O futebol é espetacular e apaixonante, entre outros motivos, por ser capaz de contrariar a lógica natural das coisas e surpreender até o torcedor mais descrente. Quem diria, há dois meses, que o Vasco estaria hoje festejando um título nacional e classificado para representar o Brasil na Taça Libertadores. Pois está – contra todos os prognósticos.
E alcançou essa façanha da maneira mais improvável, com jogadores em fase descendente, como Diego Souza e Felipe, e comandado por um desacreditado Ricardo Gomes, que havia sido dispensado pelo São Paulo.
Sua melhor peça na decisão contra o Coritiba foi Éder Luiz, um atacante visto com desconfiança pela torcida do Atlético-MG, que não criou embaraços para liberá-lo para o clube da Colina.
Pode-se atribuir ainda a caprichos puramente futebolísticos o fato de a Copa do Brasil deste ano ter sido decidida pelos dois últimos campeões da Segunda Divisão, condição que normalmente não enche de orgulho os torcedores. Muricy Ramalho disse certa vez que a bola pune. Se realmente tem esse impulso punitivo, também é capaz de generosas surpresas.
Ao acompanhar o sensacional confronto de anteontem, em Curitiba, foi difícil acreditar que são duas equipes de nível apenas mediano, ainda distantes do chamado primeiro escalão nacional. Talvez por isso mesmo, impulsionados pelo desafio de provar que mereciam estar ali, Vasco e Coritiba fizeram simplesmente o melhor jogo da temporada.
Luta incessante pela posse da bola, duelo inclemente por espaço e um punhado de lances belíssimos, como o golaço de Willian que deu a vitória ao time paranaense. O embate que o Brasil inteiro viu, sob suspense na maior parte do tempo, foi tão emocionante que serviu para reabrir a velha discussão sobre o charme das disputas em mata-mata. Esse talvez seja o maior elogio que se possa fazer aos dois finalistas.
Recebo atenciosa mensagem do cruzmaltino Orlando Bordallo Junior, em nome da família de Wolter Robilotta, falecido na última terça-feira. Esclarece que o ex-jogador era mesmo paulista (e fazia questão de afirmar isso por ser torcedor fanático do Palestra), “apesar de ter vindo para Belém, trazido por Abílio Couceiro, que o viu atuar nos aspirantes do Vasco. Ao trazer Gentil Cardoso, contratou alguns jogadores jovens treinados por ele”.
Informa que Robilotta morava na Braz de Aguiar, apesar de possuir casa de veraneio no Ariramba, em Mosqueiro – “que já não frequentava muito nos últimos anos, devido aos constantes assaltos de que foi vítima (quatro ou cinco)”. “Como acho que você chegou a ver o Wolter jogar, assinalo para enfatizar nossos agradecimentos pelos comentários muito gentis”.
Não há o que agradecer. Nós, fãs de futebol, é que somos gratos a Rubilota pelos inspirados momentos que nos proporcionou ao longo de quase 10 anos de carreira. Em tempo: não vi o craque em ação, apenas acompanhei lá de Baião suas peripécias pelas ondas poderosas da PRC-5.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 10)