Velha guarda cai na estrada pra ver a Copa

Por Marcelle Ribeiro, do Rio de Janeiro (portal Terra)

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Não são só os jovens que se aventuram por milhares de quilômetros em motorhomes pela estrada para vir ao Brasil assistir à Copa do Mundo. Idosos também têm achado que vale a pena o sacrifício para estar mais perto de suas seleções, mesmo que nem sequer entrem em um estádio. Com uma motorhome fabricada em 1962, o argentino Antonio Matcovich, de 76 anos, veio com outras seis pessoas, entre amigos e familiares, para o Rio de Janeiro esta semana.

Percorreram 3.500 km em três dias e meio. No estacionamento disponibilizado pela prefeitura para os trailers de torcedores no Terreirão do Samba, zona central do Rio de Janeiro, ele disse que a viagem está tranquila, e que apesar de já ter passeado muito com a família no veículo, nunca tinha viajado por tanto tempo. “Viajo com meus filhos desde meus 35 anos de idade neste veículo. Já conhecemos a Argentina e o Chile de ponta a ponta. Mas nunca havia pensado vir ao Brasil”, disse Antonio.

12belgasacampamdanielramalhoO segredo do motorhome dele circular há mais 50 anos? Antonio e dois de seus filhos são mecânicos. O argentino disse que não teve nenhum problema na viagem e que vale a pena para torcer pela sua seleção. Sem ingresso para partidas, ele não arrisca dizer se os argentinos chegarão à final. “Deus dirá se chegaremos na final”, afirmou.

O industrial mineiro Domingo Torrico, de 60 anos, veio com seis pessoas do Chile ao Brasil em um trailer que está estacionado no Terreirão. Às 10h30, eles se reuniam em volta de uma mesa com um barril de chope e elogiavam o lugar, mais organizado que onde estavam antes, na cidade de Itaboraí.

O planejamento da aventura começou em outubro do ano passado e cada um dos companheiros de viagem foi economizando mensalmente. “Não temos entradas para os jogos, mas a viagem vale a pena pela experiência”, disse Domingo. Ao volante, cinco chilenos se alternam. Um deles é o cozinheiro. “Está ótima a viagem. Nossa estadia vai depender do desempenho da nossa seleção. Mas não importa o resultado, vamos sempre apoiar a nossa seleção”, afirmou Domingo.

O Terreirão do Samba amanheceu com 38 veículos de torcedores estrangeiros estacionados, entre motorhomes, vans e carros. Na manhã deste sábado, o clima era de faxina: muitos aproveitaram o sol para colocar roupas para secar e varriam barracas de camping. Alguns improvisavam um churrasco de pão com linguiça, no melhor estilo “comida comunitária”.  “Aqui somos como vizinhos, se falta algo para nós, perguntamos ao companheiro do carro ao lado se ele pode ajudar”, afirmou o chileno Sergio Vera, de 39 anos.

