Por Gerson Nogueira
A história é mais velha do que a saga de Tom Mix, mas sempre se repete. Basta surgir uma leva de bons jogadores nos clubes da capital para que apareçam de todos os lados empresários ardilosos, agentes espertos e técnicos seguidores da cartilha de Vanderlei Luxemburgo. Nessa base, Remo, Paissandu e Tuna já levaram incontáveis dribles.
Vale dizer, a título de exemplo, que até hoje não se tem notícia de que um craque revelado pelo futebol paraense gerou lucro direto para os clubes formadores. Geovani e Ganso são apenas os exemplos mais recentes. Em tempos mais românticos, boleiros como Assis, Manuel Maria, Rosemiro, Aldo e Bira saíram para o Sul e Sudeste praticamente de graça.

A atual safra de revelações de Remo e Paissandu traz à tona o velho problema e já preocupa os dirigentes, que vêem crescer o interesse e a cobiça dos negociantes da bola. No Baenão, no ano passado, vários garotos da base chegaram a ser assediados e a diretoria teve que se desdobrar para evitar perdas.
Com o destaque obtido pelos jovens atletas no Parazão 2012 já sob o comando do técnico Flávio Lopes, o cerco tende a aumentar. Desde a semana passada, especula-se no Baenão que os jogadores Igor João, Betinho, Jhonnatan, Reis, Cametazinho, Alan Peterson e Jaime estariam na mira de empresários de Goiás e da Bahia.
Conspira contra os clubes a histórica desorganização administrativa e o pouco caso em relação às minúcias contratuais. Há até pouco meses, o chefe do Departamento Jurídico do Remo, Ronaldo Passarinho, só era acionado para a negociação de pendências trabalhistas, sendo solenemente ignorado na hora de celebrar contratos.
Esse procedimento descuidado é usual nos clubes e pode ser apontado como a grande causa da perda de atletas formados na base. Salário compatível e multa rescisória são itens fundamentais para proteger o patrimônio da agremiação. Boa parte dos jovens jogadores não tem esse tipo de vínculo firmado com os clubes, estando vulneráveis a qualquer proposta externa.
Caso pretenda assegurar os direitos federativos de seus atletas, Remo e Paissandu têm que dedicar atenção especial aos contratos. Prevenir é sempre melhor (e mais lucrativo) do que remediar.
Recebi das mãos do técnico Valter Lima, antes do “Bola na Torre” do último domingo, um senhor presente: o livro “A Bola Não Entra por Acaso” (editora Larousse), de Ferran Soriano, que foi vice-presidente do Barcelona e um dos responsáveis pela consolidação do vitorioso modelo de gestão do clube catalão. Baseou seu trabalho em organização e gerenciamento eficaz. Há muito queria ler a obra. O amigo Valtinho, como bom estudioso das coisas do futebol, me proporcionou essa chance.
Missões desiguais para Remo e Independente, hoje, pela Copa do Brasil. Em casa contra o Real, o Remo só precisa vencer pela contagem mínima para passar à etapa seguinte.
Já o campeão estadual terá que derrotar o São Paulo, no Morumbi, por dois gols de diferença. Em qualquer situação, a tarefa é das mais indigestas.
A saída à francesa de Ricardo Teixeira para Boca Raton pode ter conseqüências imediatas no comando da Seleção Brasileira, talvez até para a disputa dos Jogos Olímpicos de Londres, no segundo semestre. Terceira opção para o cargo – Teixeira preferia Felipão e Muricy Ramalho –, Mano Menezes é um dos que mais perdem com a renúncia do cartola. José Maria Marin, o novo chefão, não tem maiores ligações com o ex-corintiano e dificilmente perderá a chance de tomar uma decisão com forte apelo popular. Em miúdos, não resistirá à tentação de jogar para as arquibancadas. Por isso mesmo, sob ataque dos críticos e da torcida desde a perda da Copa América, Mano pode estar com os dias contados. E Muricy e Felipão despontam como os mais cotados para substituí-lo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 14)