Por Gerson Nogueira
O Re-Pa é um fenômeno. Trata-se do único clássico brasileiro capaz de atrair multidões mesmo quando não tem caráter decisivo. No primeiro turno, ainda pouco animada com o campeonato, a torcida compareceu timidamente (para os padrões paraenses). Apareceram lá no Mangueirão cerca de 20 mil fanáticos. Desta vez, são esperados pelo menos 30 mil pagantes. Além desses torcedores mais participativos, que fazem questão de ir a campo, milhares irão acompanhar pela televisão, outros tantos pelas ondas do rádio. Poucos paraenses ficam indiferentes ao grande evento.
Orgulho de um povo, o clássico permanece forte até mesmo nos piores anos da história de Remo e Paissandu. Não importa se a qualidade técnica dos times pode não ser a mesma de tempos mais gloriosos. À massa torcedora interessa o antagonismo, o confronto épico, a batalha sem tréguas. Por essas características únicas, o embate tornou-se com o tempo um acontecimento essencialmente paraense, talvez pouco compreensível aos visitantes. Como compreender esse ardor popular em torno de dois clubes em visível decadência, afastados das grandes competições nacionais?
A paixão é cega, disse o poeta, e essa máxima se aplica perfeitamente à devoção que cerca Remo e Paissandu, adorados pelo que representam e não necessariamente pelo que são. Arrisco dizer que, caso fossem afastados de qualquer torneio externo, os dois times permaneceriam intocáveis no coração dos paraenses. Besteira tentar explicar ou definir sentimentos tão poderosos. As coisas são assim, simplesmente.
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Flávio Lopes tem sido racional e coerente. Algo raro entre técnicos de futebol. Faz um trabalho de recuperação do Remo, que terminou o primeiro turno completamente destroçado, técnica e moralmente. Aos poucos, deu ao time uma consistência tática que inexistia antes. Conquistou vitórias que resgataram a confiança do torcedor. Mais importante: abriu espaço para os garotos Jhonnatan, Cametazinho, Reis, Betinho e Jaime. Não depende do resultado de hoje para ficar bem com o torcedor. Talvez por isso possa até se dar ao luxo de escalar um time com três atacantes.
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Lecheva, ao contrário, precisa desesperadamente do resultado. Ganhou os três jogos disputados, mas terá que matar um leão hoje e vários nos próximos jogos. Nem assim estará plenamente garantido. Sofre fortes restrições de grande parte da torcida e tem contra si a comparação direta com Nad, vencedor do último Re-Pa. Mas, se prevalecer sua média à frente do time bicolor, Lecheva tem boas chances de triunfar. Como a vitória é obrigatória, dificilmente abrirá mão da experiência de Vânderson no meio-campo, mesmo que o jogador não esteja 100%. Se estivesse em condições de arriscar, talvez escalasse seu melhor ataque: Bartola, Magrão e Héliton.
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A coluna domingueira é dedicada a um homem genial. Chico Anysio, que também foi comentarista esportivo no rádio e na TV, era um artista completo, múltiplo. Escrevia, interpretava, apresentava, cantava, compunha e fazia rir. Trabalhou e viveu intensamente. Um de seus grandes amigos, o paraense Lúcio Mauro, pediu aos pais que digam aos filhos que o Brasil teve um dos maiores artistas do mundo na difícil arte do humor. Lúcio tem razão. Obrigado, Chico!
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Edil, o Highlander, artilheiro e ídolo das duas grandes torcidas paraenses, é o convidado especial do Bola na Torre (RBATV, às 21h). Giuseppe Tomaso apresenta, com participação de Valmir Rodrigues e deste escriba baionense.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 25)