Equilíbrio prevalece, por enquanto

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Por Gerson Nogueira
Não se tem notícia de uma Copa do Mundo com tantas alternativas, surpresas e revelações de zebras na era moderna do futebol. É tudo ao mesmo tempo, agora. A rigor, quase todas as seleções que estão em ação nesta primeira fase (com a exceção óbvia das já eliminadas Espanha, Inglaterra, Austrália e Camarões) têm possibilidades de chegar à decisão. Não se está falando do tradicional papo de boleiro, que receita respeito aos adversários, mesmo os mais fraquinhos. Não. A história aqui é pra valer. Ou alguém tem dúvida de que a ousada Costa Rica, algoz de duas tradicionais escolas futebolísticas, tem chances de ir longe?
É uma Copa inteiramente diferente de todas as demais, a começar pela presença maciça da torcida em todos os jogos. Na África do Sul, cansei de ver estádios semi-desertos e povoados de crianças de escolas públicas.
Mas para os fãs do jogo o que importa é a qualidade dos espetáculos mostrados até agora. E há uma palavra que define bem o que se viu até agora: equilíbrio. Até nos escores, quase sempre apertados. Apenas Holanda, Alemanha, Croácia e França se destacam na artilharia. Aplicaram goleadas em seus primeiros jogos, com méritos maiores para alemães e holandeses, que massacraram Portugal e Espanha, respectivamente. A Croácia bateu Camarões e a França sapecou 3 a 0 em Honduras e 5 a 2 na Suíça, feitos que não podem ser comparados aos das outras equipes citadas.
Já em termos de posicionamento em suas chaves, os destaques são Costa Rica, Chile e Colômbia, todos de língua espanhola e jogando em altíssimo nível. Conquistaram a classificação em grupos difíceis, vencendo e convencendo.
A maioria dos participantes, porém, se concentra ali na zona intermediária, embolados. São os que ainda não deslancharam totalmente. O bloco é puxado pelos arquirrivais Brasil e Argentina. Favoritos naturais, ambos mostraram pouco mais do que o básico nas estreias e a Seleção Brasileira já tropeçou no México, semeando certo desapontamento entre os torcedores.
Com base em outros mundiais, cabe guardar cautela quanto às projeções de caminhada nas fases eliminatórias. Exemplos como o da França em 1958, da Holanda em 1974, do Brasil em 1982 e da Dinamáquina em 1986 desaconselham palpites entusiasmados a essa altura do campeonato. Alguns
Até porque o mundo já descobriu, assombrado, que alguns times que capengaram na primeira fase se transformaram nos jogos de mata-mata, partindo para glórias inimagináveis. A Itália de 1982 é talvez o maior de todos os fenômenos de transfiguração, saindo de uma etapa inicial sofrível para um título mundial incontestável.
Por ora, vale seguir a antiga lição de mestre João Saldanha. Segundo ele, o importante é desfrutar da festa de bola que é a Copa do Mundo.
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A saga de um carrasco de favoritos
A Costa Rica chegou de fininho, sem fazer muito alarde, como cabe a participantes sem pedigree. De figura carimbada para fazer turismo na Copa, a seleção já deixou a condição de simples coadjuvante. Depois de vitórias categóricas sobre Uruguai e Itália, garantiu classificação antecipada e o direito de sonhar com trajetória inédita na competição. Chama atenção a sua forma organizada e lúcida de jogar. Bem preparada fisicamente, a equipe se defende com vários jogadores e se reposiciona para atacar com três e até quatro homens, o que lhe permite controlar a bola na intermediária inimiga e esperar o momento do arremate. Como chega muito bem pelos lados do campo, alterna cruzamentos bem ensaiados para a área. Foi dessa forma que surpreendeu o Uruguai e matou a Azzurra, ontem.
É preciso considerar, porém, que no jogo contra os italianos houve a decisiva contribuição do fator climático. Sob temperatura de quase 30 graus, as duas equipes sofreram um desgaste acentuado, mas a Itália passou a se arrastar em campo nos últimos 30 minutos. As seguidas pausas técnicas não foram suficientes para atenuar o visível sofrimento do time de Prandelli. Até Pirlo, impecável nos passes e lançamentos, errou quatro vezes nos minutos finais.
De maneira geral, porém, esse detalhe não tira os méritos de Costa Rica, cujo expoente máximo é Brian Ruiz. Além dele, há o goleiro Navas, o volante Yeltsin e o atacante Campbell. Os demais são carregadores de piano, mas como correm e se doam ao time…
O fato é que, no justificadamente apelidado de Grupo da Morte, brilha até agora uma seleção pouco badalada da América Central, que deixou no chinelo dois times caros e respeitados. Já é um feito respeitável.
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Ataque francês desmancha ferrolho
Já faz algum tempo que a França assumiu um papel de vilã no imaginário do torcedor brasileiro. Os motivos são bem conhecidos. Em 1986, Platini & cia. impôs uma dolorosa e injusta eliminação (nas penalidades) à seleção dirigida por mestre Telê Santana. Depois, veio a pior de todas as batalhas: a final de 1998, quando a até hoje mal explicada convulsão de Ronaldo abriu caminho para Zinedine Zidane brilhar intensamente. Finalmente, em 2006, a derrota mais idiota de todas, propiciada por um descuido de Roberto Carlos, que resolveu ajeitar o meião junto na hora de um cruzamento que atravessou a grande área endereçado aos pés de Thierry Henry.
Circunstâncias mais do que suficientes para tornar o Brasil freguês de carteirinha dos franceses. Para a Copa atual havia o indicativo de que, sem Frank Ribéry, não haveria força capaz de levar a França ao alto do pódio. O equilíbrio reinante – tema do texto principal de hoje – e a eficiência ofensiva da seleção de Didier Deschamps parecem desmentir essas primeiras impressões. Benzema assumiu a responsabilidade de liderar o renovado escrete e tem tido a companhia de atacantes igualmente ligadíssimos.
Contra a Suíça, dona de um sistema defensivo sempre enaltecido, a França meteu três gols logo no primeiro tempo, com extrema facilidade. Inversão de posicionamentos e muitas trocas de passes foram fundamentais para confundir a marcação. No segundo tempo, vieram mais quatro gols, dois para cada lado, mas a goleada estava definida. O jogo teve também o primeiro pênalti desperdiçado (por Benzema) e o primeiro gol em cobrança de falta da Copa.
Todo cuidado com essa França aparentemente despretensiosa e com discurso de humildade.
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Pitacos de um professor

Um leitor assíduo da coluna, certamente um dos 27 baluartes, Rosemiro Pamplona escreve atenciosa mensagem discorrendo sobre a desafortunada seleção da Espanha. “Caro Gerson, depois que me aposentei como professor universitário resolvi virar palpiteiro de futebol. E iniciando minha nova vida gostaria de “falar” sobre a seleção espanhola (tenho descendência espanhola basca) e comparando-a com a seleção brasileira”.

