e cantorias marcadamente latinas. Até aí, tudo bem. Afinal, Copa é também um evento de alegria, música e festa.
O problema é que nossos vizinhos de América Latina estão cada vez mais ruidosos, fazendo prevalecer sua paixão futebolística na força do gogó. Espetáculos maravilhosos da participação das torcidas já foram vistos nos jogos do México, Uruguai, Colômbia, Chile, Costa Rica, Equador e Argentina. Curiosamente, mesmo na condição de país-sede, a torcida brasileira destoa, fazendo papel tímido diante da barulheira dos hermanos.
Isso aconteceu no Itaquerão, em São Paulo, e na Arena Castelão, em Fortaleza. Por razões mais ou menos conhecidas, a Seleção Brasileira tem recebido menos incentivo do que seus adversários, principalmente os americanos do centro e do sul. Na última terça-feira, o que se viu foi um verdadeiro massacre mexicano em termos de animação e entusiasmo.
Até os gritos de guerra eram mais condizentes com um campo de futebol. Enquanto os nossos repetiam o coro “Brasil, Brasil”, os visitantes mudavam de canção a todo instante, intercalando com palmas e até sapateado. Um verdadeiro show.
Quando muita gente tenta conceituar essa desigualdade no incentivo aos times, seria oportuno observar que as torcidas na América do Sul há muito tempo se comportam com muito mais ardor do que a galera brasileira. Argentinos, paraguaios, uruguaios, chilenos e colombianos são normalmente muito mais intensos, cantando a plenos pulmões e não deixando de apoiar suas equipes por um minuto sequer.
Chega a ser estranho para quem não está acostumado, mas esses torcedores chegam a gritar e cantar mais forte ainda quando seus times estão perdendo. Obviamente, Isso funciona como um apoio extra, fazendo com que os jogadores se sintam mais confiantes.
Em Fortaleza, quando a seleção de Felipão mais precisava de calor humano, baixou um silêncio constrangedor no estádio, logo seguido de uma ensurdecedora e irônica claque mexicana. E, em meio às canções de louvação a Giovani dos Santos e seus companheiros, versos da massa em verde-e-vermelho questionavam por que os brasileiros se comportam como visitantes em sua própria casa. Faz sentido.
A única explicação plausível é que o Brasil tem a acompanhá-lo nos estádios uma casta de “turistas do futebol”, que tem poder aquisitivo para comprar os caros ingressos da Copa, mas não conhece as manhas das arquibancadas. São pessoas que vão ao jogo para acompanhar e torcer, mas jamais tomam a iniciativa de gritar ou incentivar. Palavrões, então, nem pensar – a não ser que seja para insultar a presidente da República. Coxinhas, como são chamados pelos torcedores de verdade, não sabem como reagir quando o time vai mal.
Manifestam-se cantando o hino nacional de forma contrita, emocionada, à capela, mas silenciam no momento de empurrar o escrete. Nesse aspecto, apesar de donos da casa, estamos em franca desvantagem em relação às seleções vizinhas. Como o torneio tende a ser equilibrado até o final, o calor da torcida pode pesar na balança.
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Confiança só volta com gols
Para curar a desconfiança que tomou conta da torcida depois do empate em Fortaleza só há um remédio: golear. Dos grandes times da Copa, apenas Brasil e Argentina não golearam nos primeiros jogos. É uma questão de respeito sobre os adversários e de tranquilidade para o público interno. Mas, para fazer muitos gols, como na Copa das Confederações, a Seleção precisa ser intensa, correr muito e sufocar quando não houver outro recurso.
Até agora, essas virtudes não se revelaram. Já é tempo.
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Patrulha não vai calar o grito das massas 
E antes que alguém se encha de melindres com os gaiatos gritos da torcida mexicana, é oportuno lembrar que se trata de uma antiga tradição dos estádios de futebol no país. Quando a bola para, em tiros de meta ou cobranças de falta, os torcedores estendem os braços para frente, começam a gritar em voz alta “putos, putos” (gays) para atrapalhar o time adversário.
Fizeram isso na Arena Castelão em volume tão alto que quase sempre sufocaram o nosso “Sou brasileiro, com muito orgulho…”. Ninguém se ofendeu no estádio, mas aqui e ali já começam a surgir patrulhas, tentando tornar um brado de torcedor em ofensa homofóbica. Não é um insulto dirigido a uma pessoa em particular, é uma gozação direcionada a todos os times.
Devagar com o andor.
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Onde se meteu o envergonhado Fenômeno?

