É uma final de Libertadores diferente, particularmente para os paraenses. Funcionará como um ensaio de alto nível para o que se espera daqui a três anos, na Copa do Mundo. Tudo porque Paulo Henrique Ganso, auto-proclamado embaixador do Pará, usando a mítica camisa 10 celebrizada pelo Rei Pelé, deve ser um dos protagonistas da decisão, ao lado de Neymar.
Fazia tempo que não se via um craque paraense em posição tão destacada no futebol brasileiro. O último foi o também meia Geovani, convocado para a Copa do Mundo de 1998 e vitimado pela fogueira de vaidades que consumia aquela Seleção, sob inspiração direta do próprio técnico Zagallo.
Craque como Geovani, que lhe abriu as portas da Vila Belmiro, Ganso tem como características marcantes a capacidade de abrir caminhos no meio-de-campo e o talento para fazer lançamentos. Até seu aparecimento, em 2010, o Brasil se ressentia da ausência de um meia-armador puro e cerebral, como Gerson, Didi ou Rivelino, ou até mesmo Sócrates e Rivaldo, cujas aptidões para a criação de jogadas se confundiam com a facilidade para fazer gols, como autênticos pontas-de-lança.
O paraense exibe um estilo singular de comandar as ações na meia cancha. Um maestro resoluto, sempre de cabeça erguida, toma posse daquele território estratégico com passes precisos, valendo-se de visão apurada e bom repertório de dribles. Sem exagero, quem o vê jogar tem a sensação de estar diante da reencarnação dos armadores clássicos do passado, com a velocidade que o futebol moderno exige.
O fato é que uma antiga especialidade brasileira, em desuso há um bom tempo, voltou a ser notada nos campos de futebol: o passe caprichado, milimétrico, sempre com endereço certo. Tudo isso pelos pés (e cabeça) de um menino do Pará, motivo de orgulho para torcedores órfãos de grandes alegrias. É hora, portanto, de torcer pelo título do Santos e a consagração de Ganso.
Sem um organizador de jogadas desde que Tiago Potiguar foi para a China, o Paissandu busca se garantir logo com dois para a Série C: Robinho e Fininho. Pela atuação ao longo do campeonato, o ex-meia do Cametá tem boas perspectivas de ganhar a camisa 10. Já Fininho, que apareceu bem na Tuna e afundou junto com o Remo, é apenas alternativa para compor elenco. Vale dizer que o ex-remista nem tem características de armador, preferindo jogar mais como meia-atacante.
Para a lateral-esquerda, porém, o acerto com Fábio Gaúcho (Independente) é a chamada mão na roda. Fábio é uma das gratas surpresas do campeonato que chega ao fim domingo e tem futebol para suprir uma velha deficiência do Paissandu ali no lado esquerdo da defesa. Excelente reforço.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 22)