Rosemiro observa que, em 1958, “fomos campeões do mundo pela primeira vez com o talento do jovem promissor Pelé e o anjo das pernas tortas Garrincha. Repetimos o feito em 1962 (praticamente com o mesmo time, porém 4 anos mais velho). Infelizmente, Pelé se contundiu, porém , o nosso Mané resolveu tudo. Em 1966, na Inglaterra, foi um fiasco. Fomos eliminados por Portugal no terceiro jogo. Esta Copa foi histórica, pois marcou o último jogo em que Pelé e Garrincha jogaram juntos (ganhamos de 2 a 0 da Bulgária)”.
Sobre a derrocada da Espanha, ele avalia que a seleção foi vítima de envelhecimento de sua espinha dorsal. “O time ganhou quase todos os títulos que disputou desde 2006. No time atual, sete jogadores que disputaram o último mundial na África do Sul foram convocados para 2014. Infelizmente, como a seleção brasileira em 1966, foi um fiasco sendo eliminada no segundo jogo”.
Quanto ao Brasil, Rosemiro questiona as convicções de Felipão, para quem o time melhorou contra o México. “Égua, ter um timoneiro como ele me causa arrepios. Se os times americanos (norte, central e sul) continuarem ganhando (Che Guevara deve estar feliz), então vamos ter uma nova versão da Copa América fora de época”.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 21/06)

Chaveamento indica caminho fácil para hermanos

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Do UOL Esporte

Os resultados da primeira fase e a atual classificação dos grupos já apontam que a seleção brasileira pode encontrar um caminho bem difícil no mata-mata, caso confirme o favoritismo e avance na competição na semana que vem. Há a possibilidade de, confirmando-se os prognósticos, o Brasil enfrentar Itália ou Uruguai nas quartas, e França ou Alemanha nas semifinais.

Por outro lado, a Argentina, classificando-se em primeiro de seu grupo, poderá ter um caminho muito mais suave, sem enfrentar nenhum campeão mundial até a finalíssima. O adversário com maior tradição que cruzaria seu caminho seria a Holanda. Esse era um cenário já previsto logo depois do sorteio que definiu os grupos da Copa, ainda no ano passado. Mas a tendência se intensificou com a eliminação precoce da Espanha e a ascensão da surpreendente Costa Rica.

Para entender como ocorre o chaveamento até a final, basta imaginar dois ramos de seleções classificadas em seus grupos que se eliminam mutuamente, até que no dia 13 de julho, as duas que sobrarem de cada ramo disputam a final. No primeiro ramo, estão os líderes dos grupos A (hoje o Brasil), C (Colômbia), E (França) e G (Alemanha). Esses times enfrentam nas oitavas os segundos colocados dos outros grupos.

No segundo ramo, a coisa se inverte. Os líderes dos grupos B (hoje Holanda), D (a zebra Costa Rica), F (Argentina) e H (Bélgica) enfrentam os segundos colocados dos demais grupos. Nesse cenário, a Argentina despontaria como a única campeã mundial nesse ramo do chaveamento.

Você pode projetar as próximas fases do Mundial no simulador do UOL Esporte. Veja abaixo como seria o caminho de Brasil e Argentina, caso a primeira fase tivesse terminado hoje (lembrando que muitas seleções só jogaram uma vez no torneio).

Já classificados para o mata-mata, Chile e Holanda jogarão para decidir quem será o líder do grupo. Se a Holanda perder, ela entra no caminho do Brasil, tornando o caminho dos donos da casa ainda mais pedregoso.

Mas se os holandeses confirmarem o favoritismo, seriam os chilenos os rivais do Brasil nas oitavas de final. Mesmo jogando um futebol vistoso, e mostrando uma aplicação tática e técnica que ajudou a eliminar os atuais campeões do mundo, o Chile é um tradicional freguês do Brasil e já coleciona duas eliminações nas últimas Copas para a seleção.

Se o futuro repetir o passado, o Brasil avançaria para enfrentar nas quartas Itália ou Uruguai (admitindo que um dos campeões mundiais tenha passado nas oitavas pela Colômbia, líder do grupo B). Seria provavelmente um jogo duro, um clássico, embora a seleção também tenha um passado recente de sucesso contra os rivais.

Se passar, o Brasil teria uma semifinal com cara de final contra a Alemanha, no caso de a Alemanha ter superado a França na fase anterior. E se pegar a França, o Brasil teria de jogar também contra os próprios fantasmas, conjurados por seus tradicionais carrascos em Mundiais.

Não se pode duvidar da capacidade de surpreender desta Copa-2014. Mas, se tradição tem algum peso no futebol, a Argentina terá um caminho tranquilo até o Maracanã. A começar pelas oitavas, onde o adversário seria o Equador ou a Suíça (mais provavelmente a Suíça, que jogará sua classificação contra a frágil Honduras).

Passando pela Suíça, os argentinos teriam nas quartas a Bélgica ou os Estados Unidos, dois países sem grande tradição no futebol mundial. Só nas semifinais, a equipe de Lionel Messi encontraria um rival um pouco mais à altura: a Holanda, atual vice-campeã mundial. Ou nem isso. Se a Holanda ficar em segundo de seu grupo, ela sai do caminho da Argentina e bota o Chile, que em tese, seriam um rival mais tranquilo para os hermanos.

É claro que a projeção é apenas um prognóstico. E esse Mundial já se provou um terror de prognósticos. Ou seja: tudo pode acontecer e qualquer previsão pode ser desafiada. Que o digam Espanha e Costa Rica.