Não costumo falar muito sobre meu pai aqui no blog e na coluna. Alguém deu o toque sobre isso e resolvi me redimir. Cito o velho José Dias em comentários soltos na Rádio Clube e no Bola, junto com referências a Baião. Meu pai está na faixa dos 80, aniversaria em agosto (dia 18). É tunante-vascaíno em tempo integral e um trabalhador de verdade. As mãos calejadas atestam isso. Além de craque da construção – foi pedreiro na juventude e depois passou a mestre de obras, o melhor daquelas bandas -, foi jogador de futebol de razoáveis virtudes. Defendeu o Baião Atlético Clube e passou também pelo Paraíso, de Tucuruí.
Depois, por gostar tanto de futebol, não aguentou ficar longe das quatro linhas e virou árbitro, para desespero de minha mãe, Benedita. Eu tinha mais ou menos 10 anos e dividia meu tempo entre estudos, livros, discos, a venda de rabuçados (caramelos) para minha avó Alice e o futebol no quintal amplo, sob arvoredo, da casa do meu pai-avô Juca. Não era tão bom quanto pensava, mas dava lá minhas caneladas e – detalhe importante – era o dono da bola, uma esfera de plástico avermelhado que levava o nome do Rei Pelé.

No dia da final da Copa do México, em 1970, um clássico agitava a cidade. Duelavam os dois times mais populares. Baião (uniforme vermelho, listrado como o do Náutico) e Brasília (camisa verde-amarela em listras horizontais). E e eu lá na portaria do estádio tentando descolar uma grana vendendo ingressos. No final, felicidade completa. O clássico bombou e o Brasil levantou o caneco. Só lembro da algazarra tomando conta das ruas, ainda sob sol forte.
Gritaria, fogos, música com a estupenda vitória da Seleção. Nas aparelhagens, o refrão matador: “Todos juntos, vamos. Pra frente Brasil, Brasil.. salve a Seleção! 90 milhões em ação…”. Só no dia seguinte fiquei sabendo pelo meu pai que o clássico nem havia terminado. Até os jogadores entenderam o momento histórico, por assim dizer, e largaram a bola para se incorporar à festança. Ao falar de meu pai, acabo abrindo outras janelas. A vida é assim.