Faço minha a pergunta lançada ontem por alguém nas redes sociais: por onde andará Ronaldo Fenômeno, que se saiu com aquela presepada de “vergonha do Brasil” três dias antes da Copa? Diante do sucesso da competição nesta primeira fase, o que ele tem a dizer agora?

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 22)

13 comentários em “Os caixotes que rondam Neymar

  1. Maradona ainda cortava pra direita. Mas Messi e Robben dificilmente fazem isto. Não que seja marcável, mas é previsível. E depois do corte, o chute para o canto direito, porque fica difícil chutar no esquerdo, devido à posição do corpo do marcador. Aí, cabe ao goleiro posicionar-se mais à direita.

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  2. Todas as seleções do Brasil onde houve muita badalação com os jogadores se deu mal. A atual está sendo muito badalada, qualquer coisinha vai no programa da Ana Maria Braga. Chutou a bola de efeito vai dar entrevista exclusiva no fantástico. Sambou em campo vai no esquenta. Meu amigo não sei não.

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  3. Neymar simula falta até em treino. Ontem o JN mostrou a figura se desmanchando ao ser tocado pelo zagueiro no treino. Ele cai no chão e felipão de pronto marca falta…

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  4. Globo tentou fazer da pole de Massa, e da possível vitória, um aviso divino de que o Brasil ganharia a copa. Mas o cara larga em primeiro e chega em quarto, jogando água no chope da emissora. Agora é voltar à realidade.

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  5. Sobre Neymar, penso que cabe ao jogador se reinventar. Ja que em todos os esportes se estuda o comportamento de jogo no adversário, óbvio que alguns esportes isto é mais freqüente, exemplo o tênis.

    Logo, entendo que depende muito dele reinventar seu jogo (como Romário mudou alguns aspectos do seu jogo para manter um rendimento razoável), afim de fugir da marcação e, também, pensar coletivamente o futebol, já que, se quatro foram marca-me, com certeza haverá concessão de espaços para outros jogadores (ninguém nessa copa conduz a bola para passar por três ou quatro marcadores, já que futebol é coletivo).

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  6. Sobre a derrota nas arquibancadas, mesmo com maioria absoluta, você, Gerson, destacou os dois pontos cruciais e, eu destacaria mais um…

    1) torcida de copa, pessoas que somente assistem ou vão a jogos de seleção, mas não acompanham o futebol no seu dia a dia. Por sinal, o grito “sou brasileiro com muito…” Já tá nojento (desculpe-me a expressão), toda vez que as torcidas começam a gritar nos jogos, os brasileiros metem o mesmo grito… Tem hora que cansa…

    2) O brasileiro não tem o vigor das torcidas da América do Sul. Nem mesmo nos jogos dos times.

    3) Você não tocou nesse ponto, mas o brasileiro ama mais seu clube do que a seleção. Na América do Sul o times são tão amados quanto a seleção nacional. Veja os exemplos de Argentina e Uruguai que chegam a nos emocionar (que exemplo o Álvaro Pereira).

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  7. Sobre este aspecto dos gritos… Faço somente o seguinte comentário. Um primo meu foi assistir o jogo em Manaus (Nacional x Remo – Copa Verde). Diante do jogo apertado, muitos remistas que saíram de Belém começaram a xingar com palavrões o juiz, o Remo e o time do Naça. Um Manaura vira e pede para o grupo de paraenses pararem de gritar palavrões. A torcida olha para o cara e diz… Ei mano, tu não freqüenta estádios? Vai para php com tua frescura…

    É basicamente isso os caras não vão ao estádio e agora estão surpresos com gritos de torcidas de estádios.

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  8. O Brasil é muito grande e tem muitos times grandes, difícil unir tanta diferença em um modo de torcer pela seleção. Mesmo que se coloquem nas arquibancadas da Copa apenas freqüentadores assíduos dos estádios, não vai dar liga, cada torcida tem seu jeito. Nos outros países sul-americanos todos torcem parecidos, só mudam as palavras, além do fato de suas seleções se apresentarem em poucas grandes cidades, diferentemente desse continental Brasil.

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  9. O pessoal do programa Fantástico leu o blog do Gerson e já iniciou uma campanha para criar novas músicas para a torcida brasileira cantar nos estádios.

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