“Nunca vi Chico Anysio como um comediante. Ele era um ator e um autor. Jamais um comediante, que faz pastiche da realidade. A distância entre ele e os outros era imensa. Seus personagens não eram uma peruca e uma maquiagem, eram uma maneira de sentir.”
BONI, diretor-presidente da TV Vanguarda, ex-executivo da Globo e criador dos programas “Chico Anysio Especial” e “Chico City”.
“Assisto até hoje todo dia à reprise da ‘Escolinha do Professor Raimundo’ no canal Viva, religiosamente, para tomar aula de humor. Já me contaram, e é verdade, que quando recebia pessoas em casa ele ficava de olhos fechados, fingindo que estava cochilando, mas estava reparando nos sotaques, prestando atenção, aprendendo –já estava ali criando seus personagens. Em qualquer lugar que se vá no Brasil você encontra um personagem de Chico Anysio. Os meus preferidos são Alberto Roberto, Painho, Pantaleão e Bento Carneiro. Quando apelidei o Serra de Vampiro Brasileiro, foi assistindo a Bento Carneiro, que é a cara do Serra.”
JOSÉ SIMÃO, humorista e colunista da Folha.
“Ele foi meu professor. Eu era fã de Chico Anysio antes de seu trabalho na TV. Ele saiu de Maranguape (Ceará) e, aos 17 anos, já era o número 1 do rádio. Eu queria ser comediante e ficava ouvindo, babando. Chico, naquela época, era referência do Nordeste para o mundo. Eu tinha tanta admiração por ele que, quando o encontrei no Rio, em 1964, parecia que estava na frente de algo especial. Ele me ensinou muito no começou, explicou como as coisas funcionavam no Rio. Tinha um coração que não cabia no peito. Não acreditei quando ele topou aparecer em ‘Os Trapalhões”, mas ele foi lá e fez tudo em dois minutos. Chico era muito rápido e dono de um humor que atravessa épocas. A moda agora são esses stand-ups, certo? Pois ele fazia isso no início da carreira.”
RENATO ARAGÃO, humorista.
“Ele era muito generoso. O dinheiro que ganhou, redistribuía para todo mundo. O Chico é um fenômeno humano irrepetível. Conheço bem a cinematografia mundial, o teatro brasileiro, a TV brasileira, nunca houve um fenômeno igual ao Chico Anysio. O inacreditável é um sujeito com esse poder ser inseguro. O ego dele era muito grande, não se satisfazia com o sucesso que tinha. Ele queria abraçar o mundo com as pernas. Queria ser respeitado como escritor, como pintor, como comentarista de futebol. Ele era, com todo o direito, uma pessoa difícil. Você não pode querer que um sujeito que era uma multidão se comporte como um bancário ou um professor. Em algumas coisas ele exagerou, como falar demais, ficar com raiva, xingar. Ele não era fácil.”
ZIRALDO, escritor e cartunista.
“Comecei a trabalhar com ele em 1949, dois anos antes da televisão brasileira. Desde então, não nos largamos mais. Tudo culminou em 1989, com a ‘Escolinha’, onde ele reinava absoluto para todo o país. Mais do que um colega, Chico foi um grande amigo. Nunca senti nada tão horroroso quanto a essa morte. Lembro de quando criamos o Seu Peru, meu personagem mais famoso. Era para outro ator, um estudante de medicina. Quando ele descobriu que era para fazer uma bicha, saiu correndo. Chico então mandou me chamar. Peguei naquele peru e nunca mais larguei!”
ORLANDO DRUMMOND, 92, o Seu Peru, humorista e dublador.